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Conheça o Brics; bloco deve integrar novos países

Anúncio foi feito na 15ª cúpula do bloco, que aconteceu em agosto; Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia receberam o convite

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Na quinta-feira (24 de agosto), o Brics anunciou que há um processo de expansão para novos países em 2023. A sigla se refere a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia agora receberam o convite para se tornarem membros plenos.

Atualmente, os argentinos são os principais parceiros do Brasil no Mercado Comum do Sul (Mercosul), mas a movimentação para chegada dos novos parceiros foi liderada, principalmente, pela China.

Essa integração deve acontecer de fato a partir de 2024, conforme anunciou Cyril Ramaphos, presidente da África do Sul, anfitrião da 15ª cúpula do bloco, que aconteceu em Joanesburgo. Segundo diplomatas, o termo "convite" é apenas uma formalidade, visto que já havia interesse dessas nações em participar do bloco.

Apesar da novidade, ainda não ficou definido se o Brics ganhará outro nome, que é formado pelas iniciais dos atuais cinco membros.

O que é o Brics?

O termo “Bric” foi criado pelo economista britânico Jim O’Neill, em 2001, que considerava China, Índia, Rússia e Brasil como países muito promissores no século 21.

Economista britânico Jim O’Neill
Jim O'Neill é chefe de pesquisa em economia global do grupo financeiro Goldman Sachs desde 2001 (Imagem: Reprodução New China/brics-info.org)

Os anos seguintes foram de forte crescimento global, freado apenas pela crise financeira de 2008, que teve início nos Estados Unidos. Em 2009, os líderes do Bric se reuniram pela primeira vez, e logo o bloco cresceu, tornando-se Brics com a adesão da África do Sul (South Africa em inglês).

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a ideia do Brics fixou-se como categoria de análise nos meios econômico-financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Esse agrupamento de países nasceu com caráter informal, sem um secretariado fixo ou fundos parar financiar suas atividades.

Ainda assim, o Ipea considera que há um grau de institucionalização que foi se definindo, à medida que os cinco países ampliaram sua interação política. Para isso surgiram as cúpulas, sendo que a primeira aconteceu em Ecaterimburgo, na Rússia, em 16 de junho de 2009.

Como está o Brics hoje em dia?

A realidade global era menos tensa quando o Brics foi criado, mas tudo mudou a partir de 2010.

Demonstrações de rivalidade entre Estados Unidos e China ganharam peso, e a Rússia de Vladimir Putin anexou a Crimeia ucraniana em 2014. Em retaliação, o país foi suspenso do G8, que desde então é G7, grupo das economias mais desenvolvidas do planeta, como Alemanha, Canadá, Estados Unidos e França.

Dessa forma, o cenário de confronto deixou pouco espaço para iniciativas dos Brics, dados os interesses nacionais díspares dos membros.

Neste momento, a China vê no Brics um trampolim para enfrentar os Estados Unidos, ao reunir um bloco de nações. A Rússia segue o mesmo rumo, tentando romper o isolamento causado pela guerra imperial na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. A Índia busca ampliar seu poder internacional, mas também é um aliado essencial dos Estados Unidos no Oceano Índico.

Brasil e África do Sul aparecem como os membros mais fracos do grupo, enquanto os mais fortes discordam na maioria das questões.

No geral, o Brics se coloca como representante de uma ordem internacional mais igualitária e multipolar, que representaria o sul global, ou seja, os países subdesenvolvidos.

Contudo, suas iniciativas têm dificuldade em sair do papel, a exemplo do Banco de Desenvolvimento dos Brics, que não decolou. A ideia de uma moeda de transação para o bloco, que substitua o dólar americano, também foi quase ignorada pela maioria dos membros na recente cúpula realizada em Joanesburgo.

Brics e os novos países em 2023

A chegada dos novos países no Brics em 2023 se deu tanto por considerações geopolíticas como geoeconômicas. Do Oriente Médio, a China insistiu em incluir três países exportadores de petróleo (Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos), setor que alimenta seus governos autoritários e teocráticos.

Por sua vez, a África do Sul insistiu na entrada da Etiópia, uma das maiores populações africanas e que ainda se recupera da recente guerra civil (2020-2022). Enquanto a Argentina aderiu ao Brics pela insistência brasileira, ao mesmo tempo que enfrenta uma crise econômica grave.

Dessa forma, os novos países do Brics, convidados a integrar o grupo em 2023, são: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egito, Irã e Etiópia.

Líderes do Brics na 15ª cúpula, realizada em agosto de 2023
Líderes do Brics na 15ª cúpula, realizada em agosto de 2023, da esquerda para direita: Luiz Inácio Lula da Silva, Xi Jinping, Cyril Ramaphosa, Narendra Modi e Sergey Lavrov (Imagem: Press Information Bureau/ Wikimedia Commons)

Na recente cúpula de Joanesburgo, porém, nem todos os líderes dos Brics compareceram. Vladimir Putin enviou o ministro do exterior Serguei Lavrov, e participou por videoconferência.

O motivo? A África do Sul é membro do Tribunal Penal Internacional (TPI), que condenou Putin à prisão pela deportação de crianças da Ucrânia invadida. A possibilidade era mínima, mas o país anfitrião do evento poderia prender o líder russo caso ele pisasse em solo sul-africano.

Qual a importância do Brics para a economia mundial?

O Brics se inspira no Movimento dos Não-Alinhados (NAM) da Guerra Fria (1947-1989), que agruparia o Terceiro Mundo subdesenvolvido face ao Segundo Mundo (soviético) e o Primeiro Mundo (capitalista).

Esse ideal terceiro-mundista, porém, nunca resultou em um bloco firme, dadas as rivalidades internas, como entre Índia e China, que até hoje disputam fronteiras na cadeia dos Himalaias.

Os países do Brics são ricos em recursos naturais, possuem grandes reservas de petróleo, gás natural, minério de ferro, ouro, água, entre outras riquezas. Em solo brasileiro os recursos se expandem para os milhares de hectares destinados à agricultura, com plantações de milho, soja e trigo, além da forte presença da agropecuária.

Agora, com a nova composição do bloco, sua população passará a representar 46% do planeta e cerca de 36% do total mundial do Produto Interno Bruto (PIB).

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Outras alianças internacionais

Entre os Brics, há um debate sobre a ampliação das vagas permanentes no Conselho de Segurança das Nações Unidas, que tem apenas Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França. Índia e Brasil querem pertencer ao grupo, mas não há total concordância sobre o assunto. 

Além disso, cada membro se envolve em blocos econômicos e geopolíticos regionais.

A África do Sul é membro de liderança histórica dentro da União Africana, que engloba o continente como um todo. O Brasil tem como sua principal integração econômica o Mercosul, junto com Argentina, Uruguai e Paraguai. Nesse contexto, surgem dúvidas sobre como ficam as negociações de um acordo entre Mercosul e União Europeia, por exemplo, com a retórica antiocidental presente na recente reunião entre os Brics.

Nas últimas décadas, também o G20 tem ganhado importância como grupo que envolve o G7 e as economias emergentes e em desenvolvimento do planeta, desde o Brasil à Coreia do Sul, passando pela Turquia e pelo México.

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Como o Brics aparece nos vestibulares?

As questões sobre o Brics no vestibular costumam abordar a ideia de multipolaridade do sistema internacional, com cuidado para não confundir essa iniciativa diplomática com o funcionamento dos blocos econômicos, como Mercosul e União Europeia.

É importante destacar a diversidade interna do bloco. Mesmo que haja características semelhantes entre os membros, como o potencial para se desenvolver economicamente, são países bastante diferentes.

Exemplo 1

(UFPR 2012) O termo BRICS tem sido utilizado para designar os países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sobre esses países, é correto afirmar que:

a) Formam um bloco econômico que, a exemplo do Mercosul e da União Europeia, estão estabelecendo um conjunto de tratados e acordos visando a integração da economia.

b) São considerados países emergentes, embora possuam diferenças expressivas entre si, no que diz respeito a população, território, recursos naturais e industrialização.

c) Sua importância como bloco econômico e político tem reformulado a geopolítica mundial e rivalizado com outras entidades supranacionais, a exemplo da ONU.

d) Uma das suas características é a semelhança no regime político adotado, mostrando que o mundo ainda se divide por questões de natureza ideológica.

e) Sua emergência como bloco foi consequência da alta capacidade em articular necessidades globais com interesses regionais, acima dos interesses econômicos e políticos.

Resposta: [B]
A alternativa destaca a diversidade no interior dos Brics, que não forma um bloco econômico, contrariando a alternativa [A], e nem rivaliza com as instituições da Organização das Nações Unidas (ONU), como afirma a [C]. Diferente do que afirma a alternativa [D], não há semelhança entre os regimes políticos adotados nos Brics. Há interesses econômicos e geopolíticos diversos dentro dessa iniciativa internacional, tornando incorreta a alternativa [E].

Exemplo 2

(FATEC 2013)

mapa para questão da fatec sobre o brics

É correto afirmar que as regiões destacadas em preto no mapa representam os países que:

a) formam os BRICS, conjunto de países emergentes que possuem características comuns como, por exemplo, relevante crescimento econômico.

b) priorizam a energia nuclear como matriz energética e, por esse motivo, investem no enriquecimento de urânio para abastecer suas usinas.

c) são os maiores exportadores de produtos primários, como a cana-de-açúcar, banana e soja, por serem países de solo fértil.

d) formam o bloco econômico NAFTA, que tem como finalidade eliminar as barreiras alfandegárias entre seus membros.

e) formam o bloco denominado G5, que se caracteriza pela desaceleração da industrialização e pela crise econômica.

Resposta: [A]
Os Brics são comumente tratados como países emergentes, com grande potencial de crescimento econômico, principalmente na época em que a questão foi lançada, início da década de 2010.

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Víctor Daltoé dos Anjos

Professor de Atualidades do Aprova Total. Bacharel e licenciado em Geografia pela UFSC e mestre em Ciência Política pela mesma instituição.

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