Biologia Ciências da Natureza

Relações ecológicas: o que são, tipos e resumo completo

Conheça as classificações das relações ecológicas, suas características e como são cobradas em questões de vestibulares e do Enem

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Ecologia é o campo da Biologia dedicado ao estudo das interações dos organismos entre si (relações ecológicas) e o ambiente em que vivem. Além disso, busca compreender e observar os processos envolvidos entre tais relações e os diversos ciclos da matéria, os impactos que cada ser vivo (incluindo os seres humanos) possui sobre o ambiente em que habita e como afeta os demais indivíduos ao seu redor.

As relações ecológicas são uma peça-chave no entendimento da biosfera como um sistema interconectado e intrincado, da qual nós como espécie humana também fazemos parte, além de ser um tema incrível para repertórios de redações!

Ficou interessado e quer saber mais? Então, pegue sua água ou seu café e vamos lá! ✍️

O que são relações ecológicas?

Na natureza, cada ser vivo realiza uma rede complexa de interações com outros indivíduos. Essas interações recebem o nome de relações ecológicas ou alelobiose e podem ocorrer entre indivíduos da mesma espécie (relações ecológicas intraespecíficas ou homotípicas), ou entre indivíduos de espécies diferentes (relações ecológicas interespecíficas ou heterotípicas).

O delicado equilíbrio de um ecossistema mantém-se, em boa parte, pelo conjunto das interações entre as criaturas de um determinado meio. Isso torna o entendimento de tais interações fundamental para compreender temas adjacentes.

Alguns exemplos de temas são agroflorestas, corredores biológicos, branqueamento de corais, introdução de espécies exóticas invasoras, cadeias alimentares, aquecimento global, surgimento de novas doenças e aumento de surtos, epidemias e pandemias.

Agora vem com a gente entender melhor as classificações das relações ecológicas e suas consequências!

Atenção! Ecobiose são as relações que os organismos estabelecem com o meio em que vivem. Não confunda com alelobiose, que é sinônimo de relações ecológicas. 🤓

Relações ecológicas harmônicas e desarmônicas

Antes de nos aprofundarmos nas classificações, é importante entender as diferenças entre as relações harmônicas e desarmônicas - e são mais simples do que parecem! Se as relações ecológicas não provocam prejuízos para nenhuma das partes envolvidas, tratam-se de relações harmônicas.

As desarmônicas, por outro lado, são aquelas em que pelo menos uma das partes sofre prejuízos. Na nomenclatura, utiliza-se os sinais + para indicar efeito positivo, - para efeito negativo e 0 para efeito neutro.

Anotou aí? 📝 Então, vamos estudar as características de cada uma!

Relações interespecíficas harmônicas

As relações interespecíficas harmônicas são aquelas que não provocam prejuízos para as partes envolvidas e ocorrem entre espécies diferentes. Conheça algumas classificações.

  • Simbiose (+/?): definida como uma relação a longo prazo entre organismos de espécies diferentes, não há um consenso sobre a sua definição exata, com alguns autores considerando apenas relações mutuamente benéficas e outros considerando relações positivas-neutras e até mesmo positiva-negativa (como o parasitismo) como tipos de relações simbióticas.

    O termo é um sinônimo de “associação íntima estabelecida entre indivíduos de espécies diferentes”.

Gif do personagem Venom
O personagem "Venom" é um ótimo exemplo de simbiose, pois assim como o conceito varia entre autores na vida real, a natureza da relação entre o personagem e seus diversos hospedeiros nos quadrinhos varia bastante! (Imagem: Reprodução/GIPHY)

  • Mutualismo (+/+): relação positiva-positiva, envolvendo a associação obrigatória entre organismos de espécies diferentes, onde ambos organismos são beneficiados e não sobrevivem separadamente. Exemplos: líquens e corais.
Líquens coloridos sobre rocha
Líquens coloridos sobre rocha vistos de cima (Imagem: Adobe Stock)

  • Protocooperação (+/+): relação positiva-positiva envolvendo a associação não obrigatória entre organismos, onde ambos são beneficiados, mas a relação é facultativa. Ou seja, ambos podem sobreviver sem essa interação, mas suas chances de sobrevivência ou qualidade de vida aumentam consideravelmente com ela. Exemplos: carrapateiro e capivara; anêmona e paguro.

Ave carrapateiro nas costas de uma capivara
Capivara e carrapateiro (Imagem: Adobe Stock)
Anêmona e paguro no fundo do mar
Anêmona presa ao paguro, uma espécie de crustáceo (Imagem: Adobe Stock)

  • Comensalismo (+/0): relação positiva-neutra, onde um é beneficiado e o outro não é afetado. Tradicionalmente, o benefício é considerado alimentar com o organismo beneficiado (comensal) se alimentando dos restos deixado pelo organismo neutro.

    Mas alguns autores consideram como termo geral para todas as relações positivas-neutras, com as demais relações sendo subtipos de comensalismo. Exemplos: tubarão e rêmora; leões e hienas; abutres e humanos.

  • Inquilinismo (+/0): relação positiva-neutra, onde um organismo se beneficia usando o outro como moradia sem prejudicá-lo. Quando ocorre entre plantas, denomina-se epifitismo. Exemplos: peixe-palhaço e anêmona; orquídeas e bromélias em árvores.
Bromélia rosa
A bromélia é um exemplo de epifitismo (Imagem: Adobe Stock)

  • Forésia (+/0): relação positiva-neutra, onde um indivíduo transporta outro sem prejuízo. Exemplo: carrapicho.

  • Metabiose (+/0): relação positiva-neutra, onde a presença de um indivíduo propicia as condições necessárias para a existência e sobrevivência do outro. Exemplos: neve marinha; poliquetas e carcaça de baleia; microecossistemas na pelagem de preguiças.
Poliquetas em carcaça
As poliquetas podem se prender às carcaças (Imagem: Reprodução/Nick Higgs/BBC)

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Relações interespecíficas desarmônicas

As relações interespecíficas desarmônicas, por sua vez, são aquelas entre espécies diferentes que geram prejuízos para alguma parte. São elas:

  • Predação (+/-): relação positiva-negativa, onde um organismo (predador) se alimenta de outro (presa), geralmente provocando sua morte. Quando o organismo consumido é uma planta, chamamos essa relação de herbivoria.

  • Parasitismo (+/-): relação positiva-negativa de alta proximidade, onde um organismo (parasita) é metabolicamente dependente de outro (hospedeiro), vivendo dentro de ou sobre o indivíduo. Podem ser ectoparasitas, que vivem na superfície do hospedeiro (como piolhos e carrapatos), ou endoparasitas, que vivem dentro do corpo do hospedeiro (como vermes intestinais).

  • Competição Interespecífica (-/-): quando organismos disputam recursos em comum, por exemplo, espaço físico, água, alimento, oxigênio, etc. É negativa para ambos devido ao gasto energético, estresse e lesões físicas resultantes da competição.

  • Amensalismo (-/0): Também chamada de antibiose é uma relação negativa-neutra, onde um organismo produz substâncias ou gera condições que causam a morte ou inibem o desenvolvimento de outro organismo. Exemplos: fungo Penicillium sp e bactérias; eucalipto e gramíneas.

  • Esclavagismo (+/-): também chamada de sinfilia, é uma relação positiva-negativa onde um organismo explora os produtos do trabalho de outro. Exemplos: abelhas e humanos; fragatas e gaivotas.
Fragata preta e gaivota branca voando no céu
Fragata e gaivota voando no céu (Imagem: Adobe Stock)

Apesar da classificação, há um exemplo de esclavagismo que destoa entre os autores. É o caso das formigas e pulgões. Os pulgões são parasitas que extraem seiva de raízes de plantas e liberam excretas açucaradas. As formigas consomem essas excretas e levam até os formigueiros que, geralmente, são construídos próximos às raízes.

Apesar de parecer prejudicial, a relação é considerada por muitos autores como harmônica e mutuamente positiva para as duas espécies. 🐜

Relações intraespecíficas harmônicas

As relações intraespecíficas harmônicas ocorrem entre indivíduos da mesma espécie e são classificadas em sociedade e colônia.

No caso da sociedade, trata-se de uma relação positiva-positiva (+/+), onde indivíduos vivem em grupos e colaboram juntos para a sua sobrevivência. Eles são anatomicamente separados, com divisão de trabalho e estratificação social. Assim, há uma divisão de castas para cada função desempenhada na sociedade. Alguns exemplos são abelhas, cupins e formigas.

Formigas operárias junto com formiga rainha representando relações ecológicas
As diferenças anatômicas permitem diferenciar a formiga-rainha das operárias (Imagem: Adobe Stock)

Assim como a sociedade, a colônia também é um relação positiva-positiva (+/+). Porém, os indivíduos são unidos anatomicamente e com divisão de funções entre eles. Além disso, as colônias podem ser isomorfas ou heteromorfas.

Os indivíduos das colônias isomorfas não têm diferenças anatômicas, como corais e algas volvox. Já os das colônias heteromorfas possuem diferenças anatômicas. É o caso da caravela-portuguesa e da obélia.

Caravela-portuguesa no mar
Caravela-portuguesa no mar (Imagem: Adobe Stock)

Relações intraespecíficas desarmônicas

Como o nome indica, são relações em que há prejuízo para algum dos indivíduos envolvidos. O canibalismo (+/-) ocorre quando um organismo se alimenta de outro da mesma espécie. Essa relação não é comum, mas muitas vezes acontece devido a gatilhos específicos. Alguns casos são o do louva-deus e da viúva-negra.

Já na competição intraespecífica (-/-), organismos da mesma espécie disputam recursos em comum, como território, alimento, parceiros sexuais, etc. Logo, isso afeta ambos os lados negativamente devido ao gasto de energia, estresse e lesões físicas.

Resumo: relações ecológicas

  • Relações ecológicas são interações entre seres vivos de um determinado ambiente.
  • As interações são harmônicas quando não causam prejuízos para as partes envolvidas. Quando há prejuízo para um ou mais organismos, são desarmônicas.
  • Relações interespecíficas ou heterotípicas ocorrem entre diferentes espécies.
  • Relações intraespecíficas ou homotípicas ocorrem entre indivíduos da mesma espécie.
  • Os sinais +, - e 0 indicam, respectivamente, se as relações ecológicas são positivas, negativas ou neutras.
  • Simbiose, mutualismo, protocooperação, comensalismo, inquilinismo, forésia e metabiose são exemplos de relações ecológicas interespecíficas harmônicas.
  • Predação, parasitismo, competição interespecífica, amensalismo e esclavagismo são relações ecológicas interespecíficas desarmônicas.
  • Sociedade e colônia são relações ecológicas intraespecíficas harmônicas.
  • Canibalismo e competição intraespecífica são relações ecológicas intraespecíficas desarmônicas.
  •  Todos os seres vivos realizam uma teia intrincada de relações ecológicas entre si, as quais moldam a dinâmica do ecossistema, com alterações no meio afetando as relações realizadas nele e vice-versa

Como as relações ecológicas caem no Enem e nos vestibulares

No Enem, a ecologia não cai, ela despenca! 💥 Por ser extremamente abrangente, consegue abordar tópicos de zoologia, botânica, evolução, biotecnologia e doenças, o que gera ganchos interdisciplinares e contextualizações que o Enem simplesmente adora.

Quando cobrada de forma direta, as questões exigem conceitos básicos das relações ecológicas, as diferenças entre elas e a capacidade de analisar a situação-problema e identificar as relações presentes e fatores envolvidos.

Em questões indiretas, é comum surgir desdobramentos ou consequências de possíveis alterações ecológicas, que podem ser positivas (biorremediação, recuperação de áreas degradadas e novas práticas biotecnológicas) ou negativas (perda de biodiversidade, transmissão de doenças e desbalanço nos ciclos biogeoquímicos).

Nas redações, temas ambientais e sociais relacionados à sustentabilidade e saneamento básico não são incomuns. Por isso, ter um conhecimento sólido sobre as relações ecológicas fornece bons argumentos, além de analogias e metáforas bem originais. 😎 A seguir, saiba como as relações ecológicas caem nas questões do Enem.

Exemplo 1

(Enem PPL 2019) Algumas espécies de orquídeas apresentam flores que mimetizam vespas fêmeas, de forma que vespas machos são atraídas na tentativa de acasalamento. Ao chegarem às flores, os machos frequentemente entram em contato com o pólen da flor, sem prejuízo de suas atividades. Contudo, como não conseguem se acasalar, esses machos procuram novas fêmeas, podendo encontrar novas flores e polinizá-las. Essa interação ecológica pode ser classificada como

a) comensalismo.
b) amensalismo.
c) mutualismo.
d) parasitismo.
e) simbiose.

Resposta: [A]
O aluno deve identificar, pelas afirmações do enunciado, que se trata de uma relação ecológica interespecífica positiva-neutra, onde a orquídea é favorecida, sendo polinizada, e a vespa não é beneficiada ou prejudicada no processo. Nessa questão, o termo comensalismo é sinônimo de relações ecológicas interespecíficas harmônicas do tipo positiva-neutra em geral e, ainda, é a única alternativa com esse tipo de relação ecológica.

Exemplo 2

(Enem 2022) A extinção de espécies é uma ameaça real que afeta diversas regiões do país. A introdução de espécies exóticas pode ser considerada um fator maximizador desse processo. A jaqueira (Artocarpus heterophyllus), por exemplo, é uma árvore originária da Índia e de regiões do Sudeste Asiático que foi introduzida ainda na era colonial e se aclimatou muito bem em praticamente todo o território nacional.

Casos como o dessa árvore podem provocar a redução da biodiversidade, pois elas

a) ocupam áreas de vegetação nativa e substituem parcialmente a flora original.
b) estimulam a competição por seus frutos entre animais típicos da região e eliminam as espécies perdedoras.
c) alteram os nichos e aumentam o número de possibilidades de relações entre os seres vivos daquele ambiente.
d) apresentam alta taxa de reprodução e se mantêm com um número de indivíduos superior à capacidade suporte do ambiente.
e) diminuem a relação de competição entre os polinizadores e facilitam a ação de dispersores de sementes de espécies nativas.

Resposta: [C]
A questão contextualiza as relações ecológicas com impactos ambientais, nesse caso, extinção de espécies e introdução de espécies exóticas.

Assim, cobra do aluno o entendimento de que espécies exóticas invasoras estabelecem de forma disruptiva uma série de relações ecológicas desarmônicas no novo ecossistema em que estão inseridas, como predação, parasitismo, amensalismo e competição interespecífica pelos recursos do meio, limitando ou depletando recursos disponíveis no ecossistema às espécies nativas. No caso da jaqueira, isso resulta na redução/substituição total ou parcial da flora nativa.

Exemplo 3

(Enem 2022) Os resultados de um ensaio clínico randomizado na Indonésia apontaram uma redução de 77% dos casos de dengue nas áreas que receberam o mosquito Aedes aegypti infectado com a bactéria Wolbachia. Trata-se da mesma técnica utilizada no Brasil pelo Método Wolbachia, iniciativa conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz — Fiocruz. Essa bactéria induz a redução da carga viral no mosquito e, consequentemente, o número de casos de dengue na área, sendo repassada por meio do cruzamento entre os insetos. Como essa bactéria é um organismo intracelular e o vírus também precisa entrar nas células para se reproduzir, ambos necessitarão de recursos comuns.

COSTA, G. Agência Fiocruz de Notícias. Estudo confirma eficácia do Método Wolbachia para dengue. Disponível em: https://portal.fiocruz.br. Acesso em: 3 jun. 2022 (adaptado).

Essa tecnologia utilizada no combate à dengue consiste na
a) predação do vírus pela bactéria.
b) esterilização de mosquitos infectados.
c) alteração no genótipo do mosquito pela bactéria.
d) competição do vírus e da bactéria no hospedeiro.
e) inserção de material genético do vírus na bactéria.

Resposta: [D]
O enunciado afirma que a bactéria e o vírus são organismos intracelulares que utilizam recursos em comum e que o número de vírus diminui onde há a presença da bactéria, cobrando do candidato o entendimento de que o texto descreve uma relação clara de competição interespecífica (espécies diferentes disputando por recursos em comum). Ou seja, o número de vírus diminui por não haver recursos o suficiente para ambos.

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Alexandre Santana

Licenciado em Ciências Biológicas pela UFSC e colaborador no blog do Aprova Total.

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