Literatura

Marília de Dirceu: confira uma análise completa da obra

Com seus sonetos repletos de emoção e lirismo, esta é uma das produções mais marcantes do Arcadismo no Brasil, e deve aparecer em dois grandes vestibulares

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E aí, pronto para mergulhar na poesia romântica do século 18? Quem vai prestar os vestibulares da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Paraná (UFPR) precisa conhecer a obra Marília de Dirceu, do escritor Tomás Antônio Gonzaga. Com seus sonetos repletos de emoção e lirismo, ela é uma das mais marcantes do Arcadismo no Brasil. Mas, calma lá! Antes de se aventurar pelos versos de Gonzaga, confira uma análise completa de Marília de Dirceu. Vamos nessa?

O que retrata a obra Marília de Dirceu?

Se você prestou atenção às aulas de Literatura e leu o texto com estratégias para estudar leituras obrigatórias dos vestibulares, sabe da importância do contexto histórico para garantir uma análise completa e precisa de qualquer obra literária, já que ele pode influenciar na mensagem que o autor quis passar.

Quanto à obra Marília de Dirceu, estamos falando de algo que começou a ser escrito em 1788 e foi publicado em 1792, durante o período colonial do Brasil, momento de profundas transformações políticas e sociais. Outro ponto relevante é que as produções literárias desse época eram influenciadas pelas ideias do Iluminismo, que pregava razão, liberdade e igualdade.

Neste mesmo período, acontecia a Inconfidência Mineira, revolta de caráter republicano e separatista, organizada pela elite socioeconômica de Minas Gerais, contra o domínio colonial português. E por que isso é importante? Gonzaga se envolveu com o movimento, o que levou à sua prisão e exílio, onde escreveu boa parte de Marília de Dirceu.

Resumo da história

Oficialmente dividida em duas partes (não há consenso entre os críticos sobre uma terceira parte), e de cunho autobiográfico, a obra é composta por uma série de sonetos que narram a história do amor de Dirceu, o personagem principal, por Marília.

Gonzaga aborda temas como amor, natureza, liberdade e saudade. Os poemas apresentam uma linguagem poética marcada pela musicalidade e elegância típicas do movimento literário conhecido como Arcadismo.

A natureza é utilizada pelo autor para retratar as emoções e os sentimentos dos personagens, representando a beleza e simplicidade da vida.

Análise de Marília de Dirceu

As liras, que são uma espécie de poema, se apresentam organizadas numa lógica diferente do que era comum no período anterior, o Barroco. Elas eliminam os excessos considerados pelos poetas deste movimento como algo “inútil” (inutilia truncat).

Primeira parte

Aqui, ao começar a análise de Marília de Dirceu, nos deparamos com um retrato do Brasil durante o século 18, período de intensa transformação na economia, na cultura e na sociedade. O autor descreve de forma detalhada a paisagem do país, incluindo as florestas que estavam sendo destruídas para dar lugar a plantações, devido ao crescimento da atividade agrícola (e bem sabemos o quanto os árcades eram apaixonados pela natureza).

Gonzaga também fala sobre a vida da burguesia, cada vez mais influente e rica, e a respeito da importância do saber intelectual, em uma época na qual a educação era valorizada como nunca antes.

Ele ainda tece elogios à sua amada Marília e declara o seu amor, falando sobre o quanto é bela e perfeita (o que evidencia a idealização da figura feminina).

Parte I, Lira I

“Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!”

Segunda parte

Esta parte da obra é mais pessimista, uma vez que corresponde ao período em que Gonzaga está preso. Nela, apesar da situação em que se encontra, o autor continua a falar de Marília, e descreve em detalhes o amor que sente por sua musa inspiradora, assim como a saudade.

Ele diz estar em uma “cruel masmorra tenebrosa”, convicto de que o que o levou àquela situação foi uma “vil calúnia”. Aqui, é evidente o sentimento de injustiça, tristeza e medo que afetam o equilíbrio emocional do poeta.

Assim, mesmo seguindo algumas regras clássicas de escrita, o poema traz um tom confessional e pessimista, que antecipa o estilo mais emotivo do período romântico.

Além disso, Gonzaga usa sua poesia para fazer uma crítica social, retratando a desigualdade entre as classes, as injustiças e os abusos cometidos por aqueles que detinham o poder. Esse aspecto é ainda mais evidente na segunda parte da obra, pois o poeta narra sua prisão e a perda de uma vida anteriormente equilibrada, levando o leitor a refletir.

Parte II, Lira I

“Nesta cruel masmorra tenebrosa
Ainda vendo estou teus olhos belos,
A testa formosa,
Os dentes nevados,
Os negros cabelos.

Vejo, Marília, sim, e vejo ainda
A chusma dos Cupidos, que pendentes
Dessa boca linda,
Nos ares espalham
Suspiros ardentes”

Quem foi Marília de Dirceu?

Acredita-se que Dirceu, o personagem principal do livro, represente o próprio Tomás Antônio Gonzaga, enquanto Marília, sua musa inspiradora, foi Maria Doroteia Joaquina de Seixas Brandão, noiva do poeta.

Ela teria 15 anos e ele 38 anos quando se conheceram; juntos, os dois se envolveram na luta pela emancipação do Brasil. A separação do casal aconteceu quando Gonzaga foi preso, delatado por Joaquim Silvério dos Reis, e eles só voltariam a se encontrar postumamente, quando os restos mortais de ambos foram levados ao Museu da Inconfidência, que fica em Outro Preto, Minas Gerais.

Marília de Dirceu representada em selo postal

Em 1967, o serviço postal brasileiro emitiu uma coleção de selos postais que homenageava mulheres brasileiras famosas. Marília, apesar de, supostamente, ser um personagem, estampou um deles.

Não há registros oficiais que confirmem 100% a identidade de Marília de Dirceu, mas, para os fãs de História do Brasil - e histórias de amor - serve de curiosidade e inspiração.

Imagem: Reprodução Wikimedia Commons

De olho no vestibular

Gostou da análise de Marília de Dirceu?

Esperamos ter ajudado você a entender melhor a obra, para, quando chegar a hora, resolver com mais facilidade as questões de Literatura no vestibular. Entretanto, fica aqui o lembrete: a leitura do livro na íntegra é importante para se aprofundar por completo na história e realizar suas próprias interpretações.

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Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

Ver mais artigos de Kimberli Sabino Ariotti >

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

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