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Tempos verbais e sentidos: entenda a semântica dos verbos

Como os modos verbais influenciam na interpretação? E de que forma eles são cobrados no Enem e nos outros vestibulares? A gente explica!

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Antes de entrar de fato no assunto do post, preciso dizer algo importante: ele vai mudar completamente sua percepção sobre o estudo dos verbos e como a gramática é cobrada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Se tem algo que costuma deixar muita gente confusa é a semântica dos verbos, ou seja, o sentido que os tempos verbais ganham em diferentes contextos. Mas, relaxa, a partir de agora você vai entender melhor como o emprego de tempos e modos verbais influencia na interpretação.

Personagem de The Office com a expressão de quem fez uma nova descoberta.

Principais modos e tempos verbais

Para começarmos, é importante conhecer os principais modos e tempos da língua portuguesa. Temos o modo indicativo, o subjuntivo e o imperativo. E, dentro desses modos, há diversos tempos verbais, como presente, pretérito perfeito, pretérito imperfeito, pretérito mais-que-perfeito, futuro do presente e o futuro do pretérito. Parece complicado, né? Mas não se preocupe, vamos desvendar tudo isso juntos!

MODO INDICATIVOMODO SUBJUNTIVOMODO IMPERATIVO
Expressa certeza
“Eu estudo todos os dias"
Expressa dúvida, possibilidade, suposições
“Espero que acredite em mim”
Expressa uma ordem, um pedido, conselho
Salve este post!”

Interpretação de sentidos: modo indicativo

O modo indicativo é o mais comum e utilizado para expressar fatos reais, certezas. Ele faz referência a situações verossímeis que aconteceram, acontecem ou acontecerão. Está presente em muitos contextos, desde narrativas até descrições. É nesse modo que encontramos o maior número de tempos verbais.

TEMPOEMPREGOEXEMPLO
Pretérito perfeitoAção concluída no passadoComprei ingressos para o filme da Barbie.
Pretérito imperfeitoAção passada não concluída ou que se repetia
(desinência -IA e -VA)
Na infância eu sempre viajava com meus pais.
Pretérito mais-que-perfeitoAção passada anterior a outra também passada
(desinência -RA)
Quando cheguei, ela já jantara.
PresenteAção que ocorre no momento de fala, ou hábito presenteMinha filha estuda todos os dias.
Futuro do presenteAção futuraEste ano farei a prova do Enem.
Futuro do pretéritoAção futura que depende de outra
(desinência -RIA)
Se tivesse coragem, ligaria para ela.

Atenção aos verbos irregulares

A tabela anterior, com certeza, será um ótimo material de apoio para estudar o emprego de tempos verbais do indicativo, entretanto, há certos aspectos que você precisa prestar atenção.

Na língua portuguesa, existem os “verbos irregulares”, ou seja, verbos que, no momento da conjugação, podem sofrer variação no seu radical ou na sua terminação. De modo geral, os verbos conjugados no pretérito imperfeito têm desinências (terminações) específicas, conforme mostra a tabela.

Isso, porém, não se aplica aos verbos irregulares. Portanto, é necessário se atentar ao contexto e estudar esses verbos. Confira alguns exemplos:

“Vanessa tinha um namorado muito simpático”
“O aluno era extrovertido em sala”
“Eu sempre vinha nesta cidade para passear”

Modo subjuntivo

O modo subjuntivo é usado para expressar situações hipotéticas, desejos, dúvidas ou incertezas. Ele dá um toque de subjetividade às ações verbais. Assim, é comum encontrá-lo em orações iniciadas por "se" ou expressões como "tomara que" e "que eu saiba".

TEMPOEMPREGOEXEMPLO
PresenteIndica uma possibilidade/desejo no presente
(conjunção “que”)
Espero que você vença a partida!
Pretérito imperfeitoIndica condições, hipóteses passadas
(conjunção “se”)
Se tivesse tempo, visitaria você.
FuturoIndica uma possibilidade futura
(conjunção “quando”)
Comprarei um carro quando fizer 18 anos.

Características do modo subjuntivo

O modo subjuntivo tem três particularidades que merecem a sua atenção:

  1. Normalmente, cada tempo verbal possui uma conjunção característica acompanhando o verbo (como mostra a tabela). Entretanto, é possível que as conjunções mudem de um tempo para o outro, por isso a importância do contexto.

    Exemplo: “Lavarei a louça se tiver vontade”, apesar do uso da conjunção “se”, típica do pretérito imperfeito, o verbo “tiver” está conjugado no futuro do subjuntivo.
  2. Uma forma simples de identificar os tempos do subjuntivo é por meio da correlação verbal. Normalmente, esses verbos estão inseridos no mesmo contexto dos verbos do indicativo.

    Exemplo: A frase "Espero que você vença a partida" tem o verbo "vencer", conjugado no presente do subjuntivo, junto do verbo "esperar", conjugado no presente do indicativo.

    Anote as correlações verbais para você não errar mais:
    • Presente do subjuntivo + presente do indicativo
    • Pretérito imperfeito do subjuntivo + futuro do pretérito do indicativo
    • Futuro do subjuntivo + futuro do indicativo
  3. Por último, o subjuntivo também pode ser composto. Isso acontece quando a conjugação tem um verbo auxiliar (“ter” ou “haver”) antes do verbo principal.

    Exemplos:
    • “Acredito que ele já tenha saído” (pretérito perfeito)
    • “Se eu tivesse falado a verdade, brigaríamos” (pretérito mais-que-perfeito)
    • “Quando tiverem chegado, serviremos a janta” (futuro do subjuntivo)

Modo imperativo

Por fim, temos o modo imperativo, que é utilizado para expressar ordens, conselhos, pedidos ou solicitações. É ele que usamos quando queremos dizer para alguém fazer ou até mesmo não fazer algo. Dessa forma, o dividimos em dois tipos: afirmativo e negativo.

Afirmativo:Escute o que estou dizendo: faça seus deveres!”
Negativo:Não coma muito rápido, você passará mal!”

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Como os tempos verbais e os sentidos caem no Enem e nos vestibulares

Agora que você já entende melhor como o emprego de tempos e modos verbais funciona, saiba que esse conhecimento pode ajudar bastante nas provas do Enem e outros e vestibulares. É comum encontrar questões que exigem a interpretação correta dos tempos verbais, por exemplo.

Entretanto, principalmente no Enem, você perceberá que as questões tendem a cobrar o sentido expresso pelos diferentes tempos verbais e como eles influenciam na construção do texto ou progressão temática.

Mudanças de sentido

Você precisa estar atento às particularidades de sentido em cada contexto. Sendo assim, vamos analisar as duas orações abaixo:

“Se eu estudasse, passaria na prova”
“Se eu tivesse estudado, passaria na prova”

Note que, embora nas duas orações os verbos expressem ações passadas, o sentido não é o mesmo. Isso porque, na primeira, existe a ideia de que o estudante ainda pode passar na prova, basta ele começar a estudar. Por outro lado, na segunda, a compreensão é de que o estudante já perdeu essa chance, pois ele lamenta não ter estudado.

Vamos analisar outro exemplo:

“Quando o dia raiar, já terei partido
“Quando o dia raiar, partirei

Dessa vez, os verbos expressam uma ação futura em ambas orações. Entretanto, novamente, o sentido muda de uma para outra. Na primeira, entendemos que a pessoa que fala já terá partido antes mesmo do dia raiar. Na segunda, ela só partirá assim que o dia raiar.

Jimmy Fallon com a expressão e fazendo gestos de quem entendeu uma informação interessante.

Os tempos verbais no Enem

A prova preza pelo conhecimento contextualizado, por isso, não é comum que o exame cobre conceitos gramaticais de forma direta, como a definição de um modo verbal. Ainda assim, esses conhecimentos não são dispensáveis; você precisará estudar de que forma eles aparecem contextualizados.

No caso do emprego de tempos e modos verbais, será necessário entender o sentido expresso pelos verbos e como eles contribuem para a construção do texto.

Exemplo

Em junho de 1913, embarquei para a Europa a fim de me tratar num sanatório suíço. Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora. Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre. “Ao cair das folhas”, e um de seus mais belos sonetos, talvez o meu predileto, está datado de “Clavadel, outubro, 1895”. Fiquei na Suiça até outubro de 1914.

BANDEIRA, M. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

No relato de memórias do autor, entre os recursos usados para organizar a sequência dos eventos narrados, destaca-se a
a) construção de frases curtas a fim de conferir dinamicidade ao texto.
b) presença de advérbios de lugar para indicar a progressão dos fatos.
c) alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos.
d) inclusão de enunciados com comentários e avaliações pessoais.
e) alusão a pessoas marcantes na trajetória de vida do escritor.

Resposta: [C]
O autor utiliza a alternância de tempos do pretérito para ordenar os acontecimentos narrados. Ele começa mencionando uma ação concluída no passado (pretérito perfeito): "Em junho de 1913, embarquei para a Europa".

Em seguida, ele utiliza o pretérito mais-que-perfeito para relatar uma ação anterior à viagem: "Escolhi o de Clavadel, perto de Davos-Platz, porque a respeito dele me falara João Luso, que ali passara um inverno com a senhora".

Depois, o autor menciona uma informação que descobriu posteriormente, também utilizando o pretérito mais-que-perfeito: "Mais tarde vim a saber que antes de existir no lugar um sanatório, lá estivera por algum tempo Antônio Nobre".

Por fim, ele relata a duração da sua estadia na Suíça, utilizando o pretérito perfeito: "Fiquei na Suíça até outubro de 1914".

Dessa forma, a alternância dos tempos verbais do pretérito contribui para a organização cronológica dos eventos narrados, permitindo que o leitor compreenda a sequência temporal dos acontecimentos.

Dica: pretérito perfeito e imperfeito

Em texto narrativos, é comum que o pretérito perfeito seja utilizado para a construção da narração em si, o relato de acontecimentos; enquanto o pretérito imperfeito é utilizado para descrições.

Exemplo: “Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da garúna […]”.

Lá no começo, eu disse que esse post traria informações valiosas, não é? Você teve a chance de compreender melhor o emprego de tempos e modos verbais, o que vai afiar suas habilidades de interpretação.

Mas lembre-se de que a prática é essencial para se familiarizar com os sentidos que os verbos podem exprimir em diferentes contextos. Continue resolvendo as questões, fazendo resumos, lendo bastante e focando no seu objetivo principal, que é a aprovação!

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Kimberli Sabino Ariotti

Analista Pedagógica de Linguagens do Aprova Total. Licenciada em Letras pela UFSC e Mestre em Linguística pela mesma instituição.

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