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Filosofia moderna: correntes, pensadores e características

Conheça os principais pensadores do período e as novas correntes que surgiram. Saiba ainda como o racionalismo e o empirismo moldaram o pensamento moderno.

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A filosofia moderna é um período de grande transformação intelectual, marcado pela transição do pensamento medieval para as novas abordagens sobre a razão, o conhecimento e a natureza da realidade, que se voltavam a um tipo de produção do conhecimento feita no ocidente. 

Esse marco temporal também delimita uma parte da filosofia desenvolvida na época direcionada às áreas da ciência e da política. Surgida entre os séculos 16 e 18, a filosofia moderna trouxe questionamentos profundos sobre a natureza do homem, a política e a ciência.

Neste artigo, exploraremos as principais correntes da filosofia moderna, como o racionalismo e o empirismo, além de conhecer os grandes pensadores que moldaram esse período, como Descartes, Kant e Locke.

Filosofia moderna: contextos e características

A filosofia moderna surge em um contexto de transformações políticas, sociais e científicas, como o Renascimento e a Revolução Científica.

Os pensadores da época buscavam novas formas de entender o mundo, rompendo com o pensamento científico tradicional e a escolástica medieval, que unia fé e razão para explicar os elementos teológicos. Dentre as principais características da filosofia moderna estão:

1. Valorização da razão

A confiança na capacidade humana de raciocinar e compreender o mundo sem depender exclusivamente da fé ou da tradição religiosa é um dos pilares centrais da filosofia moderna.

Filósofos como René Descartes, com seu método cartesiano, ilustram essa valorização da razão, estabelecendo a lógica como fundamento para a obtenção do conhecimento.

2. Inovação científica e o método empírico

Fortemente influenciada pela Revolução Científica, a filosofia moderna abraça o método científico como forma legítima de investigar a realidade. A observação empírica e a experimentação ganham protagonismo no desenvolvimento do conhecimento, com figuras como Francis Bacon e Isaac Newton inspirando muitos filósofos a integrarem a ciência à filosofia.

3. Questionamento da autoridade

Muitos filósofos modernos desafiaram as estruturas tradicionais de poder, como a Igreja Católica e as monarquias absolutistas. Isso se reflete tanto na crítica ao dogmatismo religioso quanto no surgimento de novas concepções políticas.

A defesa dos direitos individuais e a busca por formas mais democráticas de governo começaram a emergir com mais força, a exemplo de pensadores como John Locke e Jean-Jacques Rousseau.

4. Foco no indivíduo e autonomia

O ser humano passa a ser o centro das reflexões filosóficas, com ênfase na capacidade individual de conhecer e transformar o mundo.

A autonomia pessoal e o individualismo são valores crescentes à medida que o poder da Igreja e das monarquias absolutistas declinam. Essa mudança de perspectiva abre caminho para debates sobre liberdade, direitos humanos e igualdade.

5. Crítica à metafísica tradicional

A filosofia moderna se caracteriza por uma crítica crescente à metafísica clássica, especialmente durante o Iluminismo. Filósofos como Immanuel Kant buscaram entender os limites do conhecimento humano, defendendo que nem tudo pode ser conhecido pela razão pura.

No livro Crítica da Razão Pura (1781), Kant propõe que o entendimento humano é condicionado por estruturas mentais que moldam nossa percepção da realidade, limitando o alcance da razão.

6. Humanismo secular

O humanismo secular na filosofia moderna é marcado pela separação entre filosofia e religião. Há uma valorização da autonomia humana e da capacidade racional como base para a ética, em oposição à moralidade imposta por dogmas religiosos.

Filósofos como David Hume defendem que a moralidade deve se fundamentar na natureza humana e na experiência, em vez de se apoiar em leis divinas ou religiosas.

7. Surgimento da filosofia política moderna

A filosofia política moderna introduziu debates fundamentais sobre o contrato social, a natureza do poder e os direitos humanos.

Pensadores como Thomas Hobbes, Locke e Rousseau abordaram questões sobre a legitimidade do Estado e o papel do cidadão em um governo justo.

Hobbes, em Leviatã, defendeu que o poder absoluto do soberano era necessário para evitar o caos, enquanto Locke e Rousseau enfatizou a importância do consentimento dos governados e da liberdade individual.

8. Desenvolvimento da epistemologia

A epistemologia (Teoria do Conhecimento) ganha destaque na filosofia moderna, com questionamentos sobre como conhecemos o mundo.

Kant, por exemplo, revolucionou essa área ao propor que o sujeito impõe formas e categorias ao objeto do conhecimento, em vez de o conhecimento ser uma simples cópia da realidade externa.

O debate entre racionalismo e empirismo também dominou o período. Nesse caso, figuras como Descartes defenderam o papel primordial da razão, enquanto Locke e Hume priorizaram a experiência sensorial como base do conhecimento.

Contexto histórico

Para entender melhor a filosofia moderna, é importante conhecer o seu contexto histórico:

  • Renascimento
    Início da filosofia moderna está intimamente ligado ao Renascimento, que trouxe uma redescoberta dos textos clássicos e uma valorização do humanismo.

  • Revolução científica
    Nomes como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e Isaac Newton contribuíram para uma nova compreensão do universo, baseada na observação e experimentação. Isso provocou uma reavaliação de crenças tradicionais e abriu caminho para o uso da razão como ferramenta principal de entendimento da realidade.

  • Revoluções políticas e sociais
    A Revolução Inglesa, a Revolução Francesa e o Iluminismo foram eventos decisivos que moldaram o pensamento político e social da época, influenciando a ideia de direitos naturais e a autonomia do indivíduo.

Principais correntes da filosofia moderna

Conheça as principais correntes da filosofia moderna e seus representantes:

Racionalismo

O racionalismo acredita na razão como a principal fonte do conhecimento. Defendido por filósofos como René Descartes, sustenta que a verdade pode ser alcançada por meio do pensamento lógico, independentemente das experiências sensoriais.

Descartes, por exemplo, propôs a famosa máxima "Penso, logo existo", indicando que a existência humana se fundamenta no pensamento racional.

Empirismo

O empirismo, por sua vez, defende que todo conhecimento vem da experiência sensorial. Filósofos como John Locke e David Hume argumentavam que a mente humana é como uma "tábula rasa", ou seja, uma folha em branco que preenchemos com nossas experiências.

O empirismo refutava a ideia de conhecimentos inatos, comuns no racionalismo.

Contratualismo

O contratualismo explica que a origem da sociedade e da autoridade política está em um contrato social. Nesse contexto, filósofos como Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau propuseram teorias sobre o estado de natureza e a legitimidade do poder governamental.

Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento intelectual do século 18 que defendia a razão, a ciência e o progresso como bases para a melhoria da sociedade.

Iluministas como Voltaire, Diderot e D’Alembert lutaram pela liberdade de pensamento e contra o autoritarismo da Igreja e do Estado, preparando o terreno para as revoluções que viriam, como a Revolução Francesa.

Principais filósofos da era moderna

Vamos conhecer nomes importantes desse período:

René Descartes

René Descartes, retrato de Frans Hals

Considerado o pai da filosofia moderna, René Descartes (1596-1650) é famoso por sua obra Meditações metafísicas e pela frase "Penso, logo existo" (Cogito, ergo sum).

Ele é o principal representante do racionalismo, defendendo que o uso da razão é fundamental para se alcançar a verdade.

Immanuel Kant

Immanuel Kant (1724-1804) foi um dos filósofos mais influentes da modernidade, com sua obra principal sendo a Crítica da Razão Pura (1781).

Kant tentou conciliar o racionalismo e o empirismo, propondo que, embora o conhecimento comece com a experiência, ele também depende de estruturas inatas da mente humana.

Retrato de Immanuel Kant (

Denis Diderot e Jean le Rond D’Alembert

Denis Diderot (1713-1784) e Jean le Rond D’Alembert (1717-1783) foram grandes expoentes do Iluminismo e editores da famosa Enciclopédia, que buscava compilar e divulgar todo o conhecimento da época. A obra simboliza o espírito iluminista de valorização do conhecimento e da razão.

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes (1588-1679) é um teórico contratualista famoso por sua obra Leviatã (1651), onde defende que, no estado de natureza, os seres humanos vivem em constante guerra uns contra os outros.

Para Hobbes, a paz só é possível quando os indivíduos transferem seu poder a um soberano absoluto, que garante a ordem.

John Locke

John Locke (1632-1704) é um dos principais nomes do empirismo e defensor da teoria da tábula rasa.

Locke influenciou também a teoria política moderna, sendo um dos pioneiros na defesa da separação dos poderes e dos direitos individuais.

Voltaire

Voltaire (1694-1778) foi um dos maiores críticos do absolutismo e do poder da Igreja Católica. Suas obras promoviam a liberdade de pensamento, a tolerância religiosa e a justiça social, princípios que influenciaram fortemente as revoluções do século 18.

Isaac Newton

Embora mais conhecido por suas contribuições à física e à matemática, Isaac Newton (1643-1727) também influenciou a filosofia moderna.

Suas descobertas científicas, como a lei da gravidade, foram fundamentais para a consolidação do método científico e para a filosofia natural.

Newton retratado por Godfrey Kneller

Resumo: filosofia moderna

Confira os destaques do que você leu até aqui:

Filosofia moderna

  • Surgiu entre os séculos 16 e 18.
  • Marca a transição do pensamento medieval para novas formas de entender o conhecimento, a política e a ciência.

Transformações impulsionadoras

  • Renascimento.
  • Revolução científica.

Valorização

  • A filosofia moderna valorizou a razão e o método científico.
  • Houve uma ruptura com as tradições escolásticas.

Principais filósofos

  • René Descartes (racionalismo).
  • Immanuel Kant (racionalismo e empirismo)
  • John Locke (empirismo).

Principais correntes filosóficas

  • Racionalismo: defende que a razão é a principal fonte do conhecimento.
  • Empirismo: afirma que todo o conhecimento vem da experiência sensorial.
  • Contratualismo: busca explicar a origem da sociedade e do poder político.

Iluminismo

  • Inspirou revoluções e mudanças sociais.
  • Movimento do século 18.
  • Reforçou a ideia de que a razão e a ciência são os pilares para o progresso da sociedade.
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Como a filosofia moderna cai no Enem e nos vestibulares

No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e nos principais vestibulares do país, é comum encontrar questões relacionadas à filosofia moderna, principalmente sobre o racionalismo, empirismo e as ideias iluministas.

As perguntas costumam abordar temas como a relação entre conhecimento e experiência, o contrato social e a importância da razão no pensamento moderno. Estudar os filósofos citados e suas principais ideias é essencial para dar conta da prova sem problemas.

Exemplo

(Enem 2019) 

TEXTO I
Considero apropriado deter-me algum tempo na contemplação deste Deus todo perfeito, ponderar totalmente à vontade seus maravilhosos atributos, considerar, admirar e adorar a incomparável beleza dessa imensa luz.

DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

TEXTO II
Qual será a forma mais razoável de entender como é o mundo? Existirá alguma boa razão para acreditar que o mundo foi criado por uma divindade todo-poderosa? Não podemos dizer que a crença em Deus é “apenas” uma questão de fé.

RACHELS, J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.

Os textos abordam um questionamento da construção da modernidade que defende um modelo

a) centrado na razão humana.    
b) baseado na explicação mitológica.    
c) fundamentado na ordenação imanentista.    
d) focado na legitimação contratualista.    
e) configurado na percepção etnocêntrica.    

Resposta: [A]
Essa questão trata da forma como a modernidade abordou a existência de Deus e do mundo. Tanto o texto de Descartes (Texto I) quanto o de Rachels (Texto II) refletem uma preocupação com o uso da razão para compreender a realidade e a existência de Deus. Descartes, um filósofo racionalista, utilizava a razão para meditar sobre a perfeição divina. Já Rachels questiona a existência de uma divindade todo-poderosa, novamente sob uma perspectiva racional. Isso indica que ambos os textos se referem a uma construção da modernidade centrada na razão humana, que se tornou um pilar fundamental no pensamento filosófico moderno.

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Isabela Flor da Rosa

Analista Pedagógico de Sociologia e Filosofia no Aprova Total. Graduanda pela UFSC.

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