Guia definitivo de como usar crase - com exemplos
Entenda quais são os casos obrigatórios, proibidos e facultativos do uso da crase
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Nós sabemos que as regras de uso da crase aterrorizam qualquer vestibulando, seja na hora de escrever a redação, ou até mesmo de resolver questões específicas sobre esse conteúdo.
A crase é cheia de particularidades que envolvem, sobretudo, a regência dos verbos e dos nomes. Além disso, é possível dividir a sua ocorrência em três casos: obrigatórios, proibidos e facultativos.
Para ajudar você na missão de dominar o uso da crase de uma vez por todas, preparamos um guia definitivo - e com exemplos, viu?
NAVEGUE PELOS CONTEÚDOS
O que é crase? Qual a definição?
A crase é um fenômeno linguístico que indica a fusão da preposição "a" com o artigo definido feminino "a". Esse encontro resulta em um acento grave (`) sobre a vogal "a", mostrando que houve contração. Entretanto, nem sempre é tão simples quanto parece. Vamos, então, analisar cuidadosamente quando utilizar esse recurso e quando evitá-lo?
Regência verbal e nominal
Antes de partirmos para o conceito da crase e os seus usos, é importante destacar que esse fenômeno está diretamente ligado à regência dos verbos e dos nomes. Note que utilizamos o acento grave, pois o substantivo “ligado” rege uma preposição (o que está ligado, está ligado “a” algo) e “regência” é um substantivo feminino que admite o artigo “a”. Isso é regência nominal!
Sendo assim, vamos ao conceito geral das regências:
- Regência verbal é a relação entre um verbo e seu complemento, podendo ou não ser marcada por uma preposição, dependendo da transitividade verbal.
Exemplo: O filho obedecia às regras.
- Regência nominal é a relação entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e seu complemento, normalmente marcada por uma preposição.
Exemplo: Frutas são benéficas à saúde.
Portanto, fique ligado! Se a regência do verbo ou do nome pedir a preposição “a” e, dependendo da palavra que vier depois (um substantivo feminino, por exemplo), haverá crase.
Regra geral de uso da crase com exemplos de quando usar
A crase é obrigatória em diversos contextos específicos, indicando a fusão da preposição "a" com o artigo definido feminino "a". Agora, vamos entender quando o uso do acento grave é obrigatório:
Antes de palavras femininas
Neste caso, a crase é obrigatória porque há uma fusão da preposição “a”, vinda da regência do substantivo “favorável” (quem é favorável é favorável “a” algo) + o artigo “a”, admitido pelo substantivo “medida”, que se classifica como uma palavra de gênero feminino.
Exemplo: O presidente se mostrou favorável à medida proposta.
💡 Dica: substitua a palavra feminina por uma masculina equivalente, caso a contração “ao” esteja presente, haverá crase:
Outra possibilidade é substituir o artigo “a” pelo artigo indefinido “uma”. Uma vez que seja possível fazer essa troca, significa que, naquela frase, a presença do artigo “a” é necessária.
Exemplo: O aluno obedece à professora.
Fazendo a substituição: O aluno obedece ao professor.
Exemplo: Assisti à apresentação
Fazendo a substituição: Assisti a uma apresentação.
Antes de pronomes possessivos femininos que ocultam palavras femininas
A crase é obrigatória, uma vez que a palavra “jaqueta” está oculta, retomada por inferência, mas suprimida para evitar repetição (sua jaqueta é igual à minha jaqueta). Além disso, lembre-se da regência: esta crase ocorre também porque o adjetivo “igual” pede preposição “a” (o que é igual, é igual “a” algo).
Exemplo: Sua jaqueta é igual à minha.
Antes de expressões que indicam horas
Quando mencionamos horas específicas, a crase é utilizada para indicar a fusão da preposição "a" com o artigo definido feminino.
Exemplo: A aula começa às 7h30.
Antes de nomes de cidades femininos precedidos de artigo
Quando nos referimos a cidades femininas que aceitam o artigo definido feminino, a crase é obrigatória.
Exemplo: Ele viajou à Bahia.
Mas como saber se o nome da cidade é feminino? 🤔 Olha esse macete:
Se vou a e volto da, crase há!
Se vou a e volto de, crase pra quê?
Sendo assim:
Vou à Bahia, volto da Bahia = com crase ✔️
Vou a Florianópolis, volto de Florianópolis = sem crase ❌
Expressões que indicam modo ou maneira (expressão "à moda de")
Quando a expressão indica um modo ou uma maneira específica, subentendendo a palavra "modo", haverá crase. Inclusive, esta é a única forma que pode ocorrer crase diante de palavra masculina.
Exemplo: Ele fez um gol à Pelé.
Atenção: nos restaurantes, são comuns pratos à moda de” algo. Exemplo: bife à milanesa (à moda de Milão) ou então bife à parmegiana (à moda de Parma). Entretanto, cuidado, pois no famoso “bife a cavalo” não há crase! Isso porque, além de “cavalo” ser uma palavra masculina, não está subentendida a expressão “à moda de”, afinal de contas, o cavalo não sabe cozinhar, certo?
Locuções conjuntivas com núcleo feminino
Em locuções conjuntivas com núcleo feminino, como "à medida que" e “à proporção que”, a crase é obrigatória.
Exemplo: Eles conversaram com sinceridade à medida que a situação exigia.
Locuções prepositivas com núcleo feminino
Em locuções prepositivas com núcleo feminino, como “às custas de”, “à procura de”, “à espera de”, a crase é obrigatória.
Exemplo: Mariana estava à procura de um professor particular.
Locuções adverbiais com núcleo feminino
Em locuções adverbiais com núcleo feminino como “às claras”, “às pressas”, “à vontade”, a crase é obrigatória.
Exemplo: Sempre fico doente à noite.
Casa, terra e distância
Só haverá crase diante das palavras “casa”, “terra” e “distância” quando estiverem especificadas.
Exemplos: Retornei à casa de minha avó.
Os turistas voltaram à terra de origem.
Eu o vi à distância de dois metros.
Quando NÃO usar crase: casos proibidos
Evitar o uso inadequado da crase é tão importante quanto aplicá-la corretamente. Sendo assim, vamos conhecer os casos de crase proibida.
Antes de verbos
A crase é proibida quando a preposição "a" precede um verbo. Nesse contexto, não há fusão com o artigo definido feminino "a".
Exemplo: Ela se propôs a dançar.
Antes de palavras masculinas
Antes de palavras masculinas, independentemente da presença da preposição "a", o uso da crase é proibido.
Exemplo: Ele foi a pé até o trabalho.
Antes de pronomes pessoais
A crase é proibida antes de pronomes pessoais, como "ele", "ela", "eles" e "elas".
Exemplo: João deu o presente a ela.
Pronomes demonstrativos e indefinidos
Antes de pronomes demonstrativos e indefinidos que não aceitam artigo, como “ninguém”, “essa”, “toda”, “cada”, “qualquer”, “tudo”", a crase é proibida.
Exemplos: Ele aludiu a toda imprensa da cidade.
A reclamação o levou a nada.
Atenção: outros pronomes demonstrativos, como “aquela”, “aquele” e “aquilo” admitem crase. Exemplo: Refiro-me àquela mulher de vermelho.
Antes de pronomes relativos "cujo(a)" e "que"
Não é permitido o uso da crase antes de pronomes relativos "cujo(a)" e "que".
Exemplos: Encontrei o livro a cujo autor você se referiu.
O trabalho a que me candidatei já foi ocupado.
Palavras iguais
Não utilizamos entre palavras femininas repetidas que formam uma expressão, como “dia a dia”, “cara a cara”, “frente a frente”, “boca a boca”.
Exemplo: O dia a dia da mãe é cansativo.
Artigo indefinido
A crase é proibida diante dos artigos indefinidos “um” ou “uma”, independentemente da regência verbal.
Exemplo: Irei a uma reunião mais tarde.
Antes de palavras com sentido genérico no plural
Quando uma palavra estiver no plural com sentido genérico e não se referir a ninguém em específico, não haverá crase, ainda que seja um substantivo feminino. Somente haverá se o “a” também for colocado no plural (“às pessoas ignorantes”).
Exemplo: Não me submeto a pessoas ignorantes.
Crase facultativa: quando o uso é opcional
Há alguns casos em que o uso da crase é facultativo, ou seja, podemos ou não utilizar sem alterar o significado da frase. Bora conhecer?
- Antes de nomes próprios femininos: Eu enviei o recado a Juliana.
- Antes de pronomes possessivos femininos no singular: Entregaram o presente a sua tia.
- Depois da palavra "até": O fiel caminhou até a igreja
Resumo: uso da crase
A crase é um fenômeno linguístico que ocorre quando há fusão da preposição "a" com o artigo definido feminino "a". Essa combinação resulta em um acento grave (`) sobre a vogal "a".
Casos de crase obrigatória
- Antes de palavras femininas
- Antes de pronomes possessivos femininos que ocultam palavras femininas
- Antes de expressões que indicam horas
- Antes de nomes de cidades femininos precedidos de artigo
- Em expressões que indicam modo ou maneira quando subentendem a expressão "à moda de"
- Em locuções conjuntivas com núcleo feminino
- Locuções prepositivas com núcleo feminino
- Locuções adverbiais com núcleo feminino
- Casa, terra e distância
Quando a crase é proibida
- Antes de verbos
- Antes de palavras masculinas
- Antes de pronomes pessoais
- Pronomes demonstrativos e indefinidos
- Antes de pronomes relativos "cujo(a)" e "que"
- Palavras iguais
- Artigo indefinido
- Antes de palavras com sentido genérico no plural
Crase facultativa
- Antes de nomes próprios femininos
- Antes de pronomes possessivos femininos no singular
- Depois da palavra "até"
Como a crase cai no Enem e nos vestibulares
Agora que você já conhece bem as regras e aplicações da crase, chegou a hora de entender como as provas cobram esse conteúdo.
É importante ressaltar que o Enem não aborda as regras específicas de crase, assim como dificilmente cobra qualquer regra gramatical de forma isolada. Porém, isso não quer dizer que conhecê-las não seja importante para a prova.
Você terá, por exemplo, que aplicar seus conhecimentos durante a escrita da redação para garantir uma boa pontuação na competência 1 (demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita).
Por outro lado, nos principais vestibulares do país, a crase é um conteúdo bastante recorrente, especialmente em bancas que adoram cobrar gramática, como a UFRGS e a UFPR. Veja uma questão:
Exercício de crase
(UFPR 2019) Era uma vez um lobo vegano que não engolia a vovozinha, três porquinhos que se dedicavam ______ especulação imobiliária e uma estilista chamada Gretel que trabalhava de garçonete em Berlim. Não deveria nos surpreender que os contos tradicionais se adaptem aos tempos. Eles foram submetidos ______ alterações no processo de transmissão, oral ou escrita, ao longo dos séculos para adaptá-los aos gostos de cada momento. Vejamos, por exemplo, Chapeuzinho Vermelho. Em 1697 – quando a história foi colocada no papel –, Charles Perrault acrescentou ______ ela uma moral, com o objetivo de alertar as meninas quanto ______ intenções perversas dos desconhecidos.
[…]
(Marta Rebón. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/18/eps/1537265048_460929.html.)
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do primeiro parágrafo, na ordem em que aparecem no texto:
a) a – a – à – às.
b) à – à – a – as.
c) à – a – a – às.
d) a – à – à – as.
e) à – à – à – as.
Resposta: [C]
Para a primeira ocorrência, temos um caso de regência do verbo dedicar (quem se dedica, se dedica “a” algo) + a palavra feminina “especulação”. No segundo, não há crase pois “alterações” está no plural com sentido genérico. No terceiro, não há pois “ela” é um pronome pessoal. Por último, o advérbio “quanto” rege preposição “a” e “intenções” é um substantivo feminino, portanto, há crase.
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