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Fluxos migratórios: tipos, causas, consequências e desafios

Busca por melhores oportunidades econômicas, fuga de conflitos, perseguições políticas e desastres naturais estão entre os principais motivos do deslocamento de pessoas

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Entre os motivos que geram os constantes fluxos migratórios, o principal envolve a busca por melhores condições de vida. Por isso, é cada vez mais comum assistir a pessoas se movendo em direção a países desenvolvidos ou nações emergentes que vivem ciclos intensos de desenvolvimento.

Em geral, esses locais possuem diversos fatores atrativos, como oferta de empregos, melhores índices de educação e saúde, além da economia em ascensão. 

Definição e características dos fluxos migratórios

Os fluxos migratórios são movimentos de pessoas dentro de um país ou entre diferentes países. Eles podem ocorrer por várias razões, como busca por melhores oportunidades econômicas, fuga de conflitos, perseguições políticas, desastres naturais, como furacões e terremotos, e outros fatores.

Em geral, os fluxos migratórios podem ser classificados como migração interna e migração externa (ou internacional):

  • migração interna
    é o deslocamento de pessoas dentro das fronteiras de um país. Isso pode acontecer de áreas rurais para áreas urbanas (migração rural-urbana), entre diferentes regiões no mesmo país (migração inter-regional) ou entre áreas urbanas dentro de uma mesma região (migração intra-urbana).
  • migração externa ou internacional
    é a movimentação de pessoas de um país para outro. Os motivos podem ser econômicos, como a busca melhores empregos e condições de vida, ou políticos, sociais e ambientais.

Podemos ainda classificar os fluxos migratórios como permanentes ou temporários, pois alguns migrantes buscam uma nova residência definitiva, enquanto outros estão apenas à procura de trabalho temporário ou estudar no exterior.

É importante destacar que os fluxos migratórios são um fenômeno complexo e que acontecem sob os aspectos econômicos, políticos, sociais e ambientais. 

O mapa abaixo mostra estimativas da Divisão de População da ONU para o Estoque Total de Migrantes - número global, discriminado por país de residência e país de origem.

Fluxos migratórios realizados entre 2010 e 2015. 
(Fonte: Metrocosm)
Fluxos migratórios realizados entre 2010 e 2015.
(Fonte: Metrocosm)

A compreensão dos fluxos migratórios é fundamental para entender as dinâmicas populacionais, o desenvolvimento socioeconômico e as questões sobre os direitos humanos e a integração de diferentes culturas e comunidades.

Qual a diferença entre migração, imigração e emigração?

A partir da análise geográfica, é possível distinguir o tipo de migração realizada por determinados fluxos migratórios. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) define três grandes formas de migração:

  • migração
    quando uma pessoa se muda de sua residência habitual, seja dentro de um país ou através de uma fronteira internacional, temporária ou permanentemente, por uma variedade de razões.
  • imigração
    do ponto de vista do país de chegada, uma pessoa muda-se para um país diferente de sua nacionalidade ou residência habitual, de modo que o destino se torna seu novo país de residência habitual.
  • emigração
    do ponto de vista do país de partida, uma pessoa sai de seu país de nacionalidade ou residência habitual para outro país, de modo que o destino se torna seu novo país de residência habitual.

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Principais fluxos migratórios mundiais

De acordo com o Relatório Mundial das Migrações de 2022, desenvolvido pela OMI, desde 2020, existem 281 milhões de migrantes em todo o mundo. O número cresce a cada ano, principalmente em razão de conflitos. 

Grande parte dos imigrantes internacionais está em idade de trabalho e há uma preponderância de homens nesse total de indivíduos.

A maioria vive na Europa (87 milhões) e na Ásia (86 milhões). Os dois continentes concentram cerca de 61% dos migrantes do mundo (OMI, 2022).

pessoas em estrada simbolizando fluxos migratórios
Refugiados da Síria e do Afeganistão a caminho da União Europeia, na Rota dos Balcãs, em 2015 (Imagem: Adobe Stock)

É importante destacar que os fluxos migratórios estão sujeitos a mudanças ao longo do tempo, influenciados por fatores econômicos, políticos, sociais e ambientais. Além disso, cada fluxo migratório é único e apresenta características específicas relacionadas aos países de origem, aos países de destino e às motivações dos migrantes.

América do Norte: Canadá e EUA

Os Estados Unidos é o país que mais recebe imigrantes no mundo. Tradicionalmente, há uma elevada imigração de mexicanos para os Estados Unidos. Porém, atualmente, o perfil de imigrantes que entram nos EUA está mudando, pois a proporção de pessoas da América Central e de países do Caribe supera a de mexicanos que se deslocam para o país. 

Os migrantes geralmente buscam oportunidades de trabalho, reunificação familiar e melhores condições de vida.

Por sua vez, o Canadá, que também fica na América do Norte, é conhecido por ter um sistema de imigração bem estabelecido e acolhedor para migrantes de diferentes partes do mundo. O país recebe um fluxo significativo de imigrantes anualmente.

Europa

A Europa é um destino importante para fluxos migratórios de muitas partes do mundo. Existem rotas e motivos variados pelos quais as pessoas migram para o continente europeu. 

Já ouviu falar na Rota do Mediterrâneo? Essa é uma das principais rotas migratórias do mundo e envolve a travessia do Mar Mediterrâneo por migrantes que buscam entrar na Europa. Ela tem sido amplamente utilizada por migrantes e refugiados que fogem de conflitos, perseguições, pobreza e falta de oportunidades em seus países de origem.

Esse fluxo migratório atingiu uma quantidade alarmante ao longo de 2015, com um aumento exponencial de pessoas tentando entrar na Europa e solicitando asilo.

Os migrantes que conseguem atravessar o Mediterrâneo chegam geralmente a Itália, Grécia, Espanha, Malta ou outros países do sul da Europa. No entanto, a travessia do Mediterrâneo é arriscada e perigosa, havendo condições adversas e falta de segurança durante a viagem. 

Algumas pessoas, pela falta de recursos financeiros, atravessam o mar em barcos de pesca, barcaças ou até mesmo em botes infláveis inadequados, o que aumenta o risco de naufrágios e perda de vidas.

A questão da imigração para a Europa é complexa e desafiadora. Ela se tornou objeto de discussões sobre políticas de imigração em toda a região, com desafios relacionados à integração, proteção dos direitos dos migrantes e gestão dos fluxos migratórios.

A abordagem dos países europeus em relação à imigração varia, com diferentes políticas de imigração e critérios de elegibilidade para residência e asilo em cada país.

Oriente Médio

As migrações no Oriente Médio têm como principais causas:

  • conflitos armados
  • instabilidade política
  • perseguição religiosa
  • desastres naturais
  • busca por melhores oportunidades econômicas

Essa região testemunhou conflitos armados prolongados em países como Síria, Iraque, Afeganistão e Iêmen, resultando em muitos refugiados e deslocados internos.

No entanto, o Oriente Médio também atrai vários trabalhadores migrantes de países vizinhos e de outras partes do mundo. 

Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Catar e Kuwait são destinos populares para trabalhadores estrangeiros, principalmente de países do sul da Ásia, África e Sudeste Asiático.

Sul e Norte

Esse fluxo caracteriza-se pela movimentação de pessoas dos países em desenvolvimento do hemisfério Sul para os países desenvolvidos do hemisfério Norte.

Os migrantes geralmente buscam melhores oportunidades econômicas, acesso a serviços e a uma vida mais digna. Países da Europa Ocidental e da América do Norte são os principais destinos.

Refugiados e deslocados internos pelo mundo

O deslocamento forçado ocorre por motivos como guerras civis, perseguições variadas e fuga de regimes políticos autoritários. 

A principal divisão nesse contexto se dá entre deslocados internos (que não ultrapassam os limites de sua nação de origem) e refugiados (que atravessam as fronteiras em busca de abrigo e até uma nova vida). No último caso, a origem da maior parte dos refugiados é de países da África ou do Oriente Médio, mas, recentemente, a Ucrânia também entrou na lista. 

Na última década, a guerra civil na Síria (2011-hoje), a deterioração da situação afegã e a crise político-econômica na Venezuela mais que dobraram o número de pessoas que se deslocam à força. Além disso, a Guerra da Ucrânia ampliou significativamente esse processo.

Refugiados se abraçam com a bandeira da Ucrânia
A Guerra da Ucrânia é a principal responsável pelo novo pico dos dados sobre número de refugiados no mundo (Imagem: Adobe Stock)

O mais recente relatório do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), divulgado em junho de 2023, traz dados alarmantes sobre o deslocamento forçado no planeta:

  • o novo recorde histórico envolve 108,4 milhões de pessoas em situação de deslocamento forçado;
  • isso impacta diretamente 1 a cada 74 habitantes do mundo;
  • a Guerra da Ucrânia é a principal responsável pelo novo pico desses dados;
  • ao final de 2022, havia 5,7 milhões de ucranianos refugiados e 5,9 deslocados à força dentro do território do país agredido.

Causas e consequência dos fluxos migratórios

As causas dos fluxos migratórios são variadas e complexas, refletindo uma combinação de fatores econômicos, políticos, sociais e ambientais. Ao mesmo tempo, esses fluxos migratórios têm consequências significativas nas áreas de origem e de destino. 

Como você já viu, essas causas podem envolver a busca por melhores oportunidades econômicas, a fuga de conflitos, da instabilidade política, de perseguição (política, religiosa, étnica) e até mesmo dos desastres naturais.

As consequências dos fluxos migratórios podem ser: a influência na economia local, os desafios sociais e políticos e, inclusive, a integração cultural entre residentes e imigrantes. Além disso, muitos imigrantes sofrem com xenofobia.

É importante compreender que as causas e consequências dos fluxos migratórios podem variar segundo os contextos e as regiões do mundo. Assim, o entendimento dessas dinâmicas é fundamental para fomentar políticas migratórias, promover a proteção dos direitos dos migrantes e criar sociedades inclusivas e sustentáveis.

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Como o tema dos fluxos migratórios cai no Enem e e nos vestibulares?

Os fluxos migratórios já foram temas de questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e de diferentes vestibulares tradicionais, como da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

Além disso, o conteúdo pode se enquadrar em diferentes temas de redação, sendo, portanto, um repertório importante para vestibulandos. Confira algumas questões sobre o tema:

Exemplo 1

(Enem 2016) 
Texto I

Mais de  mil refugiados entraram no território húngaro apenas no primeiro semestre de 2015. Budapeste lançou os “trabalhos preparatórios” para a construção de um muro de quatro metros de altura e  ao longo de sua fronteira com a Sérvia, informou o ministro húngaro das Relações Exteriores. “Uma resposta comum da União Europeia a este desafio da imigração é muito demorada, e a Hungria não pode esperar. Temos que agir”, justificou o ministro.

Disponível em: www.portugues.rfi.fr. Acesso em: 19 jun. 2015 (adaptado).

Texto II

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) critica as manifestações de xenofobia adotadas pelo governo da Hungria. O país foi invadido por cartazes nos quais o chefe do executivo insta os imigrantes a respeitarem as leis e a não “roubarem” os empregos dos húngaros. Para o ACNUR, a medida é surpreendente, pois a xenofobia costuma ser instigada por pequenos grupos radicais e não pelo próprio governo do país.

Disponível em: http://pt.euronews.com. Acesso em: 19 jun. 2015 (adaptado).

O posicionamento governamental citado nos textos é criticado pelo ACNUR por ser considerado um caminho para o(a)

a) alteração do regime político.   

b) fragilização da supremacia nacional.   

c) expansão dos domínios geográficos.   

d) cerceamento da liberdade de expressão.   

e) fortalecimento das práticas de discriminação.   

Resposta: [E]
Nos últimos anos, observamos um aumento nos fluxos migratórios de refugiados provenientes do Oriente Médio e da África, em busca de refúgio e melhores condições de vida na Europa. No entanto, alguns países do Leste Europeu, como a Hungria, estão adotando abordagens repressivas e discriminatórias. Isso inclui a construção de barreiras físicas, como muros, para separar e restringir o acesso dos imigrantes, que não apenas falham em resolver o problema, mas também intensificam as tensões sociais e a xenofobia na região.

Exemplo 2

(PUCRS 2019)

Mapa com fluxos migratórios para questão da PUCRS

Os movimentos de deslocamento de populações é um tema central na pauta de discussões dos governos nacionais e das organizações internacionais como a ONU e a Comunidade Europeia. Em face das medidas tomadas pela maioria dos países desenvolvidos no intento de restringir a entrada de imigrantes, o tráfico destes tem se intensificado.

No mapa acima, alguns dos movimentos migratórios são representados por setas, indicando as principais áreas e os países de saída e de destino. O processo de migração internacional pode ser desencadeado por diversos fatores, entre os quais pode-se citar: desastres ambientais; guerras; perseguições políticas, étnicas ou culturais; oportunidades de estudo e trabalho; melhores condições de vida.

A partir da observação do mapa e do texto acima, é possível afirmar:

I. Nas áreas do mapa onde o contraste de desenvolvimento econômico e social entre países vizinhos é acentuado, observam-se fluxos migratórios.

II. No mapa, constata-se que os fluxos migratórios regionais são mais frequentes que os intercontinentais.

III. Os fluxos sul-norte são predominantes e estão relacionados à dependência cultural, econômica e histórica dos países chamados subdesenvolvidos em relação aos países ditos desenvolvidos.

IV. A Europa Ocidental é o principal destino dos movimentos migratórios mundiais, seguido pelos fluxos para os EUA.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e III.   

b) II e IV.   

c) I, III e IV.   

d) II, III e IV.   

Resposta: [C]
O único item incorreto é o II, pois os fluxos intercontinentais de imigrantes são mais frequentes do que os fluxos populacionais em escala regional.

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Luísa Ferreira Vieira

Licenciada em Geografia pela Udesc e colaboradora no blog do Aprova Total.

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