Trabalho: como o tema é cobrado em Sociologia
As teorias de Durkheim, Marx e Weber ajudam a compreender as diferentes formas de organização do trabalho e suas implicações na sociedade. A atividade passou por diversas transformações ao longo da história e ainda enfrenta desafios contemporâneos

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Um dos assuntos mais cobrados em Sociologia no Enem -- e que também dialoga com História e Geografia --, a sociologia do Trabalho consiste em um conjunto de discussões de ordem sociológica que se focam sobre a questão do trabalho.
E como podemos definir trabalho? O trabalho é uma atividade fundamental na vida de qualquer indivíduo, e é por meio dele que as pessoas obtêm recursos para suas necessidades básicas. Contudo, o trabalho e suas formas de organização passaram por diversas mudanças ao longo dos séculos, desde a pré-história até os dias atuais.
Na pré-história, a atividade laboral era voltada principalmente para a sobrevivência do indivíduo e da comunidade, como a caça, a pesca e a coleta de alimentos. Com o passar do tempo, surgiram atividades mais complexas, como a agricultura e a metalurgia. Com a chegada da Idade Média, a organização do trabalho tornou-se a base do sistema feudal. O senhor feudal controlava as terras e os camponeses trabalhavam em troca de proteção.
No século 18, com o início da Revolução Industrial, o trabalho passou por uma grande transformação. As máquinas e a produção em massa impuseram uma nova forma de organização, com a divisão de tarefas e a especialização dos trabalhadores. No entanto, essa transformação também trouxe problemas sociais, como a exploração da mão de obra e as más condições de trabalho nas fábricas.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
Sociologia do trabalho na visão dos clássicos
Foi nesse contexto que surgiram as teorias de Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Durkheim, em sua obra Da Divisão do Trabalho Social, argumentava que a divisão do trabalho era essencial para a coesão social e a solidariedade entre os indivíduos. Mas, o excesso de especialização poderia levar à anomia e à falta de coesão social.
Por sua vez, Karl Marx em O Capital criticava a exploração da mão de obra na sociedade capitalista, em que os trabalhadores eram vistos como uma mercadoria e não tinham controle sobre o processo produtivo. Ele defendia a luta de classes e a necessidade de uma revolução dos trabalhadores para superar as desigualdades sociais.
Já Max Weber, em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, relacionava o trabalho com a ética e a religião. Ele argumentava que a ética protestante valorizava a disciplina e o trabalho árduo como formas de alcançar a salvação, o que teria contribuído para o desenvolvimento do capitalismo.
Taylorismo, fordismo e toyotismo
Entre o fim do século 19 e o início do século 20, surgiram novas formas de organização do trabalho, como o taylorismo, o fordismo e o toyotismo.
Desenvolvido por Frederick Taylor (1856-1915), o taylorismo tem como base a divisão de tarefas e a busca pela eficiência máxima, através do estudo científico do trabalho. Já o fordismo, modelo criado por Henry Ford (1863-1947), se caracterizava pela sistematização da produção em massa nas linha de montagem.
Enquanto o toyotismo, desenvolvido pela empresa japonesa Toyota, nos anos 1960, enfatizava a flexibilidade e a participação dos trabalhadores no processo produtivo.

Trabalho na contemporaneidade
Na contemporaneidade, o mercado de trabalho passou por diversas mudanças, com a emergência de novas profissões e a crescente automação e digitalização dos processos produtivos. Além disso, a inclusão de grupos historicamente marginalizados, como mulheres, negros e pessoas com deficiência, tem sido cada vez mais discutida e incentivada.
No entanto, ainda existem desafios a serem enfrentados, como a precarização do trabalho, a informalidade e falta de políticas públicas para avançar na garantia de igualdade de oportunidades. O trabalho intermitente, em que o trabalhador é contratado apenas quando há demanda, tem se tornado cada vez mais comum, assim como o trabalho por aplicativos.
Essas formas de trabalho podem trazer benefícios para algumas pessoas, como flexibilidade e autonomia, mas também podem precarizar a situação do trabalhador, com baixos salários e falta de proteção social.
Sindicalização e inclusão: aspectos da sociologia do trabalho
Diante desse cenário, a sindicalização do trabalho tem se mostrado fundamental para a garantia dos direitos trabalhistas. Os sindicatos são organizações que representam os trabalhadores em negociações com os empregadores e têm como objetivo defender os interesses da classe trabalhadora. Por meio da sindicalização, os trabalhadores podem se unir em torno de suas demandas e lutar por melhores condições de trabalho e remuneração.
A inclusão no mercado de trabalho também é um tema importante da sociologia do trabalho. Apesar dos avanços nas políticas de inclusão, ainda existem barreiras para a entrada de grupos marginalizados no mercado de trabalho.
Mulheres, negros e pessoas com deficiência, por exemplo, ainda enfrentam preconceitos e discriminação na hora de buscar emprego. Além disso, muitas vezes faltam políticas públicas que garantam a igualdade de oportunidades e a acessibilidade necessária para esses grupos.
Como a sociologia do trabalho é cobrada no Enem?
O tema do trabalho é bastante recorrente nas provas do Enem. Geralmente, a abordagem do assunto acontece de forma crítica, buscando incentivar a reflexão sobre as desigualdades sociais e econômicas que permeiam as relações de trabalho.
A partir da leitura de textos e análise de dados, muitas vezes pede-se a identificação de problemas relacionados à precarização do trabalho, às formas de exclusão e à falta de proteção social. Além disso, o Enem também costuma abordar a importância da sociologia do trabalho e organização dos trabalhadores pela sociedade, seja por meio de sindicatos ou de outras formas de mobilização social.
Olha só esses exemplos:
Enem 2021
O uso de novas tecnologias envolve a assimilação de uma cultura empresarial na qual haja a integração entre as propostas de modernização tecnológica e a racionalização. Nem sempre o uso de novas tecnologias é apenas um processo técnico na medida em que pressupõe uma nova orientação no controle do capital, no processo produtivo e na qualificação da mão de obra. Dos diversos efeitos que derivaram dessa orientação, a terceirização, a precarização e a flexibilização aparecem com constância como características do paradigma flexível, em substituição ao modelo taylorista-fordista.
HERÉDIA, V. Novas tecnologias nos processos da trabalho: efeito, da reestruturação produtiva. Scripta Nova, n. 170, ago. 2004 (adaptado).
O uso de novas tecnologias relacionado ao controle empresarial é criticado no texto em razão da
a) operacionalização da tarefa laboral.
b) capacitação de profissionais liberais.
c) fragilização das relações de trabalho.
d) hierarquização dos cargos executivos.
e) aplicação dos conhecimentos da ciência.
Resposta: [C]
O texto aponta que a orientação no controle empresarial para a utilização de novas tecnologias pode resultar em terceirização, precarização e flexibilização das relações de trabalho, o que enfraquece os direitos e as condições de trabalho dos profissionais envolvidos.
Enem 2020
Nas últimas décadas, uma acentuada feminização no mundo do trabalho vem ocorrendo. Se a participação masculina pouco cresceu no período pós-1970, a intensificação da inserção das mulheres foi o traço marcante. Entretanto, essa presença feminina se dá mais no espaço dos empregos precários, onde a exploração, em grande medida, se encontra mais acentuada.
NOGUEIRA, C. M. As trabalhadoras do telemarketing: uma nova divisão sexual do trabalho? In: ANTUJNES, R. et al. Infoproletários: degradação real do trabalho virtual. São Paulo: Boitempo, 2009.
A transformação descrita no texto tem sido insuficiente para o estabelecimento de uma condição de igualdade de oportunidade em virtude da(s):
a) estagnação de direitos adquiridos e do anacronismo da legislação vigente.
b) manutenção do status quo gerencial e dos padrões de socialização familiar.
c) desestruturação da herança patriarcal e das mudanças do perfil ocupacional.
d) disputas na composição sindical e da presença na esfera político-partidária.
e) exigências de aperfeiçoamento profissional e de habilidades na competência diretiva.
Resposta: [B]
Devido à persistência da desigualdade de gênero no mercado de trabalho, mesmo com a crescente presença feminina. Isso ocorre devido à manutenção do status quo gerencial e dos padrões de socialização familiar, como a cultura patriarcal, além da discriminação de gênero e falta de políticas públicas para garantir a igualdade de oportunidades. As demais alternativas não correspondem à realidade descrita ou não estão diretamente relacionadas ao tema abordado.
