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Estrutura fundiária: conheça as dinâmicas do cenário agrário brasileiro

Vamos explorar aspectos sobre movimentos sociais, distribuição de terras, impactos na economia, divisões de território, conflitos existentes no Brasil e muito mais

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A estrutura fundiária é a maneira como estão distribuídas as terras de uma região. Há quem ache difícil compreender o termo, mas entendê-lo é importante para se aprofundar nas dinâmicas do cenário agrário brasileiro, das relações de poder e das questões sociais que o permeiam.

No Brasil, essa realidade é marcada por diversas características que influenciam diretamente a vida no campo e, por consequência, nos centros urbanos.

Neste artigo, então, vamos desvendar o significado e a relevância da estrutura fundiária, explorando conceitos, divisões, conflitos existentes e exemplos.

O que é estrutura fundiária?

A estrutura fundiária refere-se à organização e distribuição da posse e do uso da terra em determinada região, país ou contexto agrário.

Ela engloba diversos aspectos relacionados à propriedade da terra, como:

  • Concentração ou dispersão de terras entre proprietários;
  • Tamanho dos estabelecimentos rurais;
  • Os tipos de cultivo ou atividades desenvolvidas;
  • As relações de poder e hierarquia existentes no meio rural.

Ou seja, a estrutura fundiária analisa como a terra se divide e quem são os proprietários, considerando grandes latifúndios ou pequenas propriedades, bem como a presença de terras públicas ou devolutas.

Essa estrutura influencia diretamente as dinâmicas agrárias, a distribuição de renda, o acesso a recursos naturais e a qualidade de vida das populações rurais.

🌱 Terras devolutas são áreas de propriedade pública sem registro de um proprietário privado. Essas terras geralmente são patrimônio do Estado e podem incluir áreas não utilizadas e não ocupadas.

Como estão divididas as terras no Brasil?

As terras no Brasil estão divididas de forma desigual, destacando a presença de latifúndios, minifúndios e propriedades de empresas rurais.

O último censo agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017, destacou que a estrutura fundiária brasileira possui um alto grau de concentração.

O gráfico abaixo mostra que os estabelecimentos com menos de 50 hectares, em 2017, representavam 81,4% da quantidade total de estabelecimento. No entanto, eles ocupavam apenas 12,8% da área (IBGE, 2017).

De 1985 a 2006, a concentração fundiária no Brasil se manteve sem grandes alterações, já em 2017, esse percentual aumentou. O Estado do Maranhão possui a maior taxa de desigualdade na distribuição de terras, seguido por Amapá, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.  

Essa diversidade cria uma dicotomia entre grandes e pequenos produtores, influenciando diretamente a economia e a produção agrícola no país.

Latifúndios

Os latifúndios são grandes extensões de terra concentradas nas mãos de poucos proprietários. No Brasil, a distribuição dessas propriedades se caracteriza pela concentração fundiária, com uma parcela significativa de terras nas mãos de uma minoria.

Esses latifúndios frequentemente são destinados à produção agrícola em larga escala, contribuindo para desigualdades sociais e econômicas. 

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Minifúndios

Os minifúndios são pequenas propriedades agrícolas, frequentemente cultivadas por agricultores familiares, caracterizando-se pela dimensão reduzida de suas áreas.

No Brasil, essas propriedades desempenham um papel fundamental na produção agrícola e são uma parcela significativa do setor agropecuário. 

A distribuição dos minifúndios é marcada pela maior dispersão geográfica, especialmente em regiões onde a agricultura familiar é prevalente.

Essas pequenas propriedades, muitas vezes dedicadas a cultivos diversificados, contribuem para a subsistência local e são fundamentais na promoção da segurança alimentar e no fortalecimento da economia rural.

Mulher no mercado escolhendo legumes
Os pequenos produtores rurais são os grandes responsáveis por abastecer o mercado interno do país e garantir o alimento de milhares de brasileiros (Imagem: Adobe Stock)

Segundo dados do censo agropecuário do IBGE, os estabelecimentos rurais de pequeno porte (com até 50 hectares) reúnem cerca de 70% da produção de alimentos consumidos Brasil, incluindo produtos como arroz, feijão, hortaliças, frutas e leite.

Empresas rurais

As empresas rurais são empreendimentos dedicados à exploração agropecuária em larga escala, caracterizados pela gestão profissional e pela utilização de tecnologias avançadas na produção agrícola e pecuária.

No Brasil, essas empresas estão distribuídas por diferentes regiões, contribuindo significativamente para a produção de commodities agrícolas destinadas ao mercado interno e externo. 

A presença de empresas rurais influencia a dinâmica da agricultura, trazendo eficiência à produção, mas levantando questões que envolvem a concentração de terras e os impactos socioambientais associados às práticas agrícolas intensivas.

Propriedades coletivas

As propriedades coletivas são formas de posse e uso da terra em que a propriedade não é atribuída a indivíduos específicos, mas sim a um grupo, comunidade ou coletividade.

Essa forma de propriedade se caracteriza pela administração e gestão compartilhada dos recursos naturais e territórios pelos membros do grupo, seguindo regras e acordos estabelecidos internamente.

Como exemplo, podemos citar:

  • Territórios ocupados por comunidades tradicionais, como quilombolas, povos indígenas, comunidades ribeirinhas e de fundo de pasto, que possuem uma relação histórica, cultural e territorial com o local;
  • Áreas destinadas à prática sustentável de atividades extrativistas, como a coleta de frutos, plantas medicinais, castanhas e outros recursos naturais;
  • Assentamentos rurais e cooperativas agrícolas que adotam formas de propriedade coletiva, onde os benefícios e responsabilidades são compartilhados entre os membros.

Estrutura fundiária do Brasil: origem e contextos

A estrutura fundiária do Brasil tem raízes que remontam ao período colonial. Durante a colonização, o sistema de capitanias hereditárias e sesmarias contribuiu significativamente para a concentração de terras.

A distribuição de vastas extensões entre poucos beneficiários, muitos deles ligados à nobreza, consolidou um modelo fundiário desigual.

🌱 O processo de doação de terras por meio das sesmarias favoreceu a formação de latifúndios e contribuiu para a exclusividade de acesso à propriedade rural. A criação das sesmarias visava estimular a produção agrícola, mas, na prática, resultou em concentração de poder e riqueza nas mãos de poucos.

A situação se agravou com a promulgação da Lei de Terras em 1850, durante o Segundo Reinado, que estabeleceu a compra como única forma de acesso à terra. Essa legislação privilegiou os grandes proprietários, consolidando a estrutura fundiária desigual.

Com o passar dos anos, a escassez de leis efetivas para reforma agrária permitiu a manutenção de um cenário que persiste até os dias atuais. Portanto, conhecer a origem histórica da estrutura fundiária no Brasil contribui para a compreensão dos desafios contemporâneos relacionados à distribuição de terras.

A questão fundiária no Brasil

A questão fundiária no Brasil envolve diversos desafios e problemáticas. A persistência de uma estrutura fundiária desigual, com a presença marcante de latifúndios e a concentração de terras, é uma fonte de tensão no país.

Dessa forma, a luta por uma efetiva reforma agrária permanece como demanda central dos movimentos sociais e organizações que buscam promover uma distribuição mais equitativa de terras.

Reforma agrária

A reforma agrária é um conjunto de medidas e políticas destinadas a promover uma redistribuição mais justa e equitativa da terra. Busca superar problemas relacionados à concentração fundiária e à falta de acesso à terra por parte de pequenos agricultores. 

No contexto brasileiro, a necessidade de uma reforma agrária envolve desafios e questões sociais, econômicas e ambientais, associando-se ,principalmente, aos direitos humanos e à justiça social.

A falta de efetividade na implementação de políticas de redistribuição e a ausência de uma legislação efetiva contribuem para a perpetuação das disparidades fundiárias e conflitos agrários.

Movimentos sociais

Os movimentos sociais rurais no Brasil têm como principal objetivo promover equidade na distribuição de terras e democratizar o acesso a elas.

Entre eles, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) destaca-se por suas ações diretas, como ocupações de terras improdutivas, a fim de chamar a atenção para a concentração fundiária no país. 

 Cerca de 18 mil militantes participam da marcha de encerramento do 5º Congresso do MST em 2007
 Cerca de 18 mil militantes participam da marcha de encerramento do 5º Congresso do MST em 2007 (Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil/Wikimedia Commons)

Esses movimentos rurais defendem a reforma agrária como meio de proporcionar acesso à terra para pequenos agricultores, e promover justiça social, erradicação da pobreza rural e desenvolvimento sustentável.

Suas atividades desempenham um papel fundamental na busca por transformações significativas na estrutura fundiária brasileira.

Concentração fundiária

A concentração fundiária no Brasil é um obstáculo significativo para o desenvolvimento social e econômico, já que contribui para a perpetuação de desigualdades.

Trata-se da distribuição desigual de terras, caracterizada pela posse majoritária de extensas propriedades por um pequeno grupo de proprietários. Essa disparidade resulta em latifúndios, enquanto a maioria dos agricultores ocupa pequenas áreas.

Em algumas situações, a concentração fundiária envolve ainda a exploração predatória dos recursos naturais, com desmatamento, monoculturas intensivas e degradação ambiental, o que afeta o meio ambiente de maneira negativa e prejudica a sustentabilidade dos sistemas agrícolas.

Êxodo rural

O êxodo rural é o movimento migratório de pessoas do campo para áreas urbanas, na busca por melhores condições de vida, acesso a serviços públicos e oportunidades econômicas nas cidades. 

Fatores como a falta de infraestrutura e de serviços básicos no meio rural, aliados à atração de empregos urbanos, contribuem para esse deslocamento populacional.

Há também impactos nas dinâmicas sociais e econômicas, como o inchaço das cidades, a demanda por moradia e a necessidade de políticas que promovam o equilíbrio entre áreas urbanas e rurais.

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Resumo: estrutura fundiária

Confira pontos importantes deste artigo, que vão ajudar a compreender melhor a complexidade e a importância do tema estrutura fundiária:

  • A estrutura fundiária refere-se à organização e distribuição da posse e do uso da terra em uma região ou país;
  • Inclui diferentes tipos de propriedade, como latifúndios e minifúndios (privados), terras devolutas (do Estado), empresas rurais (privadas) e comunidades tradicionais e áreas indígenas (coletivas);
  • A concentração de terras é a distribuição desigual da posse da terra, onde uma pequena parcela de proprietários detém a maior parte das terras disponíveis;
  • Essa concentração pode resultar em exclusão social, desigualdade de acesso à terra, conflitos agrários e marginalização de pequenos produtores rurais;
  • Entre os desafios relacionados à estrutura fundiária está a necessidade de implementar programas de reforma agrária, a fim de promover uma distribuição mais justa e equitativa da terra;
  • A estrutura fundiária também tem relação com o tema da sustentabilidade agrícola, ou seja, o uso racional dos recursos naturais e preservação ambiental;
  • Essa discussão ainda envolve debates sobre políticas públicas para regularização fundiária, gestão territorial, acesso à terra e desenvolvimento rural.
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Como a estrutura fundiária cai no Enem e nos vestibulares?

Para os estudantes que irão prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou vestibulares em geral, é importante compreender o que é a estrutura fundiária brasileira, pois questões relacionadas à distribuição de terras, reforma agrária, impactos sociais e a economia do campo são recorrentes.

Exemplo

(Fuvest 2020) 

Imagem mostra disparidades territoriais no Brasil, questão da Fuvest

Sobre a produção agrícola brasileira e os dados apresentados nos cartogramas, é correto afirmar:

a) A agricultura familiar, que utiliza a maior extensão de terras agricultáveis do país, foi responsável pela produção da maior parte do volume agrícola exportado.    
b) A agricultura familiar, que utiliza uma extensão de terras menor que a agricultura não familiar, tem destaque na produção de alimentos para o mercado interno.    
c) A agricultura não familiar, que detém a maior extensão de terras agricultáveis do país, consiste em uma barreira ao desenvolvimento das atividades ligadas ao agronegócio.    
d) A agricultura não familiar, que apresenta o maior número de estabelecimentos rurais no país, é responsável pela produção de parte das chamadas commodities brasileiras.   
e) A concentração fundiária foi superada no país em função de a agricultura familiar ocupar, com seus estabelecimentos, a maior parte das terras. 

Resposta: [B]
A agricultura familiar, praticada em propriedades pequenas e grandes, representa a maioria dos estabelecimentos em todo o país, como indicado no primeiro mapa. No entanto, ela geralmente ocupa áreas menores, conforme ilustrado no segundo mapa e, ainda assim, desempenha papel significativo na produção de alimentos essenciais para o mercado interno. 

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Luísa Ferreira Vieira

Licenciada em Geografia pela Udesc e colaboradora no blog do Aprova Total.

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