Entenda o que é preconceito linguístico
Explicamos o que significa o termo, forte candidato a aparecer nos vestibulares, seja nas questões ou como proposta de redação
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Máximas preconceituosas e extremamente difundidas como "brasileiro não sabe português" ou "para fazer sucesso, você não pode ter sotaque", além de serem amostras de discriminação, não têm qualquer fundamento. Nesse contexto, podemos explicar o que é preconceito linguístico, uma comparação equivocada entre os vários modos pelos quais as pessoas se comunicam em sociedade e a idealização de uma língua presente nas gramáticas normativas e nos dicionários.
Essas percepções, inclusive, demonstram intolerância e desconhecimento sobre a natureza da linguagem. No Brasil, as línguas oficiais são o português e, desde 2002, a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Por aqui, vivem mais de 215 milhões de pessoas, em um território que já comportou mais de 600 línguas
indígenas.
Preconceito linguístico é o tema discutido no EP 4 do AprovaDocs, série de webdocumentários exclusivos produzidos pelo Aprova Total para os alunos da plataforma.
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Características da língua portuguesa
O português faz parte da família das línguas românicas, que descendem do latim, que, por sua vez, descende do indo-europeu. A língua portuguesa registrada há mais de 800 anos parece até outro idioma, de tão diferente do português que se usa hoje em dia, em qualquer lugar, inclusive em Portugal.
Ao longo do tempo, o português mudou muito e continua mudando, porque a variação linguística é um processo comum a todas as línguas naturais em uso. A nossa língua, e qualquer outra língua natural do
mundo, varia conforme:
- as características sociais dos falantes e como cada um fala conforme a situação em que se encontra (se mais formal ou mais informal);
- os interlocutores (se são mais jovens ou mais velhos; conhecidos ou desconhecidos);
- o papel social que se está exercendo em determinado contexto;
- as transformações que a língua sofre ao longo da história (determinadas expressões deixam de ser utilizadas e novas se criam).
Esses fatos apontam para uma característica de todas as línguas: nenhuma delas é uniforme e homogênea. Todas englobam muitas variações de pronúncia, de vocabulário e de estrutura gramatical. Dessa forma, se constituem, portanto, como um conjunto de variedades geográficas, sociais, contextuais e históricas.
A língua é um elemento importantíssimo da cultura, além de ser uma referência identitária.
É historicamente situada e heterogênea, isto é, está sujeita a variações e mudanças no espaço e no tempo.
Na prática, não existe uma língua portuguesa, mas muitas!
Tipos de variações linguísticas
A sociolinguística, subárea da linguística que estuda a relação entre língua e sociedade, costuma descrever os seguintes tipos de variação: regional ou geográfica (diatópica), social (diastrática), estilística (diafásica) e histórica (diacrônica).
Tanto a variação geográfica como a variação social estão intimamente associadas à identidade do falante. É como se o indivíduo, ao falar, já revelasse a sua origem e, por sua forma de falar, se identificasse como pertencente a determinada comunidade ou grupo social.
Também chamada de variação regional ou diatópica, a variação geográfica tem a ver com as diferenças linguísticas entre falantes oriundos de regiões distintas. Essa variação pode ser observada, por exemplo, na pronúncia da consoante “L” velar em palavras como “animal” e “soldado”.
Essa pronúncia é típica de Portugal, e era mais comum no Brasil há muitos anos (como na época dos cantores de rádio). Hoje em dia, o padrão de pronúncia no Brasil é anima[w] e so[w]dado, com a consoante “L” pronunciada como a semivogal “u”.
Os dados demonstram que a fala é diferente da escrita, além do fato de que as línguas mudam, e que o padrão de certo e errado depende sempre do contexto social, geográfico e histórico.
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Quais são os tipos de preconceito linguístico?
Podemos destacar como preconceito linguístico o julgamento de uma forma de falar, que pode estar ligada a fatores como escolaridade, região, classe social ou gênero.
Ele é um preconceito social porque, apesar de estar ancorado em motivações linguísticas, não tem embasamento linguístico para existir. Pelo contrário, quanto mais se estuda linguística, mais esses estigmas se dissolvem.
Em atitudes de preconceito linguístico, se observa, além de uma noção antinatural do que é a linguagem, uma visão etnocêntrica de sociedade. Assim, há a tendência de julgar a cultura do outro com base na própria crença e moral.
São práticas etnocêntricas classificar, subjugar e inferiorizar culturas a partir da visão de um determinado grupo. É a narrativa etnocêntrica que está por trás de considerações como a de que brasileiros não falam português corretamente, porque, no Brasil, a língua portuguesa teve contato com outras, ou porque, simplesmente, o Brasil está fora da Europa.
Preconceito linguístico no Brasil
Com a publicação do livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, em 1999, o professor Marcos Bagno revolucionou a discussão sobre o tema no Brasil. Na obra, o autor traz uma lista com oito mitos acerca do português brasileiro e os desfaz com argumentos embasados nos estudos da linguagem.
Entre os que merecem destaque estão os que envolvem a crença de que deve-se falar como se escreve e estudar gramática para escrever e falar bem.
Nesse contexto, “falar bem” é sinônimo de domínio da norma culta, a que muitos defendem que deve ser a única a ser considerada em instituições educacionais. O problema disso vai além da ilusão de que o domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social.
Classes sociais mais altas e pessoas de prestígio (que compõem os grandes veículos de imprensa, influencers, celebridades) não necessariamente compartilham da mesma variedade linguística. Elas nem mesmo precisam obrigatoriamente fazer uso da norma culta para desempenhar seu papel na sociedade.
Dominar a norma culta e o conhecimento das regras da gramática normativa não é algo que se reflete na fala de uma pessoa diretamente, tampouco uma pessoa fala corretamente porque fala como escreve. Essa noção estreita do que é gramática, do que é certo e errado e de como a língua funciona serve apenas para perpetuar crenças preconceituosas.
O preconceito motivado pela fala oprime, como qualquer preconceito, mas, além disso, faz com que as
pessoas falem menos, até se calarem. Se apenas quem tem direito à fala e a ser respeitado no exercício desse direito é quem faz uso de uma língua ideal, pura, mais correta… quem poderá falar?
O que fazer para evitar o preconceito linguístico?
Para que o preconceito linguístico seja cada vez mais debatido e denunciado como o que é na verdade (um preconceito social, como o racial e o de gênero), é preciso que se mantenha uma política de diversidade linguística na esfera pública.
Ou seja, que se fomente a investigação da linguagem e o aprimoramento do ensino, e se trabalhe para preservação de dialetos, variedades de contato e línguas indígenas, por exemplo.
Dessa forma, os cidadãos têm seu direito de acesso a serviços públicos nas diversas línguas faladas no país e todos poderão conhecer a pluralidade e a complexidade das muitas variedades linguísticas.
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AprovaDocs: webdocumentários do Aprova Total
Toda segunda-feira, os alunos do Aprova Total têm um encontro marcado com uma nova produção que chega na plataforma. Os temas envolvem desde questões sociais, políticas e culturais até discussões sobre a natureza e o universo.
Nosso principal objetivo é compartilhar conhecimento sobre assuntos relevantes para as provas do vestibular, em especial a de redação.
No canal do Aprova no YouTube, também é possível assistir gratuitamente aos EP 1 e 2 do AprovaDocs. Os temas são Consequências do Uso Excessivo de Plástico e Arquitetura Hostil.
Para conferir os próximos webdocumentários, assine a plataforma e garanta ainda todo apoio para conquistar sua tão sonhada vaga no vestibular. Esperamos você!