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Redação da Uerj 2024: a memória é um escudo contra o pior do homem

Nesta coluna, Carol Mendonça discute a proposta de redação da Uerj 2024, que tem como indicação o livro "O menino do pijama listrado"

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No próximo dia 3 de dezembro (domingo), a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) aplicará seu Exame Discursivo, composto por três provas - uma redação e dois blocos de disciplinas específicas, de acordo com a graduação escolhida pelo candidato.

Nesta etapa, indica-se a leitura dos romances Coração, cabeça e estômago, de Camilo Castelo Branco e O menino do pijama listrado, de John Boyne. A leitura do primeiro é imprescindível para responder às questões de Língua Portuguesa e Literatura, enquanto o segundo livro é base do tema da redação. É sobre isso que Carol Mendonça vai falar. Mas, antes, vamos relembrar como é essa prova!

Prova de redação da Uerj

Segundo o edital do vestibular 2024 da Uerj, o foco da redação é discutir uma questão levantada a partir do romance O menino do pijama listrado, que admite posicionamentos diferentes.

Essa prova prioriza a capacidade de argumentação do candidato, pois entende que é um importante requisito da vida acadêmica. A partir disso, é possível colocar em prática a articulação de informações e ideias, e os recursos expositivos e persuasivos da linguagem.

Para a estrutura, o aluno deve considerar o texto dissertativo-argumentativo, em prosa, com o mínimo de 20 e o máximo de 30 linhas. Avalia-se, então, os os seguintes aspectos:

  • habilidade de leitura e interpretação para a reconstrução de textos em diversos níveis;
  • domínio do gênero “dissertação”;
  • construção da argumentação;
  • emprego de formas e estruturas linguísticas de acordo com a norma padrão.

Sobre o tema da redação, por Carol Mendonça

O livro O menino do pijama listrado, de John Boyne, é mais uma obra que traz o horror da 2ª Guerra Mundial como pano de fundo. Eu vi o filme homônimo novamente no último fim de semana e fiquei me perguntando - como assim um assunto tão pesado aparece em diferentes expressões artísticas há tanto tempo? Sempre fazendo sucesso, sempre chamando atenção.

E por que será que a Uerj escolheu essa obra para o exame discursivo de 2024? Por que um escritor irlandês? O que esse assunto tem em comum com o estilo de abordagem da instituição? Ora, ora, ora…

Lembrei um tema de redação da Uerj que causou muita polêmica em 2016: “A necessidade de conhecer experiências históricas de violência e opressão para a construção de uma sociedade mais democrática”.

Acho que a resposta está aí!

Lendo sobre o autor, percebi que, apesar de não possuir qualquer ascendência judaica, Boyne demonstra a preocupação de recontar a História (com letra maiúscula) para difundir conhecimento e provocar empatia. Para que a memória esteja viva e para que grandes desumanidades não aconteçam outra vez.

O tema da redação da Uerj 2016 deixa claro que essa preocupação também é uma marca da instituição: a valorização das memórias com finalidade social.

Somando isso aos últimos temas, percebemos o engajamento da Uerj na luta contra os discursos de ódio e as fake news. As propostas foram:

  • “O princípio 'certeza não é verdade' deve orientar as pessoas na condução de suas vidas públicas e privadas?” (2022)
  • “A mentira programada é uma arma política válida para conquistar o poder e sustentá-lo?” (2021)

A exaltação da História (da pesquisa, dos fatos, dos dados e do compromisso com a verdade) é ilustrada na obra de Boyne e vai além.

A perspectiva leve e pura das crianças prende o leitor ou o espectador e aguça a empatia. O tema sempre será importante, porém, quando, abordado com maestria e talento, certamente gera o impacto necessário a uma sociedade mais consciente dos erros passados e alerta para não repeti-los.

Exemplo

Confira um fragmento do texto motivador para o tema da redação da Uerj em 2016 e perceba como ele agrega a esta ideia:

“Ou seja, é preciso saber narrar. Discursos facilmente se banalizam, tornam-se solenes, sentimentais em excesso, causando o efeito contrário do que pretendem. Chegar à sensibilidade do público, causando empatia, desconforto e revolta ativa, o que é objetivo de qualquer militância antiviolência, demanda não apenas reproduzir a verdade dos fatos. A mensagem não é nada sem um receptor disposto a entendê-la, por mais pungentes que sejam as vítimas”.

Depois de pensar sobre isso tudo, acredito que a obra pode aparecer na proposta de redação da Uerj partir dessa perspectiva de valorização dos fatos em prol da nossa evolução como sociedade.

Caso seja diferente, creio que temos, no mínimo, um argumento MUITO quente para vários assuntos tangentes. O que você acha?

Grande beijo da prof. e vem, Uerj! 💪

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Carol Mendonça

Graduada em Letras pela UnigranRio e especialista em Língua Portuguesa para vestibulares e concursos, tem mais de 10 anos de experiência profissional. É autora do livro "Português para desesperados" e reúne mais de 400 mil seguidores no Instagram, além de 143 mil inscritos no seu canal do YouTube!

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Graduada em Letras pela UnigranRio e especialista em Língua Portuguesa para vestibulares e concursos, tem mais de 10 anos de experiência profissional. É autora do livro "Português para desesperados" e reúne mais de 400 mil seguidores no Instagram, além de 143 mil inscritos no seu canal do YouTube!

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