"Tudo em todo lugar": como citar um filme na redação?

Desde seu lançamento, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo vem ganhando a atenção do público, o que se intensificou após a 95ª edição do Academy Awards, realizada no último domingo (12/3). Indicado a 11 prêmios, o filme conquistou 7, incluindo melhor filme. Mas o que citar um filme na redação tem a ver com isso?

À primeira vista, o longa parece ser apenas uma mistura caótica de elementos absurdos. No entanto, ele levanta uma série de questões que podem ser uma fonte rica de repertório cultural para usar nas redações!

Sobre o que o filme fala?

Evelyn Wang é uma mulher chinesa vivendo nos Estados Unidos, onde administra uma lavanderia com sua família. Um dia, ela é contatada por uma versão de Waymond, seu marido, de outra realidade. Ele afirma a existência de um multiverso, cuja integridade está sendo ameaçada, e que apenas a Evelyn daquela realidade é capaz de impedir. 

Aprendendo a acessar suas mais diversas (e excêntricas) versões, Evelyn passa a adquirir as habilidades de outros universos, em que é cantora, artista marcial etc, enquanto reflete sobre sua vida, angústias e relações.

Como citar o filme na redação

O filme usa as extravagâncias do multiverso para inserir os personagens em uma jornada de autoconhecimento e de desenvolvimento pessoal ao longo de diferentes realidades.

A utilização do surreal serve para discutir assuntos mundanos, com os quais podemos nos identificar, ou seja, isso é um prato cheio para citar um filme na redação! Vamos conferir, então, alguns dos temas.

A vida de imigrantes em outro país

O filme aborda a situação dos imigrantes fora do país de origem: a família de Evelyn enfrenta dificuldades financeiras e sua propriedade pode ser tomada se não conseguirem quitar as dívidas.

Aliado a isso, as dificuldades de se adaptar a um idioma e a toda uma cultura diferentes fazem da realidade da família Wang um exemplo para falar sobre imigrantes na redação.

Essa situação tem impacto na vida da família, que passa a maior parte do tempo em função do trabalho e não consegue conciliar com o lazer, o descanso e até mesmo seus relacionamentos. Dessa forma, podemos também citar questões trabalhistas em nossos argumentos.

Diferenças geracionais, busca de aprovação e parentes LGBTQIA+

O filme mostra também um conflito entre três gerações, que é representado por Evelyn, Joy (sua filha) e Gong Gong (seu pai).

Evelyn busca agradar o pai a todo o custo e receber sua aprovação, levando-a a fazer as coisas do jeito dele, omitir problemas financeiros e ficar apreensiva em lhe apresentar Becky, a namorada de Joy.

A relação de Evelyn e Joy também é conturbada: apesar de aceitar a orientação sexual da filha, ela tem dificuldade em lidar com isso, sobretudo devido a Gong Gong.

Além disso, esse conflito é acentuado pela rigidez de Evelyn, que implica com a filha frequentemente, criticando seu corpo e suas tatuagens e atitudes.

A natureza da humanidade e o poder da empatia

No decorrer do filme, as múltiplas realidades fazem Evelyn refletir sobre seus sonhos não realizados, autoaceitação, relacionamentos e até mesmo o papel da humanidade no universo. Isso ocorre em uma belíssima cena em que sua versão é, literalmente, uma pedra.

Ademais, o longa fala sobre a importância da empatia, cuja discussão é centrada na figura carinhosa de Waymond. Ele ressalta que compaixão e gentileza podem ser mais eficazes do que um combate físico.

Subversão do arquétipo do protagonista

Evelyn destoa da representação tradicional de protagonismo em filmes do gênero: ela é uma mulher asiática, na faixa dos 60 anos, que leva uma vida humilde. No enredo, é justamente a simplicidade da personagem que a torna essencial na busca por salvar o multiverso.

Em uma redação, portanto, seria um exemplo de como subverter protagonistas em filmes de ação e da forma com que mulheres são tipicamente representadas nesse contexto.

Como citar o Oscar na redação

O próprio contexto da cerimônia do Oscar traz problemáticas cujo debate se encaixa em muitas possibilidades de temas de redação.

Nos últimos anos, a premiação foi muitas vezes criticada pela falta de diversidade étnica, racial, de orientação sexual e de gênero entre seus laureados.

Nesta última edição, bem como em anos anteriores, pudemos perceber alguns avanços na representatividade dos premiados.

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Gênero, etnia e etarismo

“Para todos os pequenos garotos e garotas que se parecem comigo assistindo esta noite, esse é o farol de esperança e possibilidades. Essa é a prova de que sonhos sonham alto e sonhos se realizam. E, senhoras, não deixem que ninguém diga que você já passou do seu auge”

Com essa frase, a atriz malaia-chinesa Michelle Yeoh encerrou seu discurso ao receber a estatueta de melhor atriz, sendo a primeira mulher asiática premiada nessa categoria. Ela citou a forma como a própria indústria cinematográfica desvaloriza mulheres conforme elas envelhecem, sobretudo no protagonismo de filmes de ação.

Refugiados, imigrantes e novas oportunidades

“Minha jornada começou em um barco. Eu passei um ano em um campo de refugiados e, de alguma forma, acabei aqui, no maior palco de Hollywood.”

O ator vietnamita-americano Ke Huy Quan se emocionou enquanto segurava sua estatueta de melhor ator coadjuvante. Ele mencionou seu passado como refugiado da Guerra do Vietnã, sua imigração e os preconceitos enfrentados.

Quan também destaca a importância de acreditar em seus sonhos: depois que atuou em papéis de destaque na infância, ele teve dificuldades na carreira ao longo das décadas, até que essa nova oportunidade possibilitou uma guinada. 

Enfim, não é à toa que Tudo em todo lugar ao mesmo tempo levou sete estatuetas! Além de conferir um ótimo filme, você ainda pode aproveitar esses argumentos na sua redação!

Veja um exemplo de como citar o filme na redação do Enem:

O filme “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo” foi destaque no Oscar 2023, entre outros fatores, pela premiação da primeira mulher asiática na categoria de melhor atriz. Todavia, o cenário mostra um caso isolado, já que é incomum que haja pessoas não brancas nesse tipo de premiação. Assim, esse acontecimento, ainda que significativo, esbarra em um cenário de xenofobia — aversão ao estrangeiro — que permeia o mundo ocidental, inclusive o Brasil, trazendo uma reflexão sobre o orientalismo e a pouca educação crítica a respeito desse assunto no país.