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Povos indígenas no Brasil: história, culturas e conflitos atuais

Muito antes de 1500, eles já ocupavam o território brasileiro. Atualmente, estão divididos em 267 etnias, falantes de 150 línguas distintas e representam parte fundamental da nossa cultura

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Os povos indígenas do Brasil atual são os descendentes dos primeiros habitantes do território que hoje constitui o país, também conhecidos como povos originários. Antes da chegada dos europeus por aqui, em 1500, eles já ocupavam essas terras, e viviam de forma organizada em diversas sociedades, com línguas, costumes, crenças e práticas culturais distintas.

Esses povos desenvolveram uma relação profunda e sustentável com a natureza, baseada em conhecimentos ancestrais sobre plantas, animais e recursos naturais.

Neste artigo, vamos nos aprofundar na origem dos indígenas brasileiros, aprender sobre as principais características das etnias presentes no país, a relação desses povos com diferentes períodos da história do Brasil e mais.

Quem são os povos indígenas do Brasil?

O termo “indígenas” significa originário, aquele que está ali antes dos outros. Podemos dizer, então, que indígenas são descendentes dos primeiros habitantes de certo território.

No Brasil, tais povos foram chamados de “índios”, termo que representa, na verdade, um equívoco de Cristóvão Colombo, que, quando chegou à América, pensou estar desembarcando nas Índias - como era conhecida a região do Oceano Índico no século 15.

Segundo estimativas publicadas pelo Programa Povos Indígenas no Brasil (PIB), do Instituto Socioambiental, existem 267 povos indígenas, falantes de 150 línguas distintas, no território brasileiro em 2024. Entre esses povos, estão:

  • Kaingang
  • Kaiowá
  • Munduruku
  • Pataxó
  • Guarani
  • Xokleng
  • Xingu
  • Tupinambá
  • Yanomami

O Censo IBGE de 2022 apontou que há 1.693.535 pessoas que se identificam como indígenas vivendo no Brasil, o que equivale a 0,83% da população total do país. Desse número, 51,25% vivem na Amazônia Legal (região que engloba o norte do Brasil, o estado do Mato Grosso e parte do Maranhão).

Distribuição dos povos indígenas no Brasil

Os povos indígenas no Brasil estão distribuídos por todo o território nacional, com maior concentração em algumas localidades. A região Norte possui a maior diversidade de etnias e a maior concentração populacional indígena, com destaque para os estados do Amazonas, Pará e Roraima. 

Povos indígenas no Brasil - pessoas que compõem os povos Ashaninka, Assurini, Bororo, Kayapó, Guajajara, Kaiowá, Kuikuro, Kaingang, Zo'è, Yanomami, Xacriabá, Yawalapiti, Wauja, Waiwai, Terena, Rikbaktsa
Pessoas que compõem os povos Ashaninka, Assurini, Bororo, Kayapó, Guajajara, Kaiowá, Kuikuro, Kaingang, Zo'è, Yanomami, Xacriabá, Yawalapiti, Wauja, Waiwai, Terena, Rikbaktsa (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons)

Alguns dos povos presentes em cada região do Brasil, são:

  • Região norte: Baniwa, Yawanawá, Desana, Kambeba e Munduruku.
  • Região Nordeste: Tupinambá, Pataxó, Pankararu. 
  • Região Centro-Oeste:  Guarani, Kaiowá Ñandeva, Terena. 
  • Região Sudeste: Mbyá, Kaingang, Krenak, Tupiniquim.
  • Região Sul: Kaingang, Xokleng, Guarani, Xetá, Mbyá. 

Essa distribuição reflete a diversidade étnica e cultural dos povos indígenas no Brasil, cada um deles com sua língua, seus costumes e suas tradições.

Organização social das comunidades indígenas

A organização social dos povos indígenas no Brasil se caracteriza pela diversidade de estruturas sociais, que variam de acordo com a etnia e contexto histórico. No entanto, é possível identificar alguns padrões comuns a essas sociedades.

Na organização política e social, a maior parte dos povos indígenas se divide em comunidades ou aldeias, geralmente com grupos familiares extensos e laços de parentesco. Nessas comunidades, as decisões acontecem de forma coletiva, por meio de consensos ou da iniciativa de um líder religioso (para muitos povos, seria o cacique) ou político.

Aldeia no Parque Indígena do Xingu
Aldeia no Parque Indígena do Xingu (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons)

A divisão de trabalho, por sua vez, é bem definida, com homens e mulheres desempenhando papéis específicos na comunidade. 

Essa divisão pode variar de acordo com a etnia, mas, normalmente, os homens ficam responsáveis pela caça, agricultura, construção de moradias e utensílios e por cerimônias de liderança (xamãs, caciques e líderes religiosos).

Já as mulheres tendem a se dedicar aos cuidados domésticos, à confecção de artesanatos, produção de alimentos e ervas medicinais. Além de atuarem como rezadeiras, parteiras e transmitirem conhecimentos tradicionais e histórias para as gerações mais jovens.

Aspectos culturais dos povos indígenas do Brasil

Por mais que os povos originários no Brasil tenham religiões, línguas e visão de mundo distintas, há aspectos que predominam na maioria das sociedades indígenas:

  • A oralidade, por exemplo, é uma característica central de muitas culturas indígenas, que usam a fala para transmitir o conhecimento e perpetuar suas histórias, mitos e tradições;
  • Na arte, há variedade de expressões, como pinturas corporais, cestaria, cerâmica, tecelagem e esculturas em madeira. Essas expressões artísticas, muitas vezes, têm relação com rituais e cerimônias, sendo mais uma forma de preservar e transmitir sua cultura;
  • A religião também desempenha um papel fundamental na cultura indígena, mesmo que haja crenças e práticas que variam entre os grupos. Algumas comunidades indígenas têm uma visão animista, ou seja, acreditam que todos os seres possuem uma alma e devem ser respeitados.

As línguas indígenas brasileiras

Uma forma de dividir e classificar os povos indígenas é por meio dos troncos linguísticos aos quais eles pertencem. No Brasil, há dois grandes troncos linguísticos: o tupi-guarani e o macro-jê. Além deles, há 19 famílias linguísticas isentas de graus de semelhanças suficientes para serem agrupadas em troncos.

É importante entender que o número de povos em si é bem maior. Segundo o etnólogo Curt Unckel (que se naturalizou Curt Nimuendajú, nome dado pela comunidade Apapokuva-Guarani), quando os portugueses chegaram, havia por volta de 1.400 povos diferentes.

🛖 Curt, de origem alemã, percorreu o Brasil por mais de 40 anos, mantendo contato com diferentes etnias. Nimuendajú significa "fazer moradia".

Atualmente, há mais de 170 línguas indígenas no Brasil. Podemos considerar que a extinção de, pelo menos 1.000 línguas indígenas, foi resultado do longo processo de colonização e de etnocídio cometido pelos colonizadores e, mais tarde, pelo Estado brasileiro. 

Entre as línguas indígenas com mais número de falantes, estão: guajajara, sateré-mawé, xavante, yanomami, terena, macuxi, kaingang, ticuna e guarani. 

⚠️ O termo etnocídio descreve a destruição sistemática da identidade cultural de um grupo étnico ou a tentativa de assimilação forçada de uma cultura por outra considerada dominante. Tem relação com a aniquilação ou subjugação das características culturais distintas de um povo.

As culturas indígenas no Brasil

Um dos aspectos mais marcantes entre as culturas indígenas no Brasil é o seu profundo respeito pela natureza.

Diante disso, os indígenas se dedicam a conhecer os ecossistemas em que vivem. Eles desenvolvem práticas ecológicas que visam manter o equilíbrio entre o ser humano e a natureza, ao evitar a exploração excessiva dos recursos naturais e promover a regeneração ambiental.

Para além de sua relação com a natureza, as etnias indígenas têm suas particularidades. Veja alguns exemplos:

  • Povos Guarani: são conhecidos por práticas artesanais como cestaria, cerâmica e pintura corporal, além de se dedicarem a danças, músicas e rituais religiosos.
  • Povos Kaingang: apreciam rituais de passagem, danças de guerra, habilidades em arco e flecha, artesanato com cestaria intricada e tecelagem em palha. Possuem organização familiar matrilocal, onde a família da esposa é central na vida doméstica e social.
  • Povos Xavante: têm lideranças masculinas e rituais de iniciação para os jovens. Em sua cultura, valoriza-se o conhecimento sobre plantas medicinais, técnicas agrícolas e estratégias de caça e pesca, que são transmitidos oralmente de geração em geração.
  • Povos Yanomami: suas aldeias são dispersas, com chefias descentralizadas e sistemas de parentesco complexos. Eles praticam o xamanismo, rituais de cura e têm uma forte conexão espiritual com a natureza. Desenvolvem esculturas em madeira que representam figuras míticas e animais da floresta.
  • Povos Kayapó: seu artesanato inclui cestaria, plumária (arte feita com penas e plumas de aves) e esculturas em madeira. Aplicam técnicas de agricultura sustentável, métodos de caça e pesca, e uso de plantas medicinais na região amazônica.
  • Povos Pataxó: realizam muitos rituais de celebração, danças sagradas e festividades que marcam os ciclos naturais e os momentos importantes da vida comunitária. São conhecidos pelo artesanato em cerâmica com desenhos que remetem à natureza.

Religião e mitologia indígena

A religião desempenha papel central na organização social dos povos indígenas, refletindo suas visões de mundo e suas relações com a natureza e o mundo espiritual.

Muitas comunidades acreditam em uma visão animista, na qual todos os seres (humanos, animais, plantas, objetos) fazem parte do mundo espiritual e terreno, ao reconhecer a presença de espíritos em toda a natureza.

A mitologia indígena também explica a origem do mundo, dos seres humanos e dos elementos da natureza para alguns povos. Esses mitos são transmitidos oralmente, de geração em geração, com rituais e cerimônias que buscam manter o equilíbrio entre os seres humanos, a natureza e o mundo espiritual.

Além do animismo, também encontramos entre os povos indígenas no Brasil outras formas de religiosidade. O xamanismo, por exemplo, envolve práticas de cura e comunicação com os espíritos, e o culto aos antepassados, que integram o cotidiano das comunidades.

A importância da matriz indígena no povo brasileiro

A presença dos povos indígenas no território que hoje constitui o Brasil é anterior à chegada dos europeus. Ou seja, eles foram nossos primeiros habitantes, portanto, contribuíram diretamente para a configuração inicial da sociedade brasileira.

Assim, preservar a história e a memória dos povos indígenas é fundamental para uma compreensão mais ampla e inclusiva da história nacional. Torna-se necessário reconhecer seus direitos territoriais, culturais, linguísticos e educacionais, além de combater o preconceito, a discriminação e a violência.

Os povos originários influenciaram diversos aspectos da cultura brasileira, como a alimentação, a medicina, as práticas agrícolas, a língua e a religião. Muitos termos da língua portuguesa, inclusive, têm origem indígena, assim como diversos pratos da culinária brasileira e técnicas agrícolas tradicionais.

Seus conhecimentos sobre manejo do território e uso sustentável dos recursos contribuem ainda para a preservação do meio ambiente e para a luta contra o desmatamento.

História dos povos indígenas no Brasil

A história dos povos indígenas no Brasil remonta a milhares de anos antes da chegada dos europeus ao continente.

Estima-se que, no início da colonização, por exemplo, havia cerca de 5 milhões de indígenas habitando o território brasileiro, distribuídos em centenas de etnias, com sua língua, cultura e organização social próprias.

A seguir, vamos entender como os povos indígenas estavam presentes nos vários momentos históricos do Brasil - do período pré-colonial ao Império.

Período pré-colonial (1500 a 1530)

Antes da chegada dos europeus, os povos indígenas já possuíam sociedades complexas, com sistemas de organização política, econômica e religiosa bem estruturados. Eles desenvolveram formas de interação com o meio ambiente que se baseavam no conhecimento profundo da fauna, da flora e dos ciclos naturais.

O primeiro contato que se tem registro entre portugueses e indígenas foi feito pela expedição de Cabral, quando Pero Vaz de Caminha escreveu sobre esse encontro. Nas palavras de Caminha, os indígenas eram pessoas inocentes, que poderiam se tornar bons cristãos.

Essa representação construída pelos europeus por meio dos relatos de viagens, das cartas e das pinturas, foi muito importante para legitimar um dos principais objetivos das grandes navegações: a conquista de fiéis para o catolicismo fora da Europa. 

Após novas expedições, alguns europeus passaram a ter uma visão muito negativa dos povos indígenas, a exemplo de como os descreveu Pero Magalhães Gândavo, cronista português: povos sem fé, sem lei e sem rei.

Ele desconsiderava, assim, toda e qualquer forma de organização política, social e cultural que não se igualava àquelas encontradas na Europa. 

Período colonial (1530 a 1822)

Com a efetiva colonização portuguesa a partir do século 16, os povos indígenas foram submetidos a um processo violento, que resultou em massacres, escravidão, doenças e desestruturação de suas sociedades.

Muitos indígenas resistiram ativamente e outros formaram alianças políticas com os portugueses. 

A Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meireles, 1860
A Primeira Missa no Brasil, de Vítor Meireles, 1860. A obra, de estética romântica, mostra uma integração sem conflitos entre indígenas e portugueses, e a catequização pacífica (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Os indígenas tinham maior conhecimento do território, da fauna e da flora, portanto, ficavam em vantagem sobre os portugueses. Mas essa vantagem não foi suficiente para impedir os resultados da colonização. Muitos indígenas foram exterminados ou tiveram que viver em missões religiosas, perdendo sua liberdade e autonomia. 

Além disso, territórios de ocupação indígena foram disputados por portugueses e espanhóis, que, no século 17, ainda decidiam sobre as fronteiras de suas colônias.

Podemos citar como exemplo a região de Sete Povos das Missões, conjunto de aldeamentos fundado pelos espanhóis jesuítas no que hoje é o Rio Grande do Sul. A disputa por esse território levou à guerra os sete povos, que eram das regiões antes conhecidas como: São Francisco de Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.

Nessa mesma época, quando Marquês de Pombal governou como primeiro-ministro de Portugal (Período Pombalino), a escravidão indígena nas colônias foi efetivamente proibida. A partir de 1755, então, o Brasil passou a priorizar o tráfico transatlântico de escravizados africanos. 

Indígenas no Brasil Império (1822-1889)

Com a independência do Brasil e os esforços para a criação de um Estado culturalmente homogêneo, o Império passou a pensar em ações voltadas aos povos indígenas.

A questão indígena foi inicialmente abordada pela elite política e intelectual do país sob perspectivas integracionistas e assimilacionistas. Ou seja, buscava-se a incorporação dos indígenas à sociedade nacional por meio da aculturação.

⛔ A aculturação era um dos objetivos da assimilação, e resultaria de um processo de total eliminação da cultura de um grupo étnico ou uma sociedade.

Porém, hoje sabemos que a aculturação não é possível, já que a cultura é mutável. Ou seja, sempre se adapta e sofre influência de elementos culturais de outra cultura, resultando em mudanças em suas próprias práticas, crenças, valores e instituições.

Nesse contexto, estabeleceram-se "políticas de civilização" dos indígenas, que visavam transformar suas práticas culturais, linguagem e organização social para que se assemelhassem aos padrões da sociedade branca e cristã.

Essas políticas resultaram na criação de aldeamentos indígenas, onde os nativos eram reunidos e submetidos à catequização e ao trabalho forçado.

A política de anexação dos territórios indígenas às fronteiras de outras províncias continuou durante o período imperial. Em 1850, foi promulgada a Lei de Terras, que determinou o direito de propriedade às pessoas que pudessem comprar a terra.

Assim, muita gente perdeu suas terras e precisou deixar o lugar onde morava, algo que afetou os povos indígenas que habitavam territórios de interesse econômico. 

Período republicano

Durante a Primeira República (1889-1930), o Estado brasileiro continuou a estabelecer políticas que, influenciadas pela ideologia do positivismo, visavam integrar os indígenas à sociedade por meio da assimilação cultural. 

Mas a marginalização e a violência contra os povos originários se mantiveram.

Na região Sul, os indígenas do interior do território foram sistematicamente caçados. Os homens que realizavam expedições de extermínio de povos indígenas ficaram conhecidos como bugreiros.

O termo "bugres” fazia referência aos indígenas não cristãos que ainda viviam de forma tradicional, assim, os bugreiros eram aqueles que os matavam. 

Ainda durante a Primeira República, o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon liderou uma expedição para implementar linhas de telégrafo em áreas interioranas do país, em especial na província do Mato Grosso e na região da Amazônia brasileira.

Marechal Rondon fez contato pacífico com muitos povos indígenas no interior do Brasil, e foi um dos defensores da demarcação de terras indígenas no Xingu.

Em 1910, Rondon também atuou na criação do Sistema de Proteção aos Índios (SPI), órgão do governo encarregado de proteger os povos indígenas no Brasil. No entanto, a instituição recebeu acusações de agir com violência e acabou extinta em 1967, já durante o período da Ditadura Militar (1964 a 1985).

No seu lugar, criou-se a Fundação Nacional do Índio (Funai), que, apesar da mudança de nome, na prática, representou uma permanência das práticas do Estado brasileiro de violência contra os povos indígenas.

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Constituição de 1988 e os povos indígenas

Os interesses e especificidades dos povos indígenas começaram a ser tratados com mais seriedade e levados em consideração apenas a partir da Constituição de 1988. Isso, graças a pressões feitas pelo movimento indígena que se formou na década de 1980.

Mro-o, Tomtu and Nzoikamrekti Kayapó lendo o Projeto da Constituição Brasileira em 1987 - povos indígenas no Brasil
Mro-o, Tomtu and Nzoikamrekti Kayapó lendo o Projeto da Constituição Brasileira em 1987 (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

Nesse contexto, o discurso proferido em 1987, na Assembleia Constituinte, por Ailton Krenak, se tornou um marco importante da causa indígena. Como protesto, Krenak pintou seu rosto com tinta preta de jenipapo, seguindo um ritual indígena e marcou a presença dos povos originários no processo de construção da nossa Constituição. 

🗣 Ailton Krenak é um líder indígena, escritor, ambientalista e filósofo brasileiro da etnia Krenak, que se tornou uma figura internacionalmente reconhecida por sua atuação na defesa dos direitos dos povos indígenas, na preservação ambiental e na promoção do diálogo intercultural no Brasil.

🗣 Em outubro de 2023, Ailton foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro indígena a assumir uma cadeira na instituição.

Mesmo com a luta de ativistas indígenas e com os avanços na Constituição, a marginalização e a violência contra os povos originários continuou sendo realidade. Em 1997, o líder indígena Galdino Pataxó foi brutalmente assassinado enquanto dormia nas ruas de Brasília (DF). Um grupo de homens ateou fogo em Galdino e alegou tratar-se de uma "brincadeira".

Povos indígenas no Brasil atual

A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto do Índio de 1973 preveem a demarcação de terras indígenas, que são todas aquelas habitadas e/ou utilizadas por esses povos para atividade produtiva, manutenção de seu bem-estar, além de sua reprodução física e cultural.

As terras indígenas são bens da União, e os povos que a habitam têm usufruto exclusivo de suas riquezas

Desde a redemocratização, o governo federal - com exceção do mandato de Jair Bolsonaro (2019 a 2022) - atuou na homologação de terras indígenas, conforme mostra a tabela abaixo:

Tabela com demarcação de terras indígenas no Brasil

TIs DeclaradasTIs Homologadas*
Presidente [período]Nº**Extensão (Ha)**Nº**Extensão (Ha)**
Luiz Inácio Lula da Silva [jan 2023 - atual]008818.378
Jair Bolsonaro [jan 2019 - dez 2022]0000
Michel Temer [mai 2016 a dez 2018]33.397.569119.216
Dilma Rousseff [jan 2015 a mai 2016]15932.665101.243.549
Dilma Rousseff [jan 2011 a dez 2014]111.096.007112.025.406
Luiz Inácio Lula da Silva [jan 2007 a dez 2010]513.008.845217.726.053
Luiz Inácio Lula da Silva [jan 2003 a dez 2006]3010.282.8166611.059.713
Fernando Henrique Cardoso [jan 1999 a dez 2002]609.033.678319.699.936
Fernando Henrique Cardoso [jan 1995 a dez 1998]5826.922.17211431.526.966
Itamar Franco [out 92 | dez 94]397.241.711165.432.437
Fernando Collor [mar 90 | set 92]5825.794.26311226.405.219
José Sarney [abr 85 | mar 90]399.786.1706714.370.486
Fonte: PIB Socioambiental, disponível em https://pib.socioambiental.org/pt/Situação_jurídica_das_TIs_no_Brasil_hoje

Atualmente, o Brasil tem 775 áreas de terra indígena, a maior parte delas na Amazônia Legal. Isso significa que 13,9% das terras brasileiras são reservadas aos povos originários.

Porém, muitas dessas terras não ser agricultáveis e sofrem com inundações causadas por instalação de hidrelétricas, invasões de madeireiras, garimpeiros e latifundiários. 

Conflitos dos povos indígenas no Brasil atual

Segundo a gestão do governo Lula (PT), no início de 2023, havia aproximadamente 15 mil garimpeiros atuando ilegalmente na Terra Indígena Yanomami, em Roraima.

No entanto, a invasão de terras indígenas pelo garimpo ilegal não é recente. Com a inauguração da Rodovia Perimetral Norte, na década de 1970, ainda durante o regime militar, os garimpeiros tomaram a região. 

O garimpo ilegal em terras indígenas é preocupante, pois além de impedir a autonomia prevista pela Constituição, resulta em outros prejuízos, como:

  • Envenenamento das reservas de água com mercúrio;
  • Ameaças à existência de comunidades indígenas;
  • Abuso e tráfico de mulheres indígenas;
  • Conflitos entre garimpeiros e indígenas;
  • Epidemias e desequilíbrio ambiental. 

Nos últimos anos, os povos indígenas lutam pela demarcação de suas terras e pelo fim do marco temporal. A tese jurídica considera que as comunidades só teriam direito às áreas que já estivessem ocupando ou disputando em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição.

Povos indígenas no Brasil - Ato político com rituais sagrados realizado na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 2022
Ato político com rituais sagrados realizado na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 2022 (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons/Hellen Loures/Cimi)

Em setembro de 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou a tese inconstitucional.

Como resposta, o Congresso aprovou a Lei 14.701/2023, que reestabeleceu o marco temporal para a demarcação de terras indígenas. O presidente Lula vetou o dispositivo, mas o veto foi derrubado por parlamentares e recriado.

O movimento indígena e seus apoiadores seguem em constante embate jurídico e político com o Estado brasileiro para que o marco temporal seja, definitivamente, excluído.

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Como os povos indígenas do Brasil caem no Enem e nos vestibulares

No Enem, estão presentes questões de História ou interdisciplinares sobre a relação entre povos indígenas e colonizadores, jesuítas e bandeirantes.

Assim, são possíveis ainda abordagens sobre as formas de resistência à colonização, a catequização de indígenas durante o período colonial e as missões indígenas

Não é comum encontrar exercícios sobre etnias específicas, mas sobre aspectos da cultura que unem os diversos povos indígenas brasileiros. Nessas questões, cobram-se características políticas, econômicas e sociais e culturais desses povos. 

Exemplo 1

(Fuvest 2024) “Para praticar a agricultura, os tupis derrubavam árvores e faziam a queimada – técnica que iria ser incorporada pelos colonizadores. Plantavam feijão, milho, abóbora e principalmente mandioca, cuja farinha se tornou também um alimento básico da Colônia. A economia era basicamente de subsistência e destinada ao consumo próprio. Cada aldeia produzia para satisfazer a suas necessidades, havendo poucas trocas de gêneros alimentícios com outras aldeias.

Mas existiam contatos entre elas para a troca de mulheres e de bens de luxo, como penas de tucano e pedras para se fazer botoque. Dos contatos resultavam alianças em que grupos de aldeias se posicionavam uns contra os outros. A guerra e a captura de inimigos – mortos em meio à celebração de um ritual canibalístico – eram elementos integrantes da sociedade tupi. Dessas atividades, reservadas aos homens, dependiam a obtenção de prestígio e a renovação das mulheres.”

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006. p.40.

De acordo com o texto, é correto afirmar que, no período colonial brasileiro, as sociedades pertencentes ao tronco linguístico Tupi

a) praticavam o canibalismo devido à escassez de alimentos nas regiões em que viviam.   
b) desenvolviam uma cultura agrícola de subsistência que não abolia a existência de sistemas de troca.   
c) cultivavam produtos agrícolas que deixaram de ser consumidos após a chegada dos colonizadores. 
d) organizavam-se em unidades políticas autônomas, que evitavam contatos comerciais entre si. 
e) realizavam rituais em que homens e mulheres desempenhavam funções idênticas. 

Resposta: [B]
O texto da questão deve ser interpretado com base em seus conhecimentos sobre povos indígenas no Brasil colonial. Os povos originários do tronco linguístico Tupi praticavam a agricultura de subsistência, e faziam trocas dos excedentes agrícolas com outros grupos próximos. Não havia, contudo, a produção de agricultura em larga escala.

Exemplo 2

(Enem 2015) A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.

GÂNDAVO, P M. A primeira historia do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil.
Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).

A observação do cronista português Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a

a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.  
b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da colonização. 
c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade indígena.
d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos portugueses.  
e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da língua nativa.

Resposta: [D]
O processo de colonização foi marcado pelo etnocentrismo e pelo eurocentrismo. Dessa forma, os colonizadores viam a cultura e a organização social e política dos povos originários como inferiores, desorganizadas e selvagens. Essa visão afetou a forma como eles foram retratados em documentos portugueses. No texto, o navegador Gândavo associou questões linguísticas diferentes (a ausência das letras F, L e R) com a suposta ausência de ordem religiosa, social e política.

Exemplo 3

(Enem 2009) Os Yanomami constituem uma sociedade indígena do norte da Amazônia e formam um amplo conjunto linguístico e cultural. Para os Yanomami, urihi, a “terra floresta”, não é um mero cenário inerte, objeto de exploração econômica, e sim uma entidade viva, animada por uma dinâmica de trocas entre os diversos seres que a povoam. A floresta possui um sopro vital, wixia, que é muito longo. Se não a desmatarmos, ela não morrerá. Ela não se decompõe, isto é, não se desfaz. É graças ao seu sopro úmido que as plantas crescem. A floresta não está morta pois, se fosse assim, as florestas não teriam folhas. Tampouco se veria água. Segundo os Yanomami, se os brancos os fizerem desaparecer para desmatá-la e morar no seu lugar, ficarão pobres e acabarão tendo fome e sede.

ALBERT, B. Yanomami, o espírito da floresta. Almanaque Brasil Socioambiental. São Paulo: ISA, 2007 (adaptado).

De acordo com o texto, os Yanomami acreditam que

a) a floresta não possui organismos decompositores.
b) o potencial econômico da floresta deve ser explorado.
c) o homem branco convive harmonicamente com urihi.
d) as folhas e a água são menos importantes para a floresta que seu sopro vital.
e) Wixia é a capacidade que tem a floresta de se sustentar por meio de processos vitais.

Resposta: [E]
Os Yanomami denominam como wixia justamente a capacidade que a floresta tem de interação com processos diversos, inclusive climáticos, para sua própria manutenção.

Exemplo 4

(Uece 2020) Leia atentamente o seguinte texto:

“As marcas de pneus na terra cor de sangue são profundas e recentes. Tainaky Tenetehar desce da moto para conferir. “De hoje de manhã”, diz ele com a segurança de rastreador veterano sintonizado com quaisquer sinais de movimento humano nessas fronteiras sem lei. Pelo binóculo, ele sonda a savana queimada na morraria bruxuleante que segue até uma crista coroada de árvores ao longe. Nessa que é uma das fronteiras mais disputadas do Brasil – em que o solo desmatado empurra a floresta de crescimento antigo e terrenos privados adentram as fronteiras de terras indígenas –, as marcas de pneus só podem ter um significado”.

Fonte: National Geographic Brasil, 19 de set. de 2018. Disponível em https://www.nationalgeographicbrasil.com/cultura

Considerando o excerto acima, é correto dizer que 

a) garimpeiros, fazendeiros e madeireiros avançam floresta amazônica adentro, em ritmo sustentável, junto aos povos indígenas urbanizados. 
b) na fronteira mais disputada do Brasil, o avanço do garimpo, da exploração ilegal da madeira, da grilagem de terras e das queimadas ameaça a existência de povos indígenas isolados.    
c) o projeto de desenvolvimento econômico atual da região em questão visa impedir o estabelecimento de novas áreas de garimpo e de exploração da madeira.    
d) as marcas dos pneus significam o avanço do extrativismo e da exploração mineral sustentáveis, em comunhão e harmonia com os povos da floresta.    

Resposta: [B]
Na última década, os conflitos por posse de terras na região amazônica entre povos indígenas e grileiros, garimpeiros, madeireiros e proprietários rurais se intensificaram, principalmente devido à expansão agrícola e ao aumento das queimadas e desmatamentos.

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Bárbara Donini

Analista de História no Aprova Total. Licenciada (Udesc) e mestre (UFSC) em História, tem experiência na área de educação, no Ensino Fundamental e em curso pré-vestibular.

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