Desmatamento no Brasil: o que revelam os dados?
O relatório mais recente do MapBiomas mostrou um raio-x do problema no território brasileiro em 2023; veja os dados e algumas reflexões importantes sobre o que encontramos

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Em maio de 2024, o MapBiomas Alerta – uma iniciativa do Observatório do Clima da ONU, que monitora os biomas brasileiros desde 2019 – divulgou dados atualizados sobre o desmatamento no Brasil em 2023.
Desde o início do monitoramento, o país já perdeu aproximadamente 8.558.237 hectares de vegetação nativa, uma área equivalente a duas vezes o estado do Rio de Janeiro. Somente em 2023, foram desmatados 1.829.597 hectares.
O pico de desmatamento de 2023 ocorreu em 15 de fevereiro, quando uma área equivalente a 5.884 campos de futebol foi derrubada em um único dia.
Embora os dados apontem uma queda de 11,6% no desmatamento em relação a 2022, essa redução não beneficiou todos os biomas de forma igual. Ao detalhar os números por bioma, observamos que alguns continuam sofrendo impacto significativo. Vamos explorar o cenário específico de cada um deles.
Veja outros números apontados pelo projeto.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
Gráficos do desmatamento no Brasil
Em 2023, 85% do desmatamento no Brasil ocorreu na Amazônia e no Cerrado. Pela primeira vez, o Cerrado registrou a maior área desmatada entre todos os biomas, com um total de 1.110.326 hectares, representando um aumento de 67,7% em relação a 2022 (Figuras 1 e 2).
O desmatamento também cresceu significativamente no Pantanal (59,2%) e na Caatinga (43,4%) (Figuras 1 e 2). Em contrapartida, três biomas apresentaram queda no desmatamento: a Amazônia, com uma expressiva redução de 62,2%, seguida pela Mata Atlântica (59,2%) e pelo Pampa (50,4%) (Figuras 1 e 2).
Desmatamento por Estado
Na Figura 3, observa-se o ranking de desmatamento por estado. O Pará, que ocupava o primeiro lugar no ranking de 2022, caiu para a quarta posição em 2023, com uma redução de mais de 60% no desmatamento. O estado de Mato Grosso, embora ainda esteja entre os cinco estados que mais desmatam, apresentou uma redução de 30%, ocupando a 5ª posição no ranking.
Já o Maranhão assumiu o primeiro lugar em 2023, com um aumento de 95,1% no desmatamento, totalizando a perda de 331.224 hectares de vegetação nativa. Também superando os números de 2022, Bahia e Tocantins ocuparam a 2ª e 3ª posições (Figura 3).
Já o Maranhão assumiu o primeiro lugar em 2023, com um aumento de 95,1% no desmatamento, totalizando a perda de 331.224 hectares de vegetação nativa. Também superando os números de 2022, Bahia e Tocantins ocuparam a 2ª e 3ª posições (Figura 3)
Tipos de vegetação nativa mais desmatados por bioma
Pela primeira vez, no ano de 2023 houve um predomínio na formação no desmatamento de formações savânicas (54,8%) em relação a formações florestais (38,5%) (Figura 5).
O desmatamento em áreas críticas
O território da Amazônia Legal (Figura 6), uma área administrativa criada para implementar projetos de integração e proteção da Amazônia, abrange cerca de 59% do território nacional e inclui os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, além de parte do Maranhão.
Nos últimos cinco anos, essa região perdeu 5.895.301 hectares de vegetação nativa, dos quais 973.018 hectares foram desmatados somente em 2023, representando uma redução de 32% em relação a 2022.
O que tem levado ao desmatamento?
Conforme apresentado na Figura 7, vários fatores têm contribuído para o desmatamento no Brasil. Porém, a agropecuária é responsável por 97% de toda a perda de vegetação nativa nos últimos cinco anos.
Além disso, o garimpo foi responsável pelo desmatamento de 37.175 hectares, enquanto a expansão urbana contribuiu com outros 18.560 hectares nesse mesmo período.
E mais:
- Em 2023, foram desmatados 973.018 hectares no território da Amazônia legal, uma redução de 32% em relação a 2022;
- Dos 5.572 municípios brasileiros, 3.511 (63%) tiveram pelo menos um evento de desmatamento detectado e validado em 2023.
- Mais de 93% da área desmatada em 2023 tem pelo menos um indício de ilegalidade;
- Foram perdidos 96.761 hectares de vegetação nativa dentro de Unidades de conservação (UC’s) em 2023, o que representa uma redução de 53,5% em relação a 2022;
- Em UC’s de Proteção Integral, ocorreu uma redução no desmatamento de 72,3%;
- A maior perda de vegetação nativa em UC’s ocorreu em áreas de proteção ambiental Estaduais no bioma Cerrado, totalizando 41.934 ha desmatados.
- Em 2023, foram observados 20.822 ha de perda de vegetação nativa dentro de terras indígenas (TI’s), o que representa uma redução de 27% no desmatamento em TIs em relação a 2022.
- Nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu 1.215.096 ha de vegetação nativa dentro de reserva legal (RL). Isso corresponde a 14,2% de toda a área desmatada no país neste período.
A importância de diminuir o desmatamento para a Amazônia Legal
Reduzir o desmatamento na região é de extrema importância por várias razões, pois a floresta amazônica desempenha um papel crucial na regulação do clima global. Como ela libera vapor de água na atmosfera, influencia os padrões de chuva não apenas na região, mas também em outras partes do Brasil e até em outros continentes.
Além disso, a Amazônia Legal abriga uma das maiores diversidades biológicas do planeta. O desmatamento coloca em risco essas espécies, muitas das quais podem ser endêmicas, ou seja, encontradas apenas na Amazônia.
O local também é uma grande fonte de novas descobertas científicas. Muitas espécies vegetais e animais ainda são desconhecidas pela ciência, assim, a destruição da floresta implicaria na perda desses recursos e conhecimentos antes mesmo de serem descobertos.
Ações do governo para enfrentar o desmatamento
Ações do governo para enfrentar o desmatamento
Apesar dos desafios persistentes, 2023 trouxe uma série de iniciativas do governo brasileiro para combater o desmatamento em todos os biomas do país, como o lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCD).
O objetivo é eliminar completamente o desmatamento nos biomas brasileiros até 2030, consolidando o compromisso do país com a sustentabilidade e a proteção da biodiversidade.
As iniciativas para a Amazônia e o Cerrado estão em implementação desde junho e novembro de 2023, respectivamente. Seminários técnico-científicos para a Caatinga, Pantanal e Pampa foram realizados em abril de 2024. O plano para a Mata Atlântica também está em elaboração.
Infelizmente, em 2024, enfrentamos um cenário desolador com muitas queimadas no território nacional, e as estatísticas de 2025 ainda irão refletir isso.
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E a Mata Atlântica?
O desmatamento da Mata Atlântica avança cada vez mais. Hoje, restam apenas cerca de 12% da floresta original. Sendo que os principais responsáveis pela destruição do bioma são os seguintes estados: Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Bahia, São Paulo e Santa Catarina.
E a derrubada dessa floresta coloca muitas espécies em risco de extinção. Inclusive, a Mata Atlântica é o bioma brasileiro com o maior número de animais e plantas ameaçadas. Só para você ter uma ideia, a cada quatro espécies de plantas ou animais desse bioma, uma está sob ameaça.
Vale lembrar que cerca de 70% desse desmatamento acontece em terras privadas, o que significa que a mata tende a virar pastagens e terras agrícolas. Obviamente isso traz consequências ruins para o ambiente, como a erosão do solo e uma piora na qualidade e disponibilidade da água.
Além disso, outra causa da destruição da Mata Atlântica é a especulação imobiliária e a ocupação desordenada, principalmente próximo das grandes cidades e no litoral.
Nesse caso, conforme a floresta vai sendo retirada, aumentam as chances de ocorrerem desastres ambientais. Isso acontece porque, como não há vegetação cobrindo o solo, crescem os riscos de inundações e deslizamentos de terra.
Um exemplo desse fenômeno foram os desastres causados pelas chuvas no litoral paulista no início do ano. Outra preocupação é que o avanço do desmatamento aumenta o contato dos humanos com animais silvestres que podem carregar doenças ainda desconhecidas.