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O que é racismo ambiental? Confira repertório sobre o tema

O tema é um forte candidato a aparecer no Enem e nos vestibulares, e trata da discriminação vivida por grupos marginalizados e minorias étnicas em meio a degradações ambientais

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Em 1981, Benjamin Franklin Chavis Jr., um líder negro e ativista na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, definiu o que é racismo ambiental. Ele usou o termo para abordar a situação vivida pela população de Warren County, na Carolina do Norte, que protestava contra a instalação de um aterro de resíduos tóxicos.

Na época, 75% dos aterros de resíduos tóxicos do sudeste americano estavam em bairros habitados majoritariamente por pessoas negras, o que mostrou o quanto esse cenário era comum.

Assim, podemos entender que racismo ambiental é uma forma de discriminação vivida por grupos marginalizados e minorias étnicas, que são expostos a danos causados por degradações ao meio ambiente.

Racismo ambiental é o tema discutido no EP 9 do AprovaDocs, série de webdocumentários exclusivos produzidos pelo Aprova Total para os alunos da plataforma em busca de repertório para redação.

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O que é racismo ambiental e o que pode causar?

Para Ben Chavis, "racismo ambiental é a discriminação racial no direcionamento deliberado de comunidades étnicas e minoritárias a locais e instalações de resíduos tóxicos e perigosos, juntamente com a exclusão sistemática de minorias na formulação, aplicação e remediação de políticas ambientais".

Embora tenha sido criado na década de 1980, utilizamos o conceito para descrever problemas atuais. Nos Estados Unidos, estudos mostram que comunidades negras e latinas têm maior exposição a poluentes do ar e água, em comparação às comunidades brancas.

Isso acontece porque há maior probabilidade de essas pessoas residirem em regiões mais baratas, próximas a instalações industriais, rodovias e outras fontes de poluição, o que aumenta a exposição às substâncias perigosas.

Racismo ambiental - Protesto de residentes de Flint, cidade do Michigan (EUA) que viveu uma crise de águas contaminadas entre 2014 e 2019
Protesto de residentes de Flint, cidade do Michigan (EUA) que viveu uma crise de águas contaminadas entre 2014 e 2019 (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons)

Desigualdades impulsionadas pelo racismo ambiental dificultam o acesso a oportunidades econômicas e sociais, como empregos, educação e serviços públicos de qualidade. Além disso, quando pensamos na saúde dessas pessoas, doenças como asma, câncer e cardiopatias são muito comuns.

Essa realidade mostra a urgência de cobrar dos governos políticas ambientais justas e igualitárias.

Racismo ambiental no Brasil

A Constituição brasileira garante o direito de todos os cidadãos a um meio ambiente equilibrado ecologicamente. Infelizmente, porém, muitas comunidades enfrentam problemas como falta de áreas verdes, ar e água de má qualidade, saneamento básico precário e falta de alimentos saudáveis.

Além disso, muitas delas se desenvolvem nos locais prejudiciais à saúde, como áreas industriais,
poluídas ou de extração de recursos naturais.

No Brasil, o racismo ambiental é evidente em regiões próximas a monoculturas, mineração, garimpo, siderurgia, barragens, hidrelétricas, indústrias químicas e do petróleo. Áreas desfavorecidas impactadas por prejuízos ambientais são também delimitadas por políticas públicas e legislação ambiental.

Ou seja, o Estado contribui para a criação e a manutenção dessas áreas, ao permitir e autorizar atividades prejudiciais de empresas e indústrias que causam degradação e poluição. Além da legislação, atua financiando a produção e o "desenvolvimento", que muitas vezes prejudicam a população local.

Quem sofre com o problema?

Os povos indígenas, quilombolas, moradores de áreas remotas e pescadores artesanais são os que mais sofrem com esses prejuízos no Brasil. Esses grupos são frequentemente vítimas de violência em forma de ameaças, assassinatos, coações físicas e lesões corporais devido aos impasses ambientais.

Eles ainda sofrem com doenças e insegurança alimentar de forma generalizada.

O racismo ambiental no Brasil é um ciclo vicioso no qual raça e classe se e retroalimentam, às vezes se confundindo.

Racismo ambiental - Comunidade da Vila da Barca no bairro Telégrafo, em Belém
Comunidade da Vila da Barca no bairro Telégrafo, em Belém (Foto cedida por João Paulo Guimarães ao site Amazônia Real)

Por isso, o cenário atual não pode ser visto como resultado de mera casualidade: no norte do país, onde há maior concentração de população indígena, apenas 57,05% da população tem acesso a água potável, em contraste com os 91,03% na região Sudeste.

Exemplos de injustiça ambiental

Alguns pesquisadores afirmam que injustiças ambientais fazem parte do desenvolvimento industrial e que, na maioria dos casos, não é possível afirmar se as empresas ou políticas afetam intencionalmente determinadas comunidades, territórios e culturas.

No entanto, há situações que demonstram a urgência em debater sobre o que estamos buscando e para quem o país segue se desenvolvendo. Veja alguns exemplos brasileiros que você poderia usar em uma redação:

  • na Vila da Barca, comunidade de seis mil pessoas que fica sobre as águas da Baía do Guajará, no Pará, não há esgotamento sanitário. Os resíduos são despejados diretamente na lama, o que contamina o rio e a água potável. A situação já dura quase 60 anos sem uma solução adequada;
  • a instalação de dois portos na beira do Rio Amazonas no Pará ameaça a subsistência de 12 comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas na região do Lago Maicá, pois podem alterar a circulação dos barcos e afetar a pesca, uma das principais atividades econômicas das comunidades. Embora esses projetos tenham sido suspensos pela Justiça Federal, a influência do agronegócio levou políticos locais a modificarem o plano diretor para favorecer o desenvolvimento das obras;
  • em 2015, o rompimento de uma barragem em Mariana, Minas Gerais, resultou na poluição da bacia do Rio Doce com rejeitos de mineração. O desastre causou a destruição de casas e comunidades do distrito de Bento Rodrigues, além da morte de 19 pessoas. 84,5% das vítimas imediatas desse incidente eram negras;
Racismo ambiental - Rua de Bento Rodrigues após rompimento da barragem em Mariana
Rua de Bento Rodrigues após rompimento da barragem em Mariana (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons)
  • nessa mesma tragédia, os impactos ambientais foram sentidos em todo o curso do Rio Doce. A lama tóxica contaminou as águas, matando peixes e prejudicando a subsistência de comunidades ribeirinhas, incluindo o povo Krenak. Essa água era vital não apenas para os animais, mas também para o consumo humano e a irrigação das plantações.

Como combater a desigualdade ambiental?

As condições desfavorecidas e marginalizadas das populações que sofrem com a desigualdade ambiental, historicamente excluídas das instâncias oficiais de exercício do poder, favorece a sobreposição dos interesses da iniciativa privada e do Estado desenvolvimentista.

Por isso, especialistas enfatizam a relevância de entender o conceito, a fim de que os grupos atingidos e consigam se organizar em prol de suas causas.

Para enfrentar o racismo ambiental, então, é essencial:

  • incluir minorias étnicas e de baixa renda nas tomadas de decisões ambientais, pois as políticas devem considerar o que essas comunidades precisam;
  • responsabilizar os governos e a indústria por danos causados ao meio ambiente;
  • compensar comunidades afetadas, para lidar com os impactos negativos.

A urgência do tema foi destacada na COP27, a 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, realizada em 2022 no Egito, na qual o Brasil foi representado por três entidades: o governo federal, o Consórcio Amazônia Legal e o Brazil Climate Action Hub.

Lula dialogou com representantes de movimentos sociais e de ONGs no encontro de boas-vindas na COP27 organizado pelo Brazil Climate Hub
Lula dialogou com representantes de movimentos sociais e de ONGs no encontro organizado pelo Brazil Climate Hub na COP 27 (Imagem: Reprodução/Ricardo Stuckert)

Essa ampla representatividade fez com que indígenas, quilombolas, executivos e articuladores discutissem sobre transição energética justa, racismo ambiental e injustiça climática. Problematizar tais questões pelo viés étnico-racial permite reforçar identidades coletivas e construir lutas articuladas.

AprovaDocs: webdocumentários do Aprova Total

Toda segunda-feira, os alunos do Aprova Total têm um encontro marcado com uma nova produção que chega na plataforma. Os temas envolvem desde questões sociais, políticas e culturais até discussões sobre a natureza e o universo.

Nosso principal objetivo é compartilhar conhecimento sobre assuntos relevantes para as provas do vestibular, em especial a de redação.

No canal do Aprova no YouTube, também é possível assistir gratuitamente aos EP 1 e 2 do AprovaDocs. Os temas são Consequências do Uso Excessivo de Plástico Arquitetura Hostil.

Para conferir os próximos webdocumentários, assine a plataforma e garanta ainda todo apoio para conquistar sua tão sonhada vaga no vestibular. Esperamos você!

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Carol Firmino

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

Ver mais artigos de Carol Firmino >

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

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