27 figuras de linguagem que você precisa conhecer
Comparação, metáfora, gradação, paradoxo... A lista é grande, viu? Explicamos as que mais aparecem no Enem e vestibulares, com exemplos para você não se confundir mais!
Acessibilidade
As figuras de linguagem estão presentes na maioria dos nossos diálogos do dia a dia. E sabe quem ama falar delas? O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e os vestibulares em geral.
Essa aqui você já deve ter repetido várias vezes, sem perceber do que se tratava:
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas / De povo heroico o brado retumbante”
Quem nunca cantou esse trecho do hino nacional brasileiro (incontáveis vezes) sem entender que a frase se estrutura de uma forma totalmente diferente. E a culpa é do hipérbato! Trata-se de uma das figuras de linguagem que promove a inversão dos elementos em uma oração ou período.
Quer ver outros exemplos? Neste artigo, vamos estudá-las a fundo! Antes de começar, fica aí o desafio: qual seria a ordem direta desse trecho do hino? No final a gente conta, beleza?
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O que são figuras de linguagem?
As figuras de linguagem fazem parte do que chamamos de linguagem conotativa. São recursos criativos que desviam o uso convencional das palavras, conferindo às expressões significado ou impacto diferentes.
Essas ferramentas ajudam os escritores a enriquecer a linguagem, estimular a imaginação e criar uma conexão mais profunda com a mensagem transmitida, além de, é claro, dar mais expressividade ao texto, especialmente aos literários.
Tipos de figura de linguagem
É possível caracterizar as figuras de linguagem em quatro grupos principais: figuras de palavras (ou semânticas), figuras de pensamento, figuras de sintaxe (ou construção) e figuras de som (ou harmonia). Cada uma dessas categorias possui suas próprias subcategorias, resultando em uma ampla gama de recursos literários que enriquecem a comunicação. Vamos conferir todas elas!
Figuras de palavras ou semânticas
Nessas figuras de linguagem há o emprego de termos com sentido conotativo ou figurado. Ou seja, elas extrapolam o significado original das palavras.
1. Comparação
Estabelece semelhança entre dois elementos a partir de termos comparativos como "tal qual", "igual a" e "como". Exemplo:
O sorriso dela brilha como o sol da manhã.
2. Metáfora
Faz uma comparação implícita ao associar dois elementos sem usar termos comparativos, transferindo características de um para o outro. Exemplo:
Seus olhos são duas estrelas no céu da minha vida.
3. Metonímia
Substitui um termo por outro com o qual tem relação de proximidade ou associação. Essas substituições podem ser feitas de diferentes maneiras. Exemplos:
- a parte pelo todo
Ele ganha a vida com as mãos. - o autor pela obra
Li um novo Machado de Assis. - o efeito pela causa
Respeite meus cabelos brancos. - o continente pelo conteúdo
Bebi um copo de suco. - a marca pelo produto
Comprei Nescau para você. - o abstrato pelo concreto
A juventude está ansiosa por mudanças. - a classe pelo indivíduo
A escola toda foi ao zoológico. - o singular pelo plural (e vice-versa)
O aluno deverá ficar em silêncio durante a prova. - a matéria pelo objeto
Usei todo o meu ouro para impressioná-la.
4. Catacrese
Uso de uma palavra fora de seu significado original por falta de termo mais adequado. Exemplo:
O pé da mesa está quebrado.
5. Antonomásia ou perífrase
Descreve algo ou alguém sem utilizar o nome direto, geralmente por meio de características marcantes. Exemplo:
O rei dos animais (referindo-se ao leão).
6. Sinestesia
Mistura de diferentes sensações percebidas pelos sentidos. Exemplo:
Gosto amargo do fracasso.
Figuras de pensamento
Essas figuras exploram sentimentos, pensamentos e emoções do emissor. Elas representam significados que vão além do que está explicitamente dito.
7. Gradação
Apresentação de ideias em progressão crescente ou decrescente. Exemplo:
Ele estava feliz, radiante, extasiado.
8. Ironia
Expressão de sentido contrário ao que se realmente quer dizer. Exemplo:
Que belo dia para pegar um resfriado.
9. Hipérbole
Exagero intencional para enfatizar uma ideia. Exemplo:
Morri de vergonha quando todos riram.
10. Eufemismo
Suavização de uma expressão para amenizar o impacto. Exemplo:
Ele nos deixou (para dizer "ele faleceu").
11. Antítese
Oposição de ideias ou palavras. Exemplo:
O amor é fogo que arde sem se ver.
12. Paradoxo
Combinação de palavras que levam a uma ideia contraditória. Exemplo:
Amor é ferida que dói e não se sente.
13. Apóstrofe
Invocação de seres inanimados, ideias ou seres ausentes. Exemplo:
Ó mar, que mistérios guardas em tuas profundezas?
14. Personificação
Atribuição de ações/sentimentos humanos àquilo que é inumano. Exemplo:
A lua sorriu para mim.
Figuras de sintaxe ou construção
Correspondem a figuras de linguagem construídas por frases que se afastam da estrutura gramatical comum.
15. Hipérbato
Inversão da ordem direta dos elementos na oração. Exemplo:
Coragem, desisti de ter! (na ordem direta, ficaria: desisti de ter coragem!)
16. Anacoluto
Quebra da estrutura sintática ao isolar uma expressão ou termo no início da frase. Exemplo:
Essas pessoas de hoje em dia, não se pode mais confiar em ninguém.
17. Anáfora
Repetição de palavras ou expressões para reforçar o sentido. Exemplo:
É pau, é pedra, é o fim do caminho.
18. Pleonasmo
Uso redundante de palavras para enfatizar uma ideia. Exemplo:
Chorei um choro de alívio.
19. Elipse
Omissão de um termo facilmente subentendido pelo contexto. Exemplo:
Na vida vida, tanta dor, tanto sofrimento (subentende-se o verbo “haver”).
20. Polissíndeto
Repetição excessiva de conjunções. Exemplo:
Ele chegou e sentou e conversou e riu e partiu.
21. Assíndeto
Omissão de conjunções, conferindo fluidez e agilidade ao texto. Exemplo:
Ele chegou, sentou, conversou, riu, partiu.
22. Silepse
A concordância das palavras se faz pela lógica e não segundo as regras gramaticais. Exemplo:
A turma assistiram ao filme. (“turma” é composto por várias pessoas, por isso o verbo no plural)
23. Zeugma
Omissão de um termo que já foi expresso anteriormente. Exemplo:
Ele gosta de música; ela, de pintura. (omitiu-se o verbo “gostar” na segunda oração)
Figuras de som ou harmonia
Essas figuras exploram os sons das palavras.
24. Aliteração
Repetição de sons consonantais em palavras próximas.
O rato roeu a roupa do rei de Roma.
25. Assonância
Repetição de sons vocálicos em palavras próximas. Exemplo:
A lua surgiu e iluminou a rua vazia.
26. Paronomásia
Uso de palavras semelhantes em sons, mas com significados diferentes, parônimas. Exemplo:
O docente aplicou a prova aos discentes.
27. Onomatopeia
Palavra que imita o som do que representa. Exemplo:
Tic-tac, já passavam das seis.
Como as figuras de linguagem caem no Enem e nos vestibulares
Dominar as figuras de linguagem não apenas enriquece sua expressão escrita, mas também é fundamental para ter sucesso no Enem e nos vestibulares.
Nas provas, as questões de interpretação de texto frequentemente pedem para identificar e analisar esses recursos. Dominá-los, então, aumenta a compreensão das nuances dos textos propostos.
Para as provas de vestibular, é importante conhecer a maioria das figuras de linguagem. No caso do Enem, você deve ficar de olho em duas específicas: metáfora e ironia.
Exemplo 1
Mulher proletária
Jorge de Lima
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
1forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas,
salvar o teu proprietário.
LIMA Jorge de. Obra Completa (org. Afrânio Coutinho). Rio de Janeiro: Aguilar, 1958.
(Uece) Analisando o verso do poema “forneces braços para o senhor burguês” (ref. 1), a figura de linguagem que aí se destaca é
a) catacrese, uma vez que, como não há um termo específico para o poeta expressar, de forma adequada, a ideia de “fornecer filhos”, ele se utiliza da expressão “fornecer braços”, lógica semelhante ao que se costuma usar em termos como “braços da cadeira”.
b) metonímia, tendo em vista que o termo “braços” mantém com o termo “filhos” uma relação de contiguidade da parte pelo todo para o poeta destacar que o que mulher proletária fabrica é só uma parte do seu rebento, os “braços”, utilizados para proveito da atividade capitalista, e não “filhos”, na sua completude como seres humanos, para estabelecer com estes uma relação afetiva.
c) hipérbole, já que o verso quer enfatizar a ideia de exagero de alguém fornecer inúmeros braços para o trabalho da indústria mercantil.
d) prosopopeia, pois o poeta está personificando a máquina como se fosse uma mulher produtora de filhos.
Resposta: [B]
A palavra "braços" simboliza os filhos da mulher proletária, que são explorados como mão de obra pelo senhor burguês. Dessa forma, os "braços" assumem a posição desses filhos (e principalmente das tarefas que eles desempenham), estabelecendo uma relação de substituição que é típica da metonímia, de uma parte para representar o todo.
Exemplo 2
(Enem 2022) Urgência emocional
Se tudo é para ontem, se a vida engata uma primeira e sai em disparada, se não há mais tempo para paradas estratégicas, caímos fatalmente no vício de querer que os amores sejam igualmente resolvidos num átimo de segundo. Temos pressa para ouvir “eu te amo”. Não vemos a hora de que fiquem estabelecidas as regras de convívio: somos namorados, ficantes, casados, amantes?
Urgência emocional. Uma cilada. Associamos diversas palavras ao AMOR: paixão, romance, sexo, adrenalina, palpitação. Esquecemos, no entanto, da palavra que viabiliza esse sentimento: “paciência”. Amor sem paciência não vinga. Amor não pode ser mastigado e engolido com emergência, com fome desesperada. É uma refeição que pode durar uma vida.
MEDEIROS, M. Disponível em: http:/porumavidasimples.blogspot.com.br. Acesso em: 20 ago. 2017 (adaptado).
Nesse texto de opinião, as marcas linguísticas revelam uma situação distensa e de pouca formalidade, o que se evidencia pelo(a)
a) impessoalização ao longo do texto, como em: “se não há mais tempo”.
b) construção de uma atmosfera de urgência, em palavras como: “pressa”.
c) repetição de uma determinada estrutura sintática, como em: “Se tudo é para ontem”.
d) ênfase no emprego da hipérbole, como em: “uma refeição que pode durar uma vida”.
e) emprego de metáforas, como em: “a vida engata uma primeira e sai em disparada”.
Resposta: [E]
A utilização de metáforas ("a vida engata uma primeira e parte em velocidade"; "o amor não pode ser consumido com pressa e devorado com urgência"; "uma refeição que pode se prolongar por toda uma vida") reflete a perspectiva da autora ao colocar em dúvida a necessidade de agir com pressa em situações dos relacionamentos amorosos atualmente.
Resposta do desafio
Com essas 27 figuras de linguagem no seu repertório, você está pronto para enfrentar qualquer questão. Para praticar mais, busque identificá-las nos textos e experimente usá-las em sua própria escrita.
Ah! Não esqueci do desafio, viu? A ordem direta do trecho presente no hino nacional, em que identificamos um hipérbato, é a seguinte:
“As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico”
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