Ciências Humanas Geografia

Como a Nova Ordem Mundial mudou as relações políticas, econômicas e sociais?

Com o fim da União Soviética, da Guerra Fria e da divisão bipolar do mundo, a sociedade foi contrastada por um novo cenário multipolar e globalizado

Acessibilidade

O que você entende pelo termo Nova Ordem Mundial (NOM), traduzido do inglês New World Order (NWO)? Apesar de parecer que é nome de uma organização específica, trata-se de um fenômeno que representa a reconfiguração das relações políticas, econômicas e sociais após a Guerra Fria.

Por mais que seja possível encontrar diferentes interpretações sobre o tema, os conceitos e as propostas envolvem, principalmente, as relações de poder e as estruturas de governança mundial. Ou seja, são ideias, teorias e debates que ajudam a entender a geopolítica do século 21.

Então, é um assunto que, além de curioso, costuma aparece bastante no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e nos vestibulares em geral. A partir de agora, nossa missão é conduzir você a uma leitura que vai conectar passado, presente e, quem sabe, futuro! 👀

O que é a Nova Ordem Mundial?

A expressão Nova Ordem Mundial foi cunhada pelo ex-presidente dos Estados Unidos, George W. H. Bush, que comandou o país entre 1989-1993, momento em que a Guerra Fria estava terminando. Esse período tem como destaque a queda do muro de Berlim, que reunificou a Alemanha. 

Antes da Guerra Fria, o mundo estava dividido, principalmente, em dois blocos: os Estados Unidos e seus aliados (ocidente) e a União Soviética e seus aliados (oriente). 

Com o fim da União Soviética, essa divisão bipolar foi contrastada por um novo cenário multipolar, que marcou o início da Nova Ordem Mundial.

Se anteriormente o mundo se dividia em superpotências capitalistas e socialistas, a Nova Ordem Mundial se fragmentava entre países desenvolvidos (norte global) e em desenvolvimento (sul global). Veja o exemplo no mapa:

A Nova Ordem Mundial tinha se fragmentava entre países desenvolvidos, em azul, e em desenvolvimento, em vermelho
A Nova Ordem Mundial tinha se fragmentava entre países desenvolvidos, em azul, e em desenvolvimento, em vermelho (Imagem: Aprova Total)

Cabe destacar que os termos norte e sul global não se apresentam no sentido literal da cartografia, mas como forma de generalizar características comuns.

Perceba que a Austrália e a Nova Zelândia, que ficam no hemisfério sul, fazem parte do norte global. Enquanto a China, a Índia e diversos outros países, que estão no hemisfério norte, integram o sul global.

Contexto geopolítico do pós-Guerra Fria

O período pós-Guerra Fria, iniciado na década de 1990, envolvei mudanças geopolíticas profundas. Com o fim da bipolaridade e da corrida armamentista, medir uma superpotência pelo seu poder de guerra ou pelo seu arsenal de armas deixou de ser um parâmetro tão relevante.

A partir do colapso da União Soviética, os Estados Unidos emergiram como a única superpotência, o que resultou em uma era de unipolaridade. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) expandiu-se para incluir ex-membros do bloco comunista, gerando tensões com a Rússia. 

A globalização econômica ganhou destaque, com interconexão e fluxos de mercados e aumento do comércio internacional. Conflitos regionais, como a Guerra dos Bálcãs e o Genocídio em Ruanda, surgiram, enquanto esforços humanitários internacionais se intensificaram. 

O terrorismo global também cresceu, o que mais tarde ficaria evidente com os ataques de 11 de setembro de 2001, nos EUA. Novas potências, especialmente a China, ganharam influência no cenário mundial e no comércio.

Além disso, desafios ambientais e transnacionais foram reconhecidos e a Rússia passou por mudanças significativas. 

Houve ainda questionamentos à ordem mundial estabelecida no pós-Segunda Guerra. Desde então, as dinâmicas geopolíticas continuaram a evoluir, apresentando transformações significativas no cenário global.

Características da Nova Ordem Mundial

Algumas características podem definir a Nova Ordem Mundial em seus âmbitos políticos, econômicos, culturais e outros:

  • Na política, observa-se uma transição de bipolaridade para multipolaridade, com o declínio da influência exclusiva de superpotências e o surgimento de novos atores no cenário internacional;
  • A globalização se torna elemento central ao promover uma interconectividade sem precedentes entre as nações;
  • Fronteiras tornam-se "invisíveis", facilitando a circulação de informações, bens e pessoas, o que resultou em desafios complexos, mas também revelou oportunidades para a cooperação global em questões como meio ambiente, segurança e saúde;
  • No campo econômico, mercados globais ascenderam e houve avanço das tecnologias. Empresas multinacionais passaram, então, a exercer influência considerável, e a revolução digital redefiniu as formas de produção e de consumo.
  • A disseminação da tecnologia de informação cria uma sociedade cada vez mais conectada, apesar de suscitar questões éticas e preocupações com a privacidade dos indivíduos;

bandeiras de diversos países se conectam na palma da mão de uma pessoa, representando a globalização e a nova ordem mundial

  • Desafios ambientais como mudança climáticas, escassez de recursos e degradação ambiental emergem e transcendem fronteiras nacionais, exigindo respostas cooperativas;
  • A conscientização sobre a sustentabilidade e a necessidade de práticas mais responsáveis tornam-se imprescindíveis diante do impacto global das ações humanas;
  • A interação entre diferentes culturas e perspectivas se torna inevitável, assim como promover a inclusão e o respeito à diversidade;
  • Surgem desafios persistentes, como a desigualdade global e a injustiça social, fortalecendo os movimentos sociais. Enquanto alguns setores se beneficiam do progresso econômico e tecnológico, outros enfrentam marginalização e exclusão.

Mundo bipolar x mundo multipolar

Os termos "mundo bipolar" e "mundo multipolar" referem-se a duas configurações distintas nas relações internacionais que resultam na distribuição de poder entre os estados. Cada uma dessas dinâmicas têm implicações significativas na política global e nas interações entre as nações.

Mundo bipolar

Esse foi um período histórico durante a Guerra Fria, que se estendeu de meados do século 20 até o início dos anos 1990. Caracterizou-se pela divisão do mundo em dois blocos de poder dominantes: os Estados Unidos, liderando o bloco ocidental (capitalista); e a União Soviética, liderando o bloco oriental (comunista).

Tal divisão ideológica resultou em uma intensa competição global, envolvendo corrida armamentista e tensões geopolíticas. As nações frequentemente se alinhavam a um desses blocos, contribuindo para um cenário de polarização.

O surgimento de conflitos regionais, como a Guerra do Vietnã, refletiu a rivalidade entre as superpotências. O mundo bipolar chegou ao fim com o colapso da União Soviética, no início dos anos 1990, e marcou o fim da Guerra Fria, o que gerou mudanças geopolíticas globais.

Mundo multipolar

Já a esfera multipolar refere-se a um cenário internacional em que várias potências exercem influência significativa, em contraste com o sistema bipolar da Guerra Fria.

Diferentes nações, como Estados Unidos, China, Rússia e União Europeia emergiram como atores-chave no cenário global. Essa multipolaridade reflete uma distribuição mais equitativa de poder, com várias regiões e países desempenhando papéis influentes em assuntos internacionais.

A competição entre essas potências pode se manifestar em áreas como comércio, tecnologia, diplomacia e segurança. A interdependência econômica e os avanços tecnológicos contribuem para um ambiente mais complexo e dinâmico.

Mudanças causadas pela Nova Ordem Mundial

As mudanças que ocorreram após o início deste novo período geopolítico abrangem diferentes aspectos mundiais e afetam diretamente as relações entre os países.

O cenário de bipolaridade da Guerra Fria deu lugar a uma dinâmica mais complexa, com conflitos regionais ganhando destaque e potências emergentes desafiando o equilíbrio de poder

Já a globalização econômica provocou a ascensão de blocos econômicos regionais que redefiniram as relações comerciais e questões associadas à governança global. 

Sobre a disseminação de armas nucleares, o novo momento revelou preocupações e apontou para a busca por uma abordagem diplomática ao lidar com a segurança global. No cenário da organização do trabalho, as transformações também foram marcantes.

Vamos entender melhor cada um desses contextos?

Armas nucleares

As armas nucleares são dispositivos que liberam energia proveniente de reações nucleares.

O episódio das bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, alteraram a percepção global do poder militar. Desde então, as armas nucleares estão no centro de intensos debates entre as superpotências.

No contexto da Nova Ordem Mundial, as armas nucleares desempenham um papel significativo na configuração das relações internacionais. A posse desses arsenais cria uma dinâmica complexa de poder, onde a dissuasão nuclear e a busca pela não proliferação se tornam temas controversos.

A capacidade dos países deterem armas nucleares afeta diretamente a geopolítica do planeta, e influencia estratégias diplomáticas e acordos internacionais.

Por isso, a gestão responsável e a busca por soluções pacíficas são essenciais para garantir a estabilidade, principalmente quando armas nucleares continuam a representar uma ameaça global.

💢 As bombas nucleares foram criadas durante a Segunda Guerra Mundial, no contexto de um projeto ultrassecreto liderado pelos Estados Unidos, o Projeto Manhattan. O objetivo era criar armas nucleares capazes de ter um impacto devastador em termos de destruição em massa.

Blocos econômicos

Os blocos econômicos são alianças entre países com objetivo de estabelecer acordos comerciais, promover o desenvolvimento mútuo e fortalecer suas posições no cenário global. Essas uniões podem variar em escopo, com acordos bilaterais até associações regionais mais abrangentes.

A Nova Ordem Mundial fez com que blocos econômicos passassem a desempenha papel crucial na reconfiguração das relações internacionais.

Grandes blocos, como a União Europeia (UE), o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) têm o poder de influenciar padrões comerciais, normas regulatórias e políticas econômicas em uma escala global.

💢 Os blocos econômicos, ao moldarem políticas conjuntas e facilitarem o comércio entre seus membros, têm o potencial de impactar significativamente a dinâmica global. Eles influenciam não apenas negociações comerciais, mas a formulação de políticas ambientais e sociais.

Nova organização do trabalho

A ascensão das tecnologias de informação e comunicação, junto à integração econômica global, tem redefinido a natureza do trabalho em aplicações locais e internacionais. 

A flexibilidade, a mobilidade e a conectividade permitiram maior dispersão das atividades econômicas e mudaram a maneira como as empresas operam.

Com cadeias de suprimentos internacionais, a força de trabalho agora se encontra em ambientes mais diversos e interconectados, com a necessidade de habilidades adaptáveis para enfrentar desafios globais. 

💢 Esse novo paradigma, no entanto, trouxe desafios, como empregos informais, trabalho precário, falta de proteção social e aumento das desigualdades. Muitas vezes, as pessoas atuam sem benefícios adequados, como plano de saúde, seguro-desemprego, previdência social, entre outros.

Países desenvolvidos x países em desenvolvimento

As categorias países desenvolvidos e em desenvolvimento refletem as diferentes realidades econômicas e sociais ao redor do mundo.

Países desenvolvidos

Caracterizam-se por terem altos padrões de vida, infraestrutura avançada, sistemas de saúde e educação eficazes, além de uma economia diversificada e tecnologicamente avançada. 

Entre os exemplos, estão Estados Unidos, Japão, Canadá, além de muitos países europeus. Essas nações geralmente têm melhor distribuição de renda e oferecem mais oportunidades para seus cidadãos se desenvolverem.

Países em desenvolvimento

Enfrentam desafios como pobreza, infraestrutura limitada, acesso limitado à educação e saúde, além de viverem uma economia muitas vezes centrada em setores agrícolas.

Países africanos, asiáticos e latino-americanos, como o Brasil, se enquadram nesta categoria. 

Essas nações estão empenhadas em superar obstáculos para alcançar um desenvolvimento sustentável, a partir de políticas econômicas e sociais que visam melhorar as condições de vida do seu povo.

É crucial entender essas distinções para olhar as desigualdades globais criticamente e inspirar a conscientização sobre o desenvolvimento no contexto da educação global.

👉 Leia também:

Geografia no Enem 2024: assuntos que mais caem na prova

Fluxos migratórios: tipos, causas, consequências e desafios

Resumo: Nova Ordem Mundial

Em resumo, a mudança de um mundo bipolar para um mundo multipolar resultou em transformações significativas nas dinâmicas de poder e nas relações internacionais.

Ou seja, a maneira como os países interagem e cooperam no cenário global mudou. Destacamos aqui os pontos mais importantes abordados no artigo:

  • A Nova Ordem Mundial surgiu após a Guerra Fria. Foi um período de reestruturação global após a queda do bloco comunista e a ascensão dos Estados Unidos como superpotência;
  • Caracteriza-se por maior interconexão e pela interdependência entre as economias dos países, impulsionadas pelo comércio internacional, com investimentos estrangeiros e fluxos financeiros globais;
  • A governança global se tornou uma realidade na busca por formas mais eficazes de cooperação entre os países, instituições internacionais e organizações multilaterais;
  • Começou a ser necessário lidar com questões globais como mudanças climáticas, segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável;
  • Avanços tecnológicos e a revolução digital facilitaram a conectividade global, o acesso à informação, o comércio eletrônico e transformando as relações sociais e econômicas;
  • Desafios como desigualdades econômicas, polarização política, nacionalismos, conflitos regionais, ameaças à segurança cibernética e instabilidade geopolítica também fazem parte da Nova Ordem Mundial.
Banner

Como a geopolítica da Nova Ordem mundial cai no Enem e nos vestibulares

A Nova Ordem Mundial é um conteúdo trabalhado em geopolítica, uma subárea de extrema importância da disciplina de Geografia.

No Enem e na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), ela ocupar o 1º lugar entre assuntos mais frequentes. Além disso, está entre os cinco temas mais cobrados na Fuvest e na Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Como a Nova Ordem Mundial aparece no contexto da globalização, é importante saber relacionar as principais características e consequências desse período geopolítico, que marca profundamente o atual cenário mundial. 

Confira um exemplo de questão:

Exemplo

(Uece 2020)  A geopolítica atual da Nova Ordem Mundial diferencia-se do cenário configurado no âmbito da ordem da Guerra Fria pelo fato de

a) proliferarem disputas e conflitos armados de grandes proporções na maioria dos Estados nacionais. 
b) multiplicarem-se os centros de disputa global.   
c) alterarem-se as potências militares globais e os núcleos de poder bélico-nuclear.   
d) terem findado as intervenções de cunho neoimperialista.

Resposta: [B]
A alternativa destaca uma característica distintiva da geopolítica atual em comparação com o cenário da Guerra Fria. Durante a Guerra Fria, o mundo estava dividido em dois centros de disputa global: os Estados Unidos (bloco ocidental) e a União Soviética (bloco oriental) Essa bipolaridade era uma característica marcante do período. No entanto, com o advento da Nova Ordem Mundial, houve uma multiplicação de centros de disputa global, e o mundo passou a ser caracterizado pela diversidade de atores e potências emergentes.

TEMAS:

avatar
Luísa Ferreira Vieira

Licenciada em Geografia pela Udesc e colaboradora no blog do Aprova Total.

Ver mais artigos de Luísa Ferreira Vieira >

Licenciada em Geografia pela Udesc e colaboradora no blog do Aprova Total.

Ver mais artigos de Luísa Ferreira Vieira >

Compartilhe essa publicação:

Veja Também

Assine a newsletter do Aprova Total

Você receberá apenas nossos conteúdos. Não enviaremos spam nem comercializaremos os seus dados.