Saúde mental e vestibular: como lidar com a espera dos resultados?

A ansiedade é um sentimento muito presente entre os vestibulandos. Seja antes, durante ou depois da prova, lidar com ela já se tornou mais um desafio a ser enfrentado entre aqueles que estão em busca de uma vaga na universidade. Então, dizer que esse papo é coisa séria soa até meio clichê, a gente sabe. Mas, entender como saúde mental e vestibular podem andar lado a lado é algo extremamente importante.

Durante a pandemia, com a mudança de rotina causada pela quarentena, o distanciamento dos colegas e a quantidade excessiva de fake news propagada pelos meios de comunicação, ficou mais evidente a necessidade de olhar para as dificuldades emocionais dos(as) estudantes. Mesmo porque, nem todo mundo consegue identificar quando está ansioso(a) de forma desproporcional ou vivendo com transtornos, o que pode prejudicar os estudos e a vida de maneira geral.

Saúde mental e vestibular: dicas para se manter bem

Se o período de preparação para o vestibular já é considerado um dos mais tensos da vida de alguém, a espera pelos resultados pode ser igualmente angustiante. Pensando em ajudar quem está nessa fase, conversamos com Janusa Silvério, psicóloga com formação em Mindfulness, e Rejane Sbrissa, psicóloga cognitiva especialista em compulsões.

Janusa explica que, apesar de realmente gerar muita angústia, o ato de esperar faz parte da vida em qualquer contexto, e é necessário aprender a conviver com isso para que os dias não fiquem tão pesados. "Hoje pode ser a espera pela nota do Enem, amanhã de um pedido de namoro, depois de um processo seletivo, que às vezes dura até mais tempo. O ponto principal é ter consciência de que é algo inerente a nossa existência", diz ela.

Por outro lado, algumas atitudes podem ajudar a tirar o foco desse momento e proporcionar um pouco de tranquilidade:

1. Não fique parado(a), toque a vida

Você estudou, se dedicou e fez as provas com atenção. E agora? Bom, tudo isso já foi e não há a menor possibilidade de uma volta ao tempo. Então, viva!

Se você for aprovado(a), vai poder comemorar; se não for, estará com mais fôlego para tentar novamente.

2. Descanse sem culpa

Assistir a séries e filmes, passar algumas horas jogando no computador, visitar pessoas queridas, dançar, costurar, tirar fotos, desenhar, ir à piscina, enfim, descanso é algo muito pessoal, né? O importante é não se sentir culpado(a) por fazer o que tem vontade.

Os resultados saem em algumas semanas, e o melhor é gastar esse tempo de forma saudável, sem neuras. "Importante reforçar que isso vale para quem realmente deu o seu melhor nos vestibulares", avisa Janusa. Ou seja, quem sabe que vai precisar correr atrás do prejuízo precisa começar já!

3. Cuide do seu corpo

"Pratique uma atividade física, tenha boas noites de sono e busque uma alimentação equilibrada", orienta Rejane. Isso contribui não apenas para nutrir seu organismo de forma saudável, mas para organizar as emoções.

A ansiedade pode levar a episódios de compulsão, colocá-lo(a) frente a frente com a geladeira mais vezes ao dia, tirar o sono ou fazer você dormir demais. Cuidando do corpo, também é possível cuidar da mente.

Lidando com as cobranças externas

Por mais que você tenha vivido uma longa jornada de horas e mais horas de estudo e finais de semana com provas difíceis, não está 100% ileso(a) das cobranças externas, dos pais, avós e outros membros da família, principalmente. Já é difícil se proteger das próprias expectativas, imagina ter que lidar com as dos outros?

Quando isso acontece, a saída é manter a calma e sentir-se seguro(a) sobre o quanto se dedicou nos últimos meses. "Explique para essas pessoas que sua ansiedade já está alta com a espera do resultado e que eles ajudam se divertindo com você, sem lembrar do vestibular o tempo todo. O que foi feito, foi feito, e você fez seu melhor. Agora, é aguardar se distraindo com outros assuntos", sugere a psicóloga Rejane Sbrissa.

Vestibulando faixa branca x vestibulando faixa preta

Será que o estresse da espera dos resultados é diferente para esse dois tipos de vestibulando(as)? Enquanto o faixa branca está encarando uma experiência inédita, que traz a responsabilidade de escolher a "profissão de sua vida", o faixa preta lida com a ansiedade e o compromisso de "passar desta vez".

A psicóloga Janusa lembra que, no segundo caso, além da pressão dos familiares, há também a autocobrança, o medo de precisar fazer cursinho novamente e a comparação com os amigos que já ingressaram na universidade. No entanto, ao avaliar essa situação pela perspectiva da bagagem de aprendizado, "quem está fazendo a prova pela segunda vez está mais preparado(a), e não pode deve permitir que a ansiedade prejudique todo esse acúmulo de conhecimento", diz ela.

Outra vantagem é que, "se o(a) aluno(a) vem insistindo por vezes, é alguém que tem mais certeza da profissão que deseja seguir por toda a vida", completa Rejane. Então, independentemente de qual for o resultado, tente avaliar o lado positivo disso: na próxima tentativa, você vai se sair melhor!

Sintomas para ficar ligado(a)

Você já viu que não dá para fugir da espera dos resultados do vestibular, mas é possível amenizar a intensidade dos sentimentos que esse momento provoca. Além disso, existem alguns sintomas que acendem o alerta de que algo está errado e é preciso procurar ajuda especializada. "A ansiedade natural é aquela que não traz prejuízos para a vida da pessoa, dura pouco tempo e é de fácil controle. Enquanto a patológica mexe com a saúde física e psíquica", explica Janusa.

Os sintomas para ficar ligado(a) são:

• Insônia
• Dores de cabeça
• Irritabilidade constante
• Tensão muscular
• Boca seca
• Falta de ar
• Coração acelerado

A preocupação excessiva com o estudo e as provas que já passaram, a ponto de não conseguir focar em outras coisas, combinada a essas sensações físicas, mostram que algo não vai bem. Percebendo isso, o ideal é procurar ajuda especializada para diagnóstico e tratamento adequados, e jamais recorrer à automedicação.

Atendimento psicológico gratuito

As Unidades Básicas de Saúde (UBS) costumam ser o primeiro contato com o atendimento de saúde mental gratuito. Para ter acesso, é necessário agendar uma consulta com um clínico geral e, no dia, conversar com o médico sobre o que está sentindo. Então, ele deve fazer o encaminhamento para o psicólogo. O problema, neste caso, é a alta demanda e o baixo número de especialistas nas UBS, o que resulta em um longo tempo de espera.

Há também os atendimentos psicológicos feitos nas universidades, as chamadas clínicas-escolas, que, para os estudantes, funcionam como projeto de extensão ou estágio obrigatório.

Normalmente, as agendas abrem no início de cada semestre para realização de cadastro prévio, depois é feita uma triagem dos casos. Em São Paulo, por exemplo, o Instituto de Psicologia da USP oferece atendimento para estudantes, funcionários e público geral residentes no entorno da universidade, campus Butantã.

Já o Projeto Você Importa é um movimento de apoio a quem tem depressão e outros transtornos da mente, e oferece ação preventiva ao suicídio, bullying e solidão. Aqui, eles sugerem locais que estão fazendo atendimento psicoterapêutico gratuito em diversas regiões do país.

Em caso de urgência, recorra ao CVV (Centro de Valorização da Vida), que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente, sob total sigilo, por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.

Bora para a próxima?

Você tentou mais um ano e não deu certo. Tudo bem ficar decepcionado, ninguém espera te ver dançando frevo em cima da prova da Fuvest, do Enem, da Unicamp ou de qualquer outra. Quando as coisas não saem como esperado, a tendência é deixar a autoestima ir lá para baixo e ver todos sentimentos negativos aflorarem. Desabafe, chore com os amigos, coloque essa dor para fora.

Mas, meu guerreiro, minha guerreira, quando passar a frustração, é hora de olhar suas escolhas, seus métodos de estudo, identificar as maiores dificuldades e o que já está dando certo. "Lembre-se de que cada indivíduo tem o seu tempo. Não ter sucesso dessa vez não significa que você seja um fracasso e muito menos que deve desistir", destaca Janusa.

Os Beatles foram descartados por uma gravadora no início da carreira e Albert Einstein chegou a ser expulso da escola considerado mentalmente lento. Já pensou o que seria de nós - meros mortais - se algum deles tivesse parado de tentar?

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