Febre maculosa: o que você precisa entender sobre a doença

Nos últimos dias, a confirmação dos casos de febre maculosa na região de Campinas (SP), tem despertado dúvidas e insegurança entre os brasileiros. Quatro pessoas que estiveram na cidade para uma festa na Fazenda Santa Margarida foram infectadas e vieram a óbito. Há, ainda, outra internada e pelo menos 16 casos suspeitos de pacientes que passaram pelo local.

Diante dos alertas recentes sobre a doença, vamos explorar os principais aspectos dela e entender como se proteger?

O que é febre maculosa?

Segundo o Ministério da Saúde, a febre maculosa é uma doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável. Importante reforçar que ela não é transmitida no contato de pessoa para pessoa, mas na picada do carrapato-estrela ou micuim (Amblyomma cajennense) infectado principalmente pela bactéria Rickettsia rickettsii.

Se não for tratada, a também conhecida como doença do carrapato, pode levar à morte em um curto espaço de tempo.

Carrapato causador da febre maculosa

O carrapato-estrela tende a ser encontrado em hospedeiros como capivaras, cavalos, antas e tamanduás. Ele é comum no Cerrado e em áreas degradadas da Mata Atlântica, por isso muito se fala sobre a relação entre a proliferação da doença com o avanço do desmatamento na região, que hoje possui apenas 25% da sua cobertura original.

Esse carrapato é um aracnídeo com um longo ciclo de vida, começando como ovo e seguindo até a sua maturidade sexual. Nesse processo, ele passa por três hospedeiros - por isso o chamamos de trioxeno.

É o carrapato fêmea que se alimenta das proteínas do sangue do animal por 10 dias até a maturidade dos ovos, quando se desprende da pele e cai no chão.

No chão, essa fêmea pode colocar até oito mil ovos ao longo de 25 dias e, dependendo da temperatura, eles eclodem após um mês. Então, saem novamente as larvas hematófagas (que se alimentam de sangue) em busca de um novo hospedeiro. Alimentadas, elas voltam para o chão e vão repetindo o ciclo - que pode durar até 1 ano.

É por meio desse hábito alimentar que o carrapato-estrela ingere a bactéria Rickettsia rickettsii presente no sangue dos animais contaminados.

Casos da doença no Brasil

No período de janeiro de 2013 a junho de 2023, o Brasil registrou 2.059 casos de febre maculosa, com a maioria (1.292) ocorrendo no Sudeste. Em 2023, foram 53 casos no país, com oito mortes, todas também no Sudeste. Segundo a Agência Brasil, dos 30 casos registrados nessa região, quatro foram em Minas Gerais, oito no Espírito Santo, seis no Rio de Janeiro e 12 em São Paulo.

Ciclo da contaminação

De acordo com a nota técnica divulgada pela Coordenação-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial no Brasil em 2022, o risco de infecção para humanos relaciona-se a fatores de exposição que favorecem o contato com os carrapatos. Isso se dá, principalmente, em áreas rurais, durante pescarias, contato com capivaras, atividades de lazer ou trabalho.

Conforme o documento, as capivaras são hospedeiros amplificadores da Febre Maculosa Brasileira:

Esses animais atuam diretamente na manutenção de novas linhagens de carrapatos infectados pela bactéria durante a "rickettsemia", período que facilita a permanência do agente etiológico na natureza.

Perfil epidemiológico

Juntos, Governo Federal, Ministério da Saúde e Sistema Único de Saúde, a partir de seus departamentos e coordenações específicas, divulgaram dados que constroem o perfil epidemiológico da febre maculosa do Brasil entre 2007 e 2023:

• 70% são homens de 20 a 64 anos
• 70% dos casos necessitaram de hospitalização
• 32% dos casos foram letais
• 74% dos infectados residia na zona urbana
• 68% dos infectados frequentou ambiente de mata
• 36% foram infectados em ambiente domiciliar

Quais os sintomas da febre maculosa?

A transmissão da febre maculosa nos seres humanos ocorre quando o carrapato infectado permanece fixado na pele por, pelo menos, quatro horas. A doença apresenta início súbito com sintomas semelhantes a outras infecções, como febre alta, dores no corpo, dor de cabeça, falta de apetite e fadiga.

Em seguida, surgem manchas vermelhas elevadas por todo o corpo. Na última semana, durante a aula de revisão do Feras do Enem, o professor Jubilut falou sobre como a bactéria Rickettsia rickettsii é agressiva para o corpo humano:

Lembre-se de que é muito importante procurar um médico em caso da presença de qualquer um dos sintomas citados.

Febre maculosa tem tratamento?

O diagnóstico precoce é crucial para um tratamento eficaz, e atrasos podem levar a complicações graves e até à morte. Assim, é essencial iniciar o tratamento com antibióticos nos primeiros dois ou três dias dos sintomas e seguir com a medicação por 10 a 14 dias.

Dicas de prevenção

Para se prevenir da febre maculosa, é importante adotar medidas de proteção em áreas arborizadas, como:

• usar roupas compridas e claras;
• selar as calças nas botas;
• verificar o corpo a cada duas horas em busca de carrapatos;
• remover carrapatos com cuidado;
• evitar esmagá-los;
• e usar repelentes com proteção contra carrapatos.

Lembre-se também de que animais de estimação podem transmitir doenças. Então, tenha cuidado ao viajar para áreas rurais com seu pet e sempre use carrapaticidas.

O que fazer em caso de suspeita da doença?

Em caso de suspeita de febre maculosa, busque assistência médica imediata. Além disso, conscientize-se sobre a doença para prevenir complicações.

A febre maculosa no vestibular

No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o tema da febre maculosa no Brasil pode aparecer em questões de Biologia, saúde pública, ecologia e até mesmo nos exercícios de interpretação de texto, em trechos de artigos científicos ou reportagens. Veja exemplos:

Biologia

• Perguntas sobre os sintomas, diagnóstico e tratamento da febre maculosa no Brasil, explorando a relação entre a bactéria e o sistema imunológico humano.
• Questões sobre as medidas de prevenção, como o uso de repelentes, a verificação periódica do corpo em áreas de risco e o controle de carrapatos em animais domésticos.
• Questões sobre o ciclo de transmissão da doença, envolvendo a relação entre o carrapato-estrela, a bactéria Rickettsia rickettsii e os hospedeiros.

Saúde pública

• Questões sobre a importância da vigilância epidemiológica e do monitoramento de doenças transmitidas por vetores, como a Febre Maculosa Brasileira, para a saúde pública.
• Perguntas sobre estratégias de educação em saúde para conscientização da população sobre os riscos e medidas preventivas da doença.
• Questões sobre políticas de saúde voltadas para o controle e prevenção da Febre Maculosa Brasileira, levando em consideração fatores socioeconômicos e ambientais.

Ecologia

• Questões que explorem a relação entre a presença de carrapatos, como o Amblyomma cajennense, e a presença de hospedeiros em ecossistemas específicos, como a capivara.
• Perguntas sobre os impactos ambientais da expansão de áreas rurais e urbanas, e como isso pode influenciar a disseminação da doença.
• Questões que abordem a importância da preservação de ecossistemas e do equilíbrio ecológico na prevenção de doenças transmitidas por vetores.

Exemplos de exercícios

Selecionamos algumas questões que já abordaram o tema para ajudar nos seus estudos:

Enem 2010

A vacina, o soro e os antibióticos submetem os organismos a processos biológicos diferentes. Pessoas que viajam para regiões em que ocorrem altas incidências de febre amarela, de picadas de cobras peçonhentas e de leptospirose e querem evitar ou tratar problemas de saúde relacionados a essas ocorrências devem seguir determinadas orientações.

Ao procurar um posto de saúde, um viajante deveria ser orientado por um médico a tomar preventivamente ou como medida de tratamento

a) antibiótico contra o vírus da febre amarela, soro antiofídico caso seja picado por uma cobra e vacina contra a leptospirose.

b) vacina contra o vírus da febre amarela, soro antiofídico caso seja picado por uma cobra e antibiótico caso entre em contato com a Leptospira sp.

c) soro contra o vírus da febre amarela, antibiótico caso seja picado por uma cobra e soro contra toxinas bacterianas.

d) antibiótico ou soro, tanto contra o vírus da febre amarela como para veneno de cobras, e vacina contra a leptospirose.

e) soro antiofídico e antibiótico contra a Leptospira sp e vacina contra a febre amarela caso entre em contato com o vírus causador da doença. 

Reposta: [B]
As vacinas servem para a prevenção de doenças viróticas, como a febre amarela. Já no tratamento dos efeitos de uma mordida de cobra peçonhenta, utiliza-se o soro. Antibióticos servem para tratar doenças bacterianas, como a leptospirose. 

Pucmg 2008

O convívio do homem com certos animais tem propiciado, em alguns casos, a transmissão para o homem de doenças que podem ser fatais. Devemos, pois, tentar entender melhor os vários aspectos relacionados às doenças para que possamos evitá-las. Em relação à dengue, febre amarela e malária, é correto afirmar, EXCETO:

a) Todas essas três doenças são transmitidas por picadas das fêmeas de mosquitos, que são hematófagas.

b) A vacinação, o isolamento e tratamento de indivíduos doentes são medidas profiláticas comuns às três doenças.

c) Os agentes etiológicos das três doenças são diferentes, mas as duas doenças causadas por vírus podem apresentar o mesmo agente transmissor.

d) Os cuidados para evitar contato com os vetores devem levar em conta os diferentes horários de hematofagia apresentados por eles. 

Resposta: [B]

Enem 2019

Na família Retroviridae encontram-se diversos vírus que infectam aves e mamíferos, sendo caracterizada pela produção de DNA a partir de uma molécula de RNA. Alguns retrovírus infectam exclusivamente humanos, não necessitando de outros hospedeiros, reservatórios ou vetores biológicos. As infecções ocasionadas por esses vírus vêm causando mortes e grandes prejuízos ao desenvolvimento social e econômico. Nesse contexto, pesquisadores têm produzido medicamentos que contribuem para o tratamento dessas doenças.

Que avanços tecnológicos têm contribuído para o tratamento dessas infecções virais?

a) Melhoria dos métodos de controle dos vetores desses vírus.

b) Fabricação de soros mutagênicos para combate desses vírus.

c) Investimento da indústria em equipamentos de proteção individual.

d) Produção de vacinas que evitam a infecção das células hospedeiras.

e) Desenvolvimento de antirretrovirais que dificultam a reprodução desses vírus.

Resposta: [E]
O desenvolvimento de vacinas contra vírus portadores de RNA é complexo e difícil, porque esses agentes patogênicos são altamente mutagênicos. Os avanços tecnológicos para o tratamento das infecções viróticas é a criação de antirretrovirais que vão dificultar a multiplicação desses vírus. 

Este artigo tem caráter educativo e não substitui a consulta médica. Em caso de suspeita de febre maculosa ou qualquer outra doença, procure um profissional de saúde qualificado.