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Fontes históricas: o que são, tipos e sua importância

Entenda como funciona o trabalho dos historiadores para compreender o passado e produzir conhecimento sobre ele, através de documentos, vestígios, imagens e relatos

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As fontes históricas são ferramentas essenciais em que os historiadores baseiam suas pesquisas. Isso porque a História, como disciplina, busca compreender o passado da humanidade em suas diversas nuances, a fim de entender os processos que levaram à construção do presente.

Assim, os historiadores analisam as fontes cuidadosamente, pois podem servir de base para múltiplos entendimentos sobre o passado e a atualidade.

Nessa publicação, iremos explorar os tipos e exemplos de fontes históricas, como são utilizadas nas pesquisas e de que forma podem aparecer no Enem e nos vestibulares. Confira!

O que são fontes históricas?

Fontes históricas são vestígios, documentos, imagens ou relatos que possam dar informações sobre um período ou acontecimento histórico.

A seguir, você irá entender de que maneira os historiadores coletam, analisam e classificam esses dados para que auxiliem na compreensão sobre eventos do passado remoto e atuais.

Tipos de fontes históricas

As fontes históricas podem ser encontradas em diversos lugares, como:

  • Arquivos públicos e privados: documentos oficiais, correspondências, registros de nascimentos, casamentos e óbitos;
  • Museus: objetos arqueológicos, pinturas, esculturas e fotografias;
  • Bibliotecas: livros, periódicos e manuscritos;
  • Acervos pessoais e familiares: diários, cartas e fotografias;
  • Tradições orais: canções, contos populares e lendas.

Além disso, os historiadores as classificam de três formas diferentes: primárias, secundárias e terciárias.

Fontes primárias

Podem ser documentos ou vestígios produzidos no momento em questão ou próximos a ele, sem a mediação de análises ou interpretações posteriores.

As fontes primárias trazem informações inéditas sobre o problema que se quer pesquisar, e podem receber a classificação de materiais ou imateriais.

  • Exemplos: documentos escritos (cartas, leis, tratados), objetos arqueológicos, fotografias antigas, registros orais.
Primeira página do Tratado de Tordesilhas

O Tratado de Tordesilhas (na imagem ao lado), assinado pelo Reino de Portugal e pela Coroa de Castela, é um exemplo de fonte histórica primária.

Os historiadores podem analisar o conteúdo do texto, assim como a linguagem utilizada, os carimbos, as assinaturas e a escrita desenhada.

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Biblioteca Nacional de Lisboa)

Fontes secundárias

Correspondem à literatura existente sobre o problema, como escritos de outros historiadores sobre determinado período histórico, acontecimento ou assunto.

São análises e interpretações de eventos históricos realizadas por especialistas, com base em fontes primárias ou outras secundárias.

  • Exemplos: livros e artigos acadêmicos, e relatórios de pesquisas.

Fontes terciárias

São materiais que compilam ou sintetizam informações de fontes primárias e secundárias, geralmente com fins didáticos ou de divulgação ao público em geral.

  • Exemplos: livros didáticos, enciclopédias e sites educativos.

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Importância das fontes históricas

As fontes históricas são cruciais para o trabalho de pesquisa, pois:

  • fornecem evidências sobre o passado, permitindo a construção de narrativas históricas consistentes;
  • permitem compreender diferentes aspectos da vida social, desde eventos políticos e econômicos até costumes e crenças populares;
  • auxiliam na análise de processos históricos complexos, identificando causas, consequências e relações de poder;
  • e contribuem para a desconstrução de visões únicas e simplistas do passado, revelando a multiplicidade de vozes e perspectivas.

Como as fontes históricas são utilizadas na pesquisa?

A historiografia é a escrita da História, baseada na busca de evidências que permitam ao historiador investigar e formular hipóteses sobre o passado. O trabalho historiográfico passa pela análise de fontes verificáveis que embasam a discussão e a análise de certos fatos.

Podemos entender os fatos históricos como acontecimentos inquestionáveis, que são amplamente comprovados através dessas fontes.

Porém, cabe ao historiador analisar o que está além do fato histórico, por exemplo, quem são os sujeitos que vivenciaram ou foram os autores desse fato, quais os motivos para que aquilo acontecesse, as consequências do acontecimento, as possíveis visões sobre o fato, etc.

Assim, sobre o uso das fontes, é importante se atentar que:

  • a utilização de fontes históricas exige rigor metodológico e criticidade por parte do historiador;
  • não existe uma fonte histórica perfeita e isenta de vieses. Cabe ao historiador analisar as fontes de forma crítica e construir uma narrativa histórica consistente, considerando as diversas perspectivas presentes;
  • a busca por novas fontes históricas é fundamental para ampliar o conhecimento do passado e construir uma visão mais abrangente da história da humanidade;
  • as fontes históricas devem ser analisadas através da comparação com outras fontes históricas, e com o embasamento teórico e bibliográfico.

Processo de pesquisa das fontes históricas

Os historiadores utilizam as fontes históricas de diversas maneiras, seguindo um processo rigoroso de pesquisa:

  1. Seleção de fontes: o historiador define o tema da pesquisa e busca fontes relevantes que possam fornecer informações sobre o tema em questão. Para isso, devem considerar a autenticidade, a confiabilidade e a representatividade das fontes.
  2. Crítica das fontes: o historiador analisa minuciosamente cada fonte, questionando sua origem, contexto de produção, autor, possíveis vieses e limitações. Assim, o pesquisador deve ter um problema ou questionamento em mente, que será respondido através da análise das fontes selecionadas. Essa etapa garante a qualidade da pesquisa e a confiabilidade dos resultados.
  3. Interpretação das fontes: há a interpretação das informações presentes nas fontes, buscando relacioná-las entre si e com o contexto histórico mais amplo. Essa etapa exige criatividade, raciocínio crítico e conhecimento aprofundado do tema em questão.
  4. Construção da narrativa histórica: com base na análise e interpretação das fontes, o historiador constrói uma narrativa histórica que apresenta seus resultados e conclusões. A narrativa deve ser clara, concisa e bem fundamentada nas evidências coletadas.

A produção historiográfica está organizada em diferentes correntes de análise. É possível examinar as fontes históricas a partir do viés econômico, político, social, cultural e memorial.

Dessa forma, pode-se verificar diferentes interpretações e conclusões sobre um mesmo fato histórico, sem que outras análises sejam invalidadas.

🏛️ Novas fontes podem trazer diferentes olhares sobre fatos históricos, assim como a perspectiva de novos historiadores pode despertar novas visões para uma fonte histórica, gerando outras reflexões sobre o fato.

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Métodos de análise

Existem diversos métodos para analisar fontes históricas, cada um com suas características e aplicações. Conheça alguns:

  • Análise de conteúdo: identifica e categoriza elementos presentes nas fontes, como palavras, imagens ou símbolos;
  • Análise textual: examina a estrutura, o vocabulário e o estilo de textos históricos;
  • Análise discursiva: investiga as relações de poder e as diferentes perspectivas presentes nos discursos históricos;
  • Análise comparativa: compara fontes diferentes para identificar semelhanças, diferenças e padrões.

Os historiadores podem utilizar diversos métodos de análise para a compreensão mais ampla de uma mesma fonte histórica. 

Exemplos de uso de fontes

As fontes históricas podem ser utilizadas para pesquisar diversos temas.

O estudo de eventos políticos, por exemplo, pode ocorrer a partir da análise de documentos oficiais, discursos de líderes e registros de batalhas, como aconteceu na Segunda Guerra Mundial.

Já os movimentos sociais costumam ser analisados por meio de panfletos, cartazes, fotografias, músicas e depoimentos de participantes. Quando falamos sobre o movimento feminista ou o sufrágio feminino, temos diversos registros de propagandas e manifestações.

A vida cotidiana, por sua vez, pode ser estudada pela análise de objetos do dia a dia, de receitas culinárias, cartas pessoais, diários e cadernos de estudo.

E as mentalidades e crenças, pelo estudo de textos religiosos, obras literárias, obras audiovisuais, tratados filosóficos, rituais, diários pessoais e correspondências.

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Desafios e limitações das fontes históricas

As fontes históricas não são uma janela para resgatar o passado, mas sim, ferramentas para investigar as múltiplas perspectivas e narrativas sobre determinado período ou fato histórico. Por isso, podem apresentar algumas limitações.

Autenticidade e confiabilidade

Todas as fontes históricas, se lidas de forma crítica e metodológica, podem trazer informações para a interpretação sobre determinado período ou fato histórico.

A confiabilidade da fonte depende do trabalho do historiador, pois é a partir de uma pesquisa histórica profunda e ética que as fontes geram conhecimentos historiográficos.

É importante ressaltar que os historiadores não buscam uma verdade absoluta e única a respeito do passado, mas sim as diversas perspectivas, discursos e pontos de vista sobre um mesmo acontecimento ou período.

Portanto, mesmo que a fonte não seja “oficial” - isso é, produzida por especialistas ou órgãos governamentais - ela pode trazer informações essenciais para a interpretação do passado.

Interpretação e viés

As fontes históricas não são registros neutros do passado. Elas carregam as marcas do contexto em que foram produzidas e das visões de mundo de seus autores. Cabe ao historiador interpretar as informações presentes nas fontes de forma crítica, considerando:

  • os vieses ideológicos e os interesses dos autores das fontes;
  • as limitações do conhecimento e das técnicas disponíveis na época em que a fonte foi produzida;
  • a própria posição do historiador e seus próprios vieses.

Exemplos de fontes históricas

Existem dois tipos de fontes históricas: as materiais e as imateriais.

Fontes materiais

As fontes materiais, como o nome indica, são delimitadas por uma materialidade e podem ser interpretadas como tudo aquilo deixado por algum sujeito, sociedade ou civilização que nos auxilia a entender o passado.

Como exemplos de fontes escritas, temos documentos oficiais, certidões de nascimento, jornais, revistas, escritos em diários, cartas, entre outros.

Foto do diário de Anne Frank exposto na Igreja de San Nicolás na Alemanha

O diário de Anne Frank é um exemplo de fonte material escrita, e uma das mais importantes fontes históricas sobre a perseguição nazista aos judeus na Europa.

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Diego Delso)

Entre as fontes de cultura material, temos vasos, roupas, objetos pessoais e armamentos. Nesse caso, a Arqueologia é uma das áreas do conhecimento que auxilia historiadores em suas investigações.

As fontes iconográficas, imagéticas ou visuais, por sua vez, são fotografias, obras de arte como pinturas e esculturas, filmes e vídeos, símbolos, bandeiras e selos.

Produções audiovisuais são fontes históricas interessantes, mesmo que não retratem períodos específicos, como os chamados "filmes de época".

Um exemplo é a obra Viagem à Lua (1902), do cineasta francês Georges Méliès.

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Georges Méliès)

Filme Viagem a Lua é uma fonte histórica audiovisual. Na imagem, temos a lua com um rosto e uma bala em seu olho

Fontes imateriais

As fontes imateriais não são limitadas por uma materialidade, mas nos ajudam a entender o passado.

Temos como exemplo as fontes orais, ou seja, entrevistas com pessoas que testemunharam, viveram ou participaram ativamente de determinado fato ou período histórico.

Além de analisar aquilo que é dito, o historiador também analisa como é dito, levando em conta a construção narrativa do entrevistado, ao exagerar eventos, esquecer de determinados fatos, lembrar de outros, romantizar certas situações e sua participação nelas.

Já as fontes de cultura imateriais são danças, músicas, canções, crenças, contos populares, culinária tradicional, folclore e tudo aquilo que faz parte da cultura de determinada sociedade.

Caboclo de Lança com roupas coloridas dançando o Maracatu de Baque Solto na Zona da Mata Norte em Pernambuco

O Maracatu, uma dança popular tradicional de Pernambuco, é patrimônio histórico do Brasil e um exemplo de fonte de cultura imaterial.

O Maracatu Rural ou de Baque Solto é celebrado durante o Carnaval e a Páscoa, e tem como protagonista o Caboclo de Lança (na imagem).

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Noelia Brito)

Resumo: fontes históricas

  • A História tem como objetivo compreender o passado da humanidade para entender os processos que construíram o presente;
  • Fontes históricas são ferramentas essenciais para o trabalho do historiador, e podem ser vestígios, documentos, imagens e relatos que fornecem informações sobre um período ou acontecimento histórico;
  • São exemplos de fontes históricas: documentos oficiais, registros de nascimentos, correspondências, objetos arqueológicos, pinturas, esculturas, fotografias, livros, periódicos, manuscritos, diários, cartas, fotografias, canções, contos populares e lendas;
  • As fontes históricas são categorizadas em primárias, secundárias e terciárias;
  • Fontes primárias são documentos ou vestígios produzidos no momento ou próximo a ele, sem análises posteriores;
  • Fontes secundárias são a literatura existente sobre um problema, análises e interpretações de eventos históricos;
  • Fontes terciárias são materiais que compilam ou sintetizam informações de fontes primárias e secundárias;
  • Cabe ao historiador analisar as fontes a partir de um olhar crítico, fundamentado e ético.

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Como as fontes históricas caem no Enem e nos vestibulares

Embora caiam poucas questões específicas sobre fontes históricas, esse assunto é base para todas as questões do Enem e muitas questões de vestibulares.

As questões de História do Enem pedem a análise de fontes históricas, sejam elas textos ou imagens. Assim, você deve identificar o contexto histórico de produção do texto ou o contexto mencionado na questão. Para isso, é preciso analisar criticamente as informações contidas nas citações e nas referências.

Alguns vestibulares também podem pedir que você analise criticamente gráficos, tabelas, mapas e imagens para a resolução. Eventualmente, podem aparecer perguntas sobre o trabalho dos historiadores, a classificação e exemplos de fontes históricas.

Exemplo de questão sobre fontes históricas no Enem

(Enem 2020) A reabilitação da biografia histórica integrou as aquisições da história social e cultural, oferecendo aos diferentes atores históricos uma importância diferenciada, distinta, individual. Mas não se tratava mais de fazer, simplesmente, a história dos grandes nomes, em formato hagiográfico – quase uma vida de santo –, sem problemas, nem máculas. Mas de examinar os atores (ou o ator) célebres ou não, como testemunhas, como reflexos, como reveladores de uma época.

DEL PRIORE, M. Biografia: quando o indivíduo encontra a história. Topoi, n. 19 jul.-dez. 2009.

De acordo com o texto, novos estudos têm valorizado a história do indivíduo por se constituir como possibilidade de

a) adesão ao método positivista.   

b) expressão do papel das elites.   

c) resgate das narrativas heroicas.   

d) acesso ao cotidiano das comunidades.   

e) interpretação das manifestações do divino.

Resposta: [D]
Mary Del Priore fala sobre a produção e o uso de fontes biográficas para a compreensão do período histórico e da sociedade em que o/a biografado/a viveu.
Em seu texto, ela nos mostra que o estudo de atores históricos de maneira individualizada “como testemunhas, como reflexos, como reveladores de uma época” ajuda a integrar o entendimento social e cultural de um determinado período, abrindo acesso ao cotidiano de diferentes comunidades a partir dos laços desenvolvidos por esses atores.

Exemplo de questão sobre fontes históricas no vestibular

(Ufu 2020) Cabe ao historiador distinguir os contextos, as funções, os estilos, os argumentos, os pontos de vista e as intenções do autor das fontes. Ou, colocando de outra forma, compete ao estudioso da História realizar a leitura crítica [...] do documento.

Samara, Eni de Mesquita et. alli. História & Documento: metodologia de pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 123-4. (Adaptado)

De acordo com o texto acima, é INCORRETO afirmar que

a) fonte histórica é tudo aquilo que pode fornecer ao historiador informações sobre o passado. Todavia, de acordo com o objeto de estudo de um historiador, determinadas fontes podem ser apropriadas ou não para sua análise.

b) apesar de existirem vários tipos de fontes disponíveis ao historiador, as únicas que realmente são corretas e revelam o conhecimento histórico são as fontes escritas.

c) um documento não pode ser entendido como a realidade histórica em si, mas como veículo de porções ou de partes dessa realidade.

d) as fontes são sempre exploradas com os filtros do presente do pesquisador, de acordo com valores, preocupações, medos e conflitos do período em que estão sendo analisadas.

Resposta: [B]
Segundo a tradição Positivista, somente a fonte escrita deveria ser utilizada pelo historiador para escrever a história. No entanto, a partir de meados do século XX, a escola dos Annales e a Nova História ampliaram a noção de fonte histórica.
Imagens, cartas, diários, receitas e relatos orais ajudam o historiador a montar sua narrativa, a própria história oral tem contribuído muito para a compreensão mais ampla sobre o passado.

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Bárbara Donini

Analista de História no Aprova Total. Licenciada (Udesc) e mestre (UFSC) em História, tem experiência na área de educação, no Ensino Fundamental e em curso pré-vestibular.

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