Conheça a Mata Atlântica, o bioma mais ameaçado do Brasil
Com uma das maiores biodiversidades do mundo, a floresta já chegou a ocupar cerca de 15% do território nacional, mas esse cenário mudou e é muito preocupante
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Presente em quase toda extensão do litoral brasileiro, a Mata Atlântica tem áreas em 17 estados do Brasil e outros países da América do Sul, como Paraguai e Argentina.
A floresta já chegou a ocupar cerca de 15% do território nacional, mas esse cenário mudou e é muito preocupante. Um dos mais ricos biomas do mundo em biodiversidade é ameaçado por fatores, como urbanização, exploração madeireira, desmatamento e expansão de infraestrutura, como estradas e cidades.
Essas atividades, ao longo dos anos, resultaram em uma perda significativa de sua cobertura original, o que impactou diretamente na fauna e na flora. No Dia Nacional da Mata Atlântica (27/05), reforçamos que sua recuperação e proteção são fundamentais na manutenção dos recursos naturais indispensáveis para a qualidade de vida das pessoas.
A seguir, confira detalhes sobre a situação atual do bioma no Brasil e informações que destacam a sua singularidade.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
Dia Nacional da Mata Atlântica
Em decorrência de um Decreto Federal, 27 de maio foi instituído como o Dia Nacional da Mata Atlântica. A data é uma homenagem à Carta de São Vicente, escrita em 1560 pelo Padre Anchieta, na qual a floresta foi descrita pela primeira vez.
Além da celebração que envolve o dia, a importância da preservação desse bioma também é lembrada.
A Mata Atlântica possui uma enorme biodiversidade e é responsável pela existência de inúmeras espécies endêmicas, como o mico-leão-dourado.
O bioma é desmatado e explorado economicamente há séculos, o que influenciou diretamente no seu desaparecimento em diversas regiões do país. Atualmente, de acordo com o SOS Mata Atlântica, restam apenas 12,4% de seu florestamento original.
Uma nova edição do Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), indica que o desmatamento (em relação a essa porcentagem de 12,4%) caiu de 20.075 hectares em 2022 para 14.697 em 2023 – uma redução de 27%.
Por outro lado, houve um aumento das derrubadas nos encraves presentes no Cerrado e na Caatinga, em especial na Bahia, no Piauí e no Mato Grosso do Sul. Esses encraves são como "ilhas de vegetação" típicas da Mata Atlântica que estão dentro de outros biomas, o que mantém o alerta sobre sua devastação.
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Como era a Mata Atlântica no descobrimento?
Em decorrência da localização próxima ao litoral, a Mata Atlântica foi o primeiro contato dos portugueses com o “novo mundo”.
Ao mesmo tempo que a riqueza de águas e a biodiversidade foram logo admiradas pelos europeus, o processo de destruição do bioma se iniciou já nos primeiros anos do século 16.
Depois, grande parte dos ciclos econômicos se relacionaram diretamente com a Mata Atlântica, como a extração de pau-brasil, as plantações de cana-de-açúcar, o café e a mineração do ouro.
Em razão da economia e da proximidade com o litoral, os centros urbanos foram desenvolvidos de modo acelerado e desorganizado nessas regiões, o que propiciou um povoamento concentrado. De acordo com o IBGE, cerca de 72% da população brasileira vive nos limites da Mata Atlântica.
Outras curiosidades
- A Mata Atlântica abriga cerca de 20.000 espécies de plantas, o que representa aproximadamente 8% das espécies vegetais conhecidas no mundo;
- Dentro da Mata Atlântica, existem cidades construídas pelos colonizadores portugueses, como Paraty, no Rio de Janeiro, que mantêm sua arquitetura histórica até hoje;
- No passado, a Mata Atlântica se estendia por uma área muito maior do que a atual, cobrindo cerca de 1,3 milhão de quilômetros quadrados;
- Desde 1990, mais de 20 milhões de mudas de espécies nativas foram plantadas na Mata Atlântica como parte de programas de restauração e conservação;
- Sua diversidade topográfica e vegetal cria microclimas específicos, proporcionando condições ideais para o desenvolvimento de diversas espécies;
- Há ecoestradas ou corredores ecológicos criados para conectar áreas fragmentadas da Mata Atlântica, permitindo o fluxo dos animais e contribuindo para sua sobrevivência;
- Além do mico-leão-dourado, o tucano-de-bico-preto, a onça-pintada e o beija-flor são espécies oriundas da Mata Atlântica;
- A floresta fornece recursos naturais essenciais, como água, madeira e alimentos, mas também plantas que são bases para medicamentos;
- Ela é responsável por abastecer cerca de 120 milhões de brasileiros com água de qualidade, o que corresponde a aproximadamente 60% da população do país.
Impactos ambientais na Mata Atlântica
O bioma enfrenta muitos desafios ambientais que impactam não apenas sua fauna e flora, mas também a qualidade de vida das populações que dependem desses ecossistemas.
Nesse contexto, é fundamental compreender os motivos dos impactos e as suas consequências:
- Desmatamento
Motivos: expansão da fronteira agrícola, atividades madeireiras, urbanização desordenada e crescimento da infraestrutura.
Consequências: perda de espécies vegetais e animais, diminuição da variabilidade genética e aumento do risco de extinção.
- Expansão urbana e agropecuária
Motivos: demandas por moradia, desenvolvimento de áreas agrícolas e pressão econômica sobre recursos naturais.
Consequências: erosão, compactação do solo, poluição dos rios e mananciais, escassez de água e deslizamentos oriundos da construção de barragens para geração de energia ou rejeitos de mineração.
- Fragmentação do habitat
Motivos: crescimento das atividades humanas, construção de estradas e barreiras físicas que dividem o território natural.
Consequências: isolamento de populações animais e vegetais, dificuldade de dispersão e migração, e aumento da vulnerabilidade às mudanças ambientais.
- Poluição e contaminação
Motivos: uso intensivo de agrotóxicos, descarte inadequado de resíduos industriais e urbanos, e atividades de mineração.
Consequências: aumento da incidência de doenças respiratórias, dermatológicas e relacionadas à água contaminada, afetando diretamente as comunidades locais.
- Queimadas e incêndios
Motivos: práticas agrícolas inadequadas, uso do fogo para limpeza de áreas e condições climáticas propícias a incêndios.
Consequências: aumento da temperatura, eventos climáticos mais intensos, como secas e enchentes, e prejuízos socioeconômicos para as populações afetadas.
- Consumo irresponsável de recursos naturais
Motivos: demanda por recursos minerais, pesca predatória, caça ilegal e exploração desenfreada de madeira e produtos vegetais.
Consequências: dificuldade na recuperação dos ecossistemas, necessidade de medidas urgentes de conservação e restauração, e pressão sobre a capacidade de regeneração da Mata Atlântica.
Uma floresta tropical
A Mata Atlântica cobre grandes extensões de latitude no Brasil de norte a sul, portanto, não é tão simples definir suas temperatura e pluviometria médias.
Contudo, o clima, em geral, é classificado como tropical úmido, com temperatura de 25°C. Além disso, possui uma pluviosidade regular, sem períodos de estiagens, mantendo níveis superiores a 1.600 mm.
Em decorrência das chuvas constantes e do relevo ondulado, conhecido como Mares de Morros, todos os rios são perenes e volumosos. Soma-se ao volume de água a presença de grandes corpos hídricos subterrâneos, como o Aquífero Guarani, um dos maiores do mundo.
Já o solo possui composições muito distintas, porém, em sua maioria, é raso e pouco fértil. Mas o acúmulo e a decomposição de matéria orgânica (húmus) sobre ele serve como adubo e fornece nutrientes para o desenvolvimento de uma vegetação densa.
Biodiversidade
A diversidade de solos, relevos e climas criou paisagens distintas, que se diferenciam não só pelas espécies vegetais, mas por todo ecossistema. Por isso, a Unesco define a Mata Atlântica como Reserva Mundial da Biosfera.
Considerando só a flora, são mais de 20 mil espécies vegetais presentes na Mata Atlântica, aproximadamente 1/3 da totalidade brasileira. Para exemplificar, essa riqueza é maior do que a encontrada na América do Norte e na Europa.
Semelhantemente à flora, a fauna da Mata Atlântica apresenta grande diversidade e alto endemismo. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, milhares de insetos e mais de 2.000 vertebrados vivem nas regiões da mata, sendo o grupo das aves o mais diverso, com 850 espécies registradas.
O segundo grupo mais diverso é o dos anfíbios, com 370 espécies reconhecidas. Mesmo possuindo números expressivos, novas descobertas ocorrem todos os anos. Do mesmo modo, os répteis constituem um grupo com 200 espécies distintas.
Por fim, a mesma abundância de espécies ocorre com os mamíferos e peixes. Com uma surpreendente diversidade, cerca de 270 mamíferos e 350 peixes estão catalogados. Destacam-se os primatas, como os muriquis e os micos-leões.
Por que é importante preservar a Mata Atlântica?
Estamos falando de um dos biomas mais ricos em biodiversidade no mundo, que abriga uma variedade impressionante de espécies de plantas, animais e microorganismos. Muitos deles, inclusive, são endêmicos, ou seja, encontrados apenas nesse ecossistema.
Além disso, a Mata Atlântica fornece uma série de serviços ecossistêmicos essenciais para a vida humana, como a regulação do clima, a manutenção da qualidade da água e a fertilidade do solo, e ainda é fonte de alimentos, medicamentos e matérias-primas.
O bioma possui um valor cultural e histórico muito significativo, abrigando muitas comunidades tradicionais e povos indígenas. Também é responsável pela produção de grande parte da água que abastece as bacias hidrográficas do Sudeste brasileiro, região altamente populosa e industrializada.
Para que você veja de perto toda a biodiversidade encontrada na Mata Atlântica, o Professor Jubilut adentrou a floresta e gravou uma videoaula especial. Assista 👇
Ações pela Mata Atlântica
As tentativas de preservação da floresta são antigas. Em 1999, por exemplo, a Unesco classificou a Mata Atlântica como um hotspot mundial, assegurando uma proteção extra.
Esse é um conceito utilizado para definir uma região geográfica com enorme biodiversidade local (principalmente de espécies endêmicas) que já teve boa parte da sua cobertura vegetal desmatada.
No Brasil, existem dois hotspots: o Cerrado e a Mata Atlântica.
Veja outras ações:
- o Brasil possui leis específicas para proteção da Mata Atlântica, como o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e a Lei da Mata Atlântica (Lei nº 11.428/2006), que estabelecem regras para uso e ocupação do solo, proteção de áreas de preservação permanente (APPs) e reserva legal;
- existem várias unidades de conservação destinadas à preservação da Mata Atlântica, como parques nacionais, reservas biológicas e áreas de proteção ambiental;
- o programa Mata Atlântica em Pé promove a restauração de áreas degradadas, o monitoramento da cobertura vegetal e o engajamento comunitário para conservação;
- o Instituto SOS Mata Atlântica atua há mais de 30 anos na conservação desse bioma, realizando ações de reflorestamento, monitoramento da qualidade da água, educação ambiental e advocacy.
A continuidade de projetos de educação ambiental e a recuperação de áreas degradadas, são fatores definitivos para a sobrevivência da Mata Atlântica nos próximos anos.