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Um ano da Guerra da Ucrânia: como o tema pode ser cobrado?

Conflito teve início em 24 de fevereiro de 2022, com a invasão da Rússia ao país. Exames podem destacar os discursos e interesses da política externa de Putin em relação à Ucrânia e a questão da dependência europeia do gás natural russo antes da guerra

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A Guerra da Ucrânia teve início em 24 de fevereiro de 2022, quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no Leste Europeu. O conflito gerou um enorme deslocamento forçado de pessoas, com aproximadamente 7,4 milhões de refugiados e 6,5 milhões de deslocados internos, segundo o Acnur (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados). O número de mortos civis ucranianos é estimado em 40 mil.

Entre fevereiro e março de 2022, a Rússia tomou vastos territórios do sul, leste e norte da Ucrânia. Contudo, os ucranianos conseguiram repelir a invasão russa ao norte, salvando Kiev e Kharkhiv, as duas maiores cidades do país. A contraofensiva ucraniana libertou diversos centros, como Kherson, e revelou ao mundo as atrocidades cometidas pelas tropas invasoras. Em Butcha, subúrbio de Kiev, corpos de civis ucranianos estavam espalhados pelas ruas.

O líder russo Vladimir Putin é um saudoso da Rússia czarista, o antigo império que dominava vastas zonas da Ásia e da Europa, inclusive a atual Ucrânia. Para Putin, a Ucrânia, independente desde 1991, não deveria existir como nação. Além disso, o presidente russo classifica a sua invasão como uma “operação militar especial”, proibindo os cidadãos de seu país a se referirem ao conflito como uma “guerra”.

Neste post, vamos te dar o contexto da guerra e seus desdobramentos e explicar como o assunto pode aparecer nos vestibulares e no Enem. Confira!

Guerra da Ucrânia e vestibular: invasão da Crimeia

Em 2013, os ucranianos se revoltaram com a eleição nada transparente de um candidato pró-Rússia. Grandes manifestações tomaram a Praça (“Maidan”) da Independência, em Kiev, defendendo uma aproximação com a União Europeia, em um movimento que ficou conhecido como “Euromaidan”. A Rússia de Putin respondeu com violência: invadiu a Península da Crimeia, em 2014, e passou a armar uma rebelião separatista na região do Donbas, no leste da Ucrânia.

A invasão russa de 2022 criou uma “ponte terrestre” que liga a Crimeia ao Donbas, deixando um rastro de atrocidades aos civis. Em 9 de março, um hospital-maternidade foi bombardeado pelas forças russas em Mariupol. Em 16 de março, forças russas bombardearam e destruíram o teatro da cidade, onde pessoas se refugiavam e tinham escrito “Crianças” no pátio do edifício, para sinalizar sua presença.

A Rússia repetiu em Mariupol o tipo de bombardeio em massa antes realizado pelo país nas cidades de Grozny (Chechênia), entre 1999 e 2000, e em Aleppo (Síria), em 2015. Contudo, o ataque à infraestrutura civil ucraniana, como estações de trem, hospitais e escolas, é um expediente sinistro realizado pela Rússia em várias regiões desde o início da guerra. Em 8 de abril, enquanto milhares de pessoas aguardavam na
estação de Kramatorsk, um bombardeio deixou dezenas de mortos.

Guerra da Ucrânia e vestibular: Putin e seus aliados

Vladimir Putin subiu ao poder em 1999. Apoiou-se no ressentimento popular em relação ao Ocidente dada a profunda crise que a Rússia passou nos anos 1990, após o fim da União Soviética e a abertura econômica. Apostou no ultranacionalismo russo como ideologia e reordenou o sistema político com as ferramentas da corrupção e do autoritarismo. Parlamento, imprensa e judiciário, contrapesos importantes numa democracia, estão sob seu controle.

A Rússia atual conta com o apoio da vizinha Belarus, governada pelo ditador Alexander Lukachenko. Tropas russas partiram do território bielorrusso para atacar a Ucrânia no início da guerra. No restante da Europa, Putin encontra acolhida principalmente entre políticos da direita nacionalista, como Marine Le Pen, na França, e Matteo Salvini, na Itália. Na esfera internacional, busca apoio da China, que tem se mostrado pouco disposta a auxiliar o esforço de guerra russo.

A Ucrânia se vale dos princípios da Carta das Nações Unidas (1945) para receber auxílio de outros países e defender-se da agressão russa. Polônia, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos estão entre os países que mais tem contribuído com o seu esforço de defesa, mas não o suficiente para derrotar completamente a invasão. Mesmo com derrotas, a Rússia continua sob controle de vastas zonas do sul e leste ucranianos, controlando completamente as margens do Mar de Azov.

Guerra da Ucrânia e vestibular: como o tema pode aparecer nos exames?

Os vestibulares e o Enem podem destacar os discursos e interesses da Rússia de Putin em sua política externa em relação à Ucrânia. É comum o argumento de Putin de que a guerra foi motivada pela expansão da Otan, a aliança militar ocidental, mesmo que essa tenha se comprometido há anos em não incorporar a Ucrânia. A questão da dependência europeia em relação ao gás natural russo antes da uerra também é algo que pode ser abordado.

Veja, a seguir, dois exemplos de questões.

Enem 2022

Colegas, na mente e no coração do povo, a Crimeia sempre foi uma porção inseparável da Rússia. Essa firme convicção se baseia na verdade e na justiça e foi passada de geração em geração, ao longo do tempo, sob quaisquer circunstâncias, apesar de todas as drásticas mudanças que nosso país atravessou durante todo o século XX.

Disponível em: http://g1.globo.com. Acesso em: 28 jul. 2014.


Considerando a dinâmica geopolítica subjacente ao texto, a justificativa utilizada por Vladimir Putin, em 2014, para anexação dessa península apela para o argumento de que
a) as populações com idioma comum devem estar submetidas à mesma autoridade estatal.
b) o imperialismo soviético havia se acomodado às pretensões das potências vizinhas.
c) os organismos transnacionais são incapazes de solucionar disputas territoriais. d) a integração regional supõe a livre circulação de pessoas e mercadorias.
e) expulsão das forças navais ocidentais garantiria a soberania nacional.
Alternativa correta: [A]

Resolução

a) A alternativa está correta pois Putin argumenta que todos os falantes de russo, como uma parte da população da Crimeia deveriam estar no mesmo território, o que exprime uma retórica ultranacionalista baseada nos termos sangue-solo-língua.
b) Incorreta, pois Putin é o líder russo desde 1999, anos depois de a União Soviética ter desaparecido, em 1991.
c) Incorreta, pois o discurso de Putin não alude aos organismos transnacionais, que tem sim uma importância considerável na possibilidade de resolução de conflitos internacionais.
d) Incorreta, pois o discurso de Putin se refere à anexação territorial e política da Crimeia, que ocorreu ilegalmente do ponto de vista do direito internacional, e não a questões econômicas de integração.
e) Incorreta, dado que o ponto de vista de Putin se coloca de forma oposta à defesa da integridade territorial da Ucrânia do ponto de vista ocidental.

UFSC 2015

Sobre a recente crise no leste europeu, é CORRETO afirmar que:

01.parte da Europa ocidental está preocupada com a resolução do conflito entre a Ucrânia e a Rússia, pois é grande o volume de importação de gás russo que passa por território ucraniano.

02. após a "Guerra Fria", com a queda da URSS e a reunificação alemã, o mundo não tem mais uma nação hegemônica, mas blocos de poder multipolares.

04. a crise entre a Ucrânia e a Rússia abre novas possibilidades de exportação de gás natural pelo Brasil e pela Bolívia, grandes produtores desta matéria-prima.

08. a Rússia tenta manter sua hegemonia no leste europeu, mesmo com a forte presença dos Estados Unidos na Europa ocidental.

16. a dissolução do Tratado do Atlântico Norte trouxe tranquilidade aos países do leste europeu, pois não existia mais o perigo de uma guerra entre os Estados Unidos e a URSS, havendo apenas conflitos regionalizados.

Gabarito: [11]

Resolução

01. Alternativa correta, pois eram grandes as importações de gás natural russo para a Europa Ocidental, o que ficou comprometido com o início da Guerra da Ucrânia.

02. Correta, pois a bipolaridade da Guerra Fria deu lugar à multipolaridade nos anos posteriores.
04. Incorreta, pois o Brasil importa gás natural da Bolívia, e não o contrário. Além disso, segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, o Brasil está apenas na 30ª posição no que diz respeito à produção de gás natural no planeta.
08. Correta, pois a Rússia de Vladimir Putin tenta manter influência sobre a Europa Oriental dados os contornos nacionalistas de sua ideologia, um saudosismo da Rússia czarista.
16. Incorreta, pois a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não foi dissolvida após o fim da Guerra Fria.

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Víctor Daltoé dos Anjos

Professor de Atualidades do Aprova Total. Bacharel e licenciado em Geografia pela UFSC e mestre em Ciência Política pela mesma instituição.

Ver mais artigos de Víctor Daltoé dos Anjos >

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