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Redação da Fuvest 2023 traz o tema “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”

Professora do Aprova Total analisa proposta e aponta semelhanças com o Enem e o que um bom texto deveria ter

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A prova de redação da Fuvest 2023, realizada no último domingo (8/1), trouxe a temática “Refugiados ambientais e vulnerabilidade social”. A proposta contou com textos de Graciliano Ramos e Ailton Krenak, foto do livro Êxodos, de Sebastião Salgado, e reportagens com dados e informações sobre o assunto. Prestou o vestibular e se interessa em ler uma análise da redação da Fuvest 2023? Então, vamos lá!

Segundo a própria fundação, a ideia era que os candidatos refletissem “a respeito dos deslocamentos forçados por desastres ambientais, como também por aqueles causados pelas mudanças climáticas, que afetam principalmente grupos sociais mais vulneráveis e causam crises humanitárias”.

Análise da redação da Fuvest 2023

Daniela Cristina da Silva Garcia, mestra e doutoranda em linguística aplicada e professora de redação do Aprova Total, explica que, para quem está acostumado com as reflexões subjetivas e filosóficas que a Fuvest propõe, a prova foi uma surpresa.

Inclusive, nessa análise da redação da Fuvest 2023, ela pontua algumas semelhanças com o Enem: "Tanto pelo tema, que lidava com questões e problemas sociais bem estabelecidos, quanto pela coletânea dos textos, que não são característicos das edições anteriores", descreve Daniela.

Segundo ela, as coletâneas da Fuvest costumam apresentar imagens e textos de caráter mais subjetivo. Isso apareceu, de fato, na foto do Sebastião Salgado e no trecho de Vidas Secas. Mas, desta vez, houve uma mescla com textos explicativos e informativos. "Tivemos também um infográfico, que remete mais à proposta do Enem. Ele fazia pensar, principalmente, sobre a desigualdade social, um dos elementos que precisava ser abordado".

Daniela também pontuou que a coletânea acabou ajudando muito o candidato que está acostumado a esse tipo de texto devido ao Enem. "Os textos explicaram muito bem o que são refugiados climáticos e a questão da desiguladade social e se complementaram - alguns mais subjetivos e outros mais objetivos e informativos."

Fotografia de Êxodos, de Sebastião Salgado
Êxodos, de Sebastião Salgado, compôs a coletânea de textos da redação da Fuvest 2023

Caminhos para a argumentação

A professora destacou ainda que a proposta de redação trouxe uma temática central composta por dois grandes núcleos e que o essencial era relacioná-los. "Abordar os refugiados climáticos, mas fazer uma relação com a desigualdade social. Os bons textos, certamente, criaram uma argumentação a partir disso."

Na correlação, os argumentos poderiam ora pesar mais para um núcleo, ora para outro. O estudante poderia transitar entre esses dois núcleos e falar em um parágrafo, por exemplo, sobre questões climáticas, trazendo conteúdo de biologia e geografia.

"A Fuvest gosta muito que o candidato crie relações de argumentação, mostrando as causas e as consequências dos problemas. Então, ele poderia apontar a questão climática como uma das causas dessas migrações. Como consequência, trazer os repertórios sobre desigualdade social – por exemplo, expondo como a desigualdade social faz com que diferentes regiões vivam de forma distinta a questão climática", ressaltou. "O infográfico da coletânea dava um pouco essa ideia. Pessoas menos favorecidas social e economicamente, por exemplo, vão sofrer mais os seus efeitos."

Infográfico que integrou a proposta de redação da Fuvest 2023
Infográfico da proposta de redação da Fuvest 2023 (Reprodução)

Tema supreendente e complexo, mas possível

Na avaliação da professora Daniela, o tema foi complexo (lembrando dos dois elementos que precisavam ser relacionados), mas possível e menos difícil do que normalmente é cobrado pela Fuvest. "Algo que um estudante de Ensino Médio que, minimamente se prepara para o Enem ou a Fuvest, tem acesso. Por exemplo, nas aulas de atualidades ou até mesmo de biologia. Em tese, é muito mais fácil lidar com isso do que com as "faces do riso" [tema da redação de 2022]. E foi mais palpável do que a "descatracalização da vida" [tema da redação proposto em 2005]".

De acordo com ela, a Fuvest não parece está disposta a criar tema de redação fácil. "Eu diria que ela afrouxou um pouco no ”grande assunto”, deixando-o mais objetivo, o que em tese seria mais fácil, mas apertou, por outro lado, ao trazer essa objetividade com um recorte mais específico e exigir correlações".

Aí, está outra importante diferença em relação ao Enem. "No Enem, o aluno se garante muito com a própria forma do texto. Na Fuvest, a forma é só um detalhe, pois existe uma preocupação com a argumentação em seu sentido maior. E como colocou dois núcleos para relacioná-los, ela está quase obrigando o candidato a fazer correlações", complementou.

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Análise da redação da Fuvest 2023: o que essa proposta nos ensina

E o que podemos tirar de lição a partir disso? Para Daniela, essa prova mostra que, mais do que nunca, o que se exige do vestibulando é que ele esteja preparado para tudo. "O grande tom da prova de redação da Fuvest sempre foi a subjetividade – ela sempre foi reconhecida por isso.  Quando ela quebra essa dinâmica, a mensagem é que o vestibulando tem que estar pronto para tudo, transitar da Filosofia à Biologia, das “faces do riso” à crise climática."

Assim, não é possível se preparar só de uma maneira, e isso está muito relacionado às estratégias de estudo. "Os alunos estão acostumados a estudar para um exame fazendo as provas anteriores. Isso é importante para conhecer o formato da prova mas, muitas vezes, a gente se restringe a isso. Aí chega a prova é dá um tapa na nossa cara", brinca Daniela.

"É preciso saber transitar entre as mais diversas áreas do conhecimento, das mais diversas formas e com as mais diversas apresentações", resume a professora. 

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Lisandra Matias

Jornalista pela PUC-SP e bacharel em Ciências Sociais pela USP, atua na área de educação há mais de 20 anos. Foi editora no Guia do Estudante, da Ed. Abril (2001-2018) e colaborou com Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo (Blue Studio), entre outros veículos.

Ver mais artigos de Lisandra Matias >

Jornalista pela PUC-SP e bacharel em Ciências Sociais pela USP, atua na área de educação há mais de 20 anos. Foi editora no Guia do Estudante, da Ed. Abril (2001-2018) e colaborou com Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo (Blue Studio), entre outros veículos.

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