Como é o primeiro ano na graduação de Medicina

Quando estudamos para o vestibular, não pensamos muito sobre o que vem depois da aprovação.
Até isso envolve um pouco da ansiedade em ser aprovado: a perspectiva se limita a essa conquista. No artigo de hoje quero abrir a sua visão sobre como poderá ser seu primeiro ano na Medicina, caso escolha fazer o curso.

Claro que isso muda em cada universidade, então, meu relato é baseado no currículo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da qual sou aluno. Mesmo assim, vale a pena explicar que, em regra, o
curso médico tem três grandes ciclos: básico, clínico e internato.

O primeiro período de Medicina

Logo no primeiro semestre, tive três matérias: Moléculas da Vida, História da Medicina e Bases Biológicas da Vida. Sem dúvidas, a principal das disciplinas, por sua duração, carga horária e densidade de matérias, é Bases Biológicas da Vida, que abreviamos por BBV.

Isso porque ela reúne vários assuntos: anatomia, biofísica e bioquímica, embriologia e histologia. São tópicos de Biologia mesmo, não imediatamente relacionados à parte clínica do curso
(embora importantes), por isso podem demandar disciplina e foco em momentos de baixa motivação.

Todas as áreas que a BBV abrangem são bastante densas, e a proposta é apresentá-las de maneira mais geral, porque nos períodos subsequentes há um aprofundamento direcionado.

Como calouro de Medicina, levei uma média diária de 1h para chegar até a UFRJ, e, saindo às 17h, 2h30 para voltar para casa. O almoço ia de 12h às 13h, caso as aulas terminassem e começassem no horário previsto. Eu almoçava no bandejão (restaurante universitário), onde a refeição, que é um baita prato generoso, custa R$ 2 para alunos!

Quando cursei BBV, os horários eram realmente muito apertados, e a rotina, cansativa: de segunda à sexta, eu tinha aula das 8h às 17h, sem contar algumas atividades durante o almoço. Eu participava das monitorias de histologia e anatomia, duas matérias que têm provas práticas, respectivamente, em microscopia e em peças cadavéricas.

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Divisor de águas do vestibular para o primeiro ano de Medicina

Ao todo, foram várias provas teóricas e práticas, então a consciência sobre a necessidade de um estudo constante foi fundamental para não acumular matérias e conseguir ter alguma tranquilidade nesse período.

De modo geral, é um semestre bem intenso, que dá continuidade ao ritmo de estudos do pré-vestibular, e acaba sendo um choque de realidade.

Por outro lado, os três divisores de águas entre o estudo pré-vestibular e o primeiro período foram:

1. a rotina em si, estudando das 8h às 17h, fora as horas de deslocamento até a universidade;
2. o predomínio absoluto de provas discursivas, em lugar das objetivas, como no Enem;
3. as provas práticas, que obviamente fogem ao típico contexto de provas teóricas que nos acostumamos desde a infância.

Ainda assim, vários conceitos do Enem se revelaram indispensáveis para compreender novos ensinamentos. O principal exemplo disso sendo é a citologia e outras instâncias da Química e da Física.

Nesse ponto, apesar da sobreposição dos vários aprendizados inéditos, a preparação para o exame trouxe muitos benefícios, dos quais os principais foram a disciplina, a constância e a proatividade no estudo.

Como os assuntos expostos na Medicina, e em qualquer ciência real, são extensos e estão em constante atualização, ter esses atributos — em especial a consciência do seu papel no aprendizado — reflete diretamente no aproveitamento do curso.

O segundo período

No segundo semestre, temos duas matérias: Sistema Nervoso e Sistema Cardiovascular e Respiratório. Os
horários ficam muito mais complacentes, com blocos livres que ocupam toda a segunda-feira e a tarde da quarta-feira.

Outro ponto positivo é a mudança da BBV, ampla e diversificada, para abordagens mais específicas e
contextualizadas, com foco em três sistemas fundamentais. A introdução da fisiologia, bastante relacionada à biofísica, traz correlações clínicas e farmacológicas, que deixam as coisas mais interessantes.

Porém, nem tudo é tão simples: as matérias em si tratam de tópicos por vezes complexos, e que requerem horas e horas de leituras aprofundadas para que se possa desenvolver o raciocínio necessário e compreender os cenários propostos nas questões.

Somando isso ao fato de que, após o período inicial, ficamos minimamente habituados ao ambiente da universidade, minha percepção desse semestre foi muito boa, e o aprendizado também.

Minhas impressões ao final do 2º período

Apesar de todas as variáveis, não tive decepções com o curso, porque ao compreender a função e o
momento do ciclo básico, minhas expectativas ficaram bem administráveis e o conhecimento foi se mostrando fundamental.

Ter passado um ano no curso também dá uma dimensão menos exagerada do caminho a ser trilhado. O que antes parecia uma tarefa eterna, “já” foi concluída em um sexto!

Recado para os futuros calouros de Medicina: sem querer romantizar o processo, que exige, de maneira distinta do vestibular, seus sacrifícios, posso dizer que é um sonho realizado estar no curso. Esse primeiro ano de Medicina foi uma amostra bastante positiva!