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Veja uma análise do tema de redação da Unesp 2024

A partir de três textos motivadores, a banca pediu que o candidato escrevesse no gênero dissertativo-argumentativo e respondesse à pergunta: "É possível um futuro off-line?"

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Nos dias 10 e 11 de dezembro aconteceu o vestibular da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", a Unesp. Na segunda-feira (11), foi o dia de os candidatos elaborarem a redação dissertativa, então, vamos saber, com detalhes, qual foi o tema cobrado no vestibular Unesp 2024?

Inicialmente, é importante destacar as características das propostas de redação da Unesp: a pergunta é um ponto recorrente. Além disso, elas costumam trazer discussões mais amplas e menos pontuais.

Tema de redação da Unesp 2024

Em 2024, como de costume, a banca propôs um tema em forma de pergunta a ser respondida pelo estudante, que foi:

"É possível um futuro off-line?"

A proposta de redação reuniu textos motivadores para auxiliar o candidato na escrita e interpretação do tema.

Texto motivador 1

De cara, temos duas tirinhas* do cartunista André Dahmer, publicadas no Instagram em 28.02.2023, 22.02.2023, 23.02.2023 e 13.05.2023.

Reprodução Caderno de Linguagens e Redação/Unesp 2024
Reprodução Caderno de Linguagens e Redação/Unesp 2024

* Vestido com uma roupa amarela e laranja de proteção contra incidentes nucleares, o personagem das tirinhas personifica as programações dos algoritmos.

Texto motivador 2

Tornou-se impossível pensar no dia a dia sem a internet. “O impacto das novas tecnologias digitais sobre a vida das pessoas, das economias e de todas as sociedades pelo mundo afora aumenta de forma muito rápida”, constata Glauco Arbix, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo. E essas transformações devem se aprofundar ainda mais em um curto prazo de tempo, uma vez que as pesquisas sobre a rede internacional de computadores preveem que, nos próximos quatro anos, o mundo vai saltar de 3,4 bilhões de usuários para 4,8 bilhões, o que representa 1,4 bilhão de pessoas a mais utilizando a internet, ou 60% da população global conectada à rede em 2022. Claro que em algumas regiões — sobretudo América do Norte e Europa — o percentual de usuários é bastante alto (cerca de 90% da população). No entanto, para que tudo funcione a contento, a tecnologia precisa ser melhorada. E isso já está acontecendo.

(“Não dá para pensar em um mundo sem internet”. https://jornal.usp.br, 10.12.2018. Adaptado.)

Texto motivador 3

Daria para erguer uma pequena montanha com todos os livros que, na última década, criticaram ou nos advertiram contra vários aspectos da internet e das mídias sociais. Um atributo comum compartilhado por todos esses livros, no entanto, é a suposição sem ressalvas da permanência e inevitabilidade da internet como elemento definidor da vida social, econômica e cultural. Em suma, o discurso público sobre as tecnologias de rede se restringe a propostas de aprimoramento e modificação de um sistema existente e que é aceito como uma realidade inescapável. Com Terra arrasada, eu estava determinado a não acrescentar mais um livro a essa pilha de textos inerentemente reformistas. Muito pelo contrário, busquei dar voz à necessidade de rejeição e à urgência na imaginação e no empenho rumo a formas de vida e de estar uns com os outros fora das rotinas desalentadoras que nos são impostas por corporações poderosas. Uma das metas era contestar a suposição generalizada de que as tecnologias de rede que dominam e deformam nossas vidas “vieram para ficar”. A onipresença da internet desfigura inexoravelmente nossa percepção e as capacidades sensoriais necessárias para que conheçamos e nos liguemos afetivamente a outras pessoas. Se for possível um futuro habitável e partilhado em nosso planeta, será um futuro off-line, desvinculado dos sistemas destruidores de mundo e das operações do capitalismo 24/71. Há, hoje, em meio à intensificação dos processos de derrocada social e ambiental, uma conscientização cada vez maior de que uma vida diária obscurecida em todos os aspectos pelo complexo internético cruzou um limiar de irremediabilidade e toxicidade. Para a maioria da população da Terra à qual foi imposto, o complexo internético é o motor implacável do vício, da solidão, das falsas esperanças, da crueldade, da psicose, do endividamento, da vida desperdiçada, da corrosão da memória e da desintegração social. Todos os seus alardeados benefícios tornam-se irrelevantes ou secundários diante desses impactos nocivos e sociocidas2.

(Jonathan Crary. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista, 2023. Adaptado.)

1 24/7: abreviação para “24 horas por dia, 7 dias por semana”.
2 sociocida: que dissolve a sociedade, que é contrário à sociedade.

Análise do tema de redação da Unesp 2024

Ao apresentar a proposta em formato de questionamento, a banca espera que o candidato se posicione de maneira crítica perante o tema e que defenda seu ponto de vista de forma clara. Não há uma resposta correta, ou seja, é possível defender que haverá ou que não haverá um futuro longe da internet. Porém, para aprofundar o ponto de vista, é necessário demonstrar capacidade de interpretação crítica.

O tema é extremamente relevante e atual, pois vimos, nos últimos meses, as profundas modificações causadas pela IA tanto no mercado de trabalho quanto no cotidiano das pessoas. Além disso, passamos por um período de pandemia, no qual a nossa conexão com o mundo deu-se majoritariamente por meio da internet, o que provocou profundas mudanças sociais. 

Outro ponto a ser destacado em relação ao tema é a abordagem ampla, que não olha apenas da realidade brasileira em si, mas de toda a humanidade. Então, era necessário que o candidato escolhesse bem o recorte a ser feito, de modo a englobar implicações mundiais

É importante destacar ainda que a banca da Vunesp leva em consideração, na avaliação do critério “Gênero / Tipo de texto e coerência” , o conhecimento de mundo dos candidatos.

Por isso, é essencial que o repertório utilizado no texto estabeleça uma relação consistente com o tema da proposta e contribua, efetivamente, para a defesa da tese que o vestibulando adotar. Destacamos também que, para a Unesp, não é necessário elaborar uma conclusão com proposta de intervenção. 

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Misraely Wolfart

Coordenadora Pedagógica no Aprova Total. Licenciada em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas pela UFSC. Especialista em Educação de Jovens e Adultos e em Gestão Educacional.

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Coordenadora Pedagógica no Aprova Total. Licenciada em Letras - Língua Portuguesa e Literaturas pela UFSC. Especialista em Educação de Jovens e Adultos e em Gestão Educacional.

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