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Quem foi Tiradentes e como ele atuou na Inconfidência Mineira?

Entenda o movimento de ideologia republicana e separatista que ocorreu na Capitania de Minas Gerais, e conheça a história de seu principal líder

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Na História do Brasil, vários nomes se destacam como símbolos de resistência e luta pela liberdade. Entre eles, está Joaquim José da Silva Xavier, que aparece nos livros oficiais da República Brasileira como herói nacional. Mas afinal, quem foi Tiradentes? E qual seu papel na Inconfidência Mineira?

Para responder a esses e outros questionamentos, apresentamos explicações sobre um dos mais importantes movimentos emancipacionistas do Brasil Colonial!

Além disso, mostramos como esse assunto pode aparecer nos vestibulares e por que o feriado de 21 de abril existe. Quer conhecer mais sobre essa história? Vem com a gente! 📜

O que foi a Inconfidência Mineira?

A Inconfidência (ou Conjuração) Mineira foi um movimento de ideologia republicana e separatista que ocorreu na capitania de Minas Gerais em 1789.

Várias razões contribuíram para o seu surgimento, mas principalmente a insatisfação da elite local com os altos impostos cobrados pela Coroa Portuguesa, como as políticas de derrama e de taxação do ouro aplicadas aos mineradores da capitania.

O que queria a Inconfidência Mineira?

À época, a capitania vivia uma queda na extração de ouro, o que gerou o acúmulo de dívidas de impostos e uma cobrança cada vez mais persistente da Coroa Portuguesa.

Assim, os líderes da Inconfidência Mineira, incluindo figuras como Tiradentes, planejaram uma revolta armada para proclamar a independência de Minas Gerais e estabelecer um governo próprio na região.

O grupo, inspirado por ideais iluministas e pela Independência dos Estados Unidos, discutia formas de fazer uma rebelião acontecer. No entanto, durou poucos meses, pois foi descoberto pelas autoridades coloniais portuguesas antes de executar seus planos.

Por que a Inconfidência Mineira acabou?

Os envolvidos foram denunciados por Joaquim Silvério dos Reis, que delatou o movimento com o intuito de se livrar das dívidas que tinha com a Coroa. Isso resultou em várias prisões e julgamentos, sendo Tiradentes o mais conhecido deles.

Além disso, o movimento não conseguiu o apoio necessário de outras capitanias brasileiras para se manter ativo, o que também contribuiu para sua curta duração.

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Quem foi Tiradentes e o que ele fez?

A origem de Tiradentes está em uma família de mineradores de classe média. Quando mais novo, teve um dentista como tutor, com quem aprendeu o ofício que lhe rendeu esse apelido. Mas, durante sua vida, teve outras profissões, como tropeiro, comerciante e minerador.

Depois, chegou a integrar as forças armadas de Minas Gerais, quando ocupou o posto de segundo tenente, mas desistiu do Exército após não conseguir subir na hierarquia da corporação.

Existem diversas representações históricas de Tiradentes, mas nenhuma descrição física é conhecida de fato
Existem diversas representações históricas de Tiradentes, mas nenhuma descrição física é conhecida de fato (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/José Wasth Rodrigues)

Tiradentes era abertamente contra o governo português, o que o aproximou dos demais membros da conspiração. Porém, não se sabe precisamente se o grupo possuía um líder.

Quando a conspiração foi delatada, os membros foram presos e julgados como traidores. No entanto, todos acabaram exilados, com exceção de Tiradentes, o único que confessou sua participação na rebelião e declarou-se líder do movimento.

Entre a prisão e a execução da pena, Tiradentes passou três anos preso no Rio de Janeiro. Em 21 de abril de 1792, porém, foi enforcado onde hoje fica a Praça Tiradentes, no centro da cidade. Depois de morto, foi esquartejado e teve seus restos mortais pendurados pela estrada que levava a Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais).

Como Tiradentes virou herói nacional?

No decorrer do século 19, pouco se falou a respeito de Tiradentes, cuja história ganhou destaque ao final do período monárquico, pelo esforço de membros do partido liberal que almejavam instaurar uma república no Brasil.

Tiradentes representava tudo aquilo que os liberais buscavam, um mártir que morreu por seus ideais (republicanos) e pela opressão da Coroa Portuguesa. Dessa forma, não levou muito tempo para que a sua história fosse recontada e inúmeras representações sobre ele surgissem.

Inconfidência mineira e Tiradentes
Martírio de Tiradentes, de Aurélio de Figueiredo, 1893 (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Após a Proclamação da República, em 1889, Tiradentes adquiriu a alcunha de herói brasileiro, e sua simbologia começou a integrar obras encomendadas pelo governo brasileiro, que muitas vezes exageravam na representação da história do personagem.

Ele era o homem perfeito para simbolizar a luta contra a monarquia que acabava de chegar ao fim.

Inconfidência Mineira, Tiradentes e a criação do feriado

Mas entre a Proclamação da República e a instauração da Ditadura Militar, incluíram e excluíram a celebração da memória de Tiradentes do calendário oficial brasileiro diversas vezes.

A mais recente aconteceu durante o governo de Castelo Branco que, em 1965, definiu o dia 21 de abril como feriado nacional e fez de Tiradentes patrono do país, pela Lei nº 4.897.

Debate historiográfico da imagem de Tiradentes

Muito se debate sobre a memória de Tiradentes e da Inconfidência Mineira. Isso porque é incontestável a relevância do movimento na história do Brasil. Entretanto, omite-se o fato de que, apesar do caráter separatista, a conjuração não incorporou as diferentes camadas sociais brasileira da época.

Além disso, por ter acabado antes de qualquer atuação pública, torna-se difícil analisar quais impactos ela teria sobre a Coroa Portuguesa.

Outro ponto importante é a maneira como o positivismo republicano e o ufanismo militar se aproveitaram da simbologia de Tiradentes. A data e a memória popular a seu respeito foi moldada sobre o que esses grupos buscavam exaltar.

Durante o governo militar, por exemplo, Tiradentes era retratado com barbas e cabelos compridos, semelhante a Jesus Cristo, e sempre representado com uma forca no pescoço, a fim de mostrar o preço de defender as próprias ideias.

Resumo: Tiradentes e Inconfidência Mineira

  • A Inconfidência Mineira foi um movimento de ideologia republicana e separatista que ocorreu na capitania de Minas Gerais em 1789;
  • O objetivo do movimento era proclamar a independência de Minas Gerais, pois as elites locais estavam insatisfeitas com o aumento da cobrança de impostos da Coroa Portuguesa e da taxação do ouro na região;
  • Tiradentes ou Joaquim José da Silva Xavier teve diversas profissões ao longo da vida. Ele aprendeu o ofício de dentista, foi tropeiro, comerciante, minerador e até mesmo segundo tenente do Exército;
  • Tiradentes era abertamente contra o governo português, e foi o único membro do movimento que confessou sua participação. Ele permaneceu três anos preso até ser enforcado em 21 de abril de 1792.

Como Inconfidência Mineira e Tiradentes caem no vestibular?

Inconfidência Mineira e Tiradentes são temas que aparecem no Enem e nos vestibulares relacionados justamente aos debates sobre o positivismo republicano e o ufanismo militar.

Questões relacionadas à memória social e popular são as mais frequentes, além daquelas que tratam do papel do movimento durante o Brasil Colonial, em contraste com a Conjuração Baiana, que ocorreu anos depois da Mineira.

A seguir, veja dois exemplos sobre o tema que caíram em processos seletivos.

Exemplo 1

(Puccamp 2018) Tiradentes era alguém com todas as características e ressentimentos de um revolucionário. Além do mais, ele se apresentava para o martírio ao proclamar sua responsabilidade exclusiva pela inconfidência. Era óbvia a sedução que o enforcamento do alferes representava para o governo português: pouca gente levaria a sério um movimento chefiado por um simples Tiradentes (e as autoridades lusas, depois de outubro de 1790, invariavelmente se referiam ao alferes por seu apelido de Tiradentes).

MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa. A Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal 1750-1808. São Paulo: Paz e Terra, 1995, p. 216.

Ao proclamar sua responsabilidade exclusiva pela inconfidência, Tiradentes favoreceu

a) os conspiradores brasileiros e portugueses que pretendiam fazer dele o herói de uma epopeia nacional.

b) os companheiros de movimento e poetas Claudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga.

c) seus cúmplices e escritores Basílio da Gama e Gregório de Matos.

d) os revoltosos e fanáticos monarquistas agrupados num arraial de Minas Gerais.

e) os companheiros intelectuais que propagavam suas causas nos jornais do primeiro Império.

Resposta: [B]
Quando Tiradentes assume a liderança do movimento, exime certa parcela de culpa dos demais integrantes do movimento.

Exemplo 2

(Enem 2017) O instituto popular, de acordo com o exame da razão, fez da figura do alferes Xavier o principal dos Inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração de glória. Merecem, decerto, a nossa estima aqueles outros; eram patriotas. Mas o que se ofereceu a carregar com os pecadores de Israel, o que chorou de alegria quando viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que só ia ser executada nele, o enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por todos, visto que pagou por todos.

ASSIS, M. Gazeta de Notícias, n. 114, 24 abr. 1892.

No processo de transição para a República, a narrativa machadiana sobre a Inconfidência Mineira associa

a) redenção cristã e cultura cívica.

b) veneração aos santos e radicalismo militar.

c) apologia aos protestantes e culto ufanista.

d) tradição messiânica e tendência regionalista.

e) representação eclesiástica e dogmatismo ideológico.

Resposta: [A]
Durante a República, Tiradentes passa a ser representado como mártir da insurreição e é transformado em "exemplo heroico" a ser seguido pelos brasileiros. Há diversas representações dele em cenas similares à procissão de Cristo. No texto, essa representação aparece no trecho "o que se ofereceu a carregar com os pecadores de Israel".

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Magno Dick

Graduando em História (licenciatura e e bacharelado) pela UFSC e colaborador no blog do Aprova Total.

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