Linguagens Literatura

Primeira geração modernista: características e autores

Caracterizada pelo seu caráter inovador e nacionalista, a primeira fase do Modernismo brasileiro rompeu com as tradições literárias do início do século 20. Conheça os principais nomes dessa geração e como o tema aparece no Enem e vestibulares

Acessibilidade

O movimento modernista no Brasil foi um importante marco da literatura brasileira, uma vez que rompeu com as tradições do fazer literário, especialmente aquelas abraçadas pelos parnasianos. E o começo de tudo se deu através da famosa Semana de Arte Moderna, marco inicial da primeira geração modernista.

É claro que tivemos influências de fora, como das vanguardas europeias, mas o fato é que o Modernismo passou a defender com unhas e dentes a criação de uma arte puramente brasileira. Vamos juntos entender os detalhes desse movimento?

O que foi a primeira geração do Modernismo?

A primeira geração modernista, também chamada de “fase heroica”, abrangeu o período de 1922 a 1930 e foi um marco na literatura brasileira. Esse movimento rompeu com as tradições literárias do passado e trouxe uma nova perspectiva artística, questionando valores e padrões estabelecidos.

O marco inicial dessa geração foi a Semana de Arte Moderna, evento organizado por diversos artistas que passaram a questionar o modo de fazer arte e defender uma estética que fosse puramente brasileira, e não somente importada da Europa.

Contexto histórico da primeira geração modernista

No início do século 20, o Brasil passava por mudanças sociais, políticas e econômicas significativas. A sociedade buscava uma identidade própria, distanciando-se das influências europeias.

O Brasil vivenciou um intenso processo de urbanização, com a crescente migração da população do campo para as cidades. Esse fenômeno trouxe mudanças nas dinâmicas sociais, criando um cenário propício para a reflexão sobre a identidade nacional.

Na época, revoltas sociais e a Revolução de 1930, que levou à ascensão de Getúlio Vargas, marcaram esse contexto. A imigração, a substituição da mão de obra escravizada pela assalariada e o crescimento industrial em São Paulo foram contrapostos ao poder das oligarquias rurais, que mantinham bases distintas em diferentes regiões.

Paralelamente, eventos internacionais, como a Primeira Guerra Mundial e a crise econômica global de 1929, afetaram significativamente o Brasil, uma vez que a burguesia brasileira enfrentou a falência resultante da crise da bolsa.

Além disso, a instabilidade global contribuiu para o surgimento de governos totalitários na Europa, como o nazismo e o fascismo, culminando no início da Segunda Guerra Mundial. Portanto, a primeira geração modernista está situada no período denominado entreguerras.

👉 Leia também: Como estudar Literatura para o Enem? Veja dicas

Semana de Arte Moderna de 1922

A Semana de Arte Moderna de 1922, realizada no Teatro Municipal de São Paulo (berço do Parnasianismo), foi um marco cultural que revolucionou a cena artística brasileira.

Esse evento, ocorrido durante três dias (13, 15 e 17 de fevereiro), reuniu artistas, intelectuais e escritores que buscavam romper com as tradições artísticas e literárias do passado, marcando o início da primeira geração modernista no Brasil.

O evento contou com a participação de figuras icônicas do modernismo brasileiro, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, entre outros. Juntos, esses artistas compartilhavam a visão de criar uma arte que refletisse a identidade nacional brasileira, rompendo com influências exclusivamente estrangeiras.

Durante a Semana de Arte Moderna, foram apresentados manifestos que expressavam as ideias e os propósitos do movimento.

Imagem da página que continha o Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade

O Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, por exemplo, propunha a ideia de devorar as influências estrangeiras para criar uma cultura única e autêntica.

As apresentações artísticas, como recitais de poesia, exposições de quadros e apresentações musicais, geraram reações polêmicas e críticas.

Muitos consideraram as obras inovadoras como chocantes e fora do convencional. Contudo, essa quebra de paradigmas foi essencial para o desenvolvimento de uma nova linguagem artística no Brasil.

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Mrwildeson)

O segundo dia foi marcado pela leitura do poema Os Sapos, de Manuel Bandeira, que ironizava a poesia parnasiana. Infelizmente, por motivos de saúde, o autor não pôde comparecer ao evento, então quem recitou o poema foi Ronald de Carvalho. Essa leitura causou grande alvoroço no público, que não poupou vaias e gritos.

O legado da Semana de Arte Moderna de 1922 é reconhecido até os dias atuais. As ideias inovadoras apresentadas pelos modernistas influenciaram gerações subsequentes de artistas, consolidando a importância desse movimento na construção da identidade cultural brasileira.

Monteiro Lobato x Anita Malfatti

Com tudo o que foi dito até aqui, não restam dúvidas do quão revolucionária foi a primeira geração modernista. Entretanto, o que muitos não sabem é que o estopim para a Semana de 22 foi um embate entre Monteiro Lobato (autor de O Sítio do Pica-Pau Amarelo) e Anita Malfatti, artista plástica de grande renome.

Na época, a pintora viajou ao exterior, onde teve contato com as vanguardas europeias, como o expressionismo e o cubismo. Esse contato, evidentemente, influenciou no seu fazer artístico. Entretanto, eram estéticas pouco conhecidas pelos brasileiros, que ainda prezavam a arte mais tradicional, como a renascentista e a barroca.

Em 1917, Malfatti realizou sua “Exposição de Pintura Moderna”, em que expôs 53 obras das quais vendeu 8 logo na estreia. Porém, o que inicialmente parecia ser um evento de sucesso, tornou-se um verdadeiro tormento para a pintora com o lançamento da coluna A propósito da exposição Malfatti, que mais tarde ficou conhecida como Paranóia ou mistificação?, redigida por Monteiro Lobato.

Fotografias de Anita Malfatti e Monteiro Lobato
Retratos de Anita Malfatti e Monteiro Lobato (Imagens: Reprodução/Wikimedia Commons)

Ao longo do artigo, o autor criticou veementemente todas as obras expostas por Anita. Lobato categorizou os artistas em duas "espécies":

  • a primeira composta por aqueles que “veem normalmente a natureza, criando arte pura seguindo os ritmos eternos da vida”;
  • a segunda, incluindo os modernistas, seria formada por aqueles que “veem anormalmente a natureza, interpretando-a sob teorias efêmeras”.

O autor caracterizou a arte desses artistas como resultado do cansaço, sadismo e decadência, comparando-a às pinturas de hospitais psiquiátricos.

Quanto à Malfatti, Lobato reconheceu seu talento original, mas lamentou que ela tenha sido “seduzida pelas teorias da arte moderna”, considerando que seu talento foi direcionado para uma nova espécie de caricatura. Ele criticou a exposição, alegando que as obras modernistas apenas desnorteavam o espectador.

Características literárias da primeira geração modernista

A literatura desse período era caracterizada pela busca da renovação estilística e revolução do fazer artístico. Dessa forma, podemos elencar as seguintes características:

  • ruptura com as tradições e o convencionalismo;
  • valorização da identidade nacional;
  • linguagem coloquial e liberdade formal;
  • influência das vanguardas europeias;
  • crítica social e nacionalismo crítico;
  • experimentalismo e liberdade de expressão;
  • caráter revolucionário e anárquico;
  • busca por uma arte puramente brasileira.

Nomes de destaque e principais autores

Entre os principais autores da primeira geração modernista, destacam-se Mário de Andrade e Oswald de Andrade.

Existe um embate entre os teóricos em relação a Manuel Bandeira, uma vez que muitos defendem que a participação do escritor na primeira geração tenha sido apenas com o poema Os Sapos e seu envolvimento com a Semana de Arte Moderna. Ademais, suas características literárias dialogam melhor com a segunda geração.

Para além destes, também merecem destaque outros autores da geração como Menotti del Picchia, Plínio Salgado, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida e Alcântara Machado.

Além disso, vale lembrar que os idealizadores da Semana de Arte Moderna compunham o chamado Grupo dos Cinco, formado por Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e Mário de Andrade.

Oswald de Andrade

Oswald de Andrade foi um dos principais protagonistas da Semana de Arte Moderna de 1922 e um dos mais influentes escritores do Modernismo brasileiro.

Oswald de Andrade, autor da primeira Geração Modernista

Autor do célebre Manifesto Antropófago, Oswald propôs uma abordagem singular à cultura, defendendo a "antropofagia" cultural como um ato de “devorar” influências estrangeiras para criar uma expressão artística genuinamente brasileira.

Além de suas contribuições teóricas, Oswald de Andrade deixou um legado literário significativo, com obras como Memórias Sentimentais de João Miramar e Serafim Ponte Grande.

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Auréola)

Sua escrita provocativa marcou uma ruptura com as tradições literárias, influenciando não apenas a literatura, mas também as demais formas de expressões artísticas no Brasil.

Mário de Andrade

Mário de Andrade destacou-se como uma figura multifacetada no Modernismo brasileiro.

Além de renomado escritor, foi musicólogo, historiador de arte e fotógrafo, contribuindo significativamente para a compreensão da diversidade cultural do Brasil.

Sua obra literária, como Macunaíma, é um exemplo da fusão entre o erudito e o popular, incorporando elementos do folclore brasileiro de maneira inovadora.

Mário de Andrade também foi um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.

(Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Michelle Rizzo)

Mário de Andrade, autor da Primeira Geração Modernista

Principais obras da primeira fase do Modernismo

Podemos dividir as obras da primeira geração modernista entre manifestos - que, posteriormente, deram origem a movimentos importantes da época - e obras literárias em si, focadas na narrativa e na poesia.

Manifestos

  • Manifesto da poesia pau-brasil (1924), de Oswald de Andrade;
  • Manifesto antropófago (1928), de Oswald de Andrade;
  • Manifesto do verde-amarelismo ou da escola da anta (1929), de Plínio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia.

Obras literárias

  • Memórias sentimentais de João Miramar (1924), de Oswald de Andrade;
  • Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema (1917), de Mário de Andrade;
  • Amar, verbo intransitivo (1927), de Mário de Andrade;
  • Macunaíma (1928), de Mário de Andrade;
  • Raça (1925), de Guilherme de Almeida;
  • O estrangeiro (1926), de Plínio Salgado;
  • Toda a América (1926), de Ronald de Carvalho;
  • Martim Cererê (1928), de Cassiano Ricardo;
  • Laranja da China (1928), de Alcântara Machado.

👉 Leia também: Interpretação de poemas: 5 dicas para melhorar suas análises

Resumo: primeira geração modernista

A primeira geração modernista foi um período importante na literatura brasileira, marcado por uma ruptura com as convenções literárias do passado e a busca por uma identidade nacional autêntica.

Seu marco inicial foi a Semana de Arte Moderna (1922), que teve como estopim o artigo publicado por Monteiro Lobato criticando as obras de Anita Malfatti, artista plástica fortemente influenciada pelos movimentos de vanguarda, como expressionismo e cubismo.

Os principais autores da geração foram Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Não há consenso entre os estudiosos a respeito de Manuel Bandeira, mas, atualmente, há uma tendência de alocar o escritor na segunda geração modernista pelas suas características literárias.

As características da primeira geração são:

  • ruptura com as tradições e o convencionalismo;
  • valorização da identidade nacional;
  • linguagem coloquial e liberdade formal;
  • influência das vanguardas europeias;
  • crítica social e nacionalismo crítico;
  • experimentalismo e liberdade de expressão;
  • caráter revolucionário e anárquico;
  • busca por uma arte puramente brasileira.
Banner

Como o Modernismo cai no Enem e vestibulares

O Modernismo costuma ser um conteúdo muito recorrente nos vestibulares e no Enem.

Normalmente, os exames cobram mais a segunda e terceira geração. Entretanto, é de extrema importância estudar a primeira geração a fim de compreender a raiz do movimento moderno e como ele foi se modificando ao longo dos anos de acordo com o contexto sociopolítico e histórico de cada época, bem como a partir das características próprias de cada autor.

Exemplo de questão sobre Modernismo no Enem

(Enem PPL 2014) Cena

O canivete voou
E o negro comprado na cadeia
Estatelou de costas
E bateu coa cabeça na pedra

ANDRADE, O. Pau-brasil. São Paulo: Globo, 2001.

O Modernismo representou uma ruptura com os padrões formais e temáticos até então vigentes na literatura brasileira. Seguindo esses aspectos, o que caracteriza o poema Cena como modernista é o(a)

a) construção linguística por meio de neologismo.

b) estabelecimento de um campo semântico inusitado.

c) configuração de um sentimentalismo conciso e irônico.

d) subversão de lugares-comuns tradicionais.

e) uso da técnica de montagem de imagens justapostas.

Resposta: [E]
A técnica de montagem de imagens justapostas é uma marca do Modernismo, especialmente na obra de Oswald de Andrade. A fragmentação de imagens e a composição cubista na linguagem são elementos que refletem a inovação estilística e a subversão de formas tradicionais, características do movimento modernista na literatura brasileira.

Exemplo de questão sobre Modernismo no vestibular

(Ufrgs 2022) Assinale a alternativa correta em relação à Semana de Arte Moderna, de 1922.

a) É considerada o marco inicial do Modernismo brasileiro, cujas propostas estéticas são imediatamente incorporadas pelos movimentos locais de renovação, em outros estados do Brasil.

b) Coincide com o Centenário da Independência do Brasil, materializando o compromisso do modernismo com o passado, em busca da afirmação dos heróis colonizadores.

c) Tem como marco inaugural a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, cujo personagem configura o caráter nacional brasileiro, resultante da miscigenação étnica entre negros e brancos.

d) Desdobra-se no Manifesto Antropófago, no qual Oswald de Andrade propõe a retomada do elemento indígena, reprimido pela civilização, como matriz de pensamento e experimentação estética.

e) É marcada pela recusa da influência das vanguardas europeias, como o Futurismo, o Dadaísmo, o Cubismo, entre outras, uma vez que os artistas e intelectuais modernistas estavam engajados na criação de uma arte autenticamente nacional.

Resposta: [D]
A Semana de Arte Moderna, ocorrida em 1922, marca o início do Modernismo no Brasil. Ao contrário das opções [A], [B], [C] e [E], a opção [D] destaca corretamente que a Semana de Arte Moderna não apenas aconteceu em São Paulo como também teve desdobramentos importantes, como o Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade.

Neste manifesto, propõe-se a retomada do elemento indígena como matriz de pensamento e experimentação estética, destacando a influência e a valorização das raízes brasileiras no contexto do Modernismo.

TEMAS:

avatar
Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

Ver mais artigos de Kimberli Sabino Ariotti >

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

Ver mais artigos de Kimberli Sabino Ariotti >

Compartilhe essa publicação:

Veja Também

Assine a newsletter do Aprova Total

Você receberá apenas nossos conteúdos. Não enviaremos spam nem comercializaremos os seus dados.