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Variação linguística: conheça os tipos e exemplos

Tanto o Enem quanto outros vestibulares do país gostam de abordar a diversidade de formas que uma língua pode assumir. Entenda esses diferentes tipos e seus exemplos

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O termo variação linguística refere-se às modificações que uma língua apresenta segundo as condições sociais, situacionais, regionais e históricas em que é utilizada. A língua portuguesa é dinâmica e é justamente esse dinamismo que o Enem gosta de lembrar na prova de Linguagens.

No entanto, existe uma variação específica que o exame ama cobrar. Você imagina qual é? Antes de saber a resposta, vamos entender melhor o que é variação linguística, seus diferentes tipos e exemplos.

O que é variação linguística

A variação linguística é a diversidade de formas que uma língua pode assumir, dependendo do contexto, do grupo social, da região geográfica ou da época histórica. Em outras palavras, é a maneira como a língua se adapta e evolui de acordo com diferentes fatores.

Vale ressaltar que nenhuma variante se sobrepõe à outra e toda forma de linguagem é válida, especialmente quando atende seu principal objetivo: fazer-se entender! Assim, a língua se molda a partir da necessidade do falante, e podemos considerar alguns julgamentos como preconceito linguístico.

Tipos de variação linguística

Existem quatro tipos de variação linguística, são elas: regional, histórica, social e situacional. Vamos conhecê-las:

Variação linguística regional (ou diatópica)

A variação linguística regional, que também podemos chamar de geográfica ou diatópica, ocorre quando a língua apresenta diferenças entre as regiões geográficas. Um exemplo clássico é o português falado no Brasil e em Portugal. Identificamos variações de sotaque, vocabulário e até mesmo estruturas gramaticais.

Além disso, há muitas variantes dentro do próprio país. Não é incomum encontrar nomenclaturas diferentes para o mesmo elemento - por exemplo, você diz aipim, macaxeira ou mandioca?

Tirinha do Armandinho em que cada personagem nomeia um mesmo alimento de formas diferentes: "Pra mim pode ser uma porção de aipim", "Eu aceito uma de mandioca, por favor", "Vou querer de macaxeira, que eu adoro!"
Imagem: Reprodução

Variação linguística histórica (ou diacrônica)

A variação linguística histórica (temporal ou diacrônica) tem a ver com as mudanças que uma língua sofre ao longo do tempo. Como exemplo, podemos apontar as expressões que deixaram de existir, seja porque novas surgiram ou porque elas se transformaram com a ação do tempo.

Na língua portuguesa, modificações aconteceram até chegarmos ao "você" atual.

Vossa mercê > Vosmecê > Você

Inclusive, atualmente, é comum abreviarmos ainda mais, utilizando o “cê” no dia a dia.

Outro exemplo são as estruturas que caíram em desuso ao longo do tempo e hoje se relacionam ao português mais arcaico, como o uso do pronome "vós" e da mesóclise - pronome oblíquo no meio do verbo, como nas frases extraídas da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis:

“E a alegria de Capitu confirmava a suspeita; se ela vivia alegre é que já namorava a outro, acompanhá-lo-ia com os olhos na rua, falar-lhe-ia à janela, às avemarias, trocariam flores e…”

“Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena[…]”

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Variação linguística social (ou diastrática)

A variação linguística social, ou diastrática, resulta das diferenças entre grupos sociais, que podem ter relação com a classe social ou a faixa etária das pessoas. Essas diferenças são evidentes em vocabulários, pronúncias e até mesmo gírias. Além disso, as profissões também influenciam bastante nas variações linguísticas sociais por meio de termos técnicos (jargões), como na tirinha abaixo:

Tirinha com um médico e um paciente, em que o médico utiliza jargões da profissão: "De acordo com o laudo, você está com um processo de intumescência resultante de lesão inflamatória e necrose subcutânea!", "Meu deus, doutor!!!!! E quanto tempo eu tenho de vida???", "Ah, não se preocupe! É só um furúnculo!".
Imagem: Reprodução

Variação linguística situacional (ou diafásica)

A variação linguística situacional (estilística ou diafásica) tem a ver com o contexto de uso da língua. Em diferentes situações de comunicação, a linguagem pode ser mais formal ou informal, e isso afeta o vocabulário, a estrutura das frases e até a entonação.

Por exemplo, em um ambiente acadêmico, é comum usar linguagem mais formal, enquanto em uma conversa entre amigos, a fala tende a ser mais informal. Observe no exemplo abaixo um emprego da norma culta em contexto inadequado:

Cartum com um homem vestido de terno na praia ao lado de um surfista aparentemente confuso, dizendo: "Veja que belos movimentos elípticos fazem essas ondas, meu caro amigo! Pegá-las-emos nesse instante ou mais tardiamente?!
Imagem: Reprodução

Qual a importância das variações linguísticas?

As variações linguísticas desempenham um papel importante tanto no contexto social quanto na hora de realizar sua prova de vestibular ou Enem. No âmbito social, elas enriquecem a diversidade cultural, promovendo o respeito pela forma como diferentes grupos se expressam.

Na hora da prova, é necessário levar em consideração que os exames reconhecem a variação linguística como um fenômeno natural da língua e esperam que você faça o mesmo.

Mas atente-se à variação correta na hora de escrever a sua redação! Este é um contexto em que você deve optar pela variante culta da língua, a norma padrão.

Como a variação linguística cai no Enem e nos vestibulares

Agora que você entende a importância das variações linguísticas, vamos conferir como elas aparecem no Enem e outros vestibulares. Fique de olho nas questões que envolvem a compreensão e a análise de diferentes formas de expressão linguística, pois elas podem ser a chave para obter um bom desempenho.

No Enem

Você sabia que existe uma competência inteira no Enem para abordar apenas a variação linguística? Trata-se da competência 8, o que deixa bem claro o nível de relevância do conteúdo para esta prova.

Competência de área 8 - Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade.
H25 - Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 - Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 - Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.

No Enem, a variação regional ou geográfica é a que mais caiu na prova ao longo dos anos (aqui está a resposta para a pergunta que fizemos lá no início do artigo).

Provavelmente, o motivo seja a extensão territorial do Brasil, o que implica diferentes formas de uso da língua. Além disso, é importante ter em mente que, no exame, uma forma de comunicação nunca é melhor do que a outra, ela é apenas diferente. Portanto, fique atento a alternativas que dizem o contrário.

Outra abordagem frequente é a importância das línguas das tribos indígenas que antecederam a chegada dos portugueses. Há, então, o tratamento da nossa língua como patrimônio cultural.

Exemplo 1

Em bom português

No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
— Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.

SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).

A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que

a) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.

b) a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações.

c) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.

d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.

e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.

Resposta: [B]
De cara, podemos eliminar a alternativa A, já que ela afirma algo totalmente oposto ao que o exame defende: a sobreposição de uma variante em relação à outra. Além disso, somente com a primeira frase do texto já conseguimos resolver a questão. Nela, temos o termo “envelhecem” remetendo à ideia de tempo, ou seja, variação histórica. A alternativa B é a única possível e cita o uso de inovações em diferentes gerações.

Nos vestibulares em geral

Nos outros vestibulares, as provas tendem a cobrar a variação linguística estilística, para abordar desvios da norma padrão, exigindo que o candidato entenda por que eles acontecem. As marcas de oralidade e coloquialidade também são comuns. Além disso, diferentemente do Enem, a prova tende a utilizar nomenclaturas menos usuais, como variação diatópica, variação diafásica, variação diastrática e variação diacrônica.

Exemplo 2

(Fuvest) “A correção da língua é um artificialismo, continuei episcopalmente. O natural é a incorreção. Note que a gramática só se atreve a meter o bico quando escrevemos. Quando falamos, afasta-se para longe, de orelhas murchas.”


Monteiro Lobato, Prefácios e entrevistas.

a) Tendo em vista a opinião do autor do texto, pode-se concluir corretamente que a língua falada é desprovida de regras? Explique sucintamente.
b) Entre a palavra “episcopalmente” e as expressões “meter o bico” e “de orelhas murchas”, dá-se um contraste de variedades linguísticas. Substitua as expressões coloquiais, que aí aparecem, por outras equivalentes, que pertençam à variedade padrão.

Respostas
Perceba que a questão alterna entre duas perspectivas: na alternativa A, ela espera o reconhecimento de que a língua falada não é necessariamente desprovida de regras. Ela exige um contexto adequado, o que não significa menor prestígio.
Já na alternativa B, a banca exige o conhecimento da norma culta, então, é necessário substituir as expressões “meter o bico” e “orelhas murchas” por correspondentes mais formais da língua. Uma possibilidade seria “palpitar” e “de forma oprimida”.

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Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

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