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O que escrever em uma redação sobre evasão escolar?

Reunimos dados sobre o tema, além de reflexões que podem apontar caminhos possíveis para redigir um texto forte em argumentos. Confira!

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Se o tema da redação do vestibular fosse evasão escolar, você saberia como escrever um bom texto? Pode ser que sim, pode ser que não... Mas, para acabar com essa dúvida, trouxemos um combo de repertórios que vão fazer diferença no seu repertório e ajudar na hora de pensar em bons argumentos para falar desse assunto.

Evasão escolar é o tema discutido no EP 8 do AprovaDocs, série de webdocumentários exclusivos produzidos pelo Aprova Total para os alunos da plataforma em busca de repertório para redação.

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O que falar em uma redação sobre evasão escolar?

Conseguir contextualizar bem o tema é um ponto de partida interessante. Vamos começar?

Para concluir a trajetória da Educação Básica no Brasil, um estudante precisa dedicar 11 mil e 100 horas de sua vida em sala de aula. Isso apenas do 1º ano do Ensino Fundamental até a conclusão do Ensino Médio, sem contar com a Educação Infantil.

Considerando que o brasileiro, em média, começa a trabalhar entre os 14 e 17 anos de idade, justamente nas idades de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio regular, soma-se a essa carga horária a jornada de trabalho: em geral, 40 horas semanais.

Além disso, para chegar até o trabalho e até a escola leva tempo. Horas de transporte, lotações máximas, distâncias grandes, gastos com deslocamento e alimentação… São números altos. E é também alto o índice de evasão escolar em nosso país.

Números sobre evasão escolar no Brasil

Também faz parte de uma boa redação apontar os dados, por exemplo:

  • em 2021, cerca de 5,8% dos alunos matriculados no Ensino Médio da rede estadual abandonaram a escola. Essa porcentagem representa o número de estudantes que largam sua formação definitiva ou temporariamente, quase nunca por decisão própria;
  • com um índice de 24,3%, o Brasil tem a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países com maior IDH, só ficamos atrás da Bósnia Herzegovina (26,8%) e das ilhas de São Cristóvão e Nevis, no Caribe (26,5%);
Menina se dirigindo até a escola em condições precárias
Na América Latina, só Guatemala e Nicarágua têm taxas de evasão escolar superiores (Imagem: Adobe Stock)
  • dois milhões de crianças e adolescentes de 11 a 19 anos não frequentam a escola no Brasil;
  • 48% desse público afirma que deixou de estudar “porque tinha de trabalhar fora” ou cuidar de algum familiar;
  • 30% dos estudantes que largaram a escola afirmam que fizeram isso por não conseguirem acompanhar as explicações ou atividades;
  • outra parcela significativa diz ter desistido porque a escola não havia retomado as atividades presenciais, logo após as quarentenas decorrentes da pandemia de Covid-19.

Quais os principais motivos para a evasão escolar?

Uma redação sobre evasão escolar que proporcione reflexões críticas precisa mostrar por que o problema acontece.

A evasão escolar ocorre por motivos geralmente atribuídos a:

  • dificuldades financeiras
  • ingresso prematuro no mercado de trabalho
  • troca de domicílio, a uma doença
  • falta de incentivo para permanência do aluno por parte de seus responsáveis
  • dificuldades de acesso à escola
  • problemas domésticos
  • separação dos pais
  • reprovação do aluno

sala de aula com carteiras vazias - redação sobre evasão escolar
Ainda estão na lista de motivos falta de transporte, gravidez, desafios enfrentados por pessoas com deficiência, racismo e outros (Imagem: Pixabay)

A problemática da evasão escolar é ampla e complexa e afeta todas as modalidades de ensino. Como vimos, é decorrente de fatores econômicos, políticos e sociais que geram, na sociedade atual, amplas desigualdades e exclusões.

Abandono ou evasão escolar?

“Abandono” e “evasão escolar” nem sempre são termos usados como sinônimos de um mesmo fenômeno social. Inclusive, essa diversidade de conceituação atrapalha a quantificação precisa dos casos, dificultando o estudo das causas e dos princípios que podem levar a alternativas objetivas para superar o problema.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), “abandono” significa a situação em que o aluno se desliga da escola, mas retorna no ano seguinte, enquanto na “evasão”, o aluno sai da escola e não volta mais para o sistema escolar.

O que dizem os pesquisadores do tema?

Muitos estudiosos em Educação e Ciências Sociais consideram a evasão como uma expulsão escolar, porque a saída do aluno da escola não é um ato voluntário, mas uma imposição sofrida em razão de condições adversas do meio.

A evasão e a repetência estão longe de ser problemas relacionados às características individuais dos alunos e de suas famílias. São reflexos de como o Estado e o sistema recebem e exercem ação sobre as pessoas dos diferentes segmentos da sociedade.

Conforme defendido por teóricos, como o sociólogo Pierre Bourdieu, as causas da evasão também se relacionam com fatores internos da própria escola. Assim, essa instituição tem participação significativa no sucesso ou fracasso dos alunos, principalmente daqueles pertencentes às classes sociais mais pobres.

A escola, se compreendida como aparelho ideológico de Estado, tende a reproduzir as desigualdades e os problemas de outras esferas sociais. Portanto, aqueles que são retirados do sistema educacional são também pessoas marginalizadas da sociedade.

Quem são as pessoas mais afetadas?

Nos últimos anos, a escolaridade dos jovens brasileiros aumentou. Cada vez mais pessoas acessam o Ensino Médio. No entanto, uma considerável parcela dessas pessoas acaba abandonando a escola, principalmente como consequência da pressão de dividir esforços entre trabalho e estudo.

Jovem negro trabalhando - razões econômicas, como a necessidade de trabalho e jornadas extensas também estão entre os motivos da evasão escolar
Razões econômicas, como a necessidade de trabalho e jornadas extensas também estão entre os motivos da evasão escolar (Imagem: FreePik)

O abandono escolar começa a ficar mais evidente à medida que a idade aumenta. Antes mesmo de completarem 18 anos, muitos já se dividem entre essas duas jornadas. Porém, o que se observa é que as dificuldades se estreitam entre as classes mais baixas.

Conforme a renda aumenta, maiores são as chances de o jovem conseguir estudar e trabalhar ao mesmo tempo. Ou seja, a condição de vida que demanda trabalho é um fator dificultador da permanência das pessoas mais pobres na escola.

Em qual série a evasão escolar mais acontece?

O primeiro ano do Ensino Médio, em ensino regular ou Educação de Jovens e Adultos (EJA), nas instituições privadas ou públicas, é a série em que mais são registrados casos de insucesso, o que é considerado pelo Ministério da Educação como reprovação ou abandono.

A grande maioria dos estudantes evadidos deixa a escola no segundo semestre, por se considerar incapaz de passar de ano. E a evasão é maior ainda no Ensino Médio noturno, pois os alunos desse período, na maioria, são pessoas que trabalham durante o dia. As jornadas de trabalho são, em muitos casos, longas, já que essas pessoas precisam dar conta de seu sustento e dos seus dependentes.

Conciliar trabalho e estudo se torna ainda mais difícil quando as pessoas têm uma rotina de tarefas domésticas sob sua responsabilidade. Essa é a realidade dos alunos da EJA, destinada a maiores de 15 anos que não concluíram o Ensino Fundamental ou Médio no período regular.

A importância do acolhimento

Outro motivador da desistência dos estudos é a violência, que pode estar relacionada à localidade da escola, em áreas onde há conflitos entre policiais e criminosos, por exemplo, ou aos locais de moradia dos estudantes, o que pode fazer com que eles evitem sair de casa.

Mas essa violência pode aparecer até mesmo em casos de bullying e preconceito dentro das instituições.

Como as pessoas passam parte considerável da vida dentro das escolas, esses lugares devem oferecer segurança e conforto para quem frequenta suas dependências. Estudantes precisam se sentir parte da
escola, para que encontrem sentido na sua participação quase diária na construção desse espaço.

Nesse sentido, é até contraditório ver que as instituições educacionais não têm apoio nem recursos para receber a diversidade das pessoas que compõem a sociedade.

Em uma sociedade em que há resistência para o uso de nome social na chamada e na matrícula, em que não há acessibilidade, em que a segregação aparece até mesmo na divisão de banheiros femininos e masculinos, se torna difícil acolher e criar um ambiente seguro e confortável para as pessoas.

banner da plataforma Aprova Total

Como podemos combater a evasão escolar?

Na Constituição, a educação – juntamente com moradia, trabalho, lazer e saúde – é um direito social, mas, 35 anos após sua promulgação, ainda vemos que esse direito não é exercido por muitos brasileiros.

Para minimizar os problemas da evasão, é necessária uma ação firme dos poderes públicos na valorização dos profissionais da educação, que estão em contato direto com os alunos, assegurando boa qualidade de ensino, condições saudáveis para aprendizagem e plenos direitos aos estudantes.

É importante também que se reveja o próprio modelo educacional, o formato das aulas e as metodologias adotadas nas instituições. Do mesmo modo que o mau desempenho é um fator de evasão, há alunos que evadem por não se sentirem atraídos pela escola, consequência da precarização do ensino.

Sendo assim, o desafio é tornar a escola um espaço de referência identitária para a população, que atente para as demandas do seu público, sua cultura e suas formas de vida, tornando-se ferramenta política de afirmação e garantia de direitos.

Tema da evasão escolar na prova do Enem

Além de ser uma aposta para tema de redação, a evasão escolar já apareceu no Enem. Veja um exemplo:

(Enem 2021)

TEXTO I

Texto I do exercício do Enem

TEXTO II
É como se os problemas fossem criados pela pandemia quando, em verdade, isso só demonstra o quanto eles sofrem uma tentativa de serem naturalizados. Eles estavam lá, empurrados para debaixo de vários tapetes. Diversos levantamentos realizados indicam que parcela significativa dos estudantes não têm acesso à internet em suas casas, não têm computadores; têm celulares, mas com pacotes baratos que não permitem assistir a todas as aulas. E, caso tenham celulares e dados, pergunta-se: É possível elaborar um texto no celular? É possível interagir na aula remota pelo celular?

ASSIS. A. E. S. Q. Educação e pandemia. Educação em Revista, n. 37, 2021 (adaptado).

A crítica contida no texto e na figura evidencia o seguinte aspecto da sociedade contemporânea:

a) exclusão social.

b) expansão digital.

c) manifestação cultural.

d) organização espacial.

e) valorização intelectual.

Resposta: [A]
O acesso precário à internet e à tecnologia representa uma forma de exclusão social nas sociedades contemporâneas.

AprovaDocs: webdocumentários do Aprova Total

Toda segunda-feira, os alunos do Aprova Total têm um encontro marcado com uma nova produção que chega na plataforma. Os temas envolvem desde questões sociais, políticas e culturais até discussões sobre a natureza e o universo.

Nosso principal objetivo é compartilhar conhecimento sobre assuntos relevantes para as provas do vestibular, em especial a de redação.

No canal do Aprova no YouTube, também é possível assistir gratuitamente aos EP 1 e 2 do AprovaDocs. Os temas são Consequências do Uso Excessivo de Plástico Arquitetura Hostil.

Para conferir os próximos webdocumentários, assine a plataforma e garanta ainda todo apoio para conquistar sua tão sonhada vaga no vestibular. Esperamos você!

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Carol Firmino

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

Ver mais artigos de Carol Firmino >

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

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