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Entenda a diferença entre a filosofia de Sócrates e dos sofistas

Analisamos os principais conceitos de cada um, bem como a importância de suas contribuições para a filosofia ocidental

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Na história da Filosofia, figuras ou grupos influentes e controversos, como Sócrates e os sofistas, se destacaram. No caso destes, ambos tiveram papel fundamental no desenvolvimento do pensamento filosófico na Grécia Antiga, mas suas abordagens e visões de mundo eram distintas.

A seguir, vamos explorar a relação entre Sócrates e os sofistas, analisando suas diferenças e semelhanças, bem como a importância de suas contribuições para a filosofia ocidental. 

Sócrates x sofistas: contexto da Filosofia na Grécia Antiga 

Para entender a relevância de Sócrates e dos sofistas, é essencial conhecer o contexto no qual eles surgiram. Na época, a Filosofia era uma disciplina em constante evolução, e Sócrates e os sofistas representavam diferentes abordagens para os questionamentos filosóficos.

Enquanto Sócrates buscava a verdade absoluta e universal, os sofistas se dedicavam ao ensino da retórica e da persuasão, defendendo a relatividade do conhecimento.

Na Grécia Antiga, a Filosofia caracterizava-se pela busca por respostas às grandes questões da existência humana, pela ênfase na razão e na argumentação, bem como pela diversidade de abordagens filosóficas. Ela emergiu como uma disciplina única e distinta, separada da mitologia e da religião, por volta do século VI a.C, período conhecido como pré-socrático, marcado pelo desejo crescente de compreender o mundo e a realidade por meio da razão e da observação.

Sócrates viveu em Atenas durante o século V a.C e seu método de questionamento, chamado de elenchus ou maieutics, a Maiêutica, buscava revelar contradições e inconsistências nas crenças das pessoas, levando-as a um estado de reflexão e autodescoberta. Ele estava mais interessado em questões éticas e morais, procurando a verdade absoluta e a definição de conceitos como justiça, coragem e virtude.

Por outro lado, os sofistas representavam um grupo diversificado de pensadores e professores que percorriam várias cidades gregas oferecendo ensinamentos em retórica, argumentação e persuasão. Diferentemente de Sócrates, os sofistas eram relativistas, ou seja, acreditavam em um conhecimento subjetivo, com opiniões e crenças variando de pessoa para pessoa. Eles valorizavam a habilidade de convencer e persuadir, considerando-a essencial para o sucesso social e político.

Essas diferenças filosóficas entre Sócrates e os sofistas geravam debates acalorados e alimentavam a busca por conhecimento e compreensão.

O pensamento de Sócrates: principais aspectos 

Antes de mais nada, devemos ter em mente que Sócrates não deixou nenhum escrito. As informações respeito dele e das suas ideias foram compartilhadas por dois de seus discípulos, Platão e Xenofonte, e pelas peças teatrais de Aristófanes, contemporâneo do filósofo.

Estátua de Sócrates na Academia de Atenas; obra de Leonidas Drosis (Wikimedia Commons)

Sócrates nasceu nas imediações de Atenas em torno do ano 469 a.C. Seu pai era escultor e sua mãe, uma parteira, ofício responsável por despertar nele a vocação para a Filosofia. É que, após testemunhar a mãe realizar um parto, Sócrates teria entendido que sua missão era a de ajudar as pessoas a trazerem à luz ideias que já estavam dentro delas. 

Imagem: estátua de Sócrates na Academia de Atenas; obra de Leonidas Drosis (Wikimedia Commons)

5 pontos da teoria socrática

Confira cinco pontos da teoria socrática essenciais para gabaritar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares: 

  • Ironia
    Sócrates era conhecido por sua ironia, método em que ele fingia ignorância sobre um assunto para estimular o diálogo e incentivar as pessoas a questionarem suas próprias crenças. Ele acreditava que a verdadeira sabedoria viria do reconhecimento da própria ignorância.
  • Maiêutica
    A técnica da maiêutica significa "parto das ideias", em grego. Por meio dela, Sócrates ajudava as pessoas a darem à luz suas próprias ideias, fazendo perguntas diretas e provocativas, levando-as a refletir e chegar a conclusões por si mesmas. Esse método de questionamento crítico tinha como objetivo promover a autodescoberta e a busca pela verdade.
  • Conhecimento como virtude
    Sócrates acreditava que o conhecimento e a virtude eram inseparáveis. Ele argumentava que, se as pessoas conhecessem o bom e justo, inevitavelmente agiriam de acordo com esses princípios. Portanto, a busca pelo conhecimento era essencial para a prática da virtude.
  • Virtude como conhecimento
    Para Sócrates, porém, a virtude não poderia ser ensinada, ela seria adquirida por meio do conhecimento. No pensamento do filósofo, a virtude era o resultado da compreensão adequada dos conceitos éticos e morais. Ou seja, as pessoas faziam o mal apenas por falta de conhecimento sobre o que era realmente bom e justo.
  • Importância do autodomínio
    Sócrates enfatizava a necessidade de controlar desejos e impulsos. Ele argumentava que a verdadeira liberdade e a felicidade seriam alcançadas apenas com o domínio de si mesmo e da superação das paixões desenfreadas.

Os sofistas: surgimento e filosofia 

Os sofistas foram um grupo de pensadores e professores ativos na Grécia Antiga durante os séculos V e IV a.C. Eles surgiram em um período de mudanças sociais e políticas, no qual cidades-estados gregas, como Atenas, experimentavam um crescimento no comércio, na política e no sistema legal. Os sofistas viajavam por esses locais oferecendo ensinamentos pagos em várias disciplinas, incluindo retórica, argumentação, política e ética.

Diferentemente de filósofos como Sócrates, que buscavam a verdade absoluta e o conhecimento universal, os sofistas adotavam uma postura relativista em relação à verdade e ao conhecimento. Eles argumentavam que as crenças e opiniões sofriam influência dos contextos social, cultural e pessoal do indivíduo. Dessa forma, o conhecimento não era absoluto e imutável, mas subjetivo e variável.

A filosofia pragmática dos sofistas também foi objeto de críticas. Sócrates, por exemplo, argumentava que a preocupação com a persuasão e a retórica poderia levar à manipulação de palavras, afastando-se da busca pela verdade e da ética.

Podemos afirmar que os sofistas eram especializados na arte de fazer valer as suas ideias e opiniões construindo belos discursos. Por isso, o estudo da escola sofística é interessante principalmente para aqueles que se interessam por oratória e retórica. Essa característica sofística - de não se interessar por chegar à verdade universal - está exemplificada no célebre pensamento do sofista Protágoras:

"O homem é a medida de todas as coisas"

Principais filósofos sofistas

Entre os pensadores que se destacaram na Escola sofista estão:

  • Protágoras
    Defensor do relativismo, acreditava que o homem era o centro das suas explicações, dessa forma, não seria possível se basear na existência de deuses.
  • Górgias
    Entendia que a alma humana poderia ser moldada por bons argumentos e se apoiava no poder da persuasão.
  • Hípias
    Criou a Mnemotécnica, arte de exercitar a memória. É considerado o pensador sofista que mais enriqueceu transmitindo seus conhecimentos.

Quais as diferenças entre a filosofia de Sócrates e dos sofistas? 

A filosofia de Sócrates buscava a verdade absoluta por meio do questionamento e da reflexão, enfatizando a ética e a busca pela virtude. Ele acreditava no conhecimento objetivo e universal. Já os sofistas defendiam o relativismo, valorizando a retórica persuasiva e o sucesso social e político. Acreditavam que o conhecimento era subjetivo e variável, adaptando-se ao contexto e às crenças individuais.

Essas diferenças, portanto, se relacionam à busca pela verdade absoluta versus relativismo, método de questionamento, ênfase na ética e relação com a política.

Resumo: Sócrates x sofistas 

Sócrates e os sofistas representam abordagens filosóficas distintas na Grécia Antiga. Veja os principais pontos:

SócratesSofistas
Busca da verdade absoluta por meio do questionamento e da reflexãoNão se interessam por uma verdade universal e absoluta, apoiam-se no relativismo
Conhecimento como virtudeConhecimento subjetivo, variável e adaptável
Alma como consciência do homem, responsável por sua personalidade intelectual e moralAlma passiva, moldada por discursos convincentes e bem elaborados
Empenhava-se na compreensão adequada dos conceitos éticos e moraisEmpenhavam-se em discursar sobre questões da vida prática e útil
Defendia o diálogo e a argumentação para levar os homens ao conhecimentoEntendiam o diálogo e a refutação como forma de vencer interlocutores e desenvolver a política

Questões sobre Sócrates e sofistas no Enem e vestibulares

Sócrates e os sofistas frequentemente aparecem nas questões de Filosofia, que podem variar em formato e complexidade. Geralmente, porém, elas envolvem a compreensão das ideias e diferenças entre os dois, bem como o contexto histórico em que viveram.

Para não passar sufoco nas provas, recomendamos estudar, pelo menos, os principais conceitos, argumentos e ideias desses filósofos, bem como conhecer o momento histórico em que atuaram.

Exemplo 1

(Enem digital 2020)  Os sofistas inventam a educação em ambiente artificial, o que se tornará uma das características de nossa civilização. Eles são os profissionais do ensino, antes de tudo pedagogos, ainda que seja necessário reconhecer a notável originalidade de um Protágoras, de um Górgias ou de um Antifonte, por exemplo. Por um salário, eles ensinavam a seus alunos receitas que lhes permitiam persuadir os ouvintes, defender, com a mesma habilidade, o pró e o contra, conforme o entendimento de cada um.

HADOT, P. O que é a filosofia antiga? São Paulo: Loyola, 2010 (adaptado).

O texto apresenta uma característica dos sofistas, mestres da oratória que defendiam a(o)

a) ideia do bem, demonstrado na mente com base na teoria da reminiscência.   

b) relativismo, evidenciado na convencionalidade das instituições políticas.   

c) ética, aprimorada pela educação de cada indivíduo com base na virtude.   

d) ciência, comprovada empiricamente por meio de conceitos universais.  

e) religião, revelada pelos mandamentos das leis divinas.   

Resposta: [B]
O texto indica que os sofistas ensinavam aos seus alunos "receitas" que lhes permitiam persuadir os ouvintes e defender argumentos tanto a favor como contra determinada posição, de acordo com o entendimento de cada um. Isso reflete o relativismo dos sofistas, que acreditavam em opiniões e valores construídos de forma convencional, variando de acordo com a cultura e as instituições políticas de cada sociedade.

Exemplo 2

(Enem 2017)  Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. E sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação.

BRÉHIER, E. História da filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na

a) contemplação da tradição mítica.   

b) sustentação do método dialético.     

c) relativização do saber verdadeiro.   

d) valorização da argumentação retórica.   

e) investigação dos fundamentos da natureza.

Resposta: [B]
O texto menciona que o contato com Sócrates leva o ouvinte a refletir sobre si mesmo e imprimir à atenção uma direção incomum. Além disso, diz que ele influencia as pessoas a se censurarem. Essas características estão associadas ao método dialético do filósofo, que consistia em questionar e examinar crenças e opiniões por meio de diálogos e argumentações. Sócrates levava as pessoas a refletirem criticamente sobre suas próprias ideias e conhecimentos, na constante busca pela verdade.

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Giulia Silvestre Rocha

Graduanda em Ciências Sociais (licenciatura) pela UFSC e colaboradora do blog do Aprova Total.

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