Por que o consumo de energéticos se tornou uma preocupação?
Em sua coluna, Paulo Jubilut reúne estudos sobre os efeitos da bebida e avalia os impactos na saúde de crianças e adolescentes
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Não é de hoje que os jovens têm o costume de ingerir energéticos. Mas será que esse consumo é saudável? Com quantos anos alguém pode tomar energético? Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, pessoas menores de 18 anos deveriam ficar longe dessas bebidas.
Em 2011, um estudo mostrou que mais de 20 mil visitas no pronto-socorro nos Estados Unidos estavam ligadas ao consumo excessivo de energéticos. Muitas pessoas bebem os famosos energéticos para aguentar estudar até tarde, ficar ligado no trabalho ou se animar para ir à academia.
O grande público consumidor, cerca de 76%, é de jovens adultos, e a produção e o consumo desse produto têm aumentado sem parar.
A produção de energéticos no Brasil passou de 63 milhões de litros em 2010 para 185 milhões de litros em 2021. E essa produção cresceu tanto assim justamente por causa do aumento da demanda, já que o consumo saltou de 300ml por habitante ao ano em 2010, para 870ml em 2021.
Neste artigo, eu reuni alguns estudos e informações sobre essa bebida tão popular.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O que é um energético?
O energético nada mais é do que uma bebida gaseificada, com uma combinação de ingredientes estrategicamente pensados pra dar um pico de energia na pessoa. Essa combinação geralmente envolve grandes quantidades de açúcar, de cafeína, além de outros ingredientes estimulantes como taurina, ginseng e guaraná.
O efeito é potente e quase instantâneo. As moléculas de açúcar presentes na bebida chegam nas papilas gustativas da língua, e fazem o cérebro liberar dopamina, um neurotransmissor que traz uma sensação de bem-estar.
A quantidade de açúcar em apenas uma lata varia de 2 a 14 colheres de chá, dependendo da marca.
📣 Pra você ter com o que comparar, uma latinha de Coca-Cola tem cerca de 6 colheres de açúcar.
O consumo de energéticos em excesso pode aumentar o risco de obesidade e de diabetes tipo 2. Isso acontece porque o energético é muito calórico. Enquanto uma xícara de café preto tem por volta de 5 calorias, uma lata de energético tem mais de 800 calorias.
O que acontece no corpo depois da ingestão da bebida?
Após 10 minutos, a frequência cardíaca e a pressão arterial começam a aumentar. Isso acontece em resposta a liberação de adrenalina, que é causada pela ingestão da cafeína presente na bebida.
Essas bebidas podem ter até 242 miligramas de cafeína em apenas uma lata.
📣 Como comparação, uma xícara de café tem entre 95 e 165 miligramas de cafeína; uma lata de Coca-Cola tem 34 miligramas; e uma xícara de chá preto tem cerca de 30 miligramas.
Uma das razões dessa diferença tão grande é que o energético tem extrato de guaraná nos seus ingredientes. As sementes do guaraná têm o mesmo tamanho de um grão de café, mas contam com o dobro da quantidade de cafeína.
Inclusive é necessário ter cuidado com a ingestão rápida de grandes quantidades de cafeína, porque isso pode levar a uma intoxicação. Os sintomas mais comuns da intoxicação por cafeína são as palpitações, a agitação, os tremores e problemas gastrointestinais. E no longo prazo, o consumo em excesso do energético pode causar problemas cardiovasculares, como a hipertensão.
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Com quantos anos alguém pode tomar energético?
Todos os danos à saúde levantam dúvidas sobre com quantos anos alguém pode tomar energético e se as crianças e os adolescentes deveriam estar consumindo essa bebida.
As embalagens avisam que o energético não é adequado para crianças. Mas, infelizmente, menores de 18 anos conseguem comprar tranquilamente.
Um estudo de revisão, que foi divulgado recentemente na revista científica Public Health Journal, mostrou uma ligação entre o consumo de bebidas energéticas e vários problemas de saúde nos jovens. A análise avaliou dados de 57 estudos, que envolveram mais de 1 milhão de jovens de 9 a 21 anos, que eram moradores de 21 países.
A pesquisa encontrou ligações fortes entre o consumo das bebidas e um risco aumentado de problemas de saúde mental, como ansiedade, estresse, depressão, pânico e pensamentos de morte. E isso tem tudo a ver com a cafeína desregulando a biologia do cérebro.
Alguns dos trabalhos avaliados também indicaram uma ligação entre os energéticos e:
- pior desempenho acadêmico;
- sono com baixa qualidade e duração;
- hábitos alimentares ruins, como excesso de fast food e pular o café da manhã com frequência.
Não se sabe muito bem a relação de causa e efeito do energético com cada um desses sintomas separadamente. Mas os cientistas ficaram preocupados com as descobertas, e sugerem evitar o consumo enquanto a ciência faz mais estudos sobre isso.
E se você, estudante, está sentindo cansaço, eu recomendo priorizar o descanso em vez de ir correndo comprar um energético. Juro que isso vai te ajudar.