Ciências Humanas História

Guerra Fria: causas, consequências e contexto histórico

O conflito estabeleceu a divisão do mundo em dois blocos ideológicos opostos - capitalista e comunista; entenda os aspectos mais importantes

Acessibilidade

A Guerra Fria foi um período histórico que se estendeu, aproximadamente, de 1947 a 1991, no qual houve intensa rivalidade política, militar e ideológica entre duas superpotências do pós Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos e União Soviética.

O conflito é considerado não convencional, pois, em vez de levar a uma "guerra direta", manifestou-se em uma série de confrontos indiretos, com espionagem, proxy war (ou guerra por procuração) e corrida armamentista nuclear.

Essa divisão do mundo em dois blocos ideológicos opostos - capitalista e comunista - moldou a política internacional, influenciando profundamente a ordem geopolítica global, as relações entre países e até mesmo as dinâmicas internas das nações envolvidas.

Neste artigo, vamos nos aprofundar nos aspectos mais importantes desse momento da história mundial e ajudar você a compreender tudo o que envolve a Guerra Fria.

Afinal, o que foi a Guerra Fria?

A Guerra Fria foi um período de tensão geopolítica e confronto ideológico que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, entre os anos 1947 e 1991, aproximadamente. Os países que tiveram participação mais representativa no conflito foram os Estados Unidos (e seus aliados da OTAN, a Organização do Tratado do Atlântico Norte) de um lado e a União Soviética (e seus aliados do Pacto de Varsóvia) do outro.

Durante a Guerra Fria, várias partes do mundo viviam um processo de descolonização, à medida que antigas colônias buscavam independência. Esse fator, inclusive, aumentou a rivalidade entre os blocos, que buscavam influência nas nações recém-independentes.

Contexto histórico e antecedentes do conflito

O contexto histórico da Guerra Fria está profundamente enraizado nos eventos que ocorreram nas décadas anteriores, com a Revolução Russa, em outubro de 1917, e o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). 

A Revolução Russa de 1917 tirou do poder a monarquia czarista e implementou um governo socialista baseado no poder político de camponeses e operários, além de uma ampla distribuição dos meios de produção. 

Soldados armados carregam uma faixa onde se lê "Comunismo", em Moscou, outubro de 1917 - pré Guerra Fria
Soldados armados carregam uma faixa onde se lê "Comunismo", em Moscou, outubro de 1917 (Imagem: Documentário do Estado Russo e Arquivo de Fotos)

A primeira grande experiência socialista do mundo, a Revolução Russa, causou grande impacto na geopolítica mundial. Com a vitória dos Bolcheviques (maioria radical) na Revolução, a Europa passou a temer o avanço do socialismo e do comunismo para outros países capitalistas. 

O sentimento de anticomunismo cresceu com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a afirmação da União Soviética como uma grande potência militar. A vitória dos Aliados (Reino Unido, França, URSS e Estados Unidos) em 1945 marcou o fim do conflito, mas também sinalizou o início de uma nova fase nas relações internacionais.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha foi repartida em zonas de ocupação controladas por esses países, e a cidade de Berlim, localizada na zona soviética, também se dividiu. Essa divisão refletia as tensões crescentes entre as potências aliadas do Ocidente (França, Grã-Bretanha e EUA) e a URSS.

Fatores que ocasionaram a Guerra Fria

As ideologias políticas e econômicas dos principais vencedores da Segunda Guerra Mundial eram fundamentalmente diferentes. Os Estados Unidos e seus aliados defendiam sistemas políticos e econômicos capitalistas, enquanto a União Soviética experienciava o sistema socialista. Essas diferenças ideológicas se tornaram uma fonte de conflito. 

Com o tempo, o mundo se dividiu em dois blocos distintos:

  • o bloco ocidental, liderado pelos Estados Unidos e seus aliados capitalistas;
  • e o bloco oriental, liderado pela União Soviética e composto por nações socialistas e soviéticas.

Esses fatores cumulativos estabeleceram as bases da Guerra Fria, um período de tensões políticas e militares, mas sem um confronto militar direto entre os principais adversários. Essa era de bipolaridade influenciou significativamente a política internacional e as relações entre os Estados Unidos e a União Soviética até o colapso do bloco comunista entre os anos 1989 e 1991.

O que iniciou a Guerra Fria?

A Guerra Fria teve várias causas complexas e multifacetadas, e não há um evento único que possa ser apontado como responsável pelo seu início. No entanto, alguns eventos-chave ocorridos a partir do final da Segunda Guerra Mundial contribuíram para a atmosfera de desconfiança e hostilidade entre os Estados Unidos e a União Soviética:

  • Durante as conferências de Yalta (fevereiro de 1945) e Potsdam (julho-agosto de 1945), os líderes das potências aliadas discutiram o futuro da Europa pós-guerra e a reorganização do mundo. No entanto, divergências sobre questões como as fronteiras da Europa Oriental, as reparações de guerra e a criação das Nações Unidas contribuíram para a crescente desconfiança entre os aliados.
Winston Churchill (Reino Unido),  Franklin Roosevelt (EUA) e Joseph Stalin (URSS) na Conferência de Yalta - pré Guerra Fria

Winston Churchill (Reino Unido), Franklin Roosevelt (EUA) e Joseph Stalin (URSS) na Conferência de Yalta (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons)

  • A divisão da Alemanha em zonas de ocupação pelos aliados foi um ponto de discórdia. As tensões aumentaram quando as zonas de ocupação controladas pelos Estados Unidos, Reino Unido e França foram combinadas para formar a República Federal da Alemanha (Alemanha ocidental), enquanto a zona soviética tornou-se a República Democrática Alemã (Alemanha oriental).
  • Divergências entre o sistema político e econômico capitalista dos Estados Unidos e o sistema socialista da União Soviética estabeleceram as bases para a desconfiança mútua. Cada lado via o outro como uma ameaça à sua forma de governo e estilo de vida.
  • Em reação ao crescimento do socialismo, o presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, estabeleceu a Doutrina Truman, uma política que buscava conter a expansão do socialismo e continuar as políticas imperialistas estadunidenses.
  • A Doutrina Truman foi seguida pelo Plano Marshall, programa de ajuda econômica dos Estados Unidos para a reconstrução da Europa pós-guerra. A União Soviética viu essas iniciativas como uma tentativa de expansão da influência ocidental sobre a Europa. 
  • Tensões atingiram o auge durante o bloqueio de Berlim, entre 1948 e 1949, quando a União Soviética tentou forçar os aliados ocidentais a abandonarem seus setores na Berlim ocidental. Os aliados responderam com uma massiva operação de abastecimento aéreo, conhecida como Ponte Aérea de Berlim, desafiando o bloqueio soviético.

Esses eventos e outros contribuíram para intensificar as hostilidades entre os Estados Unidos e a União Soviética, marcando o início da Guerra Fria. 

Países envolvidos na Guerra Fria

A Guerra Fria envolveu uma série de países em todo o mundo, cada um tomando seu lado no conflito ideológico entre os blocos liderados pelos Estados Unidos (ocidental, capitalista) e pela União Soviética (oriental, socialista). Os países que compuseram os blocos foram:

Bloco ocidental (liderado pelos Estados Unidos)

  • Estados Unidos;
  • Canadá;
  • Reino Unido;
  • França;
  • Alemanha ocidental;
  • Itália;
  • Japão;
  • Austrália;
  • Turquia;
  • Outros membros da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Bloco oriental (liderado pela União Soviética)

  • União Soviética;
  • Alemanha oriental;
  • Polônia;
  • Tchecoslováquia (até 1992, quando se dividiu em República Tcheca e Eslováquia);
  • Hungria;
  • Romênia;
  • Bulgária;
  • Iugoslávia (inicialmente, mas o país se distanciou da influência soviética nos anos 1950);
  • China (até a ruptura sino-soviética nos anos 1960).

Características da Guerra Fria

As principais características da Guerra Fria incluíram:

  1. a polarização do mundo, em que os EUA representavam o bloco capitalista e a União Soviética liderava o bloco socialista;
  2. a corrida armamentista, em que ambos os lados buscavam construir arsenais militares massivos, incluindo armas nucleares, em uma corrida para alcançar superioridade estratégica;
  3. e as interferências em conflitos que aconteceram em diferentes partes do mundo, nos quais EUA e URSS sempre apoiavam lados opostos.

A seguir, vamos nos aprofundar em cada uma dessas características.

Polarização do mundo

A polarização do mundo refere-se à divisão geopolítica e ideológica em dois blocos principais durante a Guerra Fria. Eles eram liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética, representando duas ideologias antagônicas: o capitalismo ocidental e o socialismo oriental. Essa divisão criou uma polarização global, na qual os países foram fortemente influenciados por uma das superpotências, resultando nesse cenário bipolar.

A formação de alianças militares refletiu essa polarização: a OTAN foi criada em 1949 pelos países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, como uma aliança de defesa coletiva. Em resposta, o Pacto de Varsóvia foi formado em 1955 pelos países do bloco oriental, liderados pela União Soviética.

Essa polarização levou a conflitos regionais em que os dois blocos apoiavam lados opostos, como a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnã. Os EUA e a URSS também tiveram influência em golpes de Estado e disputas políticas internas pelo poder em países da América Latina e da África. 

🔍 Atividades de espionagem e diplomacia também eram intensas, em uma tentativa constante de expandir sua influência global, ganhar aliados e minar a influência do outro.

Corrida armamentista

A corrida armamentista na Guerra Fria se caracterizou pelo rápido desenvolvimento e acumulação de arsenais militares, em particular armas nucleares, pelos Estados Unidos e pela União Soviética. Durante esse período, os dois países competiram para adquirir superioridade militar em uma tentativa de dissuadir o outro e garantir uma posição estratégica vantajosa.

O desenvolvimento da bomba atômica pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, pela União Soviética, introduziu uma nova dimensão à guerra. Temendo um ataque nuclear inimigo, ambos os lados incentivaram programas bélicos.

As demonstrações de poder bélico iniciaram ainda durante a Segunda Guerra Mundial, pelos EUA, com o lançamento de duas bombas atômicas que destruíram as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 1945. Os ataques ao Japão, país relativamente próximo geograficamente à União Soviética, já davam sinais do que viria a acontecer nas próximas décadas. 

Ao longo da década de 1950, a desconfiança e a hostilidade entre os Estados Unidos e a União Soviética aumentaram, assim como o clima de competição e suspeita. Mas ambos adotaram a "doutrina da destruição mútua assegurada", na qual um ataque nuclear resultaria em retaliação equivalente, ou seja, na destruição dos dois lados. Isso teria servido como estratégia para evitar um conflito nuclear direto.

O ápice da corrida armamentista e das tensões da Guerra Fria ocorreram durante a Crise dos Mísseis, em 1962, que teve início quando os EUA descobriram que a URSS estava secretamente instalando mísseis nucleares em Cuba, ilha caribenha próxima ao estado da Flórida e que estava na zona de influência soviética. 

Mulheres estadunidenses em greve pela paz durante a Crise dos Mísseis - durante a Guerra Fria

Mulheres estadunidenses em greve pela paz durante a Crise dos Mísseis (Imagem: Reprodução/Wikimedia)

A corrida armamentista teve implicações econômicas significativas, pois essas superpotências dedicaram parte substancial de seus orçamentos para a produção e manutenção de armamentos.

Corrida espacial

A corrida espacial foi uma competição estratégica entre os Estados Unidos e a União Soviética durante a Guerra Fria para alcançar conquistas significativas no campo da exploração espacial. Esse foi um aspecto marcante dessa era e teve importantes implicações políticas, tecnológicas e científicas. 

Saindo na frente, a União Soviética lançou o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1, em 4 de outubro de 1957. Esse evento marcou o início da corrida espacial e causou grande impacto nos Estados Unidos, o que aumentou os investimentos em ciência e tecnologia.

Em 12 de abril de 1961, o cosmonauta soviético Yuri Gagarin tornou-se o primeiro humano a orbitar a Terra a bordo da nave espacial Vostok 1. Antes disso, em 1957, a URSS enviou cães ao espaço, como a cachorra Laika. O envio de humanos ao espaço foi outro marco significativo na corrida espacial, pois demonstrou a capacidade tecnológica da União Soviética. 

Em resposta ao sucesso soviético, os Estados Unidos lançaram o Projeto Mercury, seu programa espacial tripulado. Assim, em 1962, o astronauta John Glenn tornou-se o primeiro americano a orbitar a Terra.

A competição atingiu seu auge com o Projeto Apollo, dos Estados Unidos, que visava levar astronautas à Lua e trazê-los de volta em segurança. O astronauta Neil Armstrong, então, se tornou o primeiro ser humano a pisar na Lua em 20 de julho de 1969, durante a missão Apollo 11.

🚀 A corrida espacial não se limitou apenas aos feitos tecnológicos, houve implicações políticas que simbolizaram a competição ideológica entre o capitalismo e o socialismo na Guerra Fria.

👉 Leia também:

Revisionismo histórico, patrimônio e memória no século 21

50 anos do golpe militar no Chile

Revolução Industrial: resumo completo com o que você precisa saber

Interferência em conflitos

Durante a Guerra Fria, vários conflitos ao redor do mundo sofreram interferência das superpotências, Estados Unidos e União Soviética. Os confrontos não significaram apenas disputas locais, mas se tornaram campos de batalha para a influência ideológica e estratégica global.

Além de focar em arsenais nucleares, os Estados Unidos e a União Soviética competiam em outros aspectos militares, como o envio de tropas e armamento pesado para áreas de conflito em todo o mundo, estratégia conhecida como guerras por procuração. Essa interferência aumentou a intensidade e a letalidade de conflitos regionais.

Entre os conflitos que sofreram interferência das superpotências, é possível citar:

Guerra da Coreia (1950-1953)

  • Após a Segunda Guerra Mundial, a Coreia foi dividida arbitrariamente em duas pelo Paralelo 38, imposto pelos EUA, com o Norte apoiado pela União Soviética e o Sul pelos Estados Unidos.
  • Quando a Coreia do Norte invadiu o Sul, os EUA e as Nações Unidas intervieram para apoiar a Coreia do Sul, enquanto a China e a União Soviética apoiaram o Norte.
  • O conflito terminou em um armistício em 1953, deixando a península permanentemente dividida e mantendo altas tensões na região.

Crise de Suez (1956)

  • A nacionalização do Canal de Suez (que ligava o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho), pelo presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, desencadeou um conflito envolvendo Egito, Israel, França e Reino Unido.
  • Os EUA e a URSS se envolveram diplomaticamente na crise; a União Soviética ameaçava intervir militarmente em apoio ao Egito, em busca de uma resolução rápida para o conflito.
  • A crise fortaleceu a posição de Nasser e marcou um declínio da influência europeia no Oriente Médio, com aumento da influência americana e soviética.

Guerra do Vietnã (1955-1975)

  • Após a divisão do Vietnã em Norte socialista e Sul capitalista, os conflitos internos escalaram.
  • Os EUA intervieram massivamente para apoiar o Vietnã do Sul, enquanto a URSS e aliados forneceram suporte ao Norte.
  • A guerra terminou com a retirada dos EUA e a eventual unificação do Vietnã sob o governo socialista, representando uma derrota significativa para a política externa dos EUA.
  • A guerra do Vietnã afetou a visão que os cidadãos estadunidenses tinham sobre as políticas imperialistas estadunidenses, e vários movimentos contrários à guerra surgiram. 
Marcha de estadunidenses contra a guerra do Vietnã

Marcha de estadunidenses contra a guerra do Vietnã. No cartaz, "traga nossos garotos de volta" (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons/Administração Nacional de Arquivos e Registros dos EUA)

Invasão soviética do Afeganistão (1979-1989)

  • A URSS invadiu o Afeganistão para apoiar o governo socialista local contra insurgentes.
  • Os EUA, junto com outros países, forneceram apoio substancial aos insurgentes para combater as forças soviéticas.
  • A guerra se tornou um ponto de atrito na Guerra Fria, terminando com a retirada soviética e um legado de guerra civil no Afeganistão.

Revoluções e golpes na América Latina

  • Vários países da América Latina vivenciaram revoluções e conflitos internos durante a Guerra Fria.
  • Os EUA frequentemente intervinham, apoiando regimes anticomunistas e golpes de Estado, enquanto a URSS oferecia suporte a movimentos socialistas.
  • Podemos citar a intervenção dos EUA no Brasil para derrubar o governo democrático de João Goulart, em 1964, e a instauração de um regime ditatorial militar que durou 21 anos. Enquanto a URSS deu apoio ao governo que se estabeleceu com a Revolução Cubana iniciada em 1953. 

Geopolítica na Guerra Fria

A geopolítica da Guerra Fria foi marcada por um equilíbrio do terror nuclear. A "mútua destruição assegurada" ajudou a evitar um conflito direto entre as superpotências, mas duas principais alianças militares foram formadas durante a Guerra Fria para consolidar a influência e a segurança dos respectivos blocos - a OTAN e o Pacto de Varsóvia. 

OTAN e Pacto de Varsóvia

A Organização do Tratado do Atlântico Norte foi formada em 1949 como uma aliança militar defensiva entre os países ocidentais. O objetivo era responder às ameaças da União Soviética durante os primeiros anos da Guerra Fria. O surgimento da OTAN seguiu uma série de eventos e preocupações relacionadas à segurança na Europa no pós Segunda Guerra Mundial. 

Depois disso, as potências aliadas vitoriosas tinham o desafio de reconstruir a Europa devastada e lidar com as consequências geopolíticas do conflito. No entanto, as relações entre os ex-aliados ocidentais e a União Soviética começaram a se deteriorar.

A crescente influência soviética sobre os países da Europa oriental, marcada pela instalação de regimes comunistas em várias nações, levou os países ocidentais a enxergarem a União Soviética como uma ameaça à estabilidade e à segurança da Europa.

Diante dessa ameaça, para prevenir o ressurgimento do militarismo alemão e fortalecer a cooperação transatlântica, 12 países assinaram o Tratado do Atlântico Norte em 4 de abril de 1949, em Washington (D.C). São eles: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Bélgica, Países Baixos, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Islândia, Itália e Portugal.

Assinatura do Tratado do Atlântico Norte pelo presidente estadunidense Harry Truman

Assinatura do Tratado do Atlântico Norte pelo presidente estadunidense Harry Truman, ao centro, 1949 (Imagem: Reprodução Wikimedia Commons/Abbie Rowe)

O Tratado do Atlântico Norte estabeleceu o compromisso de defesa coletiva, no qual um ataque armado contra um ou mais membros seria considerado um ataque contra todos.

Comecon e Plano Marshall

No cenário pós Segunda Guerra Mundial, duas estratégias econômicas emergiram como peças centrais no tabuleiro da Guerra Fria: o Plano Marshall, liderado pelos Estados Unidos, e o Comecon (Conselho de Assistência Econômica Mútua), sob a égide da União Soviética.

Tais planos não eram meramente pacotes de ajuda ou alianças econômicas, e sim manifestações tangíveis da disputa ideológica entre capitalismo e comunismo.

Plano Marshall (1947)

Essa foi uma iniciativa audaciosa dos Estados Unidos para a reconstrução das nações europeias devastadas pela guerra. Seu objetivo ia além da reconstrução da Europa e funcionava como uma tentativa de estabelecer economias estáveis e democráticas na região, criando uma barreira contra a expansão do socialismo pelo continente.

O Plano Marshall foi bem-sucedido não apenas na revitalização econômica, mas também no fortalecimento dos laços entre Europa ocidental e Estados Unidos, e na promoção de um bloco capitalista unido.

Comecon (1949)

O Conselho de Assistência Econômica Mútua visava a integração econômica dos países do bloco oriental. Ao contrário do Plano Marshall, que era abertamente um programa de ajuda, o Comecon tinha como objetivo primordial a coordenação das economias socialistas, a fim de promover o desenvolvimento industrial e agrícola em conjunto.

Na prática, porém, ele se tornou um meio de a União Soviética exercer influência sobre os países satélites, para que adotassem o modelo econômico soviético, limitando as interações com o Ocidente.

Principais acontecimentos da Guerra Fria

A Guerra Fria perdurou por mais de quatro décadas, sendo um período de intensas turbulências geopolíticas e repleto de eventos significativos. Entre eles, podemos citar a Guerra do Vietnã, a Crise dos Mísseis, os avanços da corrida espacial e a queda do Muro de Berlim:

  • A Guerra do Vietnã (1955-1975) foi um conflito entre o Norte, apoiado por comunistas, e o Sul, aliado dos EUA. A luta intensa de guerrilha e o impacto na opinião pública global culminaram na unificação do Vietnã sob um regime socialista.
  • A Crise dos Mísseis de 1962 foi, com certeza, o ponto mais crítico da Guerra Fria envolvendo os EUA e os mísseis soviéticos em Cuba. Durante 13 dias tensos, o mundo esteve à beira de uma guerra nuclear. A crise terminou com a URSS retirando esses mísseis em troca de garantias americanas de não invadir Cuba e a remoção secreta de mísseis americanos da Turquia.
  • A queda do Muro de Berlim, em 1989, encerrou a divisão dos países, simbolizando o fim da separação ideológica e física entre ocidente e oriente. Esse evento crucial não só unificou a Alemanha, mas também prenunciou o colapso do bloco soviético e o fim da URSS.

Fim da Guerra Fria: motivadores e consequências

O fim da Guerra Fria foi um processo gradual que culminou na dissolução da União Soviética em 1991. Esse desfecho envolveu uma mistura de reformas internas, pressões econômicas, mudanças políticas e uma nova era de cooperação internacional. Representou não apenas o fim de um período de confronto, mas também o início de uma nova ordem mundial, protagonizada por uma economia neoliberal e um mundo multipolarizado.

A queda da URSS veio após o desgaste da economia soviética, principalmente por causa da corrida armamentista com os Estados Unidos. A iniciativa de defesa estratégica (conhecida como "Guerra nas Estrelas"), proposta pelo presidente Reagan, colocou pressão financeira sobre os soviéticos. Havia ainda uma crise desde o fim da Guerra do Afeganistão, que aprofundou o endividamento da União Soviética.

Diante de uma crise interna crescente, o Partido Comunista Soviético nomeou Mikhail Gorbachev como líder, buscando estabilizar tanto a política quanto a economia da URSS. Durante seu mandato, Gorbachev implementou duas políticas-chave:

  • a Glasnost (transparência), que promovia maior liberdade de expressão, reduzia a censura e incentivava o debate público, com críticas mais abertas ao governo;
  • e a Perestroika (reestruturação), que tinha como objetivo a modernização da economia soviética por meio de uma abertura gradual para elementos da economia de mercado.

A queda do Muro de Berlim (1989) e o colapso subsequente dos regimes comunistas na Europa oriental simbolizaram o enfraquecimento do bloco soviético. Por fim, a dissolução da URSS em 1991 marcou oficialmente o fim da Guerra Fria, seguida de uma transformação política e econômica global.

Manifestações durante a queda do Muro de Berlim, em 1989 - fim da Guerra Fria

Manifestações durante a queda do Muro de Berlim em 1989 (Imagem: Senado de Berlim/ Reprodução/ Wikimedia Commons)

Resumo: Guerra Fria

  • A Guerra Fria foi um período de tensão política, militar e ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética, cujo ápice foi de 1947 a 1991.
  • O mundo foi polarizado em dois blocos - capitalista, liderado pelos EUA, e comunista, liderado pela URSS.
  • Suas principais características são: guerra indireta, envolvendo espionagem, propaganda, corrida armamentista, especialmente nuclear, e competições tecnológicas, como a corrida espacial.
  • Houve conflitos em países terceiros, como a Guerra da Coreia, a Guerra do Vietnã e a Guerra do Afeganistão, em que as superpotências apoiavam lados opostos.
  • Momentos de alta tensão como a Crise dos Mísseis de Cuba quase levaram a um conflito nuclear.
  • A Guerra Fria promoveu impacto profundo na cultura, na sociedade e na política a nível global, moldando as relações internacionais e internas dos países.
  • O fim do conflito ficou marcado pela queda do Muro de Berlim em 1989, pelo colapso dos regimes comunistas na Europa oriental e pela dissolução da União Soviética em 1991.
  • A Guerra Fria deixou um legado duradouro na ordem mundial, nas políticas de segurança e nas relações internacionais.
Banner perpétua

Como a Guerra Fria cai no Enem e nos vestibulares

As questões sobre a Guerra Fria do Exame Nacional do Ensino Médico (Enem) focam no contexto de bipolaridade e na rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética. Também podem aparecer na prova de História perguntas sobre a relação das superpotências com países aliados do lado capitalista ou do soviético. 

Já os vestibulares em geral costumam priorizar abordagens mais específicas e conteudistas sobre esse período. Os pontos que podem ser cobrados são as corridas armamentista e espacial, os planos econômicos, a divisão de Berlim e outros eventos marcantes.

Exercício 1

(Enem 2018) Os soviéticos tinham chegado a Cuba muito cedo na década de 1960, esgueirando-se pela fresta aberta pela imediata hostilidade norte-americana em relação ao processo social revolucionário. Durante três décadas os soviéticos mantiveram sua presença em Cuba com bases e ajuda militar, mas, sobretudo, com todo o apoio econômico que, como saberíamos anos mais tarde, mantinha o país à tona, embora nos deixasse em dívida com os irmãos soviéticos – e depois com seus herdeiros russos – por cifras que chegavam a US$ 32 bilhões. Ou seja, o que era oferecido em nome da solidariedade socialista tinha um preço definido.

PADURA, L. Cuba e os russos. Folha de São Paulo, 19 jul 2014 (adaptado).

O texto indica que durante a Guerra Fria as relações internas em um mesmo bloco foram marcadas pelo(a)

a) busca da neutralidade política.   

b) estímulo à competição comercial.    

c) subordinação à potência hegemônica.    

d) elasticidade das fronteiras geográficas.    

e) compartilhamento de pesquisas científicas.    

Resposta: [C]
As potências hegemônicas da Guerra Fria eram EUA, pelo lado capitalista, e URSS, pelo lado socialista. Todos os demais países aliados estavam numa posição de subordinação, seja política ou economicamente. Isso fica claro pelo texto que acompanha a questão.

Exercício 2

(Uem-Pas 2023) Após o final da Segunda Guerra Mundial, o mundo vivenciou uma nova organização geopolítica caracterizada pela bipolaridade do poder entre Estados Unidos e União Soviética. Sobre esse período histórico da Guerra Fria, assinale o que for correto.

01) Durante a Guerra Fria, o mundo se dividiu em áreas de influências capitalista e socialista. Essa oposição alimentou uma intensa disputa armamentista, ideológica e territorial, que, durante décadas, gerou a expectativa de uma nova guerra mundial.   

02) A União Soviética criou um plano de ajuda econômica e tecnológica que consistiu em oferecer matérias-primas e recursos financeiros à Europa Ocidental, com o objetivo de ajudar na reconstrução do continente, que havia sido destruído pela guerra.   

04) O Pacto de Varsóvia, criado na década de 1960 pelos países ideologicamente próximos aos Estados Unidos, caracterizou-se pela criação de campanhas publicitárias que veiculavam mensagens positivas sobre o capitalismo e ressaltavam os perigos do socialismo para a ordem sociopolítica mundial.   

08) Os efeitos da Guerra Fria repercutiram na política interna dos Estados Unidos; na década de 1950 foi idealizado o macarthismo, que desencadeou uma onda de perseguição a supostos simpatizantes comunistas.   

16) A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi criada pelo governo da União Soviética para investigar e espionar o que pudesse representar simpatia pelo capitalismo.   

Resposta: 01 + 08 = 09
A questão aborda a Guerra Fria (1947-1991), conflito ideológico entre a URSS, que liderou o bloco socialista e os EUA, que lideraram o bloco capitalista. O macartismo ficou conhecido como período de "caça às bruxas" da Guerra Fria, quando houve perseguição política e social nos Estados Unidos durante a década de 1950, principalmente sob a liderança do senador Joseph McCarthy.

Correção a partir das incorretas [02], [04] e [16]: a URSS era alinhada a Europa oriental e não a ocidental; o Pacto de Varsóvia (1955) era um acordo militar que representava o bloco socialista e não capitalista; a OTAN foi criada em 1949, ligada aos interesses do bloco capitalista e não comunista.

TEMAS:

avatar
Bárbara Donini

Analista de História no Aprova Total. Licenciada (Udesc) e mestre (UFSC) em História, tem experiência na área de educação, no Ensino Fundamental e em curso pré-vestibular.

Ver mais artigos de Bárbara Donini >

Analista de História no Aprova Total. Licenciada (Udesc) e mestre (UFSC) em História, tem experiência na área de educação, no Ensino Fundamental e em curso pré-vestibular.

Ver mais artigos de Bárbara Donini >

Compartilhe essa publicação:

Veja Também

Assine a newsletter do Aprova Total

Você receberá apenas nossos conteúdos. Não enviaremos spam nem comercializaremos os seus dados.