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Por que atentados em escolas no Brasil estão aumentando?

Os ataques que aconteceram nos últimos dias não são casos isolados e representam um contexto assustador do aumento da violência no país

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Na quarta-feira (5/4), um homem de 25 anos invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, instituição privada que fica em Blumenau (SC). Ele matou quatro crianças e feriu outras cinco. Há pouco mais de uma semana, outro crime chocante aconteceu na E.E. Thomazia Montoro, localizada na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Lá, uma professora de 71 anos morreu após ser atacada por um estudante, e outros quatro alunos ficaram feridos. Esses dois atentados em escolas no Brasil não são casos isolados e representam um contexto assustador do aumento da violência no país.

Assim, em caráter de urgência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu antecipar a criação de um Grupo de Trabalho Interministerial, que já estava no radar do governo. Ele dará celeridade as ações de combate à violência nas escolas. A primeira reunião desse GT acontece hoje, 6 de abril. Vale a pena conferir também a cartilha com Recomendações para Proteção e Segurança no Ambiente Escolar, lançada pelo grupo.

Lula e ministros se reuniram após ataque à creche
Lula e ministros se reuniram após ataque à creche (Imagem: Agência Brasil/Ricardo Stuckert)

O anúncio foi feito pelo ministro da Educação, Camilo Santana, e entre as ações imediatas está o fortalecimento da ronda escolar. Para isso, o Ministério da Justiça e Segurança Pública vai repassar inicialmente, R$ 150 milhões em recursos aos estados e municípios a fim de apoiar polícias militares e guardas municipais.

Entre as muitas perguntas sobre o crescimento recente dos ataques que reproduzem um cenário há muito tempo conhecido nos Estados Unidos, de massacres em colégios, uma delas é central: afinal, por que essa violência está aumentando por aqui?

Atentados em escolas no Brasil

Segundo o relatório O extremismo de direita entre adolescentes e jovens no Brasil: ataques às escolas e alternativas para a ação governamental, elaborado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 34 ataques a escolas foram evitados no Brasil entre 2012 e 2022, sendo 22 deles somente no ano passado.

O mesmo documento mostrou que eventos de violência às escolas no Brasil começaram na primeira década dos anos 2000 e que, antes disso, não havia registro deste tipo de ataques. Desde então, sem contar os episódios de 2023, os dados são:

  • 16 ataques, dos quais 4 aconteceram no segundo semestre de 2022;
  • 35 vítimas fatais;
  • 72 feridos.

Cobertura da mídia

A imprensa brasileira tem avaliado como fazer uma cobertura responsável dos atentados em escolas no Brasil. Pois, além de informar, é necessário não incentivar comportamentos semelhantes.

Deste modo, o objetivo é não dar visibilidade aos autores do crime, seja em fotografias, identidade ou passo a passo dos ataques e ideias do agressor.

Cultura da violência

Nas redes sociais, manifestações ligadas à cultura da violência têm circulado livremente. Elas acendem um alerta sobre encorajamento aos ataques, visto que não há um controle sobre as informações e a exaltação aos agressores já ultrapassa a deep web.

Nesse contexto, aparece o culto às armas de fogo, ainda mais comum nos Estados Unidos, onde o acesso e o porte possui ampla proteção legal. O Partido Republicano, por exemplo, abriga defensores dessa política, vários vinculados à Associação Nacional do Rifle (NRA).

Por lá, o presidente Joe Biden defende maior regulamentação para diminuir a circulação de armas de fogo. Mas, os integrantes republicanos do Congresso Nacional impedem modificações na lei. Segundo pesquisadores da Universidade do Michigan, elas são a maior causa de morte entre adolescentes e crianças norte-americanas, superando os acidentes de trânsito.

No Brasil, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que, a cada 60 minutos, uma criança ou adolescente morre no Brasil em decorrência de ferimentos por arma de fogo.

Redes sociais como laboratório de extremistas

As redes sociais se consolidaram com a ascensão da Internet nos anos 1990 e a difusão dos smartphones na década de 2000. Desde então, o debate sobre a regulamentação do que é divulgado nas redes sociais tem se estabelecido, principalmente no que diz respeito ao discurso de ódio.

Plataformas estão sob controle de um número reduzido de empresas, as big techs. E seus mecanismos de funcionamento amplificam a polarização política, tornando-as férteis para a expressão do ódio entre opostos.

Outro estudo, em fase de conclusão, aponta números ainda maiores: em 21 anos, o Brasil registrou 22 ataques, em 23 escolas, cometidos por estudantes ou ex-estudantes entre 10 e 25 anos.

Essa iniciativa é da pesquisadora Telma Vinha, coordenadora do Grupo Ética, Diversidade e Democracia na Escola Pública, do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp. Ela trabalha em parceria com Cleo Garcia, advogada e mestranda na Faculdade de Educação da Unicamp. Ambas integram o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral – Unicamp/Unesp (Gepem). As informações são da Folha de S.Paulo.

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Dos 22 ataques mapeados, 12 foram realizados com armas de fogo, sendo que 6 já as possuíam em casa (Imagem: Adobe Stock)

Nos dois levantamentos, os perfis dos agressores indicam uma maioria branca, do sexo masculino, com adesão à misoginia, culto às armas, ideais de supremacia, xenofobia, racismo e outros. Enquanto a cooptação desses indivíduos por ideias extremistas é comumente vinculada às redes sociais e aos jogos online.

Ambos demonstram ainda que as escolas mais atingidas são as públicas, em especial as estaduais, onde está a principal oferta de Ensino Médio no país.

Atentados em escolas no Brasil: possíveis caminhos

Entre os vários apontamentos do relatório da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, os pesquisadores defendem que, de maneira urgente, "profissionais da educação devem receber formação para identificar alterações de comportamento dos jovens".

Além de ser imprescindível "um trabalho pedagógico em educação crítica da mídia e de combate à desinformação", visando prevenir sua vulnerabilidade e exposição a grupos de extrema-direita e seus métodos de cooptação.

Os pesquisadores ainda destacam que prevenir e impedir os ataques às escolas passa por ações extra e intraescolares. Alguns exemplos são: participação efetiva da gestão das redes públicas de ensino; aperfeiçoamento das agências de investigação e formação de seus agentes para permanente monitoramento de grupos extremistas; e melhor definição normativa dos crimes de ódio para facilitar a produção de dados estatísticos que contribuam para a promoção de políticas públicas.

Colaborou neste texto: Víctor Daltoé dos Anjos, professor de Atualidades do Aprova Total. Bacharel e licenciado em Geografia pela UFSC e mestre em Ciência Política pela mesma instituição.

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Carol Firmino

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

Ver mais artigos de Carol Firmino >

Jornalista, mestra e doutora em Comunicação pela Unesp. É editora no blog do Aprova Total e está sempre antenada ao universo da educação, com foco no Enem e na preparação para os grandes vestibulares do país. Tem passagens por veículos como Nova Escola, B9, UOL e Época Negócios.

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