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O que você precisa saber sobre a Copa do Mundo Feminina?

O esporte, assim como outros espaços sociais, é palco de luta das mulheres por oportunidades iguais e livres de preconceito

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Nesta quinta-feira (20 de julho), teve início a Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023, que segue até 20 de agosto e tem como sede cidades da Austrália e da Nova Zelândia. A competição acontece sempre no ano seguinte ao torneio masculino e está em sua 9ª edição - ou seja, tem pouco mais de duas décadas de história. No contexto de conquistas das mulheres no esporte, jogar futebol profissionalmente, então, é uma prática recente.

E por que é importante refletir sobre o histórico dessa luta? O esporte, assim como outros espaços sociais, está sujeito às leis e imposições da sociedade. E, no modelo patriarcal, mulheres ainda persistem para desfrutar de oportunidades iguais e livres de preconceito.

Além disso, as conquistas das mulheres, o movimento feminista e as questões de gênero são temáticas atemporais, que servem de repertório social para a redação do Enem e de outros vestibulares. Queremos ajudar você a se atualizar e adicionar informações à sua teia do conhecimento. Vamos lá?

A primeira partida oficial entre mulheres

Ainda que, segundo a FIFA, a primeira partida oficial entre mulheres tenha sido disputada em 1885, a modalidade se desenvolveu de maneira particular nos diferentes lugares do mundo.

Mulheres no esporte: ativista Nettie Honeyball foi a principal responsável por fundar o British Ladies Football Club

Na Inglaterra, a ativista Nettie Honeyball foi a principal responsável por fundar o British Ladies Football Club, primeiro clube de futebol de mulheres, em 1894. Acredita-se que Honeyball, na realidade, seja o pseudônimo de Mary Hutson, capitã e secretária do time.

É importante destacar que o cenário no qual o British Ladies surgiu era de luta por direitos igualitários, a partir de princípios incorporados pela Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade, que caracterizou a Primeira Onda Feminista.

Imagem: Wikimedia Commons

Enquanto atividades como o tênis, o críquete e hóquei haviam sido adaptadas para a prática feminina, o futebol era considerado um jogo violento para elas, isso somado à dificuldade que as roupas utilizadas na época impunham.

Por mais que o tempo de vida do clube tenha sido curto (até 1896), sua importância histórica é um fato. Para as mulheres que integraram esse grupo, o esporte representou uma oportunidade para contestar barreiras de gênero.

O futebol feminino no Brasil

Os primeiros jogos datam do início de 1900, mas foi entre 1930 e 1940 que as disputas se popularizaram. Segundo Aira Bonfim, historiadora e autora do livro Futebol Feminino no Brasil (1915 a 1941), o Rio de Janeiro, principalmente as periferias cariocas, estiveram no centro da organização das equipes. Além disso, a imprensa escrita, a exemplo do Jornal dos Sports, ajudou a divulgar (de forma positiva) quem estava diretamente envolvida com a prática.

Esse cenário foi um prato cheio para que mulheres no esporte, mais uma vez, recebessem a alcunha de inadequadas para a modalidade. O debate ganhou espaço nacional quando um homem conservador chamado José Fuzeira escreveu ao presidente Getúlio Vargas sobre seu descontentamento com a prática.

O Diário da Noite publicou a carta, que alertava sobre um “novo problema” ou “calamidade” prestes a acabar com a juventude feminina do Brasil.

Então, em abril de 1941, por meio do Decreto-Lei 3.199, Getúlio estabeleceu as bases de organização dos desportos brasileiros. No Art. 54 constava a seguinte determinação:

“Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

Nesse momento, o futebol feminino tornava-se proibido no Brasil e passava a existir na clandestinidade.

Após o golpe que deu início à ditadura militar (1964-1985), houve uma reação ainda mais enfática do governo, com perseguições às jogadoras e jornais alinhados à política conservadora de Getúlio reforçando a ideia de ser incompatível com o corpo das mulheres.

Manchete - O Footbal mata a graça das mulheres - Reprodução Museu do Futebol - O Imparcial, 16 de janeiro de 1941
Reprodução Museu do Futebol - O Imparcial, 16 de janeiro de 1941

Durante 38 anos, o futebol feminino no Brasil resistiu em meio às proibições. Em 1979, com o desgaste do regime militar, houve a revogação do decreto, mas a regulamentação da modalidade aconteceu em 1983 - pois é, apenas 40 anos atrás.

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Mulheres no esporte

Mesmo após ser incorporado legalmente no Brasil, o futebol feminino sofreu com a escassez de políticas públicas que incentivassem o seu desenvolvimento e com a falta de investimento para a profissionalização das jogadoras.

Por mais que, no resto do mundo, essa história tenha outras personagens e características particulares, a presença de mulheres no esporte, de maneira geral, é uma conquista ainda em curso.

Segundo o relatório Movimento é Vida: atividades físicas e esportivas para todas as pessoas, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2017, o indivíduo que mais pratica atividades físicas no Brasil é o homem branco, jovem, sem deficiência e com alto nível socioeconômico.

Outro estudo, desenvolvido pela Women's Sports Foundation, analisou triunfos, desafios e oportunidades para meninas e mulheres no esporte. A partir de documentos e entrevistas, identificou-se que a consolidação de mulheres líderes no esporte feminino é uma perspectiva em ascensão.

Ainda assim, 77% acreditam que a falta de treinadoras como inspiração ou modelos a seguir limitam a participação esportiva das garotas. Enquanto 70% entendem que a falta de cobertura da mídia atrapalha o envolvimento de meninas no esporte.

Ou seja, atletas, árbitras, treinadoras e jornalistas desse campo - ou meninas e mulheres que desejam, simplesmente, praticar esporte - seguem driblando obstáculos dos preconceitos de gênero.

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Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023

Entender brevemente os diferentes contextos de luta que as mulheres no esporte - e no caso deste nosso papo, no futebol - viveram, é tarefa essencial para abordar as conquistas recentes.

A Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino 2023, além de ser uma celebração da modalidade, também marca a quebra de algumas barreiras e acontecimentos inéditos:

  • O torneio terá 32 seleções disputando o título principal, o maior número desde 1991 - isso significa que 8 novas nações vão participar da Copa;
  • As equipes participantes vão receber US$ 150 milhões (R$ 792 milhões), valor três vezes maior que em 2019 e dez vezes maior que o de 2015. É um aumento muito significativo, mas segue menor do que as seleções masculinas receberam no Qatar em 2022 (US$ 440 milhões, mais de R$ 2 bilhões);
  • Segundo Gianni Infantino, presidente da FIFA, o objetivo é igualar a premiação na próxima edição do torneio, que acontece em 2027, ainda sem local definido;
  • Pelo menos 94 atletas LGBTQIA+ estarão competindo na Copa do Mundo Feminina de 2023, um número recorde, conforme aponta o site estadunidense Outsports. O Brasil é o time com mais jogadoras que se identificam abertamente como LBGTQIA+, são 9 no total;
Mulheres no esporte: primeiro treino da seleção feminina principal em Brisbane, Austrália
Primeiro treino da seleção feminina principal em Brisbane, Austrália (Imagem: Thais Magalhães/CBF)
  • Depois de exibir os jogos da seleção brasileira pela primeira vez na TV aberta na Copa da França em 2019, a Rede Globo fará sua maior cobertura da história do torneio. Serão 7 partidas exibidas na emissora e 34 no SporTV, o dobro da anterior;
  • A participação de mulheres jornalistas e comentaristas também aumentou. Na Copa masculina, em 2022, Ana Thaís Matos e Renata Silveira foram pioneiras nos comentários e na narração. Agora, se juntam a elas outras 7 profissionais, incluindo as ex-jogadoras Formiga e Aline Calandrini, para trabalhar em uma transmissão com maioria feminina.

Como o futebol já apareceu no Enem e nos vestibulares?

No Enem e nos vestibulares em geral, as questões sobre futebol não seguem uma regra específica. Isso quer dizer que o tema já apareceu em Matemática, História, Linguagens, Física e mais. Ele foi lembrado em poemas, música, gráficos e tirinhas.

Em 2020, porém, o Enem propôs uma questão que se relaciona justamente com a discussão que fizemos aqui, envolvendo futebol, mulheres e gênero. Veja:

Exemplo

O suor para estar em competições nacionais e internacionais de alto nível é o mesmo para homens e mulheres, mas não raramente as remunerações são menores para elas. Se no tênis, um dos esportes mais equânimes em termos de gênero, todos os principais torneios oferecem prêmios idênticos nas disputas femininas e masculinas, no futebol a desigualdade atinge seu ápice.

Neymar e Marta são dois expoentes dessa paixão nacional. Ela já foi eleita cinco vezes a melhor jogadora do mundo pela Fifa. Ele conquistou o terceiro lugar na última votação para melhor do mundo. Mas é na conta bancária que a diferença entre os dois se sobressai.

Reprodução Inep

O esporte é uma manifestação cultural na qual se estabelecem relações sociais. Considerando o texto, o futebol é uma modalidade que

a) apresenta proximidades com o tênis, no que tange às relações de gênero entre homens e mulheres.

b) se caracteriza por uma identidade masculina no Brasil, conferindo maior remuneração aos jogadores.

c) traz remunerações, aos jogadores e jogadoras, proporcionais aos seus esforços no treinamento esportivo.

d) resulta em melhor eficiência para as mulheres e, consequentemente, em remuneração mais alta às
jogadoras.

e) possui jogadores e jogadoras com a mesma visibilidade, apesar de haver expoentes femininas de destaque, como Marta.

Resposta: [B]
O texto aborda a desigualdade entre homens e mulheres no futebol, que pode ser exemplificada na disparidade entre salários e conquistas de Marta e Neymar.

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Carol Firmino

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

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Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

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