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Conheça a filosofia existencialista e seus principais filósofos

Com origem no século 19, o existencialismo trata da existência do ser humano real, ou seja, ele por si só, a partir do princípio de que não existe uma natureza humana

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O existencialismo se refere a um pensamento filosófico que parte do princípio de que não existe uma natureza humana, pois a existência do ser humano é anterior à sua essência. Em sua abordagem, discute também sobre a liberdade e a responsabilidade da escolha. Profundo, né?

Se você precisa de mais explicações para entender o assunto, neste artigo, iremos avançar sobre o contexto de surgimento da filosofia existencialista e as diferentes contribuições dos principais filósofos desse campo.

O contexto e o surgimento do existencialismo

O existencialismo tem origem no século 19, a partir de uma crítica ao idealismo de Hegel e da busca pela razão e pela racionalidade da filosofia tradicional. Esse movimento compreende que o indivíduo concreto não cabe em nenhum sistema filosófico e que a preocupação da filosofia deve ser com o indivíduo e com a sua existência.

Porém, é somente no século 20 que o existencialismo se populariza, mais precisamente após a Segunda Guerra Mundial no contexto da destruição da Europa, por meio do pensamento de Jean-Paul Sartre.

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Características gerais da filosofia existencialista

Conhecido também como "Filosofia da Existência", o existencialismo estuda a existência do ser humano real, partindo do entendimento de que não existe uma natureza humana predeterminada, pois o ser humano existe e só então se define.

Trata-se de um contraponto à filosofia tradicional, já que não tenta descobrir uma verdade, um destino, uma origem ou a ética do ser humano. Tem como foco a vida do ser humano, isto é, a existência da vida individual.

Nesse sentido, as principais características do existencialismo são:

  • ênfase no indivíduo;
  • apreço pelas paixões e pelos sentimentos;
  • valorização da liberdade humana.

Entre elas, as paixões e a liberdade se destacam. Isso porque, para os filósofos existencialistas, cada indivíduo é responsável por sua própria vida e está livre para fazer suas escolhas. Essa liberdade, porém, traz responsabilidades e, junto com a própria vida e o mundo em que se vive, gera o sentimento de angústia.

Principais filósofos do existencialismo

A discussão geral do existencialismo se pauta na existência, na liberdade e na angústia da vida humana, ou seja, na ausência de um propósito racional para a vida humana.

Na filosofia existencialista, não há um sentido a ser encontrado no mundo, a não ser o próprio significado que damos para a nossa vida, já que somos livres para tomar decisões.

Porém, cada autor ou autora faz sua contribuição, que vamos conhecer a partir do pensamento dos principais filósofos existencialistas.

Søren Kierkegaard

Existencialismo - Søren Kierkegaard

Søren Kierkegaard foi um filósofo dinamarquês que viveu entre 1813 e 1855, e ficou conhecido como o “pai do existencialismo”. No entanto, ele nunca atribuiu a si mesmo essa alcunha, já que o o conceito de existencialismo só nasceu no século 20. Era um homem cristão, o que resultou em grande impacto na contribuição à filosofia, representando o existencialismo cristão.

Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons

Por meio de sua crítica ao idealismo de Hegel, defendia que o objeto de estudo da filosofia deveria partir do concreto e não do abstrato. Assim, compreendia que o próprio indivíduo dá sentido à sua vida, dividindo-a em três estágios:

  • estético
    Trata-se do viver pelo prazer momentâneo, com foco na satisfação própria e não alheia. É uma vida de aparência, não de essência, o que aumenta a angústia e o vazio da vida, sendo mais difícil preenchê-lo.
  • ético:
    É a consciência de que não estamos sozinhos no mundo, mas sim nos relacionando com os outros e absorvendo leis externas. Caracteriza-se pela fase do casamento, quando o indivíduo decide constituir família. Dessa maneira, o prazer é usufruído de forma limitada, levando o indivíduo a refletir sobre a sua existência, gerando o arrependimento.
  • religioso
    Trata-se da fé em Deus, sem a presença de leis morais ou instituições. Não pode ser alcançado pela ciência, apenas pelo indivíduo, em suas escolhas subjetivas e seus sentimentos, na tentativa de preencher os vazios da vida.

Martin Heidegger

Existencialismo - Martin Heidegger

Heidegger foi um filósofo alemão que viveu entre 1889 e 1976. Teve uma vida controversa, e se filiou ao Partido Nazista Alemão em 1933. Seu foco de estudo era o Ser (algo que não é definido), que se diferencia do Ente (algo que existe concretamente).

Para ele, somos seres no mundo com diversas possibilidades, e vivemos essas possibilidades até a nossa morte. Não se trata, porém, de possibilidades infinitas, pois não temos o poder de escolha sobre todas as coisas (como o tempo), mas sim de que só existimos no mundo e em relação a ele.

Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons

Define a existência autêntica como oposição a uma vida inautêntica, ou seja, um indivíduo que vive se deixando levar pela maioria, sem compreender sua própria capacidade de ser, pensar e viver.

Para Heidegger, a morte não é um acontecimento: o indivíduo com existência autêntica compreende a morte como condição para a humanidade. Assim, como a morte é uma condição, o Ser compreende suas possibilidades de forma limitada, gerando angústia e preocupação. É, portanto, a maneira como lidamos com essas possibilidades que define a nossa existência.

Jean Paul Sartre

Existencialismo - Jean Paul Sartre

Sartre foi um filósofo francês que viveu entre 1905 e 1980 e é um dos grandes expoentes da filosofia existencialista. Ele representa o existencialismo ateu. Na obra O existencialismo é um humanismo (1946), traz a célere frase que marca esse pensamento filosófico: “A existência precede a essência”.

Imagem: Reprodução Wikimedia Commons

Para o pensador, primeiro existimos e depois fazemos decisões a partir de nossa liberdade. Assim, é o próprio ser humano que define sua essência, a sua vida, não Deus ou nenhuma outra forma preconcebida. O ser humano é livre e existe singularmente. Essa liberdade, entretanto, é acompanhada por responsabilidades.

Nessa perspectiva, cada um responde por seus atos, é responsável por suas próprias escolhas (nesse caso, não escolher é também uma escolha). Mas as escolhas causam angústias e podem afetar o mundo de maneira irreversível, o que nos leva à compreensão de que estamos condenados a ser livres, uma vez que sempre escolhemos algo.

Karl Jaspers

Existencialismo - Karl Jaspers

Karl Jaspers foi um filósofo e psiquiatra alemão que viveu entre 1883 e 1969.

Contribuiu para o existencialismo ao enfatizar a importância da experiência humana concreta e o confronto com limites intransponíveis da existência. Ele argumentou que a filosofia deve começar com a experiência individual e destacou a importância da comunicação autêntica e da compreensão interpessoal.

Suas ideias influenciaram o desenvolvimento do existencialismo, especialmente em relação à busca pela autenticidade e à exploração da angústia existencial.

Imagem: Reprodução/ Wikimedia Commons/Universitätsbibliothek Heidelberg

Simone de Beauvoir

Existencialismo - Simone de Beauvoir

Simone de Beauvoir foi uma filósofa e feminista francesa que viveu entre 1908 e 1986. Sua obra mais famosa, O segundo sexo, destrincha a condição do “ser mulher” na sociedade.

Como filósofa existencialista, Beauvoir afirma que “não se nasce mulher, torna-se”. Essa ideia se apoia no entendimento de que a existência precede a essência, e se constrói a partir da compreensão de que a feminilidade imposta à mulher se trata de uma construção social.

Imagem: Reprodução Wikimedia Commons

A autora parte do princípio de que somos livres para fazer nossas escolhas, no entanto, desde a infância, os indivíduos recebem estímulos para adotar certos comportamentos, de acordo com o que a sociedade espera.

Albert Camus

Existencialismo - Albert Camus

Camus foi um filósofo franco-argelino que viveu no período entre 1913 e 1960. Em seus escritos, se concentra no Absurdo, ou seja, na busca pelo sentido de existir.  

Para ele, é um absurdo viver em meio às contradições da sociedade, a exemplo das mazelas sociais e da rotina imposta aos seres humanos.

Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

 Compreende, portanto, que a solução está na revolta. Essa revolta não se trata do entendimento revolucionário de “se revoltar contra o sistema”, mas de viver a vida sem temer o absurdo e a morte. Em outras palavras, viver com liberdade em cada momento da vida.

Resumo: filosofia existencialista

Confira os pontos mais importantes do que você leu até aqui:

  • A filosofia existencialista tem sua origem no século 19, mas sua popularidade se dá apenas no século 20, após a Segunda Guerra Mundial.
  • Trata-se do pensamento filosófico acerca da existência, da liberdade e da angústia da vida humana.
  • No existencialismo, não há uma natureza humana predefinida, pois a existência precede a essência.
  • A filosofia existencialista engloba o existencialismo cristão e o existencialismo ateu.
  • Seu precursor é o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, que aborda o existencialismo cristão.
  • A notoriedade, porém, veio com a publicação dos trabalhos de Jean-Paul Sartre, que propaga o existencialismo ateu.
  • Além deles, outros nomes famosos são: Martin Heidegger, Karl Jaspers, Simone de Beauvoir, Albert Camus e mais.

Como o existencialismo cai no Enem e nos vestibulares?

As questões costumam explorar as ideias de filósofos existencialistas, com destaque para Jean-Paul Sartre. Os exemplos a seguir mostram a importância de entender o existencialismo e seus principais conceitos (como a ideia de que o ser humano primeiro existe e depois se define; e que não há uma natureza humana predefinida).

Avalia-se ainda a capacidade dos candidatos em aplicar as ideias existencialistas a contextos específicos. No caso do Enem, a questão traz a filósofa Simone de Beauvoir, que contribuiu para reforçar os ideais do movimento social pela igualdade de gênero, mostrando como o existencialismo pode influenciar a compreensão da vida em sociedade e as políticas contemporâneas.

Exemplo 1

(Ufsj 2012) Sobre a interferência de Jean-Paul Sartre na filosofia do século 20, é CORRETO afirmar que ele

a) reconhece a importância de Diderot, Voltaire e Kant e repercute a interferência positiva destes na noção de que cada homem é um exemplo particular no universo.  

b) faz a inversão da noção essencialista ao apregoar que o Homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo e só após isso se define. Assim, não há natureza humana, pois não há Deus para concebê-la.  

c) inaugura uma nova ordem político-social, segundo a qual o Homem nada mais é do que um projeto que se lança numa natureza essencialmente humana.  

d) diz que ser ateu é mais coerente apesar de reconhecer no Homem uma virtu que o filia, definitivamente, a uma consciência a priori infinita.  

Resposta: [B]
No existencialismo de Jean-Paul Sartre, o homem primeiro existe e depois se define. Isso significa dizer que não há uma natureza humana que determina o que ele deve ou não deve ser. O próprio homem é responsável por si.

Exemplo 2

(Enem 2015) Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.

Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a)

a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual.  

b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho.  

c) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero.  

d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos.  

e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas.  

Resposta: [C]
Os movimentos sociais pela igualdade de gênero têm uma grande inspiração no pensamento de Simone de Beauvoir. Por refletir sobre o caráter biológico da divisão entre masculino e feminino, ao adicionar as componentes históricas e sociais na questão, a filósofa permite questionar a dominação masculina na sociedade.

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Gabrielle Meireles

Licenciada em Ciências Sociais pela UFSC e colaboradora no blog do Aprova Total.

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