Competência 3 da redação do Enem: a defesa do ponto de vista
Argumentar bem, de forma coerente e embasada, faz toda a diferença para garantir uma nota alta

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No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a redação se baseia em 5 competências, dentre elas, a competência 3 do Enem assume um papel importante, tendo em vista que analisa, sobretudo, o processo argumentativo.
O sucesso nessa competência é essencial para tirar uma boa nota na redação no Enem, já que argumentar bem, de forma coerente e embasada, faz toda a diferença no texto, assim como é uma habilidade fundamental para diversas áreas da vida acadêmica e profissional.
Saber se expressar de maneira clara e convincente é uma qualidade valorizada em diversos contextos, como debates, entrevistas, trabalhos acadêmicos e até mesmo nas relações interpessoais.
A seguir, você confere dicas para dominar os aspectos voltados à competência 3 da redação do Enem.
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O que se avalia na competência 3 da redação do Enem?
A competência 3 da redação do Enem avalia a capacidade de o participante selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista sobre um tema proposto.
Assim, ela está relacionada à construção de um texto dissertativo-argumentativo, pois envolve a capacidade de estruturar o texto de maneira lógica, coerente e persuasiva, utilizando-se de argumentos convincentes e fundamentados.
A competência 3, de acordo com a Matriz de Referência para Redação do Enem, apresenta cinco níveis de avaliação:

Essa competência exige que o estudante desenvolva os argumentos com profundidade, evitando opiniões superficiais, generalizações ou contradições. Eles devem ter relevância para o tema e serem desenvolvidos de forma clara, com uso de conectores e uma progressão textual coerente.
Além disso, a análise crítica é um diferencial, já que o candidato deve demonstrar que compreende o tema a partir de múltiplas perspectivas, identificando causas, consequências e possíveis soluções.
Os corretores usam uma grade específica, que ajuda a tornar a avaliação mais objetiva:

Por fim, espera-se que o candidato organize as ideias de maneira estruturada, com cada parágrafo cumprindo um papel específico no desenvolvimento da tese. Ter um encadeamento lógico entre os argumentos é essencial, assim como relacionar os repertórios utilizados ao ponto de vista defendido.
Problemas que diminuem a nota na competência 3 da redação
Quando há falhas nesse processo de argumentação e defesa do ponto de vista, a nota pode ser comprometida. Veja os principais problemas que diminuem a pontuação:
Falta de clareza e desenvolvimento superficial dos argumentos
Esse erro ocorre quando o candidato apresenta argumentos genéricos, sem aprofundamento ou análise crítica. O texto precisa explicar, com detalhes, a relação entre os fatos mencionados e a tese defendida.
Exemplo:
Na frase "A educação no Brasil é ruim porque há poucos investimentos", o argumento é vago, sem dados ou explicações que sustentem a afirmação.
Contradição entre os argumentos
A coerência interna do texto é importante. Quando há contradições entre as ideias apresentadas, o corretor percebe uma falha na construção argumentativa, o que prejudica a nota.
Exemplo:
No primeiro parágrafo, o candidato defende que o acesso à tecnologia é essencial para a educação; no segundo, afirma que a tecnologia não influencia significativamente o aprendizado.
O ideal, portanto, é se manter consistente na argumentação ao longo do texto. Assim, se necessário, reestruture as ideias para evitar contradições.
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Uso de repertório sociocultural improdutivo
A competência 3 valoriza o uso de repertórios socioculturais, mas eles precisam ser pertinentes, legítimos e bem conectados à argumentação. Citações genéricas ou desconectadas do tema são consideradas improdutivas.
Exemplo:
Usar citação genérica, que não apresenta uma relação clara com o argumento: "Platão dizia que a educação é importante para a sociedade."
Veja uma reformulação:
"Segundo Platão, na obra 'A República', a educação tem papel central na formação de cidadãos críticos e conscientes. No Brasil, essa perspectiva reforça a importância de investir em práticas pedagógicas que desenvolvam o pensamento crítico dos estudantes."
Falta de progressão e organização lógica das ideias
O desenvolvimento argumentativo precisa apresentar uma sequência lógica. Quando o texto salta de uma ideia para outra sem conexão clara, a leitura se torna confusa.
Exemplo:
O candidato inicia discutindo o impacto das redes sociais na saúde mental e, no parágrafo seguinte, passa a falar sobre bullying escolar sem explicar a conexão entre os dois pontos.
Para corrigir, use conectivos lógicos, como "além disso", "nesse sentido" e "por conseguinte", a fim de estabelecer uma relação clara entre os argumentos.
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Dicas para ir bem na competência 3 do Enem
Para garantir uma boa avaliação, é importante evidenciar ao corretor que você executou um projeto de texto estratégico. Selecionamos algumas dicas que podem ajudar a conseguir isso:
- planeje o texto antes da escrita, selecionando as informações importantes que estarão presentes, como uma espécie de mapa mental do texto;
- separe os argumentos que você vai defender de acordo com a relevância deles;
- construa uma tese clara e objetiva e deixe isso claro logo na introdução do texto;
- no desenvolvimento, além de delimitar um tópico frasal, detalhe por que motivo ele ocorre, como ele ocorre e quais as consequências dele;
- lembre-se de, além de utilizar informações que reforcem o seu argumento, interpretá-las e relacioná-las à discussão do parágrafo;
- resolva, na proposta de intervenção, todos os problemas apontados na tese do texto e trazidos nos parágrafos de desenvolvimento;
- conheça os critérios de avaliação;
- evite generalizações;
- tenha cuidado com a coerência argumentativa;
- esteja por dentro de temas da atualidade.
Redação nota mil: análise da competência 3
Note como essas dicas estão presentes na redação nota mil que você encontra na Cartilha do Participante de 2022, cujo tema foi "Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil".
Introdução
O poeta modernista Oswald de Andrade relata, em "Erro de Português", que, sob um dia de chuva, o índio foi vestido pelo português - uma denúncia à aculturação sofrida pelos povos indígenas com a chegada dos europeus ao território brasileiro. Paralelamente, no Brasil atual, há a manutenção de práticas prejudiciais não só aos silvícolas, mas também aos demais povos e comunidades tradicionais, como os pescadores. Com efeito, atuam como desafios para a valorização desses grupos a educação deficiente acerca do tema e a ausência do desenvolvimento sustentável. [TESE]
Desenvolvimento
Diante desse cenário, existe a falta da promoção de um ensino eficiente sobre as populações tradicionais [TÓPICO FRASAL]. Sob esse viés, as escolas, ao abordarem tais povos por meio de um ponto de vista histórico eurocêntrico [PROBLEMA], enraízam no imaginário estudantil a imagem de aborígenes cujas vivências são marcadas pela defasagem tecnológica [PORQUE DO PROBLEMA].
A exemplo disso, há o senso comum de que os indígenas são selvagens, alheios aos benefícios do mundo moderno, o que, consequentemente, gera um preconceito, manifestado em indagações como “o índio tem ‘smartphone’ e está lutando pela demarcação de terras?” – ideia essa que deslegitima a luta dos silvícolas [COMO O PROBLEMA OCORRE]. Entretanto, de acordo com a Teoria do Indigenato, defendida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, o direito dos povos tradicionais à terra é inato, sendo anterior, até, à criação do Estado brasileiro [INFORMAÇÃO INTERPRETADA E RELACIONADA].
Dessa forma, por não ensinarem tal visão, os colégios fomentam a desvalorização das comunidades tradicionais, mediante o desenvolvimento de um pensamento discriminatório nos alunos. [CONSEQUÊNCIA]
Além disso, outro desafio para o reconhecimento desses indivíduos é a carência do progresso sustentável [TÓPICO FRASAL]. Nesse contexto, as entidades mercadológicas que atuam nas áreas ocupadas pelas populações tradicionais não necessariamente se preocupam com a sua preservação [PROBLEMA], comportamento no qual se valoriza o lucro em detrimento da harmonia entre a natureza e as comunidades em questão [PORQUÊ DO PROBLEMA].
À luz disso, há o exemplo do que ocorre aos pescadores, cujos rios são contaminados devido ao garimpo ilegal, extremamente comum na Região Amazônica [COMO O PROBLEMA OCORRE]. Por conseguinte, o povo que sobrevive a partir dessa atividade é prejudicado pelo que a Biologia chama de magnificação trófica, quando metais pesados acumulam-se nos animais de uma cadeia alimentar – provocando a morte de peixes e a infecção de humanos por mercúrio [INFORMAÇÃO INTERPRETADA E RELACIONADA].
Assim, as indústrias que usam os recursos naturais de forma irresponsável não promovem o desenvolvimento sustentável e agem de maneira nociva às sociedades tradicionais. [CONSEQUÊNCIA]
Conclusão
Portanto, é essencial que o governo mitigue os desafios supracitados. Para isso, o Ministério da Educação – órgão responsável pelo estabelecimento da grade curricular das escolas – deve educar os alunos a respeito dos empecilhos à preservação dos indígenas [RESOLUÇÃO DO PROBLEMA 1], por meio da inserção da matéria “Estudos Indigenistas” no ensino básico, a fim de explicar o contexto dos silvícolas e desconstruir o preconceito. Ademais, o Ministério do Desenvolvimento – pasta instituidora da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais – precisa fiscalizar as atividades econômicas danosas às sociedades vulneráveis [RESOLUÇÃO DO PROBLEMA 2], visando à valorização de tais pessoas, mediante canais de denúncias.
Fica evidente que houve um planejamento estratégico para a construção dessa redação. Os argumentos foram bem apresentados e apoiados em informações da época, ao citar o ministro Edson Fachin.
Além disso, não há generalizações e percebemos uma sequência lógica de argumentação, com proposta de intervenção que resolve todos os problemas apresentados na tese.