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Descobrimento do Brasil: o que você ainda não sabia sobre a data

A história contada por tanto tempo simplifica muito as coisas. Hoje, sabemos que a expedição tinha como objetivo secundário passar na costa brasileira para "garantir" a posse de nossas terras

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22 de abril de 1500: com certeza, todo mundo já decorou essa data, muito falada nas aulas de História, como o dia em que Pedro Álvares Cabral "descobriu" o Brasil. Mas, e se eu contar para você que esse episódio não ocorreu exatamente como foi narrado através dos séculos? E que, inclusive, Portugal já tinha uma boa noção do que havia deste lado do Atlântico? Neste resumo sobre o descobrimento do Brasil, vamos começar lembrando do contexto histórico das Grandes Navegações.

Então, pegue a sua luneta, a sua bússola, e venha comigo navegar nessa história 🌎

Ah! E se você curtir esse resumo sobre o descobrimento do Brasil e quiser acompanhar mais sobre a historiografia brasileira, fique de olho aqui no Portal, ok?

Reconquista e Península Ibérica

Desde o século 8 (700 d.C.) a Península Ibérica estava sob domínio muçulmano. Ela foi palco de uma prolongada guerra por territórios entre os cristãos locais - sobretudo dos reinos asturianos e do império Carolíngio - e islâmicos oriundos do norte da África. Essas pessoas pertenciam ao Califado Omíada que, na época, era o maior império do mundo em extensão territorial.

Descobrimento do Brasil resumo: Máxima extensão do Califado Omíada
Máxima extensão do Califado Omíada (Imagem: Wikimedia Commons)

Olhando o mapa, é possível perceber que, no topo da Península Ibérica, há uma pequena faixa de terra que não havia sido conquistada pelos Omíadas, local onde se estabeleceu o Reino das Astúrias.

Assim, esse conflito, que se estendeu por toda a Idade Média e pelas primeiras décadas da Idade Moderna, foi chamado de Guerra de Reconquista. Durante esse período, o Reino das Astúrias se expandiu e deu origem a novos reinados e ducados, como Castela e Leão. Outro reino originou o Condado Portucalense, que, após se tornar independente, em 1143, mudou de nome para Portugal.

Descobrimento do Brasil e o contexto das navegações

O "descobrimento" do Brasil está inserido no contexto das Grandes Navegações. Podemos defini-las por expedições marítimas lançadas sob patrocínio de diferentes estados europeus, com o propósito de firmar rotas comerciais com o Oriente.

A rota estabelecida até então tinha sido fechada pelos turcos otomanos, principalmente após a tomada de Constantinopla, e levou os comerciantes europeus a buscarem alternativas pelo mar.

Nesse mesmo cenário, a Península Ibérica tinha uma vantagem sobre os outros estados europeus: a remanescente ciência islâmica! Ela era conhecedora de diversas técnicas de navegação, proficiente em matemática e observação celeste, e esteve em contato com invenções chinesas, como a bússola!

Se não fossem portugueses ou espanhóis, os navegadores eram financiados por nobres destes países, que forneciam equipamento e conhecimento para a realização destas expedições. Podemos destacar Vasco da Gama, Fernão de Magalhães e Bartolomeu Dias.

Descobridor da América

Em 1942, Cristóvão Colombo se consagrou "descobridor" da América, após navegar de Castela (sul da atual Espanha) às atuais Bahamas. Até 1502, Colombo realizou outras três expedições para a América, mapeando a região, fundando pequenas vilas - e sequestrando nativos para trazer até a Europa.

Por isso, em 1494, Portugal e Castela assinaram o Tratado de Tordesilhas. Com a benção do Papa, dividiram entre si as terras descobertas na América. Isso causou revolta de outros reis europeus que ficaram de fora do acordo.

Descobrimento do Brasil resumo: capa do Tratado de Tordesilhas
Capa do Tratado de Tordesilhas (Imagem: Wikimedia Commons)

A expedição de Pedro Álvares Cabral

Chegou a vez de falar dele neste resumo sobre o descobrimento do Brasil: Pedro Álvares Cabral.

Em 1500, D. Manuel I, rei de Portugal, fundou uma expedição - comandada por Cabral - com o objetivo de seguir a rota estabelecida por Vasco da Gama até as Índias. Por lá, eles ciariam um posto comercial na cidade de Calecute. E é aí que a história do descobrimento acontece: a expedição teria se perdido no Oceano Atlântico e vindo parar na costa brasileira.

O resumo do Descobrimento do Brasil não termina aqui

Essa história contada por tanto tempo simplifica muito as coisas. Hoje, sabemos que a expedição tinha como objetivo secundário passar na costa brasileira para "garantir" a posse de nossas terras, assegurada pelo Tratado de Tordesilhas. Não à toa, após aportarem no "novo mundo", aconteceram ritos cerimoniais, como a Primeira Missa e a instauração de um entreposto militar.

O primeiro contato entre portugueses e nativos americanos - erroneamente chamados de índios pela tripulação de Cabral - foi eternizado na carta do escriba Pero Vaz de Caminha. O texto descreve hábitos e costumes desses povos - que pertenciam ao tronco linguístico Tupi e eram parte da tribo Tupiniquim.

Após aportarem no Brasil, a expedição de Cabral retomou o curso e seguiu para a Índia. Antes, sofrer diversas baixas ao contornar o chifre da África. Quase quatro meses após partirem daqui, eles, enfim, chegaram a Calecute.

Desembarque de Cabral em Porto Seguro, de Oscar Pereira da Silva, 1922.
Desembarque de Cabral em Porto Seguro, de Oscar Pereira da Silva, 1922. (Imagem: Wikimedia Commons)

Como as provas lembram do descobrimento do Brasil?

Este é um episódio que faz parte de todo um contexto histórico. Ele tem raízes muito mais complexas do que aparentam e um impacto mundial sem precedentes.

Logo, quando aparece no Enem e nos vestibulares, não remete apena ao dia 22 de abril e o descobrimento do Brasil, mas a tudo o que se relaciona com o capítulo histórico no qual esse acontecimento se insere.

Questões tratando do contexto político-econômico na Europa, o choque cultural com os nativos e as representações desses indivíduos feitas pelos europeus, fosse por cartas ou desenhos, são exemplos de como esse resumo sobre o descobrimento do Brasil é lembrado.

Exemplo 1

(Enem 2015) A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.


GÂNDAVO, P M. A primeira historia do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).

A observação do cronista português Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a:

a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.
b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da colonização.
c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade indígena.
d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos portugueses.
e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da língua nativa.

Resposta: [D]
O texto denota a incompreensão do autor em perceber as nuances e os valores culturais dos povos indígenas.

a) Incorreta. A organização das nações não era simples, mas é julgada assim por Pero de Magalhães que as considera “menores” que as estruturas sociais europeias.
b) Incorreta. O texto não fala da dominação portuguesa, mas de elementos culturais e sociais das nações indígenas.
c) Incorreta. Embora haja esse teor por trás do texto, ele não está expresso de forma direta.
e) Incorreta. O texto não cita dificuldade de aprendizado das línguas nativas.

Exemplo 2

(Unicamp 2020) Na América Portuguesa do século XVI, a política europeia para os indígenas pressupunha também a existência de uma política indígena frente aos europeus, já que os Tamoios e os Tupiniquins tinham seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou aos portugueses.


(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história indígena. São Paulo: Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.)

Com base no excerto e nos seus conhecimentos sobre os primeiros contatos entre europeus e indígenas no Brasil, assinale a alternativa correta.


a) A população ameríndia era heterogênea e os conflitos entre diferentes grupos étnicos ajudaram a definir, de acordo com suas próprias lógicas e interesses, a dinâmica dos seus contatos com os europeus.
b) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos aliados contribuiu para neutralizar as disputas entre franceses e portugueses pelo controle do Brasil, pelo papel mediador que os nativos exerciam.
c) Os indígenas, agentes de sua história, desde cedo souberam explorar as rivalidades entre os europeus e mantê-los afastados dos seus conflitos interétnicos, anulando o impacto da presença portuguesa.
d) As etnias indígenas viviam em harmonia umas com as outras e em equilíbrio com a natureza. Esse quadro foi alterado com a chegada dos europeus, que passaram a incentivar os conflitos interétnicos para estabelecer o domínio colonial.

Resposta: [A]
Os povos ameríndios tinham suas próprias relações políticas e sociais, travando conflitos entre si, e por vezes se aliando aos europeus para derrotar povos rivais.


b) Incorreta. O texto não fala de aliança entre Tamoios e Tupiniquins.
c) Incorreta. Os povos indígenas trouxeram os europeus para dentro de seus conflitos interétnicos.
d) Incorreta. As etnias não viviam em harmonia e equilíbrio, frequentemente guerreavam entre si e possuíam suas próprias características sociais.

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Magno Dick

Analista de conteúdo de História no Aprova Total. Graduando em História (licenciatura e e bacharelado) pela UFSC.

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