Filosofia e Sociologia

Indústria cultural: origem, conceitos e principais teóricos

Entenda tudo sobre a teoria desenvolvida pela Escola de Frankfurt na primeira década do século 20, mas que ainda é muito presente em nosso dia a dia

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Você sabe o que é a indústria cultural e como ela se relaciona com a cultura de massa? Sabe o que são os meios de comunicação de massa e como estão presentes no nosso cotidiano? E já se perguntou se eles têm algum impacto na sua vida?

Neste artigo, vamos entender o que significa o conceito de indústria cultural, qual o contexto histórico em que surgiu, as suas características e os seus objetivos, além de compreender como aparece no Enem e nos vestibulares! Vamos nessa?

O que é a indústria cultural? Entenda o conceito

O conceito de indústria cultural foi desenvolvido pelos filósofos da Escola de Frankfurt, Theodor Adorno e Max Horkheimer, na década de 1940. Ele se refere ao processo no qual a industrialização nas sociedades capitalistas passou a atingir e influenciar a produção artística e cultural.

Revelando-se pela primeira vez na obra A dialética do esclarecimento (1947), a indústria cultural se trata da transformação dos elementos culturais em mercadoria com o objetivo de que todos consumam a mesma coisa, reproduzindo as ideologias dominantes do sistema capitalista sem que os indivíduos as questionem.

De acordo com os pensadores, esse processo se desenvolveu principalmente após a Segunda Revolução Industrial, alinhando-se à produção em larga escala. Assim, visando o consumo, inicia-se a transformação da cultura em um produto industrial.

Escola de Frankfurt e a indústria cultural

A Escola de Frankfurt era um grupo de intelectuais da Alemanha que atuava no Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt na primeira metade do século 20.

Seus maiores expoentes são Theodor Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973). Dentre outros pensadores, podemos destacar Walter Benjamin (1892-1940), Herbet Marcuse (1898-1979), Erich Fromm (1900-1980) e Jürgen Habermas (1929).

Foto de Adorno e Horkheimer, pais da indústria cultural, se cumprimentando dando as mãos
Max Horkheimer e Theodor Adorno, pais da indústria cultural, em Heidelberg (Alemanha) em 1964 (Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons/Jeremy J. Shapiro)

O interesse em comum era desenvolver uma teoria crítica da sociedade capitalista por meio da influência e legado marxista, abordando as distintas áreas das Ciências Humanas na análise das condições de desenvolvimento da cultura de massas no início do século 20.

No contexto de uma Alemanha devastada pelo nazifascismo da Segunda Guerra Mundial, o objeto de estudo da Escola de Frankfurt se volta à teoria da propaganda fascista, gerando uma rica análise sobre os meios de comunicação de massa (na época, representados pelo cinema, pela TV e pelo rádio) e disseminação da ideologia dominante.

Os estudos dos teóricos da Escola de Frankfurt versam, então, sobre a cultura e os meios de comunicação de massa, e a sua implicação na arte, mídia e linguagem por meio de uma perspectiva crítica da sociedade e do sistema econômico vigente.

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Características da indústria cultural

São três as principais características da indústria cultural:

  1. Mercantilização: trata-se da transformação dos bens culturais em mercadoria. Há a produção de bens culturais em larga escala;
  2. Massificação: refere-se à homogeneização, isto é, à padronização e uniformização dos bens culturais, fortalecendo gostos e valores já estabelecidos;
  3. Ideologização: controle ideológico exercido pela indústria cultural na transmissão de ideias específicas, desempenhando um poder alienante sobre os indivíduos.

Indústria cultural x Cultura de massa

A indústria cultural e a cultura de massa estão intrinsecamente relacionadas na transformação da cultura em produto, sendo a segunda gerada no interior da primeira.

A cultura de massa é típica de sociedades mercantilizadas na medida em que nasce na primeira metade do século 20 como parte integrante do capitalismo. Ela é produzida através do processo de massificação dos bens culturais promovido pela indústria cultural.

Esse processo ofusca as características da cultura erudita (práticas, costumes e saberes produzidos pelas elites) e da cultura popular (produzidos pelas classes populares). Isso porque retira o rigor da primeira e a espontaneidade da segunda ao homogeneizar os aspectos específicos de cada uma e transformá-los em um produto artificial e sem valor cultural com o objetivo de consumir e lucrar.

Por fim, os meios de comunicação de massa dizem respeito aos veículos pelos quais ocorrem a divulgação da cultura de massa, tais como: a TV, o rádio, o cinema, os jornais, etc. Nesse sentido, exercem um papel essencial de disseminação ideológica, visto que os indivíduos recebem a informação centralizada de forma passiva, isto é, sem reflexão.

Quais os objetivos da indústria cultural?

Podemos resumir os objetivos da indústria cultural em lucro consequente da necessidade de consumo gerada através da produção em larga escala de bens culturais.

Mas essa produção em larga escala só é possível pelo rompimento da arte com o valor da contestação acerca dos conflitos da realidade social, posto que sua função se volta para o acúmulo de capital e da reprodução da ideologia do sistema capitalista.

Assim, a cultura de massa promove a perda da individualidade como consequência da padronização, tornando o indivíduo alienado sobre sua própria condição de existência, sendo manipulado pelos meios de comunicação de massa nos momentos de lazer e diversão, pois é uma diversão que não visa a reflexão sobre os conflitos da sociedade capitalista, mas sim a sua reprodução.

Ilustração de homens dando corda em outros representando a manipulação da indústria cultural
Ilustração representando a alienação (Imagem: Reprodução/Adobe Stock)

A ideia de um produto cultural

Um produto cultural é todo tipo de expressão cultural produzida para atingir uma grande parcela da população. Alguns exemplos são novelas, filmes, séries, músicas, reality shows, etc. E na sociedade de massas, são as empresas que criam esses produtos.

As companhias, por sua vez, não buscam o desenvolvimento do pensamento crítico sobre os conflitos que cercam a realidade. Além de mascará-la (promovendo a alienação), possuem como objetivo o lucro, a construção de uma identidade homogênea e a transmissão de determinadas ideologias que sustentam as relações de dominação na sociedade capitalista.

Alguns exemplos de produtos culturais no Brasil foram os romances de folhetim nos jornais impressos, as radionovelas na década de 1940 e até mesmo o programa radiofônico A Hora do Brasil durante o governo de Getúlio Vargas.

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Resumo: indústria cultural

  • A indústria cultural é um conceito desenvolvido pelos filósofos Theodor Adorno e Max Horkheimer na década de 1940;
  • O conceito se refere à forma pela qual a arte e a cultura estão sujeitas ao sistema capitalista, sendo transformadas em mercadorias (produtos culturais);
  • Possui três principais características: mercantilização, massificação e ideologização;
  • A indústria cultural desenvolve a cultura de massa e se sustenta pelos meios de comunicação de massa;
  • A indústria cultural aliena o indivíduo sobre as relações de dominação da sociedade capitalista;
  • Os principais objetivos são a produção em larga escala e o lucro.

Como a indústria cultural cai no Enem e nos vestibulares

No Enem e nos vestibulares, o conteúdo relacionado à indústria cultural é frequentemente utilizado para avaliar a compreensão crítica dos estudantes sobre a influência do sistema capitalista na produção cultural e no lazer.

Os textos de Theodor Adorno e Max Horkheimer são utilizados para explorar as ideias de como a cultura de massa é moldada pela lógica da indústria, tornando a arte um produto comercializado sujeito às demandas do mercado.

As questões buscam verificar se os candidatos conseguem identificar os conceitos-chave, como a relação entre o tempo livre e o consumo de produtos culturais, a autonomia do artista em relação ao mercado e a compreensão da arte como parte integrante da reprodução cultural e econômica da sociedade.

O entendimento crítico desses conceitos é essencial para uma análise das dinâmicas culturais contemporâneas e das implicações da indústria cultural. A seguir, vamos ver alguns exemplos de exercícios.

Exemplo 1 - Enem

(Enem 2023) A diversão é o prolongamento do trabalho sob o capitalismo tardio. Ela é procurada por quem quer escapar ao processo de trabalho mecanizado para se pôr de novo em condições de enfrentá-lo. Mas, ao mesmo tempo, a mecanização atingiu um tal poderio sobre a pessoa em seu lazer e sobre a sua felicidade, ela determina tão profundamente a fabricação das mercadorias destinadas à diversão que essa pessoa não pode mais perceber outra coisa senão as cópias que reproduzem o próprio processo de trabalho.

ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Zahar 1997.

No texto, o tempo livre é concebido como

a) consumo de produtos culturais e elaborados no mesmo sistema produtivo do capitalismo.

b) forma de realizar as diversas potencialidades da natureza humana.

c) alternativa para equilibrar tensões psicológicas do dia a dia.

d) promoção da satisfação de necessidades artificiais.

e) mecanismo de organização do ócio e do prazer.

Resposta: [A]
Adorno e Horkheimer afirmam que, no capitalismo industrial avançado, uma cultura de consumo serve para assegurar lucro constante, permeando todos os aspectos da vida. Eles destacam que a indústria cultural, viabilizada pela mídia de massas, propaga a ideia de que a felicidade e a satisfação estão diretamente ligadas ao consumo de mercadorias.
Como resultado, preenche-se o tempo livre dos indivíduos com a busca por entretenimento e produtos de consumo, como televisão, filmes, música, roupas, carros, entre outros.
Dessa forma, o trabalhador, durante o tempo que não está dedicado ao trabalho, acaba consumindo os produtos desse trabalho, o que perpetua sua exploração.

Exemplo 2 - Vestibular

(Unioeste 2017) O ensaio “Indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das massas”, de Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, publicado originalmente em 1947, é considerado um dos textos essenciais do século XX que explicam o fenômeno da cultura de massa e da indústria do entretenimento. É uma das várias contribuições para o pensamento contemporâneo do Instituto de Pesquisa Social fundado na década de 1920, em Frankfurt, na Alemanha. Um ponto decisivo para a compreensão do conceito de “Indústria Cultural” é a questão da autonomia do artista em relação ao mercado.

Assim, sobre o conceito de “indústria cultural”, é correto afirmar:

a) A arte não se confunde com mercadoria, e não necessita da mídia e nem de campanhas publicitárias para ser divulgada para o público.

b) Não há uniformização artística, pois, toda cultura de massa se caracteriza por criações complexas e diversidade cultural.

c) A cultura é independente em relação aos mecanismos de reprodução material da sociedade.

d) A obra de arte se identifica com a lógica de reprodução cultural e econômica da sociedade.

e) Um pressuposto básico é que a arte nunca se transforma em artigo de consumo.

Resposta: [D]
No sistema capitalista, inclusive a arte está submetida à lógica de mercado, servindo como uma mercadoria que deve gerar lucro.

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Gabrielle Meireles

Licenciada em Ciências Sociais pela UFSC e colaboradora no blog do Aprova Total.

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