Veja como Brasil Colônia é cobrado no Enem; e mais: exercícios resolvidos
Confira os conceitos básicos para entender esse período e saiba como a prova costuma abordá-los nas questões
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O Brasil Colônia (1530-1822), período que marca a exploração e o domínio dos portugueses sobre o território brasileiro, é um tema muito cobrado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Sua importância reside na formação da sociedade brasileira, com suas raízes, desigualdades e contradições que ainda hoje se fazem presentes. Por isso, dominá-lo contribui tanto para a compreensão da história do Brasil.
A prova tende a cobrar esse conteúdo aliado ao contexto mais amplo da história do mundo, fazendo relações com as Grandes Navegações, o mercantilismo e o Absolutismo.
Por ser dependente de Portugal, a história do Brasil colonial tem conexões com a história da Europa neste mesmo período. Assim, os eventos que marcaram a política e a economia portuguesas e de outras nações como Inglaterra, França Holanda vão afetar os acontecimentos em terras brasileiras.
A seguir, você confere alguns conceitos básicos para entender a história do Brasil Colônia e melhorar seu desempenho no Enem.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O sistema colonial
O sistema colonial, estabelecido e mantido entre os séculos 16 e 19, foi um modelo econômico e administrativo adotado por Portugal para explorar os territórios do Brasil na América. Nesse contexto, podemos destacar os seguintes aspectos:
Pacto colonial
No contexto do mercantilismo, as potências econômicas passaram a explorar territórios na América. Essa exploração era baseada na exclusividade do comércio entre metrópole - em nosso caso, Portugal - e colônia - em nosso caso, Brasil.
O pacto colonial visava o lucro de Portugal sobre a produção brasileira, mas teve fim em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos às nações amigas.
Ciclo da cana-de-açúcar
O primeiro grande ciclo econômico do Brasil e um dos principais do período foi o ciclo da cana-de-açúcar. A cultura se adaptou bem ao clima tropical e ao solo fértil, especialmente na região Nordeste, onde se concentraram as primeiras plantações.
O desenvolvimento dessa atividade foi fortemente incentivado pela Coroa Portuguesa, que via no açúcar uma valiosa fonte de receita.
A produção era baseada no sistema de plantation, com grandes latifúndios, mão de obra escravizada, monocultura e produção voltada para o mercado externo.
O ciclo do açúcar propiciou o surgimento de uma sociedade profundamente hierarquizada e baseada na grande propriedade rural. Além disso, o desenvolvimento das zonas açucareiras contribuiu para a criação de vilas e cidades que serviam como centros administrativos e comerciais.
Mineração
O ciclo da mineração foi o segundo ciclo econômico do Brasil colonial, e se concentrou na região de Minas Gerais. Caracterizou-se por uma dinâmica de urbanização, mas ainda com mão de obra escravizada, grande concentração de renda e foco no mercado externo.
Para administrar a exploração e garantir a arrecadação dos impostos sobre o ouro, a coroa portuguesa implementou um rigoroso sistema de controle, como as Casas de Fundição, onde o ouro era fundido e marcado antes de ir para Portugal.
No final do século 18, a produção de ouro começou a declinar devido ao esgotamento das minas mais acessíveis e à dificuldade de explorar novas áreas. Esse declínio teve repercussões profundas na economia colonial, levando a Coroa Portuguesa a buscar outras fontes de receita e a impor ainda mais tributos sobre a colônia.
Outras atividades econômicas
Além dos ciclos econômicos principais, outras atividades, como pecuária e manufatura estavam presentes. É importante compreender que esses ciclos dividiram espaço com práticas voltadas à subsistência, ao comércio interno e à exportação de menor escala.
Durante o século 18, por exemplo, o algodão começou a ganhar importância, como uma alternativa ao açúcar. O algodão brasileiro era exportado principalmente para a Grã-Bretanha, onde alimentava a crescente indústria têxtil durante a Revolução Industrial.
Mais tarde, no século 19, o cultivo de café se destacou no Vale do Paraíba, entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Rapidamente, se tornou o principal produto de exportação do Brasil, superando o açúcar e o ouro.
Aspectos socioculturais do Brasil Colônia
Os aspectos socioculturais englobam as estruturas socioeconômicas e culturais implementadas no Brasil pelos portugueses. Envolvem ainda as influências indígenas e africanas, e a formação de uma cultura própria da colônia, com características ainda mais diversas.
Sociedade colonial
A sociedade colonial era altamente hierarquizada, patriarcal e escravista, com os senhores de engenho no topo da pirâmide social. Esses grandes proprietários de terras e comerciantes ricos, além de controlar a economia, detinham grande poder político.
Já a Igreja Católica desempenhava um papel central, influenciando aspectos morais, educacionais e sociais.
Complexa e multifacetada, a sociedade colonial era marcada por profundas desigualdades, mas também por uma rica troca cultural entre os diferentes grupos étnicos que compunham o Brasil Colônia. O entendimento sobre ela é base para todas as questões a respeito do Brasil Colônia.
Escravidão
A escravidão foi a base da economia durante os períodos colonial e monárquico. Inicialmente, utilizava-se a mão de obra escravizada indígena, que foi proibida no Brasil em 1758. Porém, o Brasil continuou explorando negros escravizados por mais de 300 anos, até a abolição, em 1888.
O sistema escravocrata moldou a sociedade brasileira colonial e deixou reflexos persistentes e sistemáticos que perpetuam preconceitos e desigualdades.
Em sua maioria provenientes da África Ocidental e Central, essas pessoas eram submetidas a jornadas exaustivas, castigos físicos e psicológicos brutais, além de serem privadas de sua liberdade cultural e de identidade.
O Enem pode trazer questões sobre as demonstrações de resistência à escravidão, a estrutura da sociedade escravista e a influência das culturas africanas no Brasil.
Arte barroca
O ciclo da mineração foi marcado por um período de intensa produção artística e cultural, com o Barroco se destacando como o estilo dominante.
Influenciada pelas ideias da Contrarreforma católica, a arte barroca brasileira expressava o protagonismo do catolicismo na sociedade colonial, a riqueza da elite mineradora e o exagero e o rebuscamento característicos do Barroco europeu.
Nas questões de Brasil Colônia no Enem, estão presentes o contexto da mineração e sua influência na arte barroca, os materiais utilizados pelos artistas para produzir e as particularidades do barroco brasileiro, em comparação ao europeu.
Religião e sincretismo religioso
A Igreja Católica era a instituição religiosa oficial da colônia e detinha grande poder político e social. Missões realizadas pelos jesuítas foram formas de catequizar os povos indígenas e propagar a fé católica. Além disso, a construção de conventos e seminários consolidava a presença da Igreja no Brasil.
Mesmo com a forte presença católica, as crenças indígenas e africanas não foram apagadas, mas sim transformadas. Os povos originários e os escravizados lutaram para adaptar seus rituais e celebrar suas divindades como forma de resistência à imposição do catolicismo e à tentativa de apagamento das culturas não europeias.
Como exemplo, é possível citar a incorporação de elementos indígenas e africanos em práticas católicas, a preservação de cultos ancestrais e a criação de novas religiões afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda.
O sincretismo religioso (a mistura dos elementos de diferentes crenças) se configurava como estratégia de sobrevivência e adaptação. Ou seja, os povos colonizados buscavam encontrar equivalentes entre suas crenças ancestrais e a fé católica, criando um novo sistema religioso para manter viva sua identidade cultural e espiritual.
Cultura indígena
Quando os portugueses chegaram às terras que hoje são o Brasil, havia aqui centenas de povos originários diferentes. Sua cultura, língua e costumes influenciaram a formação da sociedade brasileira em setores como culinária, medicina, religiosidade e outros.
No Enem, é comum aparecerem questões sobre a relação entre povos indígenas e colonizadores, jesuítas e bandeirantes, assim como a catequização de indígenas durante o período colonial e as formas de resistência à colonização.
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Contexto histórico do Brasil Colônia
O contexto histórico refere-se ao conjunto de circunstâncias, eventos e condições que caracterizam um período específico no tempo e que influenciam a maneira como as pessoas viviam, pensavam e agiam.
Isso quer dizer que inclui aspectos sociais, políticos, econômicos, culturais e tecnológicos, diretamente ligados ao desenvolvimento e às transformações de uma sociedade.
A seguir, vamos conhecer o contexto que permeia o Brasil Colônia e as possíveis abordagens presentes no Enem.
Absolutismo monárquico
O Absolutismo era uma forma de governo característica da Idade Moderna na Europa. Nele, o monarca detinha poder absoluto sobre o reino e seus súditos, justificado pela retórica do “poder divino dos reis”.
No governo absolutista, destacava-se o mercantilismo, com grande intervenção na economia, e o metalismo, em que o poder econômico do reino se baseava na concentração de metais preciosos.
Mas qual a relação do Absolutismo com o conteúdo de Brasil Colônia no Enem? O metalismo foi um dos grandes impulsionadores das Grandes Navegações (séculos 15 e 16). Portanto, elas foram financiadas pelos reinos de Portugal e da Espanha, que buscavam metais preciosos em outros continentes.
Grandes Navegações e a colonização do Brasil
A chegada dos portugueses e a posterior colonização do Brasil aconteceram no contexto das Grandes Navegações.
Esse período marcou o início da Idade Moderna e levou à exploração de outros continentes pelos reinos europeus, que buscavam metais preciosos e queriam o domínio do comércio de especiarias. Como você já viu, Portugal e Espanha foram as principais potências marítimas e coloniais.
Em 1500, ano da chegada dos portugueses à costa brasileira, Portugal tinha o domínio da rota atlântica do comércio com as índias, sem qualquer interesse de financiar um projeto colonizador no Brasil. Assim, durante 30 anos, no período pré-colonial, os portugueses exploraram o pau-Brasil e formaram feitorias (ou armazéns para atividades comerciais).
Somente em 1530, quando Portugal perdeu o monopólio das Índias, a colonização, de fato, começou no Brasil.
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Reforma e Contrarreforma
As reformas religiosas foram movimentos de crítica e dissidência da Igreja Católica que levaram à formação de religiões protestantes como o Luteranismo, o Calvinismo e o Anglicanismo.
Em resposta, a Igreja Católica iniciou uma contrarreforma, pensando em combater a disseminação do Protestantismo e reafirmar a doutrina e a prática católicas.
Uma dessas ações foi a criação da Companhia de Jesus (ou Ordem dos Jesuítas), que tinha como missão a catequização de povos não católicos, como os indígenas no Brasil.
União Ibérica
A União Ibérica representa o momento de fusão entre os reinos de Portugal e Espanha, de 1580 a 1640, que gerou consequências para a colônia, como a invasão holandesa ao nordeste açucareiro.
Essa união ocorreu devido à crise de sucessão em Portugal após a morte do rei Dom Sebastião na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, e a subsequente morte do cardeal-rei Henrique I. A falta de um herdeiro direto levou à ascensão do rei Filipe II da Espanha, que era neto de um rei português, unindo assim os dois reinos sob um monarca.
A administração do Brasil e a defesa das suas fronteiras foram negligenciadas durante a União Ibérica, pois os espanhóis direcionaram sua atenção a seus próprios interesses e conflitos. Isso teve impacto na eficiência da administração colonial e na capacidade do território em se defender.
Com isso, como os holandeses estavam em conflito com a Espanha devido à Guerra dos Oitenta Anos, a Holanda buscou enfraquecer o poder espanhol atacando suas colônias - como fez com o Brasil.
Iluminismo e reformas pombalinas
O Iluminismo foi uma corrente de pensamento filosófico iniciada no final do século 17, mas que teve maior influência no século 18. Começou na França, mas logo se espalhou para várias partes do mundo, influenciando revoluções, revoltas e reformas políticas contrárias ao Absolutismo monárquico.
Com receio de movimentos como a Revolução Francesa, muitos governantes absolutistas implementaram reformas iluministas para se manterem no poder. Eles ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos. Um deles foi o Marquês de Pombal, secretário de Estado durante o reinado de D. José I.
Algumas as reformas de Pombal mexeram com a vida na colônia, resultando na expulsão dos jesuítas do Brasil e na proibição da escravidão indígena.
O Iluminismo também influenciou várias revoltas do período colonial, como a Inconfidência Mineira, a Conjuração Baiana e a Revolução Pernambucana.
Brasil Colônia no Enem: questões resolvidas
A seguir, você confere exemplos de questões de provas anteriores do Enem, para se familiarizar ainda mais com o tema Brasil Colônia e aumentar suas chances de acertos.
Exemplo 1
(Enem 2023) Seda, madeiras aromáticas e têxteis, obras de arte, lã, cristais e muitas, muitas peças de porcelana chegaram ao Brasil ao longo dos séculos XVII e XVIII. A opulência proporcionada pelo ouro fez com que esses itens fossem ainda mais presentes em cidades mineiras como Ouro Preto, Mariana e Sabará. Esses objetos inspiraram a criação das chinesices, termo que designa um tipo de arte que evoca motivos chineses, presentes em várias igrejas barrocas de Minas Gerais. No Brasil, é bem provável que a inspiração para as pinturas nas igrejas barrocas com pássaros, elefantes, tigres, mandarins e pagodes tenha sido tirada de gravuras, tecidos, móveis e, principalmente, das porcelanas chinesas que circulavam livremente em uma sociedade enriquecida pelo comércio do ouro e pedras preciosas.
MARIUZZO, P. Estudos interdisciplinares ampliam conhecimento sobre chinesice no barroco mineiro. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br. Acesso em: 23 nov. 2021 (adaptado).
O desenvolvimento do processo artístico descrito no texto foi possível pelo(a)
a) representação arquitetônica.
b) intercâmbio transcontinental.
c) dependência econômica.
d) intervenção estatal.
e) padrão estético
Resposta: [B]
O texto menciona que objetos como seda, madeiras aromáticas, tecidos, obras de arte, lã, cristais e muitas peças de porcelana chinesa chegaram ao Brasil nos séculos 17 e 18. Assim, com a riqueza proporcionada pelo ouro, esses itens ficaram ainda presentes em cidades mineiras e inspiraram a criação das "chinesices", um tipo de arte que se fez presente em várias igrejas barrocas de Minas Gerais. O contexto apresentado deixa claro que a influência artística chinesa chegou ao Brasil por meio do intercâmbio cultural e comercial transcontinental.
Exemplo 2
(Enem 2021) De um lado, ancorados pela prática médica europeia, por outro, pela terapêutica indígena, com seu amplo uso da flora nativa, os jesuítas foram os reais iniciadores do exercício de uma medicina híbrida que se tomou marca do Brasil colonial. Alguns religiosos vinham de Portugal já versados nas artes de curar, mas a maioria aprendeu na prática diária as funções que deveriam ser atribuídas a um físico, cirurgião, barbeiro ou boticário.
GURGEL, C. Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto 2010, (adaptado).
Conforme o texto, o que caracteriza a construção da prática medicinal descrita é a
a) adoção de rituais místicos.
b) rejeição dos dogmas cristãos.
c) superação da tradição popular.
d) imposição da farmacologia nativa.
e) conjugação de saberes empíricos.
Resposta: [E]
O texto descreve como os jesuítas adotaram uma medicina híbrida que se tornou marca do Brasil colonial. Essa prática envolvia o amplo uso da flora nativa e o aprendizado diário das funções médicas. A prática medicinal descrita no texto não se limita a uma única tradição ou abordagem, ela combina conhecimentos empíricos (pautados na observação) de origens europeias e indígenas.
Exemplo 3
(Enem 2020) Porque todos confessamos não se poder viver sem alguns escravos, que busquem a lenha e a água, e façam cada dia o pão que se come, e outros serviços que não são possíveis poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime sendo tão poucos, que seria necessário deixar as confissões e tudo mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem, quando puder para nossos colégios e casas de meninos.
LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938 (adaptado).
O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao buscar justificar a
a) propagação do ideário cristão.
b) valorização do trabalho braçal.
c) adoção do cativeiro na Colônia.
d) adesão ao ascetismo contemplativo.
e) alfabetização dos indígenas nas Missões.
Resposta: [C]
O texto, ao ressaltar a defesa dos jesuítas à utilização da mão de obra escrava em seus colégios e casas de meninos, aponta a adoção do trabalho cativo na colônia, uma vez que os jesuítas eram agentes da colonização portuguesa. Mesmo que a Companhia de Jesus fosse contrária à escravização sistemática de indígenas, seu trabalho estava presente nas missões.
Exemplo 4
(Enem 2019) A partir da segunda metade do século XVIII, o número de escravos recém-chegados cresce no Rio e se estabiliza na Bahia. Nenhum lugar servia tão bem à recepção de escravos quanto o Rio de Janeiro.
FRANÇA, R. O tamanho real da escravidão. O Globo, 5 abr. 2015 (adaptado).
Na matéria, o jornalista informa uma mudança na dinâmica do tráfico atlântico que está relacionada à seguinte atividade:
a) coleta de drogas do sertão.
b) extração de metais preciosos.
c) adoção da pecuária extensiva.
d) retirada de madeira do litoral.
e) exploração da lavoura de tabaco.
Resposta: [B]
Durante a segunda metade do século 18, a economia do Rio de Janeiro foi impulsionada pela mineração, especialmente pela extração de ouro nas regiões de Minas Gerais. O aumento da atividade mineradora criou uma demanda intensa por mão de obra, suprida pelo tráfico atlântico de escravizados.