Coesão e coerência: competências 3 e 4 da redação do Enem

Entre os critérios de textualidade, há uma divisão em dois grupos: os contextuais, que são externos ao textos, e os textuais, que são de ordem linguística, na qual estão presentes a coesão e a coerência, elementos fundamentais para a construção de um bom texto. 

Nesta publicação, abordaremos as diferenças entre esses conceitos essenciais, além de explicar como coesão e coerência são avaliadas na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e quais são os principais elementos coesivos e fatores de coerência para garantir um notão! 👊

Entendendo os conceitos de coesão e coerência

No livro A coesão textual (2018), Ingedore Koch, mestre e doutora em Ciências Humanas: Língua Portuguesa pela PUC (SP), define coesão textual como um fenômeno que se constitui por meio de elementos (ou mecanismos) que estabelecem relações de sentido entre as ideias de um texto.

Essa percepção parte da ideia de que o texto é muito mais do que um emaranhado de frases e palavras, sendo, então, uma manifestação da linguagem que se constitui como uma unidade de sentido.

Koch também aponta que a coerência textual pode estabelecer um sentido para o texto, por meio de uma relação lógica entre as ideias. Ou seja, todas as partes devem ser harmônicas e as ideias precisam ter relação umas com as outras, de modo que não haja discordância, contradição e incoerência.

Quais as diferenças entre coerência e coesão?

Enquanto a coesão assegura, de modo superficial, as relações textuais por meio de recursos coesivos, a coerência se volta para o sentido. Veja alguns exemplos a partir da análise de três textos:

Texto 1

A vida tem duas faces:

positiva e negativa

o passado foi duro

mas deixou o seu legado

(...)

Aceitar suas limitações

e me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vida

e delas me sirvo.

Aprendi a viver. 

(Cora Coralina)

Texto 2

Na sexta-feira, Raul viu um cartaz anunciando um show de Milton Nascimento para a próxima terça-feira, dia 04/04/89, às 21h, no ginásio do Uberlândia Tênis Clube, na Getúlio Vargas. Por ser fã do cantor, ficou com muita vontade de assistir à apresentação. Chegando em casa, falou com o pai, que lhe deu dinheiro para comprar o ingresso.

Na terça-feira, dia do show, Raul preparou-se, escolhendo uma roupa com que ficasse mais à vontade durante o evento. Foi para o UTC com um grupo de amigos. Lá, havia uma multidão em grande expectativa aguardando o início do espetáculo, que começou com meia hora de atraso. Mas valeu a pena: a música era da melhor qualidade, fazendo todos vibrarem e participarem do show.

Após o final, Raul voltou para casa com um vazio no peito pela ausência de todo aquele som, de toda aquela alegria contagiante.

Texto 3

João vai à padaria. A padaria é feita de tijolos. Os tijolos são caríssimos. Também os mísseis são caríssimos. Os mísseis são lançados no espaço. Segundo a teoria da Relatividade o espaço é curvo. A geometria "rimaniana" dá conta desse fenômeno.

Analisando os textos

O texto 1 está sem coesão, enquanto o texto 2 é um exemplo que tem coesão. O texto 3, por sua vez, é incoerente. Diante disso, entendemos que um texto não tem coerência quando não apresenta continuidade de sentidos, como no texto 3.

Se não houver nenhum indicativo que garanta unidade de sentido, não podemos considerar um texto, mas apenas um conjunto aleatório de palavras. Por outro lado, compreendemos que a coesão facilita a construção do sentido, como no texto 2, estabelecendo a coerência. Porém, isso não é uma condição necessária, como vimos no texto 1.

Caso você se pergunte o que há de diferente entre os textos 1 e 3, já que ambos não possuem coesão, temos a resposta:

Apesar de ambos não apresentarem marcadores linguísticos (ou elementos coesivos) que indiquem coesão, no texto 3, não há unidade de sentido. No entanto, no texto 1, essa unidade existe e conseguimos entender a mensagem, caracterizando-se, portanto, como um texto e não um amontoado aleatório de palavras.

Coesão e coerência no Enem: o que cobram as competências 3 e 4 na redação?

A competência 3 da redação do Enem avalia a capacidade de o participante selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista sobre um tema proposto. Ou seja, ela se relaciona à construção de um texto dissertativo-argumentativo.

Veja como a Matriz de Referência da Competência 3 detalha essas capacidades:

Essa competência pede que o vestibulando estruture o texto de maneira lógica, coerente e persuasiva, utilizando argumentos convincentes e fundamentados:

A competência 4 da redação do Enem, por outro lado, avalia a capacidade de o participante demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para construir uma argumentação. Ou seja, a maneira que ele se apoia em mecanismos coesivos para articular os enunciados de um texto. 

Veja como a Matriz de Referência da Competência 4 detalha os mecanismos linguísticos necessários para construção da argumentação:

Além disso, há termos importantes para a aplicação da Grade Específica da Competência 4, que são: presença de elementos coesivos; coesão intraparágrafo e interparágrafos; repetição; inadequação coesiva e monobloco. Veja como é feita a distribuição:.

Com relação aos mecanismos de coesão intraparágrafo e interparágrafos, avalia-se, respectivamente, a presença de elementos coesivos, adequadamente mobilizados, dentro do parágrafo; e a presença de elementos coesivos, adequadamente mobilizados, entre os parágrafos.

Coesão textual: tudo o que você precisa saber

Para haver coesão textual, algumas regras e mecanismos devem ser seguidos.

Mecanismos e elementos de coesão: conheça os principais

1. Referência (pessoal, demonstrativa e comparativa): pode ser exofórica ou endofórica;
2. Substituição (nominal, verbal e frasal);
3. Elipse (nominal, verbal e frasal);
4. Conjunção;
5. Lexical: pode ocorrer por meio de reiteração ou de colocação.                                                                                                                                             

Importante 👀
Conjunções permitem estabelecer relações entre orações, períodos e parágrafos de um texto. Isso acontece por meio de marcadores denominados conectivos, além de outras partículas de ligação. 

No Enem, os conectivos podem ter a função de operadores argumentativos. Eles recebem essa denominação porque são responsáveis pelo encadeamento dos enunciados, contribuem para a articulação dos argumentos ao longo do texto e determinam essa orientação argumentativa.

Por isso, quando bem empregados, são importantes para garantir a coesão textual não apenas nos textos dissertativos-argumentativos, mas nos demais gêneros.

Coerência textual: principais conceitos

Na construção da coerência mobilizamos fatores de diversas ordens. Entre eles, destacam-se elementos linguísticos, conhecimento de mundo, inferências, ideias compartilhadas, além da contextualização, que envolve situação, informação, intertextualidade, intencionalidade e aceitabilidade.

Há alguns conceitos essenciais para entender:

• não contradição
  As ideias não devem ser contraditórias;
  
• não tautologia
  O texto deve apresentar as ideias de forma clara, concisa e direta, evitando, ao máximo, vícios de linguagens e repetição de palavras e termos;

[Significado: tautologia refere-se ao uso de distintas palavras para expressar uma mesma ideia.]

• relevância
  O texto deve obedecer a uma ordem de relação entre as ideias. Caso isso não ocorra, e se apresente uma ideia isolada das demais, haverá incoerência, com a compreensão total dos sentidos prejudicada.

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Dicas para uma redação coesa e coerente no Enem

Sabendo que a coesão e a coerência são bases fundamentais para qualquer texto, principalmente para a redação do Enem, é importante estar atento às principais dicas para escrever de forma organizada e assertiva, com o objetivo de facilitar a compreensão do leitor. Aqui vão algumas dicas:

1. USO ADEQUADO DE CONECTIVOS
   Recorra aos conectivos para criar ligações entre as ideias colocadas na redação;
   
2. USO COERENTE DOS TEMPOS VERBAIS 
   Mantenha a concordância dos tempos verbais ao longo do texto. Mudanças bruscas podem gerar confusão, além de prejudicar o entendimento do leitor. 
   
3. REFERÊNCIA PRONOMINAL 
   Evite as repetições desnecessárias. Para isso, faça a substituição de substantivos por pronomes adequados, como ele, ela, eles ou aquilo. Isso torna a redação mais fluida e evita redundâncias. 
   
4. CUIDADO COM A AMBIGUIDADE 
   Procure evitar construções que gerem duplo sentido na interpretação. Certifique-se de que suas frases são claras, sem espaço para dúvidas sobre o que está tentando expressar.
   
5. CONSTRUÇÃO DE PERÍODOS 
   Fuja dos períodos longos e complexos, caso não se sinta confortável. A má construção de períodos pode dificultar a compreensão, por isso, divida as ideias em frases curtas e objetivas. 
   
6. USO CONSISTENTE DE REFERÊNCIAS 
   Quando mencionar algo no texto, garanta que haja uma referenciação anterior ou posterior que evidencie a quem ou ao que está se referindo. 

Vimos que a coerência é um elemento fundamental de textualidade e que, para um texto ser coerente, ele deve obedecer uma relação lógica entre as ideias. Nesse contexto, a coesão, ainda que seja muito importante e que ajude a estabelecer a coerência, não é indispensável.

Por fim, lembre-se de que, na competência 4 da redação do Enem, avalia-se: a presença concreta de elementos coesivos dentro dos parágrafos e entre eles; se esses elementos se repetem; e se estão mobilizados de maneira adequada.