Duplo sentido: como essa figura de linguagem aparece no vestibular
Se você é fã de trocadilhos, com certeza, já usou muito duplo sentido nas suas conversas. Entenda como as questões de vestibular abordam trazem esse assunto
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Fala, galera maravilhosa! O papo de hoje é sobre duplo sentido e ambiguidade. Vou explicar como você deve estudar esses assuntos para mandar bem no vestibular.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O que é duplo sentido?
O duplo sentido é uma figura de linguagem que ocorre quando uma palavra, frase ou expressão tem mais de um significado. Muitas vezes, ela apresenta interpretações diferentes, sendo uma delas geralmente de natureza ambígua.
Aparece bastante nas poesias, na literatura e na comunicação cotidiana, cheia de variações linguísticas. O duplo sentido e a ambiguidade podem ser usados para criar humor, provocar reflexão ou sugerir uma informação implícita no discurso.
É importante observar que, em alguns casos, o uso do duplo sentido pode ser inapropriado ou ofensivo. Portanto, lembre-se de levar em consideração o público-alvo e o contexto da comunicação. Ainda assim, a habilidade de entender e utilizar o duplo sentido pode demonstrar criatividade.
Como falar em duplo sentido?
No duplo sentido, cria-se uma situação em que a mensagem pode ser interpretada de diferentes maneiras, dependendo do contexto e da perspectiva do ouvinte. Veja alguns exemplos:
- No humor
"Você vai à festa hoje à noite?"
Resposta com duplo sentido: "Depende, é uma festa surpresa ou você já sabe que eu vou?"
"O que você acha da situação atual?"
Resposta com duplo sentido: "Está complicado, mas eu sempre gosto de uma boa complicação."
- No dia a dia
"Como está o clima lá fora?"
Resposta com duplo sentido: "Está quente, mas eu me refresquei com um sorvete."
- Nas redes sociais
Veja esse tweet viral da rede X (nosso querido ex-Twitter):
Neste caso, houve um problema de compreensão na história, porque se interpretoua frase “ele (o cachorro) está com nós” como “o cachorro está com a gente”. A confusão fez a pessoa achar que era um pedido de resgate para o doguinho! Mas, na verdade, era apenas a preposição COM + o substantivo NÓS (o plural de nó). Imagine a confusão? 🤌
Polissemia ou palavras de duplo sentido
As possibilidades de significado da palavra NÓS já foram exploradas numa música de Chico Buarque, cuja letra foi tema de uma questão da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Confira um trecho:
"Tira as mãos de mim/Éramos nós/Estreitos nós/Enquanto tu/És laço frouxo"
A questão falava sobre polissemia, recurso textual no qual existe a possibilidade de uma palavra ou expressão ter dois ou mais significados. Sempre que alguém usa isso intencionalmente, a polissemia está em jogo como um recurso estilístico.
A intenção é o diferencial entre a polissemia e o vício de linguagem conhecido como ambiguidade. Podemos dizer que a ambiguidade é o duplo sentido problemático, que atrapalha o texto, pois torna a interpretação difícil e até impossível, alongando as frases sem necessidade.
Por exemplo: em “Maria, leve João ao aeroporto em seu carro”, não é possível saber se o carro é de João ou da própria Maria. Essa construção está ambígua e, no vestibular, talvez representasse uma comunicação ineficaz.
Dupla interpretação proposital
Mas há casos em que se usa de propósito a possibilidade da dupla interpretação, situação que podemos observar de maneira mais analítica e menos crítica. Confira:
A campanha dessa agência de publicidade teve a finalidade de promover a importância do investimento em marketing para a garantia do sucesso (ou pelo menos do não fracasso total) de uma empresa. Para isso, utilizou a polissemia presente na expressão “fechar um negócio” para impactar os receptores da mensagem.
“Fechar um negócio”, normalmente, sugere a formalização de uma venda, de um acordo ou de uma prestação de serviço. Mas essa expressão somada à frase “o seu” deixa nítida a ideia de empreendimento falido. Essa escolha de palavras é um recurso textual e visa a atenção do público-alvo por meio do impacto.
Exemplo de questão
Em 2009, o vestibular da UERJ cobrou o assunto:
Ideologia
Meu partido/ É um coração partido/
E as ilusões estão todas perdidas /
Os meus sonhos foram todos vendidos/
Tão barato que eu nem acredito/
Eu nem acredito/
Que aquele garoto que ia mudar o mundo (Mudar o mundo)/
Freqüenta agora as festas do “Grand Monde”/
Meus heróis morreram de overdose/
Meus inimigos estão no poder/
Ideologia - Eu quero uma pra viver (Cazuza e Roberto Frejat), 1 988
Nos dois primeiros versos, a palavra partido é empregada com significados diferentes. Esta repetição produz, no texto, o seguinte sentido:
a) revela o nível de alienação do sujeito poético
b) reafirma a influência coletiva na esfera pessoal
c) acrescenta elementos pessoais a um tema social
d) projeta um sentimento de desencanto sobre a política
Resposta: [D]
A questão trabalha as possibilidades semânticas da palavra PARTIDO na letra da música. Em “meu partido” remete-nos ao viés político do eu lírico. Já em “coração partido”, o significado se relaciona com a decepção. Podemos depreender que há uma decepção por parte do eu lírico em relação ao cenário político que vive.
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Gostou de saber mais sobre o tema? Continue estudando e observando esses conceitos no seu dia a dia (nas músicas, nos textos, nas placas, nas conversas…), porque eles são recorrentes nas provas, viu?
Vamos com tudo. Não tem jeito, vai passar! 💪🏼❤️