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Linguagem culta e coloquial: quais são as diferenças entre elas?

Uma delas está associada a contextos mais formais; a outra aparece situações de descontração. Mas quando e como usá-las da maneira correta?

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Se você já pensou sobre a forma como nos comunicamos, provavelmente percebeu que existem diferentes estilos de linguagem. Entre os principais, estão a linguagem culta e a coloquial, sobre as quais falaremos ao longo deste post.

Vamos explorar semelhanças e diferenças, identificar o que caracteriza cada um e, é claro, conferir como esse tipo conteúdo cai em provas como a do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O que é linguagem culta? E coloquial?

A linguagem culta é geralmente associada a contextos formais, como nos artigos da esfera acadêmica, jurídica ou em literaturas mais clássicas. É um tipo de linguagem que preza pelas regras gramaticais e utiliza vocabulário mais elaborado, além ter como característica um tom mais sério e objetivo.

Já a linguagem coloquial está presente nas situações informais, como nas conversas cotidianas, ou nos textos cujo gênero dá abertura para esse tipo de linguagem, a exemplos de crônicas e tirinhas. Ela tende a ser mais flexível em relação às regras gramaticais, utiliza gírias e expressões idiomáticas, e busca transmitir uma sensação de proximidade com o leitor, além da informalidade.

É interessante frisar que, entre esses dois tipos de linguagem, não existe certo ou errado, já que podemos considerá-los um tipo de variação linguística, conhecido como variação estilística (ou diafásica). Assim, como veremos ao longo deste post, o uso da linguagem culta ou coloquial está sujeito ao contexto.

Principais diferenças entre as linguagens culta e coloquial

As diferenças entre a linguagem culta e coloquial vão além do contexto em que são utilizadas. Veja algumas das principais distinções:

Vocabulário

A linguagem culta normalmente utiliza palavras mais complexas e eruditas, enquanto a linguagem coloquial recorre a um vocabulário mais simples e informal, que se aproxima da fala cotidiana.

Gramática

Na linguagem culta, procuramos seguir as regras gramaticais de forma mais rigorosa, enquanto na coloquial tendemos a ser mais flexíveis, usando construções gramaticais menos formais e até alguns “erros” segundo a gramática normativa.

Pronúncia

O uso de uma linguagem culta ou coloquial também é expresso na fala. A coloquialidade, muitas vezes, reflete as variações regionais na pronúncia, enquanto o padrão culto busca seguir uma pronúncia mais próxima da norma culta.

Linguagem culta e suas características

A linguagem culta possui algumas características específicas:

  • Vocabulário amplo
    Utiliza um vocabulário mais vasto, incluindo palavras menos comuns no dia a dia.
  • Pronúncia "correta"
    Preocupa-se com uma pronúncia padronizada das palavras, com poucas marcas de sotaque.
  • Mais formalidade
    Possui tom mais sério e formal, adequado a contextos como a escrita acadêmica ou profissional.
  • Rigor gramatical
    Segue as regras gramaticais estritamente, evitando erros de concordância, regência ou colocação.
Gif Bob Esponja culto de óculos lendo um livro.

Situações para optar pela linguagem culta:

  • contextos formais, como apresentações de trabalho, entrevistas e conversas com autoridades;
  • na hora de escrever, atentando-se ao gênero textual, como dissertações expositivas ou argumentativas, artigos, notícias, reportagens, trabalhos acadêmicos, documentos oficiais.

Linguagem coloquial e suas características

A linguagem coloquial também possui características próprias:

  • Informalidade
    É marcada por um tom descontraído, informal e próximo da fala cotidiana.
  • Uso de gírias e expressões idiomáticas
    Incorpora gírias e expressões idiomáticas que são comuns em determinados grupos sociais ou regiões e podem variar ao longo do tempo, refletindo a cultura e o contexto em que são utilizadas.
  • Abreviações e contrações
    É comum o uso de abreviações e contrações, como "vc" em vez de "você" ou "pq" em vez de "porque". Essas formas simplificadas tornam a comunicação mais rápida, especialmente no digital.
  • Pouco rigor gramatical
    Há certa despreocupação com a concordância verbal e as flexões nominais. Construções como “foi anunciado as datas dos shows da Taylor Swift no Brasil” são comuns, mas há um erro de concordância entre sujeito e verbo O correto seria “foram anunciadas”.
  • Articuladores de ideias
    Na fala, frequentemente utilizamos palavras ou expressões que servem para articular as ideias que tentamos expressar, como “tipo assim” ou “aí”. Em uma conversa forma, normalmente opta-se por outras expressões, como “por exemplo”, ou até mesmo por uma pequena pausa na fala.
Gif Steven Universo falando "tipo assim, como?"

Situações em que você pode optar pela linguagem coloquial:

  • contextos informais, como conversas entre pessoas com quem se tem intimidade;
  • em textos que aceitam esse tipo de linguagem, como crônicas, charges, tirinhas, postagens em redes sociais ou cartas pessoais.

Exemplos de linguagem culta e coloquial

Para entender melhor as diferenças entre linguagem culta e coloquial, selecionamos alguns exemplos:

Linguagem culta
"Agradeço-lhe profundamente por ler este artigo até aqui"
"Fico à disposição para ajudá-lo em dúvidas futuras"

Linguagem coloquial
"Valeu por ler o post, vestibulander"
"Esse tema dá o que falar, né? Qualquer coisa dá um grito que eu ajudo você"

Viu como existe uma grande diferença entre os dois tipos de linguagem? Isso depende da intenção do autor, do público-alvo, do veículo de comunicação, do contexto de fala e outras coisas.

Mas o fato é que nenhuma das duas formas está incorreta, apenas devemos escolher com sabedoria quando usá-las!

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Questão sobre linguagem culta e coloquial no Enem

Agora que você já sabe um pouco sobre como funciona a linguagem culta e a coloquial, veja um exemplo de como o tema foi cobrado recentemente no Enem:

(Enem 2022) Papos
– Me disseram…
– Disseram-me.
– Hein?
– O correto é “disseram-me”. Não “me disseram”.
– Eu falo como quero. E te digo mais… Ou é “digo-te”?
– O quê?
– Digo-te que você…
– O “te” e o “você” não combinam.
– Lhe digo?
– Também não. O que você ia me dizer?
– Que você está sendo grosseiro, pedante e chato. […]
– Dispenso as suas correções. Vê se esquece-me. Falo como bem entender. Mais uma correção e eu…
– O quê?
– O mato.
– Que mato?
– Mato-o. Mato-lhe. Mato você. Matar-lhe-ei-te. Ouviu bem? Pois esqueça-o e para-te. Pronome no lugar certo é elitismo!
– Se você prefere falar errado…
– Falo como todo mundo fala. O importante é me entenderem. Ou entenderem-me?

VERISSIMO, L. F. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001 (adaptado).

Nesse texto, o uso da norma-padrão defendido por um dos personagens torna-se inadequado em razão do(a)

a) falta de compreensão causada pelo choque entre gerações.
b) contexto de comunicação em que a conversa se dá.
c) grau de polidez distinto entre os interlocutores.
d) diferença de escolaridade entre os falantes.
e) nível social dos participantes da situação.

Resposta: [B]
O uso está inadequado devido ao contexto de comunicação em que a conversa se dá, possivelmente uma conversa entre amigos. O diálogo entre os personagens é informal e coloquial, ocorre em um ambiente descontraído e sem preocupação com formalidades linguísticas. Inclusive, o uso da linguagem culta neste contexto atrapalha a comunicação.

Mais dicas

Como a própria questão demonstrou, o Enem reconhece a legitimidade do uso da linguagem coloquial em contextos específicos - nesse caso, de fala. Entretanto, não vacile: na hora de escrever a sua redação, você deve optar pela linguagem culta, ok?

Embora existam diferenças marcantes entre a linguagem culta e a coloquial, ambas desempenham papéis importantes na comunicação e são necessárias para cada contexto em que se inserem.

A linguagem culta é essencial em situações formais, enquanto a linguagem coloquial nos aproxima e nos permite interagir de forma mais descontraída. Ao compreender as características dos dois estilos e praticar a transição entre eles, você conseguirá ser mais versátil e eficiente ao se comunicar ou escrever.

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Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

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