Espaço agrário no Brasil: características e desafios
O que sabemos sobre as áreas para cultivo, pastagem, moradia de agricultores e infraestrutura agrícola, reguladas por normas que organizam o uso da terra no Brasil

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O Brasil, com suas vastas terras e diversificadas práticas agrícolas, apresenta um dos territórios mais complexos e desiguais do mundo. Para quem está se preparando para o Enem ou os vestibulares, é essencial ter um resumo claro e objetivo sobre o tema espaço agrário, que envolve aspectos físicos sociais, econômicos e políticos do campo brasileiro.
Neste conteúdo, vamos abordar desde a formação histórica até os desafios atuais da questão agrária, explorar as diferentes formas de uso da terra, o contraste entre agricultura familiar e agronegócio, e os principais conflitos que marcam a estrutura fundiária no país.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O que é o espaço agrário?
O espaço agrário é a área destinada à produção agrícola, abrangendo cultivos, pastagens e florestas, além de moradias dos agricultores e infraestruturas e equipamentos relacionados à atividade comercial agrícola.
No entanto, esse espaço não se limita à produção em si, também envolve a estrutura fundiária, composta por normas e leis que regulam sua organização.
A geografia agrária é o ramo da ciência geográfica que analisa as interações entre os seres humanos e o meio rural. Ela engloba atividades econômicas como a produção agropecuária e os modos de vida, bem como a criação e a transformação do espaço geográfico nesse contexto.
Preocupa-se também com os impactos ambientais decorrentes das diferentes formas de uso do solo, sendo a terra, enquanto recurso natural, o foco dos estudos nesse campo.
Dados e principais características do espaço agrário brasileiro
A área média dos estabelecimentos agropecuários no Brasil é de 69 hectares, variando significativamente entre as regiões. Embora a maioria pertença a pequenos proprietários, eles ocupam uma fração muito menor das terras, refletindo a concentração fundiária no país.
Por um lado, 81% dos estabelecimentos agropecuários possuem até 50 hectares, mas ocupam apenas 12,8% da área total. No extremo oposto, apenas 0,3% dos estabelecimentos têm mais de 2.500 hectares, ocupando 32,8% da área total.
A pecuária é a principal atividade no campo, especialmente nos grandes estabelecimentos, seguida pela lavoura temporária. Juntas, elas estão presentes em mais de 80% dos estabelecimentos do país, e, nos que possuem mais de 2.500 hectares, chegam a 90%.
No caso da lavoura temporária, mandioca e soja refletem as desigualdades regionais: a mandioca é predominante em estabelecimentos de até 50 hectares (64,2%), enquanto a soja se concentra em propriedades com mais de 2.500 hectares (39,5%).
Em relação à condição legal da terra, as propriedades particulares predominam em todos os grupos, com índices superiores a 80%. Assentamentos e ocupações são praticamente restritos a estabelecimentos de até 50 hectares (91,4% e 92,3%, respectivamente), especialmente no Nordeste.
Essas desigualdades também são influenciadas pelo sexo do produtor. Estabelecimentos dirigidos por mulheres ocupam menos de 10% das áreas totais, apesar de representarem cerca de 18% do total. Como resultado, a área média dessas propriedades é significativamente menor, apenas 36 hectares, quase a metade da média dos estabelecimentos geridos por homens.

Questão agrária no Brasil
O principal problema que afeta o espaço agrário brasileiro é a concentração de terras. De acordo com dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de 2018, das 6.574.830 propriedades rurais registradas no Brasil, 1,47% possuem mais de mil hectares.
Essas propriedades correspondem a 57,69% de toda a área rural, que totaliza mais de 775 milhões de hectares, evidenciando uma grande concentração territorial em poucas propriedades.
A maior parte desses latifúndios está localizada em áreas de fronteira agrícola, regiões para as quais houve a expansão de monoculturas, como a da soja, hoje a principal commodity agrícola do país. Esse movimento é especialmente notável na região Norte, que atualmente abriga essa nova fronteira.
Com a modernização agrícola, muitos trabalhadores e pequenos e médios produtores tiveram que migrar para os centros urbanos, devido à eliminação de postos de trabalho, à alta competitividade e a problemas como grilagem de terras.
Como consequência, os principais conflitos e focos de violência no campo se concentram justamente nessas regiões de expansão da fronteira agrícola e mineral, afetando pequenos produtores, posseiros e comunidades tradicionais.
Reforma agrária
A reforma agrária está no centro da questão agrária no Brasil, tendo como objetivo a desapropriação de latifúndios improdutivos e a redistribuição dessas terras. A responsabilidade por essa tarefa é do Incra, que cria assentamentos para alocar famílias sem terras ou condições de comprá-las.
Os dados mais recentes do instituto informam que 972.289 famílias estão distribuídas em 9374 assentamentos, totalizando 87.978.041,18 hectares.
A exploração acelerada dos recursos naturais e a abertura de novas áreas produtivas por meio de práticas como queimadas também têm urgência no debate sobre a questão agrária no Brasil.
Latifúndios e minifúndios
Os latifúndios são grandes extensões de terra, frequentemente voltadas para a produção em larga escala, com foco na exportação de commodities, como a soja, o milho e a cana-de-açúcar. Essas propriedades tendem a concentrar vastos recursos naturais e, muitas vezes, utilizam práticas de monocultura, empregando tecnologias avançadas e mão de obra reduzida.
No Brasil, os latifúndios são historicamente associados à concentração fundiária. Poucas pessoas ou famílias detêm grandes territórios, resultando em desigualdade no acesso à terra e nos benefícios da produção agrícola.
Por outro lado, os minifúndios são pequenas propriedades rurais, geralmente administradas por famílias que dependem da agricultura e da pecuária de subsistência para sobreviver.
Nessas áreas, é comum o cultivo de diferentes tipos de culturas para suprir necessidades alimentares e, em menor escala, abastecer o mercado interno. No entanto, devido ao tamanho reduzido das terras, os minifúndios enfrentam limitações para expandir a produção e alcançar maior eficiência econômica.
Muitas vezes, esses pequenos proprietários encontram dificuldades para garantir uma renda adequada e competitividade no mercado.
Enquanto os latifúndios são associados à produção em massa e à exportação, os minifúndios estão mais ligados à subsistência e ao abastecimento interno. A principal diferença entre eles reside no tamanho da propriedade e nas possibilidades de desenvolvimento econômico.
🌱 Essa disparidade reflete um dos maiores problemas do setor agrário brasileiro: a concentração de terras em grandes propriedades, enquanto pequenos agricultores lutam para manter sua subsistência.
Produção agrícola e espaço agrário
O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com destaque para a produção de soja, milho, cana-de-açúcar e café, além de laranja, trigo e arroz.
A soja, essencial para a alimentação animal e amplamente exportada, lidera a produção, seguida pelo milho, utilizado principalmente como ração. A cana-de-açúcar, além de produzir açúcar, impulsiona o setor de biocombustíveis, com o Brasil sendo o maior produtor de etanol. Já o café posiciona o país como o maior exportador mundial.
No setor pecuário, o Brasil se destaca pela criação de bovinos. Com um rebanho de mais de 214 milhões de cabeças, é o segundo maior exportador de carne bovina do planeta.
A criação de frangos, por sua vez, coloca o país como maior exportador global de carne de frango. Além disso, há produção de suínos na região Sul, que contribui significativamente para o mercado interno e externo.
🌱 A agricultura e a pecuária, que representam cerca de 26% do PIB brasileiro, são essenciais para a economia nacional, respondendo por quase metade das exportações.
Agricultura familiar
De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, 77% dos estabelecimentos agrícolas do Brasil estão inseridos na agricultura familiar, somando cerca de 4 milhões de unidades.
No entanto, essas propriedades representam apenas 23% da área total rural, correspondendo a aproximadamente 81 milhões de hectares. O setor emprega mais de 10 milhões de pessoas, sendo uma fonte significativa de trabalho no campo.
Agronegócio
O agronegócio brasileiro é um dos mais importantes no cenário global, especialmente no que se refere às exportações. Por outro lado, o setor é alvo de críticas que se dividem em duas vertentes: uma econômica-social e outra ambiental.
No aspecto ambiental, há conflitos entre ruralistas e ambientalistas, que acusam o agronegócio de promover a expansão desordenada da fronteira agrícola, comprometendo áreas de preservação.
Já no âmbito social, o Movimento Sem Terra (MST) e outros criticam o setor por aumentar a concentração fundiária e travar políticas de reforma agrária.
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Espaço agrário: desafios e problemas
O espaço rural brasileiro enfrenta múltiplos desafios, que vão desde a destruição de biomas e recursos naturais, até a concentração fundiária e a desapropriação de áreas indígenas e pequenos agricultores.
São fatores que geram um cenário de tensão, ameaças e assassinatos de ativistas ambientais, lideranças indígenas e quilombolas que lutam por seus territórios e direitos.
É evidente que o agronegócio desempenha um papel central na economia do Brasil, sendo um dos motores das exportações e responsável por uma significativa parcela do PIB nacional. Aliado à mineração, que também ocorre em áreas rurais, essas atividades econômicas concentram grande parte do poder econômico e político no campo.
Contudo, essa concentração de poder e riqueza não se dá sem consequências. Ao mesmo tempo que impulsiona a economia, expulsa milhares de pessoas do campo, marginalizando comunidades tradicionais, pequenos produtores e povos indígenas.
Diante disso, a realidade do espaço rural brasileiro exige buscar alternativas que garantam não só desenvolvimento econômico, mas também sustentabilidade ambiental e justiça social. Políticas públicas para a reforma agrária, proteção de territórios indígenas e quilombolas, e incentivo à agricultura familiar são o caminho para reverter esse cenário desigual.
Resumo: espaço agrário brasileiro
Listamos aqui os principais pontos sobre o tema.
- O espaço agrário inclui áreas para cultivo, pastagem, moradia de agricultores e infraestrutura agrícola, reguladas por normas que organizam o uso da terra no Brasil.
- A concentração de terras é um problema, com a maioria dos pequenos estabelecimentos ocupando uma fração mínima do território, enquanto grandes propriedades dominam vastas áreas.
- A pecuária lidera as atividades no campo, seguida pela lavoura temporária. Mandioca é comum nas pequenas propriedades, enquanto a soja predomina nos grandes estabelecimentos.
- Embora a agricultura familiar represente 77% dos estabelecimentos agrícolas, as propriedades familiares ocupam apenas 23% da área rural, revelando uma desigualdade no acesso à terra.
- A modernização no campo levou à migração de trabalhadores para as cidades, eliminando empregos rurais e contribuindo para a expulsão de pequenos agricultores.
- Latifúndios englobam a produção em massa e exportação, enquanto os minifúndios se dedicam à agricultura de subsistência, mas enfrentam limitações econômicas.
- A reforma agrária busca redistribuir terras improdutivas, mas esbarra na resistência de grandes latifundiários e na pressão exercida pelo agronegócio.
- O abastecimento de alimentos e a geração de empregos no campo estão associados à agricultura familiar, que enfrenta dificuldades pela modernização e competitividade no mercado.
- O agronegócio representa grande parte do PIB e das exportações brasileiras, mas está no centro das críticas sobre impactos ambientais e concentração de terras.
- Desenvolver o espaço rural brasileiro requer políticas públicas que promovam sustentabilidade, equidade social e proteção às comunidades tradicionais.
Como o espaço agrário é cobrado no Enem e nos vestibulares
Em resumo, o espaço agrário é o 2º assunto que mais aparece em Geografia do Enem. Os exercícios propõem desde analisar as produções brasileiras até compreender as raízes da desigualdade e dos conflitos no rurais no Brasil.
Já na Fuvest, o tema é o 1º mais cobrado, junto com espaço brasileiro. Aqui, é comum questões ligadas à Revolução Verde e ao histórico de espaço agrário brasileiro.
Veja exemplos de questões:
Exemplo 1
(Enem 2022) Olhar O Brasil e não ver o sertão
É como negar o queijo com a faca na mão
Esse gigante em movimento
Movido a tijolo e cimento
Precisa de arroz com feijão
Que tenha comida na mesa
Que agradeça sempre a grandeza
De cada pedaço de pão
Agradeça a Clemente
Que leva a semente
Em seu embornal
Zezé e o penoso balé
De pisar no cacau
Maria que amanhece o dia
Lá no milharal
VANDER LEE. Do Brasil, In: Pensei que fosse o céu: ao vivo. Rio de Janeiro: Indie Records, 2006 (fragmento).
A letra da canção valoriza uma dimensão do espaço rural brasileiro em sua relação com a cidade ao ressaltar sua função de
a) fornecer a mão de obra qualificada.
b) incorporar a inovação tecnológica.
c) preservar a diversidade biológica.
d) promover a produção alimentar.
e) garantir a moradia básica.
Resposta: [D]
O trecho destaca a produção de alimentos, estabelecendo uma conexão entre o campo e a cidade. As outras alternativas estão incorretas, já que o texto não trata de temas como qualificação da mão de obra, tecnologia, biodiversidade ou moradia.
Exemplo 2
(Enem 2021) Atualmente, o Programa de Melhoramento “Uvas do Brasil” utiliza métodos clássicos de melhoramento, como seleção massal, seleção clonal e hibridações. Ações de ajuste de manejo de seleções avançadas vêm sendo desenvolvidas paralelamente ao Programa de Melhoramento, no sentido de viabilização desses materiais. Ao longo dos seus 40 anos, uma grande equipe técnica trabalhou para executar projetos de pesquisa para atender às necessidades e às demandas de diferentes atores da vitivinicultura nacional, incluindo produtores de uvas de mesa para exportação do semiárido nordestino, viticultores interessados em produzir sucos em regiões tropicais ou pequenos produtores familiares da região da Serra Gaúcha, interessados em melhorar a qualidade do vinho artesanal que produzem.
Programa de Melhoramento Genético “uvas do Brasil”. Disponível em: www.embrapa.br. Acesso em: 24 nov. 2018 (adaptado).
Para melhorar a produção agrícola nas regiões mencionadas, as técnicas referidas no texto buscaram adaptar o cultivo aos(às)
a) espécies nativas ameaçadas.
b) cadeias econômicas autônomas.
c) estruturas fundiárias tradicionais.
d) elementos ambientais singulares.
e) mercados consumidores internos.
Resposta: [D]
O texto destaca a necessidade de adaptação das técnicas de vitivinicultura a diferentes biomas, incluindo o semiárido nordestino e a Serra Gaúcha.