Redação

Conheça a biografia e as principais obras do escritor James Baldwin

Considerado como uma das vozes mais importantes do século 20, Baldwin abordou temas atuais como racismo, discriminação e segregação. Saiba quais foram suas contribuições para a luta pelos direitos civis

Acessibilidade

James Baldwin foi um escritor norte-americano e uma importante figura na luta por direitos civis da população negra nos Estados Unidos.

Ele escreveu diversas obras que falam sobre racismo, homofobia e identidade. Por esses e outros motivos, é considerado um dos maiores autores da literatura estadunidense do século 20.

Como 2024 é o ano de seu centenário, apresentamos aqui detalhes sobre sua trajetória, refletindo de que forma seus romances, ensaios e peças influenciaram o mundo.

Quem foi James Baldwin?

James Arthur Baldwin nasceu no dia 2 de agosto de 1924, no bairro do Harlem, em Nova York, nos Estados Unidos.

O escritor era o mais velho de nove irmãos e, aos três anos, sua mãe, Emma Berdis Jones, casou-se com David Baldwin, um pastor conhecido por ser muito rígido. Inclusive, foi o padrasto que o fez atuar como pastor mirim em uma Igreja Pentecostal entre os 14 e 17 anos.

James começou a escrever algumas histórias e poemas ainda na adolescência, principalmente incentivado por seus professores. Aos 18 anos, decidiu sair da casa dos pais e começou a trabalhar de forma autônoma, escrevendo resenhas literárias.

Em 1948, mudou-se para Paris, na França, local onde produziu a maior parte de sua obra literária. Segundo informações do National Museum of African American History and Culture, o autor não suportava a discriminação racial que sofria em solo americano, um país marcado pela segregação.

No entanto, ele retornou aos Estados Unidos em 1957, para participar do movimento negro na luta por direitos civis, ao lado de figuras como Martin Luther King Jr e Malcolm X. Mas, por ser homossexual, costumava ser atacado por outros líderes do movimento.

James Baldwin faleceu em 1987, no sul da França, devido a um câncer no estômago.

👉 Leia também: Como estudar Literatura para o Enem? Veja dicas

banner

Quais foram as principais contribuições de James Baldwin?

James Baldwin é considerado um dos maiores escritores do século 20, especialmente por suas contribuições para a luta antirracista e por tratar de temas como sexualidade e identidade.

Ele escreveu obras que retrataram dilemas pessoais, como a rejeição da própria família e da sociedade, e questões importantíssimas em relação ao racismo, que acabaram influenciando movimentos ativistas atuais, como o Black Lives Matter.

Baldwin foi uma voz ativa no movimento pelos direitos civis. Ele participou de marchas, debates e conferências, e usou sua obra para se posicionar contra a segregação, a discriminação e a injustiça racial.

Em uma época na qual a homossexualidade ainda era vista como um tabu, escreveu abertamente sobre as complexidades da identidade sexual. Além disso, seu pioneirismo inspirou autores da comunidade LGBTQ+ anos depois.

🎥 O documentário I Am Not Your Negro é baseado na carta que James Baldwin escreveu ao seu agente sobre o livro Remember This House. Na obra, ele fala sobre amigos como Malcolm X e Martin Luther King Jr.

5 livros e peças para conhecer melhor o escritor

Por tratarem de questões complexas e ainda tão presentes na sociedade atualmente, as obras de James Baldwin podem ser utilizadas como repertórios em redações para o Enem e vestibulares.

Selecionamos alguns dos principais trabalhos elaborados pelo autor durante a sua vida; conheça-os a seguir.

1. Notas de um filho nativo (1955)

Esta é a primeira obra de não ficção de Baldwin e trata-se de uma coletânea de ensaios escritos nas décadas de 1940 e 1950.

A primeira parte do livro contém textos que criticam três obras:

  • A cabana do pai Tomás (1852), de Harriet Beecher Stowe: o romance é visto como estopim da Guerra Civil Americana por narrar a escravatura em solo estadunidense. No entanto, conta com vários estereótipos sobre os negros;
  • Filho Nativo (1940), de Richard Wright: ambientado na cidade de Chicago nos anos 30, conta a história do jovem negro Bigger Thomas, que sofre as consequências da pobreza, da injustiça e da escravidão;
  • Carmen Jones (1954), direção de Otto Preminger: o musical cinematográfico narra o romance de Carmen Jones e Joe, e é composto por um elenco de atores afro-americanos em um contexto de segregação racial nos Estados Unidos.

Na segunda parte do livro, Baldwin fala sobre sua infância e juventude, e sobre os impactos do racismo estrutural. Por fim, na última parte, narra suas experiências na Europa e trata sobre questões de identidade e sexualidade.

Em resumo, Notas de um filho nativo é uma reflexão sobre a desigualdade racial e suas consequências. Leia um trecho:

"É um curioso triunfo da sociedade — e também uma deficiência dela — sua capacidade de convencer as pessoas a quem ela atribui um status inferior de que essa inferioridade é real; ela tem a força e as armas que lhe permitem transformar suas afirmações em fatos, de modo que os supostos inferiores se tornam inferiores de fato, no que diz respeito às realidades sociais. O fenômeno hoje é mais disfarçado do que no tempo da escravidão, mas não é menos implacável. Agora, tal como antes, nos vemos acorrentados, fisicamente de início, e depois interiormente, pela natureza de nossa categorização".

2. O quarto de Giovanni (1956)

A obra de ficção acompanha a história David, um jovem americano em Paris à espera da noiva Hella. Mas, enquanto aguarda a chegada de sua amada, ele vive um romance com Giovanni, um garçom italiano.

O livro se tornou um clássico da literatura LGBTQIA+ e mostra todas as faces de uma relação, das alegrias às angústias. E, inclusive, retrata personagens que não são isentos de machismos e preconceitos.

Leia um trecho em que o protagonista narra sua relação:

"Disse a mim próprio que sempre soubéramos, Giovanni e eu, que nosso idílio não poderia durar sempre. E eu não deixaria de ser sincero com ele, pois Giovanni sabia tudo a respeito de Hella, e que um dia minha pequena regressaria a Paris. Pois ela o faria agora, dando fim a meu convívio com Giovanni. Era algo que me acontecera antes e seria coisa que acontece com muitos homens, pelo menos uma vez".

👉 Leia também: Por que comemoramos o mês do orgulho LGBTQIAPN+ em junho?

banner

3. Terra estranha (1962)

O romance se passa em Nova York, em um período marcado pela segregação racial nos Estados Unidos. Rufus, um baterista negro, inicia um romance com Leona, uma mulher branca, mas o relacionamento é desafiado pelas questões raciais e expectativas sociais da época.

Ao narrar a interação com vários personagens, esta obra aborda temas como identidade, amor, traição, sofrimento e a busca por compreensão.

Veja, a seguir, uma citação do livro que demonstra a questão da discriminação e do tratamento diferenciado entre negros e brancos:

"Os policiais andavam por ali; cuidadosamente, e na verdade de modo meio misterioso, mostravam que tinham consciência de que aquele grupo específico de negros, mesmo estando na rua a uma hora daquelas, na maior parte bêbados, não devia ser tratado da maneira de sempre; e o mesmo valia para os brancos que estivessem com eles. Mas Rufus de repente percebeu que Leona em breve seria a única pessoa branca ali. Isso o deixou inseguro e a insegurança o fez sentir raiva. Leona viu um táxi vazio e fez sinal. O motorista, que era branco, pareceu não hesitar em parar para eles nem se arrepender depois que parou".

4. Blues for Mister Charlie (1964)

Esta peça de teatro é centrada no assassinato de Richard Henry, um jovem negro que retorna a sua pequena cidade natal no sul dos Estados Unidos. Richard é morto por Lyle Britten, um homem branco, sob circunstâncias que deixam claro o racismo e a brutalidade inerentes à sociedade da época.

A história é contada por meio de flashbacks que exploram as vidas e motivações dos personagens. A peça culmina em um julgamento que revela a profunda divisão racial e a corrupção do sistema judicial, refletindo a impunidade de criminosos brancos em casos de violência racial.

Por isso, Blues for Mister Charlie é considerada uma acusação direta ao racismo estrutural nos Estados Unidos. Ao abordar questões raciais de maneira tão direta, contribuiu para o discurso público sobre os direitos civis na década de 1960.

5. Se a Rua Beale falasse (1974)

O romance se passa no Harlem na década de 1970 e aborda temas como injustiça racial, resiliência e a importância dos laços familiares. A história é narrada por Clementine Rivers - apelidada de Tish -, uma jovem negra de 19 anos que está esperando um filho de seu noivo, Alonzo "Fonny" Hunt.

Capa do filme Se a Rua Beale Falasse com Tish e Alonzo com testas encostadas

Acusado de estuprar uma porto-riquenha, Alonzo é preso injustamente e Tish e a família tentam provar sua inocência.

Assim como outras obras de Baldwin, Se a Rua Beale falasse destaca a realidade da discriminação racial do sistema judiciário norte-americano.

A obra se tornou filme em 2018, e o diretor Barry Jenkins garantiu a indicação ao Oscar por melhor roteiro adaptado.

(Imagem: Reprodução/Annapurna Pictures)

🥇 Quer se preparar para o Enem e vestibulares com os melhores professores e materiais? Inscreva-se hoje mesmo no Aprova Total!

banner

TEMAS:

avatar
Érica Travain

Jornalista e colaboradora do Aprova Total, com 10 anos de experiência na redação de textos para revistas, sites e blogs sobre educação, saúde, comportamento e tecnologia.

Ver mais artigos de Érica Travain >

Jornalista e colaboradora do Aprova Total, com 10 anos de experiência na redação de textos para revistas, sites e blogs sobre educação, saúde, comportamento e tecnologia.

Ver mais artigos de Érica Travain >

Compartilhe essa publicação:
Aumente sua nota TRI estudando com provas anteriores do Enem!
Baixe já o aplicativo do

Veja Também

Assine a newsletter do Aprova Total

Você receberá apenas nossos conteúdos. Não enviaremos spam nem comercializaremos os seus dados.