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Machado de Assis: vida, obra e características literárias

Vamos explorar a trajetória fascinante deste célebre autor, que deixou tantas contribuições para a literatura brasileira e mundial

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Machado de Assis é, sem dúvidas, um dos nomes mais proeminentes da literatura brasileira, e sua influência transcende as páginas dos livros.

Como um bom vestibulando, você já se deparou com esse nome diversas vezes e sabe que precisa conhecer a vida e obra do nosso bruxo do Cosme Velho para mandar bem nas provas, certo?

Montagem de foto do escritor Machado de Assis usando óculos
Reprodução

Neste artigo, então, vamos explorar a trajetória fascinante desse autor, revisar suas principais obras e desvendar as características literárias que o tornam uma figura tão importante no mundo da Literatura.

Quem foi Machado de Assis? Biografia do autor

Machado de Assis (Joaquim Maria Machado de Assis) nasceu em 1839, no Rio de Janeiro, e viveu até 1908. Ele é o fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras e velho amigo de José de Alencar, a quem escolheu para ser o seu patrono.

Desde a juventude, demonstrou inclinação para a Literatura, e atuou como jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo, deixando um legado vasto e diversificado. Sua carreira literária começou aos 15 anos com a publicação do soneto Ela.

Em 1856, Machado ingressou na Imprensa Nacional, onde conheceu Manuel Antônio de Almeida, que se tornou uma espécie de mentor. Depois, se destacou como crítico teatral e escritor de contos. No ano de 1869, casou-se com Carolina Augusta Xavier de Novais, que foi sua companheira por 35 anos. Mais tarde, publicou seu primeiro romance: Ressurreição (1872), e, ao longo da carreira, assinou outras obras notáveis, como Memórias póstumas de Brás Cubas (1881) e Papéis avulsos (1882). 

💡 Machado era chamado de bruxo do Cosme Velho em referência ao nome da rua onde morava.

Características das obras de Machado de Assis

Conhecemos Machado principalmente por suas obras realistas, entretanto, o autor também teve sua fase romântica. Desse maneira, dividimos trabalho em duas fases: romantismo e realismo.

Primeira fase: romantismo

Na primeira fase de suas obras, Machado explorou temas românticos, mas já revelava uma habilidade singular para analisar a complexidade humana. Obras como Ressurreição (1872) e Helena (1876) oferecem uma visão perspicaz das relações entre as pessoas e dos conflitos emocionais.

Entretanto, nesta fase, ainda não havia marcas de críticas sociais, sua narrativa girava em torno de personagens femininas que desejavam ascensão social acima da vida sentimental.

Segunda fase: realismo

Machado de Assis mergulhou no realismo, movimento literário que buscava retratar a realidade de forma crua e honesta. Inclusive, inaugurou a estética realista no Brasil, com o lançamento da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).

Ele habilmente explorou a mente humana, desafiando as percepções dos leitores sobre verdade, memória e subjetividade. Além disso, nesta fase, notamos uma mudança estrutural na sua escrita, pois o autor passa a adotar capítulos e frases mais curtas, além da famosa conversa com o leitor.

Machado de Assis e o realismo na literatura brasileira

O autor teve papel fundamental no movimento realista do Brasil. Sua capacidade de revelar as nuances da sociedade brasileira da época é notável. No realismo, ele encontrou a estética perfeita para questionar as normas sociais e explorar a natureza humana de maneira profunda e provocativa. Apesar de ter sua fase inicial no romantismo, é no realismo que Machado se consagra.

Lista das obras de Machado de Assis

A obra machadiana é composta por 10 romances, 10 peças teatrais, mais de 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas. O autor se destacou especialmente pelos romances e contos, que listamos a seguir:

Romances

Ressurreição1872
A mão e a luva1874
Helena1876
Iaiá Garcia1878
Memórias Póstumas de Brás Cubas1881
Casa velha1885
Quincas Borba1891
Dom Casmurro1899
Esaú e Jacó1904
Memorial de Aires1908

Contos

Contos fluminenses1870
Histórias da meia-noite1873
Papéis avulsos1882
Histórias sem data1884
Várias histórias1896
Páginas recolhidas1899
Relíquias de casa velha1906

Resumo das principais obras de Machado de Assis

Nem só de títulos vive um vestibulando! Confira um breve resumo dos principais romances do autor, que abrangem a tão aclamada tríade machadiana: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro.

Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)

Imagem reprodução - Memórias póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

Uma verdadeira obra-prima, o livro inaugura o realismo brasileiro. É narrado por Brás Cubas, um defunto autor que relata sua vida e experiências do além-túmulo.

A história é permeada por sátira e ironia, típica do estilo machadiano, além de explorar a vaidade e a hipocrisia da sociedade no século 19. Faz uma crítica perspicaz às convenções sociais e morais da época, revelando as falhas humanas com humor ácido.

Brás Cubas é um aristocrata ocioso e representante da elite.

Imagem: Reprodução

Ele relembra sua infância, adolescência e vida adulta, destacando a relação de superioridade com o Prudêncio (homem escravizado pela família), e seu envolvimento com Marcela, uma prostituta por quem se apaixona.

Brás estuda em Coimbra (Portugal), onde se forma em Direito e, de volta ao Brasil, se apaixona por Virgília. Ela, no entanto, se casa com um político influente para crescer socialmente. Apesar de seus desgostos amorosos, ele entra para a política e garante status nesse mundo que valoriza as aparências.

Quincas Borba (1891)

Nesta obra, o autor apresenta Rubião, ingênuo professor que herda uma grande fortuna e se torna o discípulo de um filósofo excêntrico que se chama Quincas Borba.

Rubião, porém, é enganado por herdeiros gananciosos, e aos poucos enlouquece, obcecado pela ideia de que é o último representante da filosofia humanitas, criada por Borba.

O livro explora a decadência moral e a obsessão pelo poder, sendo Rubião uma vítima das ambições alheias.

Imagem: Reprodução

O humanitismo acredita na sobrevivência dos mais aptos e defende que a guerra funciona como uma forma de seleção das espécies. Por isso, a célebre frase: “Ao vencedor, as batatas!”.

Dom Casmurro (1899)

O romance é narrado por Bento Santiago, conhecido como Dom Casmurro, que conta sua história de amor e ciúme com sua amiga de infância, Capitu.

A narrativa é permeada por dúvidas sobre a fidelidade de Capitu, levando à suspeita de que Ezequiel, não seja realmente filho do casal. O livro explora os temas de obsessão e distorção da realidade por meio da mente do protagonista.

Imagem: Reprodução

Esaú e Jacó (1904)

A trama se desenrola no Brasil, durante a transição entre monarquia e a república, e é representada pelos irmãos gêmeos Pedro e Paulo.

Pedro é monarquista, enquanto Paulo é republicano, refletindo as divisões políticas da época. A história segue as tensões entre os irmãos e outros personagens, incluindo Flora, uma mulher independente e decidida.

Na obra, temos contato com as mudanças políticas e sociais do Brasil no início do século 20, destacando os conflitos ideológicos e sociais que marcaram essa transição.

Imagem: Reprodução

Resumo dos principais contos de Machado de Assis

Além dos livros, Machado escreveu muitos contos ao longo da vida. Vamos conhece os que mais se destacam?

O enfermeiro (1896)

Neste conto, que é parte do livro Várias histórias, o autor explora a complexidade das relações humanas, ao retratar o egoísmo e oportunismo humano. O personagem principal, Procópio, é um enfermeiro de 42 anos contratado para cuidar de Felisberto, um coronel rabugento. Inicialmente, as coisas vão bem, mas, após alguns dias, o humor do homem muda, e Procópio decide pedir demissão.

O coronel até pede desculpas e eles fazem as pazes. Mas a reconciliação não dura muito, já que Felisberto volta a ser rude e, em um acesso de raiva, joga água em Procópio. Descontrolado, ele acaba estrangulando o coronel. Depois do crime, o enfermeiro se arrepende, mas logo se convence de que agiu da maneira correta, especialmente quando recebe toda a herança de Felisberto.

Anos depois, Procópio esquece sua culpa de vez e é aceito na sociedade como um homem bom, vivendo com a riqueza que adquiriu dessa herança.

A missa do Galo (1899)

Neste conto, Nogueira, um jovem hospedado na casa do escrivão Meneses, relembra uma noite de Natal no Rio de Janeiro. Meneses, que traía sua esposa Conceição, saiu para encontrar a amante, deixando Nogueira e Conceição a sós.

Enquanto espera para ir à Missa do Galo com seu vizinho, Nogueira e Conceição começam uma conversa íntima. A atração entre eles se intensifica, fazendo o rapaz esquecer completamente da missa. Então, o vizinho interrompe abruptamente o diálogo e lembra Nogueira de seu compromisso, o que encerra o conto.

Pai contra mãe (1906)

O conto de Machado de Assis apresenta a dura realidade dos escravizados no Brasil durante o Segundo Reinado. Ele narra a história de Cândido Neves, um caçador de escravos que, desesperado por dinheiro para sustentar seu filho recém-nascido, acaba negligenciando a vida da escrava Arminda, que estava grávida e cuja captura poderia garantir uma recompensa financeira.

Ignorando os apelos da mulher, Cândido a amarra, resultando em um trágico aborto. A crueldade da situação ressalta a falta de humanidade sob a qual viviam os escravizados, vistos meramente como propriedades.

O título do conto, Pai Contra Mãe, reflete a luta entre Cândido (o pai, que busca sustento para seu filho) e Arminda (a mãe, que perde o filho por causa da ganância do caçador). A narrativa ironiza também os nomes dos personagens, associados à cor branca, em um contexto de opressão racial.

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O espelho (1882)

Nesta história, Jacobina, um homem de meia-idade, relata uma experiência pessoal aos amigos. Quando jovem, ele conseguiu uma posição como alferes da Guarda Nacional, o que deixou a família orgulhosa. Em visita à casa de sua tia Marcolina, ela o trata com grande respeito e chega a colocar um espelho histórico e valioso em seu quarto.

No entanto, quando a tia sai de casa, Jacobina fica sozinho, seus escravos fogem, e ele se sente cada vez mais isolado e perdido. Ao se ver no espelho, não reconhece a imagem refletida e sente uma estranha sensação de desintegração. Somente ao vestir a farda de alferes, o homem sente que está completo novamente, atribuindo o sentimento à descoberta de sua "alma exterior".

Aqui, Machado faz uma clara reflexão sobre identidade e a dualidade entre o que somos e o que parecemos.

Importância de Machado de Assis para a Literatura Brasileira

As contribuições de Machado de Assis para a literatura brasileira são incalculáveis, entre elas:

  • a capacidade de explorar as complexidades da condição humana;
  • as críticas sociais afiadas e sua habilidade em desafiar as normas literárias estabelecidas moldaram o cenário literário não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, influenciado as gerações posteriores de escritores;
  • o autor fez um retrato fiel do país em um importante período de transição, já que vivenciou o período da Proclamação da República;
  • Machado trouxe à tona as mazelas da sociedade da época e o lado não romantizado do “eu” e das relações humanas.

Resumo da vida e obra de Machado de Assis

  • Nasceu em 1829 e foi fundador da cadeira nº. 23 da Academia Brasileira de Letras;
  • Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e teatrólogo (se destacou principalmente pelos romances e contos);
  • Sua obra se divide em duas fases: romantismo, com obras como Ressurreição e Helena; e realismo, com obras como Dom Casmurro e Quincas Borba;
  • Inaugurou a estética realista no Brasil com a publicação do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881.

Características das obras:

  • ironia e humor;
  • digressões;
  • diálogo com o leitor;
  • capítulos e frases curtas;
  • análise psicológica;
  • crítica social;
  • temática do adultérios (especialmente triângulos amorosos);
  • valorização da razão;
  • objetividade;
  • pessimismo e ceticismo.

Na fase romântica, a obra machadiana é marcada pela discussão sobre ascensão social e idealização da mulher.

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Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

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