Quem foi Tiradentes e como ele atuou na Inconfidência Mineira?
Entenda o movimento de ideologia republicana e separatista que ocorreu na Capitania de Minas Gerais, e conheça a história de seu principal líder

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Conhecido por integrar um dos mais importantes movimentos emancipacionistas durante o Brasil Colonial, Joaquim José da Silva Xavier aparece nos livros oficiais da República Brasileira como herói nacional. Estamos falando da Inconfidência Mineira e de Tiradentes - o movimento e o herói, respectivamente.
Mas você sabe qual foi a participação de Tiradentes na conjuração republicana? Quando ele passou a ser considerado um herói? E quanto desse assunto aparece nos vestibulares? Vamos às
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
Inconfidência Mineira e Tiradentes
A Inconfidência (ou Conjuração) Mineira foi um movimento de ideologia republicana e separatista que ocorreu na Capitania de Minas Gerais, desmantelada pelo governo português em 1789. As causas da conjuração remetem às políticas de derrama e de taxação do ouro aplicadas pela coroa portuguesa aos mineradores da capitania.
Além deles, outras pessoas integraram o movimento, por seu caráter separatista e republicano, o que levou à formação de um grupo secreto, que debatia e discutia formas de fazer uma rebelião acontecer. As bases dessas discussões e que inspiravam o projeto eram os ideais iluministas e a própria Independência dos Estados Unidos.
Mártir da Inconfidência

De onde veio Tiradentes? Sua origem está em uma família de mineradores de classe média. Quando mais novo, teve um dentista como tutor, com quem aprendeu o ofício que lhe rendeu esse apelido. Depois, chegou a integrar as forças armadas de Minas Gerais, quando ocupou o posto de Segundo-tenente, mas desistiu do exército, após não conseguir subir na hierarquia da corporação.
Ao lado, vemos uma pintura histórica feita por José Wasth Rodrigues, mas nenhum retrato verdadeiro ou descrição física de Tiradentes é conhecida.
Ele era abertamente contra o governo português, o que o aproximou dos demais membros da conspiração. Porém, não se sabe precisamente se o grupo possuía um líder.
Quando a conspiração foi delatada, os membros foram presos e julgados como traidores da coroa, condenados ao exílio ou à morte. No entanto, entre esses últimos, todos acabaram exilados, com exceção de Tiradentes, o único que confessou sua participação na rebelião e declarou-se líder do movimento.
Entre a prisão e a execução da pena, Tiradentes passou três anos preso no Rio de Janeiro. Em 21 de abril de 1792, porém, foi enforcado onde hoje fica a Praça Tiradentes, no centro da cidade. Depois de morto, foi esquartejado e teve seus restos mortais pendurados pela estrada que levava a Vila Rica (atual Ouro Preto, em Minas Gerais).
O mito de Tiradentes
No decorrer do século 19, pouco se falou a respeito de Tiradentes, cuja história ganhou destaque ao final do período monárquico, pelo esforço de membros do partido liberal que almejavam instaurar uma república no Brasil.
Tiradentes representava tudo aquilo que os liberais buscavam, um mártir que morreu por seus ideais (republicanos) e pela opressão da coroa portuguesa. Dessa forma, não levou muito tempo para que a sua história fosse recontada e inúmeras representações sobre ele surgissem.

Após a Proclamação da República, em 1889, Tiradentes adquire a alcunha de herói brasileiro, e sua simbologia começa a integrar obras encomendadas pelo governo brasileiro, que muitas vezes exageram na representação da história do personagem.
Inconfidência Mineira, Tiradentes e a criação do feriado
Entre a Proclamação da República e a instauração da Ditadura Civil-Militar, a celebração da memoria de Tiradentes foi incluída ou excluída do calendário oficial brasileiro diversas vezes. A mais recente aconteceu durante o governo Castelo Branco que, em 1965, definiu o dia 21 de abril como feriado nacional e fez de Tiradentes patrono do país.
Debate historiográfico
Muito se debate sobre a memória de Tiradentes e da Inconfidência Mineira.
É incontestável a relevância do movimento na história do Brasil, entretanto omite-se o fato de que, apesar do caráter separatista, a conjuração não incorporou as diferentes camadas sociais brasileira da época. Além disso, por ter acabado antes de qualquer atuação pública, torna-se difícil analisar quais impactos ela teria sobre a coroa portuguesa.
Outro ponto importante é a maneira como o positivismo republicano e o ufanismo militar se aproveitaram da simbologia de Tiradentes. A data e a memória popular a seu respeito foi moldada sobre o que esses grupos buscavam exaltar.
Como Inconfidência Mineira e Tiradentes caem no vestibular?
Inconfidência Mineira e Tiradentes são temas que aparecem no Enem e nos vestibulares relacionados justamente aos debates sobre o positivismo republicano e o ufanismo militar. Questões relacionadas à memória social e popular são as mais frequentes, além daquelas que tratam do papel do movimento durante o Brasil Colonial, em contraste com a Conjuração Baiana, que ocorreu anos depois da Mineira.
Exemplo 1
(Puccamp 2018) Tiradentes era alguém com todas as características e ressentimentos de um revolucionário. Além do mais, ele se apresentava para o martírio ao proclamar sua responsabilidade exclusiva pela inconfidência. Era óbvia a sedução que o enforcamento do alferes representava para o governo português: pouca gente levaria a sério um movimento chefiado por um simples Tiradentes (e as autoridades lusas, depois de outubro de 1790, invariavelmente se referiam ao alferes por seu apelido de Tiradentes).
MAXWELL, Kenneth. A devassa da devassa. A Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal 1750-1808. São Paulo: Paz e Terra, 1995, p. 216.
Ao proclamar sua responsabilidade exclusiva pela inconfidência, Tiradentes favoreceu
a) os conspiradores brasileiros e portugueses que pretendiam fazer dele o herói de uma epopeia nacional.
b) os companheiros de movimento e poetas Claudio Manuel da Costa e Tomás Antonio Gonzaga.
c) seus cúmplices e escritores Basílio da Gama e Gregório de Matos.
d) os revoltosos e fanáticos monarquistas agrupados num arraial de Minas Gerais.
e) os companheiros intelectuais que propagavam suas causas nos jornais do primeiro Império.
Resposta: [B]
Quando Tiradentes assume a liderança do movimento, exime certa parcela de culpa dos demais integrantes do movimento.
[A] Incorreta, pois não havia o intuito desde o começo de transformar Tiradentes em herói ou mártir do movimento.
[C] Incorreta, porque nenhum dos escritores fez parte da insurreição.
[D] Incorreta, visto que o movimento tinha cunho republicano, logo, não faz sentido que monarquistas aderissem a ele.
[E] Incorreta, pois o primeiro Império (ou primeiro Reinado) começa 30 anos após a morte de Tiradentes, logo, não havia como a sua culpa favorecer os escritores.
Exemplo 2
(Enem 2017) O instituto popular, de acordo com o exame da razão, fez da figura do alferes Xavier o principal dos Inconfidentes, e colocou os seus parceiros a meia ração de glória. Merecem, decerto, a nossa estima aqueles outros; eram patriotas. Mas o que se ofereceu a carregar com os pecadores de Israel, o que chorou de alegria quando viu comutada a pena de morte dos seus companheiros, pena que só ia ser executada nele, o enforcado, o esquartejado, o decapitado, esse tem de receber o prêmio na proporção do martírio, e ganhar por todos, visto que pagou por todos.
ASSIS, M. Gazeta de Notícias, n. 114, 24 abr. 1892.
No processo de transição para a República, a narrativa machadiana sobre a Inconfidência Mineira associa
a) redenção cristã e cultura cívica.
b) veneração aos santos e radicalismo militar.
c) apologia aos protestantes e culto ufanista.
d) tradição messiânica e tendência regionalista.
e) representação eclesiástica e dogmatismo ideológico.
Resposta: [A]
Durante a República, Tiradentes passa a ser representado como mártir da insurreição e é transformado em "exemplo heroico" a ser seguido pelos brasileiros. Há diversas representações dele em cenas similares à procissão de Cristo. No texto, essa representação aparece no trecho "o que se ofereceu a carregar com os pecadores de Israel".
[B] Incorreta, pois, embora o texto de Machado retome certa simbologia bíblica, ele não se aproxima de uma veneração religiosa, nem se associa ao radicalismo militar da época, e sim ao autoritarismo monárquico.
[C] Incorreta, porque o texto faz apologia aos protestantes, mas não beira o ufanismo, o que ocorre somente a partir de 1964 com a Ditadura Civil-Militar.
[D] Incorreta, visto que não houve muitos movimentos com características messiânicas no país para associá-los à Inconfidência. Além disso, Tiradentes tem sua simbologia presente em todo o território nacional.
[E] Incorreta, pois Machado não relaciona tais representações bíblicas de Tiradentes a dogmas ideológicos.
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