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Uma nova guerra entre Israel e o Hamas; entenda o conflito

O domínio do grupo extremista sobre a Faixa de Gaza, de maioria palestina, e o governo israelense de Benjamin Netanyahu, são dois empecilhos a qualquer possibilidade de paz na região

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No sábado (7/10), o grupo fundamentalista islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, fez um ataque terrorista surpresa contra Israel, país sob comando do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. O número de mortos civis já soma milhares, tanto pelas ações da organização contra israelenses como pelos bombardeios que Israel realiza em retaliação.

De acordo com o Hamas, que assumiu a autoria da ofensiva, trata-se do início de uma grande operação para retomar o território. Porém, essa é a primeira vez que o grupo invade Israel por terra, já que, antes (2009, 2012, 2014 e 2021), as ações estiveram restritas ao lançamento de foguetes. A defesa israelense contra esse tipo de projétil se desenvolveu com o sistema antimísseis “domo de ferro”, que se mostrou efetivo nos embates de 2021.

O domínio do Hamas sobre a Faixa de Gaza, de maioria palestina, e o governo de Benjamin Netanyahu, em Israel, são dois empecilhos a qualquer possibilidade de paz na região. Ambos negam a aplicação dos Acordos de Oslo (1993), que pregavam a “Solução dos Dois Estados”, um judeu ao lado de um palestino. Tanto o Likud, partido de Netanyahu, como o Hamas, em Gaza, atuam sob um radicalismo religioso.

Israel e o Hamas: do ataque à guerra

O ataque do Hamas a Israel, iniciado em 7 de outubro, é segundo maior do século 21, atrás apenas dos atentados de 11 de setembro de 2001, organizados pela Al Qaeda. A investida terrorista gerou um número de mortos sem precedentes no país e Netanyahu respondeu com retaliações maiores que as anteriores. O grande motivo é a fragilidade de seu governo, que ameaça cair em razão da incompetência no tema da segurança nacional.

Prédio em ruínas após ataque aéreo com foguete na região entre Israel e a Faixa de Gaza
Prédio em ruínas após ataque aéreo com foguete na região entre Israel e a Faixa de Gaza (Imagem: Adobe Stock)

As cenas de atrocidade em mais uma guerra no Oriente Médio representam a intensificação de um cotidiano de violação aos direitos humanos e ao direito internacional. A ocupação da Cisjordânia por Israel envolveu a criação de assentamentos judaicos na região, promovidos pelo governo Netanyahu e condenados pela comunidade internacional.

Já na Faixa de Gaza, o Hamas comanda com mãos de ferro e sem permitir oposição política. Além disso, apesar do desejo de se colocar como representante da nação palestina, ao mirar foguetes contra o Estado de Israel, o Hamas ameaça a vida dos cerca de 1,6 milhão de palestinos que moram no país.

O que é o Hamas e o que ele defende

Grupo extremista armado, o Hamas surgiu em 1987 após o início da primeira intifada palestina contra a ocupação israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Ele constitui a maior organização islâmica nos territórios palestinos, sendo considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e por várias nações da União Europeia. 

Em sua fundação, o Estatuto do Hamas definiu a Palestina como terra islâmica, excluindo qualquer paz permanente com o Estado judeu. Posteriormente, o grupo reviu essa posição, afirmando que a luta não seria contra os judeus, mas contra "os agressores sionistas de ocupação". 

Multidão celebra Abdel Aziz ar-Rantisi em comício eleitoral na cidade palestina Ramalá, em 2007. Ele é um dos fundadores do Hamas e foi morto em 2004
Multidão celebra Abdel Aziz ar-Rantisi em comício eleitoral na cidade palestina Ramalá, em 2007. Ele é um dos fundadores do Hamas e foi morto em 2004 (Imagem: Reprodução/Wikimedia)

O Hamas integra uma aliança regional que inclui o Irã, a Síria e o grupo islâmico xiita Hezbollah no Líbano, que são contra a política norte-americana no Médio Oriente e em Israel. Eles não aceitam as condições propostas pela comunidade internacional: reconhecer Israel, aceitar os acordos anteriores e renunciar à violência.

Radicalismo religioso

Israel é a única democracia parlamentar do Oriente Médio, mas Netanyahu a comanda quase ininterruptamente desde 2009. Seu gabinete atual é o mais à direita na história israelense, com vários integrantes supremacistas judaicos.

Essas pessoas defendem:

  • a ocupação integral da Cisjordânia, de maioria palestina;
  • a negação de direitos aos palestinos
  • a sua expulsão, em última instância.

Hamas, por sua vez, sequestra a legitimidade da luta pela autodeterminação nacional dos palestinos em nome de seu próprio governo teocrático e ditatorial. O grupo venceu as eleições legislativas e controla a Faixa de Gaza desde 2006, quando ocorreu a retirada israelense. Coloca-se contra a outra grande força política palestina, o Fatah, que controla a Cisjordânia, ainda e sob ocupação de Israel.

Para o Hamas, o Estado de Israel deveria ser extinto, o que pressupõe a deportação ou extermínio dos seus habitantes.

Ou seja, tanto o Hamas como Netanyahu, do partido Likud, são expoentes do radicalismo religioso. Em 2021, o líder do Hamas foi um dos primeiros a parabenizar os talibãs pelo retorno ao poder no Afeganistão, onde impuseram um regime repressor contra as mulheres.

Por outro lado, nos últimos anos, Netanyahu tenta corroer as bases da democracia israelense, enfraquecendo o poder judiciário para reforçar o seu projeto de poder baseado na maioria parlamentar.

Nacionalismo entre judeus e palestinos

No fim da década de 1970, a hegemonia do Mapai, o Partido Trabalhista, sobre o sistema político israelense desmoronou. O Likud, de direita, se avolumou com o apoio dos judeus sefarditas, expulsos de países árabes nas décadas seguintes à criação do Estado de Israel.

Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
O primeiro-ministro é destaque no Likud desde 1993, com um intervalo de seis anos, quando o partido esteve nas mãos de Ariel Sharon (Imagem: Reprodução/Fernando Frazão/Agência Brasil)

A direita israelense apostou ainda mais forte no nacionalismo, incentivando a criação de colônias judaicas nos territórios palestinos ocupados da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

O fim da Guerra Fria trouxe um hiato de oportunidades. Em 1993, foram assinados os Acordos de Oslo, defendendo a chamada “Solução dos Dois Estados”. Ou seja, um Estado palestino englobaria a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, tendo como embrião a Autoridade Nacional Palestina (ANP), enquanto Israel iniciasse uma retirada gradual de suas tropas. Contudo, os ventos do radicalismo começaram a soprar dos dois lados.

Netanyahu e o Hamas são os inimigos perfeitos, reforçando seus poderes dentro de casa em nome da luta contra o rival. O primeiro-ministro representa a ascensão da direita na política do país, governado majoritariamente pela esquerda entre 1948, a criação do Estado, e a década de 1990.

Já o Hamas indica o enfraquecimento do Fatah, entidade político-militar mais vinculada à esquerda e principal representante dos palestinos entre a década de 1960 e o início do século 21. A violência de um alimenta as atrocidades do outro.

O conflito entre Israel e Palestina

Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Palestina deixou de ser território turco-otomano e passou ao controle britânico. Enquanto os árabes predominavam no interior, colonos judeus migravam para as planícies litorâneas e de baixa densidade demográfica, fugindo do antissemitismo na Europa.

A ocupação britânica da Palestina jogou com os dois lados, fomentando o nacionalismo árabe-palestino, de um lado, e judeu de outro. A retirada britânica no segundo pós-guerra deixou a região sob mandato das Nações Unidas, que organizou uma votação em que foi aprovada a criação de dois Estados, um judeu e um palestino, em 1947. O resultado foi acatado tanto pelos soviéticos como pelos americanos, mas não pelos Estados árabes.

Secretário-geral da ONU, António Guterres
Secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o ataque do Hamas contra cidades israelenses (Imagem: Reprodução/Agência Brasil/ONU/Jean-Marc Ferré)

A proclamação de independência do Estado de Israel, em maio de 1948, foi seguida de sua invasão pelas tropas de nações árabes vizinhas, como Egito, Jordânia e Síria. Em meio ao conflito, a desorganização e a falta de integração entre as forças árabes favoreceu a vitória israelense. Centenas de milhares de palestinos foram expulsos de suas casas e se tornaram refugiados.

Israel surgiu sob o impulso dos judeus provindos da Europa e de partidos de esquerda e centro-esquerda. Essas forças consolidaram um Estado de bem-estar social nas décadas seguintes à independência. A Cisjordânia e a Faixa de Gaza, de maioria palestina, foram anexadas por Jordânia e Egito, respectivamente. Porém, Israel ocupou militarmente essas duas regiões na Guerra dos Seis Dias (1967).

No contexto da Guerra Fria, a União Soviética logo abandonou o apoio ao Estado judeu e se alinhou com os Estados árabes do Oriente Médio. O contexto aproximou Israel do bloco ocidental, principalmente dos Estados Unidos, lar da segunda maior comunidade judaica no planeta. 

O conflito palestino-israelense no vestibular

A autodeterminação nacional dos palestinos já foi tema de diferentes exercícios no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Também é relevante lembrar que Israel completa 75 anos de independência em 2023. O conflito entre Israel e Palestina é um dos mais importantes da geopolítica mundial e pode aparecer em diferentes vestibulares.

Neste vídeo, falo dos principais conflitos que já apareceram nas provas de Geografia, História e Atualidades no Enem, com direito a com direito à resolução das questões:

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Víctor Daltoé dos Anjos

Professor de Atualidades do Aprova Total. Bacharel e licenciado em Geografia pela UFSC e mestre em Ciência Política pela mesma instituição.

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