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Interpretação de poemas: 5 dicas para melhorar suas análises

Quando o assunto é Enem e vestibulares em geral, precisamos tentar identificar as intenções do autor, o contexto do poema e, principalmente, ficar de olho no enunciado da questão

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Com certeza, você já se deparou com um poema e ficou sem saber o que ele queria dizer ou por onde começar a interpretá-lo, certo? Realmente, a interpretação de poemas é um desafio, mas, com alguns truques, conseguimos avançar nessa missão.

Assim, fica menos complicado mergulhar no mundo da poesia e extrair significados profundos dessas composições que, muitas vezes, parecem até estarem escritas em outra língua. 🤯

Neste post, vamos explorar 5 dicas essenciais para melhorar suas análises e desvendar os segredos dos poemas. Anote aí, vestibulander: seus dias de sufoco com a interpretação de poemas acabam aqui \o/

Anatomia do poema: conheça as principais estruturas

Não adianta começar a interpretação de poemas sem antes conhecer a anatomia básica desse tipo de texto. Portanto, saiba que um poema é composto por versos, estrofes, rimas e, em alguns casos, formas fixas.

Vamos dar uma olhada rápida em cada um deles?

Versos

O verso é uma linha do poema, geralmente curta e com métrica específica. Pode conter uma ou mais palavras e é a partir dele que a magia da poesia acontece.

Exemplo:

Vou-me embora pra Pasárgada (verso 1)
Lá sou amigo do rei (verso 2)
[...]

Vou-me embora pra Pasárgada. Manuel Bandeira, 1986.

Estrofes

As estrofes são um conjunto de versos agrupados. Elas não têm necessariamente os mesmos tamanhos e contribuem para a estrutura do poema. Além disso, podem representar pausas, mudanças de tema ou ideias. No exemplo a seguir, temos duas estrofes com quatro versos cada:

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
[...]

Retrato. Cecília Meireles, 1939.

Rimas

As rimas são uma parte importante dos poemas e, muitas vezes, as responsáveis por boa parte da musicalidade e do ritmo. Além disso, elas podem ocorrer no final dos versos (rimas finais) ou dentro dos versos (rimas internas).

Entretanto, elas não são uma regra. Muitos poemas não têm rimas, especialmente a partir do Modernismo, movimento que abandona as tradições clássicas do fazer poético.

Exemplo:

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.

Erro de português. Oswald de Andrade, 1925.

Formas fixas

Alguns poemas seguem formas fixas, como sonetos, haicais ou odes. Eles têm regras específicas quanto ao número de versos, rimas e métricas. Conhecer essas formas pode ajudar você a entender melhor o poema e a intenção do poeta. 

Exemplos:

Sonetos

Os sonetos talvez sejam a forma mais conhecida e clássica. Eles são compostos por duas estrofes de 4 versos cada (quartetos) e outras duas estrofes de 3 versos cada (tercetos).

Com certeza, você já leu o famosíssimo Soneto da fidelidade, de Vinicius de Moraes, de 1946:

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Haicai

Outra forma fixa comum são os haicais, poemas curtos, de origem japonesa, que seguem a estrutura de apenas 3 versos. Na sua origem, eles seguiam regras específicas de metrificação, sendo o primeiro e o terceiro versos com 5 sílabas poéticas (redondilhas menores) e o segundo, com sete (redondilha maior).

Além disso, as temáticas eram ligadas à natureza. Entretanto, com o passar do tempo, o haicai foi tomando novas formas, apesar de manter a lógica dos três versos curtos, como este escrito por Paulo Leminski:

Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.

Como fazer a interpretação de poemas?

Agora que já entendemos a anatomia básica de um poema, vamos às dicas para a interpretá-los.

Lembre-se de que não existe uma resposta certa ou errada quando se trata de poesia, pois a interpretação é subjetiva e pessoal. Mas, principalmente quando o assunto é Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares em geral, precisamos tentar identificar as intenções do autor.

5 dicas essenciais para interpretar poemas

  1. Leia com calma e várias vezes
    A primeira leitura de um poema pode não revelar todos os seus significados, principalmente quando a linguagem é mais refinada.

    Então, leia várias vezes, prestando atenção nas palavras, nas imagens que elas evocam e nas emoções que despertam. Imagine que você é o detetive e o poema é seu principal caso! 🕵️
  2. Analise a linguagem
    Poesias são ricas em figuras de linguagem, como metáforas, simbolismos, antíteses e ambiguidades. Por isso, preste atenção especial a esses elementos, já que eles podem trazer significados ocultos e ampliar as interpretações possíveis.
  3. Contextualize o poema
    Procure informações sobre o autor, o período da escrita, a estética literária a que pertence e os acontecimentos históricos da época. Isso contribui para a compreensão do contexto e das intenções.

    Por exemplo: os poemas do Simbolismo são conhecidos pelo tom onírico; já os da 3ª geração romântica se caracterizam pelo exagero sentimental, o pessimismo.
  4. Explore as emoções
    Os poemas são veículos poderosos para expressar os sentimentos. Então, explore as emoções que as palavras despertam em você! Identifique se há tristeza, alegria, melancolia, amor, raiva etc. Conecte-se com sensações e tente entender como elas se relacionam às palavras e imagens do poema.
  5. Faça conexões pessoais
    Relacione o poema com experiências, sentimentos e vivências. Questione-se de que forma ele pode ser interpretado à luz das suas próprias histórias, pois as conexões pessoais podem trazer significado ao que você está lendo.

Como os poemas caem no Enem e nos vestibulares

Nesse momento de preparação, é importante contar com algumas dicas extras e específicas para as questões, não é?

  • Leia atentamente as questões relacionadas ao poema para entender o que o enunciado está pedindo e quais elementos são relevantes para a resposta. Não adianta começar a interpretação dos poemas sem entender qual é o objetivo da pergunta.
  • Analise o contexto da questão, ou seja, atente-se a qual disciplina ela está inserida, para identificar possíveis abordagens e intenções da prova. Normalmente, os poemas aparecem na prova de Literatura, então, prepare-se para evocar seus conhecimentos da área, especialmente de estéticas literárias.
  • Lembre-se de praticar a interpretação de poemas regularmente, pois isso ajuda a aprimorar suas habilidades. Se os poemas são uma dificuldade para você, eles precisam se tornar parte da sua rotina. E o que isso quer dizer? Leia diferentes estilos de poesia e discuta as interpretações com os colegas, assim, vocês podem encontrar perspectivas diferentes.

Análise de questão

(Enem 2021) O pavão vermelho

Ora, a alegria, este pavão vermelho,

está morando em meu quintal agora,

Vem pousar como um sol em meu joelho

quando é estridente em meu quintal a aurora.

Clarim de lacre, este pavão vermelho

sobrepuja os pavões que estão lá fora.

É uma festa de púrpura. E o assemelho

a uma chama do lábaro da aurora.

É o próprio doge a se mirar no espelho.

E a cor vermelha chega a ser sonora

neste pavão pomposo e de chavelho.

Pavões lilases possui outrora.

Depois que amei este pavão vermelho,

os meus outros pavões foram-se embora.

COSTA, S. Poesia completa: Sosígenes Costa. Salvador: Conselho Estadual de Cultura, 2001.

Na construção do soneto, as cores representam um recurso poético que configura uma imagem com a qual o eu lírico

a) revela a intenção de isolar-se em seu espaço.

b) simboliza a beleza e o esplendor da natureza.

c) experimenta a fusão de percepções sensoriais.

d) metaforiza a conquista de sua plena realização.

e) expressa uma visão de mundo mística e espiritualizada.

Resolução

Resposta: [D]

Aqui, temos um poema em forma fixa. Como diz o enunciado, trata-se de um soneto. Este poema é a prova da importância do estudo das figuras de linguagem, já que a cor vermelha é utilizada como metáfora para representar uma alegria intensa.

O eu lírico descreve a alegria como um pavão vermelho, destacando sua presença no quintal e a associação com essa cor vibrante. Ao longo do poema, diversas metáforas são utilizadas para expressar o esplendor desse sentimento, ressaltando sua intensidade e força. 

Na última estrofe, o eu lírico menciona pavões lilases que representam outros sentimentos (possivelmente ruins), que desaparecem com a chegada do pavão vermelho, simbolizando a conquista da plena realização através da alegria. Assim, a cor vermelha funciona como uma metáfora representando essa conquista plena do eu lírico, um símbolo da alegria intensa que supera e substitui outros sentimentos.

Qual mensagem fica sobre a interpretação de poemas?

A interpretação de um poema pode parecer intimidante no início, mas, com as dicas que você viu aqui, estará bem encaminhado para explorar os mistérios e encantos da poesia. Lembre-se de ler com calma, analisar a linguagem, contextualizar o poema, explorar emoções e fazer conexões pessoais.

Faça da leitura de poemas um hábito. Mergulhe nos versos, desbrave as estrofes e deixe-se levar pelas diferentes mensagens que eles trazem.

A interpretação é um processo pessoal e subjetivo, então, aos poucos, e com persistência, o poema vai deixar de ser tão indecifrável, e até vai parecer que está escrito na sua língua! 🤭

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Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

Ver mais artigos de Kimberli Sabino Ariotti >

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

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