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Dados da ONU revelam que 21,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil

No mundo, a desigualdade ainda mantém indivíduos à beira da desnutrição, especialmente nos países com menor IDH; guerras civis estão entre as principais causas

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A insegurança alimentar envolve um contexto maior que a fome, rótulo que trata de casos mais específicos, extremos, como crises humanitárias e falta total de alimentos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera insegurança alimentar leve quando existe preocupação ou incerteza quanto ao acesso à comida no futuro. Dessa forma, há queda na qualidade adequada de alimentação, em uma estratégia para não comprometer a quantidade disponível.

Já a moderada, para o IBGE, envolve redução quantitativa no consumo de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões alimentares. A insegurança alimentar grave, por sua vez, abrange situações em que se reduz a alimentação também entre as crianças, ou seja, o padrão se rompe para todos os moradores do domicílio. 

Atualmente, o combate à insegurança alimentar é colocado, muitas vezes, a cargo do Estado, que tem inúmeros instrumentos para fazê-lo. Um dos mais comuns, desde os anos 1990 – e por recomendação do Banco Mundial – é a criação de programas de renda básica.

Os beneficiários são, em geral, indivíduos e famílias que não teriam recursos suficientes para manter uma dieta saudável, quantitativamente e qualitativamente. O maior exemplo brasileiro é o Bolsa Família, consolidado no início do século 21 a partir de políticas públicas iniciadas na década anterior.

Principais causas da insegurança alimentar

O fantasma da fome rondou a humanidade ao longo de sua história, quando a baixa produção agrícola combinava-se com catástrofes ambientais, gerando crises e queda populacional.

No entanto, as primeiras revoluções industriais permitiram aumentar a produtividade do trabalho agropecuário, e a evolução dos meios de transporte levou socorro às zonas que sofriam com insegurança alimentar, exigindo também ação do Estado.

A partir das décadas de 1950, a chamada Revolução Verde proporcionou novas perspectivas aos países em desenvolvimento.

Desde então, houve abundância de alimentos no mercado internacional, colocando no horizonte a possibilidade de erradicação do problema. Por outro lado, a desigualdade ainda mantém milhões de indivíduos à beira da desnutrição, notadamente nos países de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

No Iêmen, por exemplo, localizado na Península Arábica, a guerra civil que começou em 2015 transformou o país num dos mais afetados pela fome.

garota em situação de guerra no Iêmen
Menina vítima da guerra civil na cidade de Taiz, no Iêmen (Imagem: Adobe Stock)

São 33 milhões de habitantes, sendo 17 milhões em situação de insegurança alimentar, segundo o Programa Mundial de Alimentos (WFP).

Outro caso é da região do Tigré, na Etiópia, que sofreu um bloqueio pelo exército do país em meio a um conflito civil recente (2020-2022). A fome foi utilizada como arma de guerra, colocando 400 mil pessoas em condições desumanas.

Dados da ONU evidenciam impactos da insegurança alimentar

A insegurança alimentar grave é o que a Organização das Nações Unidas (ONU) considera como fome. O problema atinge cerca de 735 milhões de pessoas no mundo e 21,1 milhões no Brasil, quase 10% da população nacional.

Se incluirmos a condição moderada, são 70,3 milhões de brasileiros que sofrem com a falta de alimentos e 2,3 bilhões no mundo todo. Os números podem ser encontrados no relatório “Estado da Insegurança Alimentar e Nutricional no Mundo 2023”.

brasileiro procura frutas insegurança alimentar
21,1 milhões de pessoas vivem sob insegurança alimentar grave no Brasil (Imagem: Adobe Stock)

Os novos dados foram compilados por alguns organismos vinculados à ONU, como a FAO (Agência das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA).

As instituições multilaterais continuam sendo essenciais para acompanhar a evolução das mazelas humanas na escala global. Dentre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, o fim da fome aparece em segundo lugar, atrás apenas da erradicação da pobreza.

Na comparação com o triênio anterior (2019-2021), 1,5 milhões de brasileiros entraram para as estatísticas da fome, e 122 milhões no mundo todo, principalmente oriundos da África, do Oriente Médio e do Caribe.

A difícil recuperação econômica após a pandemia é uma das causas para o agravamento da situação, assim como a Guerra da Ucrânia. O bloqueio russo aos portos ucranianos dificultou a exportação de grãos do país invadido, essencial para abastecer diversos países com trigo, da Nigéria à Argélia, do Marrocos ao Iêmen. 

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Como esse assunto aparece no Enem e nos vestibulares?

Confira exemplos de questões que já caíram no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares.

Exemplo 1

(ENEM 2019) A fome não é um problema técnico, pois ela não se deve à falta de alimentos, isso porque a fome convive hoje com as condições materiais para resolvê-la.

PORTO-GONÇALVES, C. W. Geografia da riqueza, fome e meio ambiente. In: OLIVEIRA, A. U.; MARQUES, M. I. M. (Org.).O campo no século XXI: território de vida, de luta e de construção da justiça social. São Paulo: Casa Amarela; Paz e Terra, 2004 (adaptado).

O texto demonstra que o problema alimentar apresentado tem uma dimensão política por estar associado ao(à):

a) escala de produtividade regional.

b) padrão de distribuição de renda.

c) dificuldade de armazenamento de grãos.

d) crescimento da população mundial.

e) custo de escoamento dos produtos.

Resposta: [B]
O texto de introdução ressalta que já há condições materiais para resolver a fome, não faltando produtividade, dificuldade de armazenamento ou escoamento.

Exemplo 2

(FUVEST 2010) "Pela primeira vez na história da humanidade, mais de um bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de subnutrição em todo o mundo. O aumento da insegurança alimentar que aconteceu em 2009 mostra a urgência de encarar as causas profundas da fome com rapidez e eficácia." 

Relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), primeiro semestre de 2009.

Tendo em vista as questões levantadas pelo texto, é correto afirmar que:

a) a principal causa da fome e da subnutrição é a falta de terra agricultável para a produção de alimentos necessários para toda a população mundial.

b) a proporção de subnutridos e famintos, de acordo com os dados do texto, é inferior a 10% da população mundial.

c) as principais causas da fome e da subnutrição são disparidades econômicas, pobreza externa, guerras e conflitos.

d) as consequências da subnutrição severa em crianças são revertidas com alimentação adequada na vida adulta.

e) o uso de organismos geneticamente modificados na agricultura tem reduzido a subnutrição nas regiões mais pobres do planeta.

Resposta: [C]
As principais causas da fome envolvem desigualdade socioeconômica e conflitos, e não a falta de terra agricultável. Além disso, o uso de transgênicos não impede que a fome continue presente, e a subnutrição na infância pode ter consequências ainda na vida adulta. A proporção subnutridos em 2009 era maior que 10% da população mundial, pois havia 1,02 bilhão de pessoas nessa situação enquanto o planeta possuía 7 bilhões de habitantes.

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Víctor Daltoé dos Anjos

Professor de Atualidades do Aprova Total. Bacharel e licenciado em Geografia pela UFSC e mestre em Ciência Política pela mesma instituição.

Ver mais artigos de Víctor Daltoé dos Anjos >

Professor de Atualidades do Aprova Total. Bacharel e licenciado em Geografia pela UFSC e mestre em Ciência Política pela mesma instituição.

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